+Algo inusitado aconteceu durante a transmissão do Carnaval da RedeTV! na noite desta sexta-feira (24). A modelo Ju Isen, que ano passado chegou a ser expulsa durante desfile da Unidos do Peruche por tirar a roupa no meio da avenida, acabou mostrando o ânus, ao vivo, durante uma brincadeira com Léo Áquila, Nelson Rubens e Flávia Noronha.

Tem tema mais sério? Tem. Tem tema mais importante para o futuro da humanidade? Tem. Mas tem algo mais brasileiro do que uma polêmica envolvendo um cu pintado de verde? Não. Desfavor da semana.

SALLY

Carnaval é época de baixaria, putaria e promiscuidade nesta República das Bananas excessivamente quente, mal educada e barulhenta. Todo mundo sabe disso, sempre foi assim e provavelmente sempre será. Baile de carnaval onde as pessoas fazem sexo abertamente, mesmo sendo filmados, mulheres nuas sambando em desfile de escola de samba assistido por crianças (desculpa, um paetê em cada mamilo não configura roupa), bebedeira liberada. Há um pacto implícito entre os brasileróides dizendo que nesses dias do ano pode tudo. De encontro a isso, a gentalha politicamente correta, querendo mudar a letra de marchinha de carnaval, proibindo fantasia-apropriação cultural e enchendo o saco. No meio desse fogo cruzado, uma vítima inocente: um cu, pintado de verde.

Neste carnaval um escândalo culminou na demissão de Diretor e Superintendente Artístico de uma emissora da TV aberta. Escândalo discutido em redes sociais à moda do brasileiro: repudiado por uma maioria, feito de Meme por uma minoria. Um cu. Sim, um simples e inocente cu foi o escândalo deste carnaval, que certamente já viu coisa pior. Confesso que não entendi. Apesar de achar de péssimo gosto, eu sou entusiasta do Cu Verde, pois, assim como Trump, é feio e repugnante, mas me agrada o que ele simboliza.

Felizmente estava muito, muito distante daqui, então, não pude acompanhar o emocionante caso do cu verde em tempo real, pode ser que me escape algum detalhe. Ao que tudo indica, uma moça “fantasiada” de bandeira do Brasil com uma pintura corporal foi questionada por uma “repórter” da Rede TV (em função da emissora, sempre colocamos aspas na palavra repórter) se malhava para ter aquele corpo. A moça-bandeira disse que sim, que malhava. Conversa vai, conversa vem, ela especificou que fazia agachamento, um exercício bastante conhecido e acabou performando um agachamento na frente da câmeras, o que gerou uma abertura bundal que expôs seu fiofó. Pronto, estourou a confusão.

É bacana ligar a TV e ver um cu aberto? Não. Mas, cá entre nós, já vi pior. Não sei bem se existe coerência em se chocar tanto com um cu quando temos essa tsunami de bundas. Quem escreve esse manual de que bunda e peito é ok, mas cu, ahhh… cu é mau gosto? O carnaval todo é mau gosto. Aquela enxurrada de Mamilo Oreo de feminista em protesto é de mau-gosto. Carnaval é feito para isso, para ser uma ode ao mau gosto, ao cafona, ao brega, ao sujo, ao fedido. O cu compõe bem com a proposta do carnaval brasileiro. Não entendi por qual motivo um cu chocou tanto. Se você parar para pensar, tem coisa muito mais imoral que um cu acontecendo no país neste momento.

O cu estava mal maquiado? Estava. A dona do cu inclusive informou à imprensa que, depois desse “incidente”, trocou de maquiador, pois estava muito chateada. Sabe, o bacana do Brasil é que nos proporciona um sem fim de possibilidades em matéria de diálogos imaginários ridículos, o tempo todo, todos os dias, todas as semanas. Imagina a moça conversando com o maquiador, pagando um esporro, afirmando que seu cu não estava verde em sua plenitude e que, por isso, ele estava demitido! O Brasil não é para amadores, meus queridos.

O pai do cu, este filho feio e verde, acabou sendo Elias Abrão, Diretor da Rede TV e irmão da Sonia Abrão, que assumiu responsabilidade por esse cu ter ido para o ar e pediu demissão supostamente admitindo um erro. Taí uma família que só nos dá alegria: Sonia madrinha do Pilha, colocando ele na TV, escrevendo livro, e seu irmão, que nos proporcionou este belo cu verde no carnaval, capaz de vencer um anúncio errado do nome do vencedor do Oscar de melhor filme. Na categoria Desfavor da Semana, o Cu Verde foi o campeão. Na boa? Eu quero ser amiga da família Abrão. Eu quero frequentar a casa deles. Eu quero trabalhar com eles. Chego a sentir um calorzinho no peito de tanta admiração. Só falta aparece o Pilha com o cu pintado de verde, aí eu tenho uma parada cardíaca!

Por mais que eu não ache errado, era meio previsível que o Cu Verde daria merda. Tá faltando nas empresas um Assessor de Vai Dar Merda. Toda semana me espanto com alguma grande bosta que uma empresa fez ou disse. Desleixo? Não, fase de transição, tá quase impossível prever o tamanho da repercussão que eventos terão, gente boa e gente grande está errando. Essa falta de bom senso coletivo deve ser fruto da fase de transição pela qual passamos: uma transição de um politicamente correto para a Era Trump, totalmente descacetada e verborrágica. E que bom que esta transição está acontecendo. Não que a Era Trump seja o melhor dos mundo mas… eu não aguentava mais aquele politicamente correto.

Quando vaza algo da Era Trump os politicamente corretos gritam, enquanto atos, gestos e valores da Era Trump não forem dominantes, teremos essas pequenas crises nervosas por aí, eventos que, a partir de agora, passarei a chamar de “Cu Verde”, para simbolizar em poucas palavras esta transição. Quando a Era Trump esmagar a Era Politicamente Correta, ninguém mais vai se chocar um faniquitar, pois não será mais status ser um indignado caga-regra. Até lá, que venham mais e mais Cus Verdes, para acelerar essa transição.

Não há explicação racional para o choque causado pelo cu-verde, a não ser cagação de regra. Uma curiosidade: naquele clipe da Clarice Falcão, que todo mundo afirmou ser “arte”, havia um cu, uma pessoa que efetiva e propositadamente abria as duas bandas com a mão e mostrava o cu, e no geral ele foi bem aceito por elitistas. Digo mais: houve uma argumentação vergonhosa para defender a pertinência deste cu, e todo mundo aplaudiu.

A própria Clarice jogou a falácia de estava surpresa pelas pessoas se chocarem ao verem que outras “tem genitais”. Não, não, Clarice. Todo mundo sabe que todo mundo tem genital, o que você não espera é ver isso em um clipe de música, pois não se convenciona socialmente colocar esse tipo de conteúdo nesse tipo de local. Quer inovar e colocar? Vai fundo. Mas reclamar que as pessoas se choquem e infantilizar isso atribuindo o choque ao fato de “não saberem” que pessoas tem genitais? Fica feio chamar os outros de burros assim. Eu sei que todo mundo caga, mas se botar uma pessoa cagando em um clipe eu vou me chocar, não por desconhecimento e sim pelo inesperado. Mas no carnaval? Nudez e péssimo gosto são os carros-chefes do carnaval, o não era inesperado!

O que eu não entendo é que pessoa não se choquem com um cu no contexto de um clipe e se choquem com um cu no contexto do carnaval. É preciso uma baita gincana argumentativa para sustentar isso. O mais curioso é que os mesmos que toleraram um cu de Clarice Falcão, classificando-o com Cu-Arte, condenaram o cu verde do carnaval. Cu por cu, eu prefiro o verde, que ao menos era depilado.

Vai ter quem argumente que o choque veio por estar na televisão, justamente por isso fiz uma pesquisa detalhada e sofrida sobre o histórico anal da TV brasileira. Ocorre que outros cus já apareceram, sendo o mais famoso deles um cu no repugnante programa Teste de Fidelidade, onde um homem abre as bandas de uma mulher deitada promovendo uma clara exposição cuzal. E nem rosa era o cu, era um desses cus escuros desagradáveis. Então, nem o ineditismo pode ser usado como argumento.

Não há explicação plausível para esse overeacting do Cu Verde, são os ventos da mudança, os sinais de novos tempos e os medíocres tentando resistir a eles. Mas, para todos os efeitos, vou concluir que estamos diante de um caso de Cufobia, assim os medíocres também me entenderão.

Francamente, em um carnaval onde o principal acessório da moda é pochete, um cu verde é até um refresco para meus olhos.

Para se surpreender com a quantidade de vezes em que escrevemos “cu” hoje, para me acusar de preconceito de cor contra cus ou ainda para passar a ver o Cu Verde com outros olhos: deixe seu comentário.

SOMIR

Eu posso dizer que essa cena me acrescentou muito. Eu sempre tive a dúvida se o tapa-sexo cobria o cu ou não. Eu não tinha acesso à informação, não conhecia mulheres que usavam, e mesmo se conhecesse, presumo que precisaria de um certo grau de intimidade para enfiar um “o seu tapa-sexo vai até o cu ou ele fica tomando vento no desfile?” numa conversa casual. Pra mim a Rede TV! deu um furo jornalístico. Parabéns. Eu aprendi uma coisa nova.

Era algo que fazia falta na minha vida? Não. Eu poderia ter continuado a minha vida sem resolver o mistério da cobertura anal no carnaval, mas… presume-se que pelo menos numa cobertura do evento o tema seja relevante. Convenhamos que quem liga sua TV para ver a cobertura dos bastidores do carnaval esteja na pista para ver um cuzinho ou outro, não? Existem várias outras opções de entretenimento onde a imagem do fim do sistema excretor sólido humano não é um risco. Agora, numa série de entrevistas com mulheres basicamente nuas rebolando diante de uma câmera guiada por um ginecologista amador, o cu faz parte do pacote.

E aí parece muito confusa essa espécie de indignação seletiva do brasileiro. Convenção social por convenção social, o resto do carnaval avança muitas linhas que costumam ser respeitadas no resto do ano. Me faz diferença o que o brasileiro vai escolher no final das contas? Não. Se quiserem fazer a Unidos da Estrela Marrom e um desfile só de pessoas mostrando os cus, divirtam-se. Não é como se o Brasil tivesse uma imagem a zelar. Se quiserem começar a esconder mais a nudez e tornar a putaria mais velada novamente, sem estresse. Carnaval não me diz muito respeito não…

Mas, o mesmo povo que estava entrando em guerra civil internética sobre uma participante do BBB fazendo um pedido sexual ao vivo na transmissão, pentelhando quem achou a situação bizarra com um discurso de liberação sexual feminina… cadê eles para defender o cu verde? O cu é da moça e ela mostra para quem quiser ver. Assim como a boca era da moça do reality show e ela deixava entrar o que bem entendesse ali. O chilique que as lacradoras deram pela repercussão negativa da história do BBB não deveria encontrar eco no cu verde? Se é empoderamento que uma mulher que passou meses sendo avisada que seria filmada e gravada em tudo o que faria expor sua intimidade sexual ao vivo para o país todo, inclusive a família que sabia que estava assistindo, oras… não é muito empoderamento uma profissional do exibicionismo conseguir enfiar seu cu nas caras dessa sociedade repressora com o corpo feminino? Ou será que estava muito depilado ou pouco flácido pra gerar compaixão?

Seja como for, é divertido e terrível que esse assunto tenha ganhado essa popularidade. Porque se você acha que esse é o ponto baixo da TV brasileira, está passando muito tempo no Youtube. Eu vi coisas piores só em matéria de carnaval na minha infância (saudosa Manchete). E com a baixaria de verdade que são as notícias da Lava-Jato e do poder em geral, eu trocava fácil pela baixaria de cus de fora.

E se me permitem a divagação, é meio que uma alegoria da sociedade moderna: as pessoas parecem ter esquecido que cus existem. Não pela imagem deles, a internet está aí pra provar, mas pela realização que ele está lá, sempre. Grupos antagônicos, todos achando que cus são coisa do outro lado e que não fazem merda. Quando um se arreganha assim diante de nossos olhos, será que não lembramos da inescapável realidade de que todos temos um? Que no final das contas somos muito parecidos e que só muda a cor que se pinta?

O que se espera quando uma pessoa pelada agacha com uma câmera apontada para sua bunda? Será que não é justamente esse o problema da sociedade atual, pessoas agachando peladas na frente de milhares de câmeras e não querendo que apareça o cu? Querendo que o resto do mundo finja que não está vendo? Escreve merda na rede social, se expõe em zilhões de fotos e vídeos, caga na frente do mundo todo e ai de quem apontar que está vendo aquele cu!

O cu tinha que estar ali! Era inevitável naquela situação, como homem eu não ligo de ver cus femininos suficientemente estéticos, mas como designer me incomodou a falta de tinta. Não precisa ficar mostrando o cu por aí, mas se vai mostrar que pelo menos harmonize ele com o resto da fantasia. Mas cá estou eu divagando de novo… o cu tinha que estar ali e é maluco quem entra em choque por causa disso. E é basicamente isso que acontece hoje em dia no politicamente correto que tanto criticamos: essa subversão da realidade por algo menos enrugado.

Não adianta fingir que não está lá, não adianta se ofender quando aparece. Tem que lidar com os cus verdes que sempre apareceram e sempre vão aparecer. E como eu li o texto da Sally antes de escrever o meu, já estou adotando o termo da forma como ela descreveu. Estamos indo para um mundo de cus verdes, e tudo vai depender de quanto você ficar constipado com eles.

Para dizer que brilhamos quando temos que falar dessas baixarias, para dizer que se fosse um cu de homem eu estaria reclamando, ou mesmo para dizer que às vezes adora o Brasil: somir@desfavor.com

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Comments (18)

  • Pelo ronco do motor… Sally, o site não esta dando mais retorno quando surgem novos comentarios? Não estou recebendo mais notificações embora tenha visto algumas respostas ao ir direto no post.

  • O que mais me chocou na verdade foi o formato do cu. Não sei se pelo ângulo ou se por eu não ter visto tantos cus assim na vida, mas achei um cu meio feio, desbeiçado, largo. Do tipo que não peida, boceja.

  • Essa tinta não faz mal ao cu?
    Se precisar cagar, ao se limpar, o marrom do coco se mistura com o da tinta e fica verde camuflagem?
    Mudando de assunto, aquela do filme Marlon Brandon, dedada amanteigada no cu pode ser considerado estupro?
    Foi uma dedada de 1 segundo é mesmo assim ela não saiu do personagem, continuou atuando o estupro como o previsto….

  • Innen Wahrheit

    Podem me criticar, mas acho que esta foi a segunda coisa mais engraçada que já vi acontecer na TV aberta até hoje – não necessariamente pelo ato em si, mas pelo que acrescentou ao currículo dos envolvidos (ter a sua imagem vinculada – e graças à internet, eternizada – a um cu verde ao vivo não tem preço)

    A primeira coisa mais engraçada? Foi essa aqui:

    https://youtu.be/iNlqsDBI3nk

  • Tô entendendo nada. Há pouco tempo um cara mostrou a rola naquele programa bobo da Fernanda Lima e ninguém ficou enchendo o saco.

    • Globo = disruptivo,artístico, inovador, ousado

      Outras emissoras = vulgar, baixo, falta de respeito com a família brasileira

  • Gente, inacreditável que eu, habitante do hell de janeiro e ávida frequentadora do carnaval carioca, não tenha presenciado polêmica de cu alguma. Até teve um dia que comentamos numa mesa de bar, mas foi mais para rir da situação do que qualquer outra coisa.

    O cu é algo tão natural que me espanta que pessoas se incomodem mais com isso do que as cenas de violência e de sexo das novelas da globo que crianças assistem.

    E Sally, provável que a grande maioria que assistia o cu não deve ter acesso ao que Clarice Falcão faz e lança, por isso nem deu pra fazer barulho sobre o clipe.

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