BMJ – Dia 3

Mais um dia de BMJ. Agora restam apenas Jesus, Pedro, Judas, Matheus, Tadeu e João. O clima na casa está tenso, além de Judas, Pedro também parece muito revoltado com a forma injusta como D.E.U.S. (Diretor Executivo da Unidade S.) está administrando o jogo. A divisão de grupos aconteceu quase que naturalmente: no Grupo 1, Jesus, João e Matheus e, no Grupo 2, Judas, Pedro e Tadeu.

Iniciaram o dia com uma votação para ver quem seriam os Ungidos do dia. Jesus, que não recebeu nenhum voto, foi designado como Ungido do grupo um por D.E.U.S., assim, na cara de pau. Pedro apoiava a mão no ombro de Judas e pedia calma. Judas sabia que se ele não fosse o Ungido do grupo 2 seria apedrejado, então, se candidatou e venceu, não com muita folga. João e Matheus não param de bajular Jesus, como estratégia para se manter na casa. É patético vê-los concordando com toda estupidez que Jesus sugere, hoje mesmo estavam conjecturando sobre como colocar uma moeda na boca de um peixe.

Os dois grupos foram reunidos em torno de um palco, com uma cortina fechada. Sempre soube que D.E.U.S. não tinha limites, mas até eu me choquei com o que vi quando as cortinas se abriram: um homem agonizava doente em uma cama. A tarefa dos grupos era ajudar este homem. O pobre infeliz se chamava Lázaro, era um respeitado patriarca judeu conhecida na cidade, que parecia estar à beira da morte. Os populares olhavam maravilhados por aquele sadismo peculiar ao populacho. Os dois grupos se olhavam atônitos: como marcenaria ajudaria um homem moribundo?

Em determinado momento, Judas começou a gritar, olhando para cima (local onde estavam os amplificadores de voz usados por D.E.U.S., que falava de sua cabine). Ele cobrava satisfações de D.E.U.S. sobre a crueldade de expor uma pessoa morrendo ao público. Mais e mais espectadores começaram a chegar quando o boato de que um homem morreria no palco se espalhou. Lázaro agonizava, cada vez mais, e os dois grupos não tinham a menor ideia do que fazer. Com a intenção de criar um clima ainda mais apelativo, D.E.U.S. mandou entrar no palco as irmãs de Lázaro, para assistir sua agonia e pressionar os grupos. Simplesmente nojento.

Em poucas horas pessoas se acotovelavam para assistir Lázaro morrer no palco, a maior parte de judeus, solidários à família do conhecido patriarca. Suas irmãs gritavam com os participantes, que estavam muito constrangidos, excetos Jesus. Jesus estava cagando. Quando elas foram até Jesus implorar que salvem a vida do seu irmão, que estava morrendo, ele apenas disse: “Esta doença não é para morte, mas para a glória de D.E.U.S., a fim de que o filho de D.E.U.S. seja por ela glorificado.”. Sim, Jesus fala dele mesmo na terceira pessoa. Jesus é nojento.

Chegou a um ponto onde Judas percebeu que não adiantava apelar para o bom senso de D.E.U.S., ele era mercenário e inescrupuloso o suficiente para deixar aquele infeliz morrer ali, na frente da família e de centenas de pessoas sádicas. Então, ele reuniu seu grupo e começou a rascunhar um projeto. Enquanto isso, Jesus começava a beber, mesmo sendo manhã. Se já era inconveniente sóbrio, bêbado então, Jesus era insuportável. Até seu grupo saiu de perto quando ele começou a fazer piadas.

Tudo começou quando uma das irmãs de Lázaro se aproximou de Jesus para implorar ajuda. Ali teve início um festival de inconveniências nunca antes vistas. Ela perguntou chorando “O que ele tem? O que ele tem?” e Jesus respondeu “Pouca coisa, um jumento e uma casa velha, infelizmente vocês não vão herdar muita coisa”. Em um primeiro momento, a multidão de judeus estava distraída demais pela agonia de Lázato para perceber as barbaridades que Jesus estava dizendo, mas como ele nunca para na primeira, em algum ponto da inconveniência, as pessoas começaram a prestar atenção.

As irmãs de Lázaro choravam ao pé da cama: “Irmão, quando você teve lepra, ficamos ao seu lado, quando você perdeu toda sua fortuna, ficamos ao seu lado, quando seu filho morreu, ficamos ao seu lado, por isso, não se preocupe, não sairemos daqui”. Jesus, deitado, bebendo vinho do gargalo, gritou “Estou achando que o problema são vocês, que são pé frio!”. Os integrantes de seu grupo faziam sinais para que ele se cale, mas foi em vão.

Os judeus da plateia começaram a ficar inquietos e pedir o apedrejamento de Jesus, mas antes que o sentimento tome conta da multidão, D.E.U.S. interveio para tentar impedir o apedrejamento e acalmar os ânimos: “Quem nunca errou que atire a primeira pedra!”. Neste momento, ao ouvir esta frase, Jesus pega uma das pedras que estavam em um canto do cenário reservadas para o apedrejamento de mais tarde e atira com força na cabeça de Lázaro. Pedro, desesperado, grita com Jesus “Porque você fez isso? Você nunca errou?” e Jesus reponde “Jogando de tão perto? Não!”. Lázaro solta um último suspiro e morre.

Neste momento, não foi mais possível conter os judeus da plateia. Jesus havia matado Lázaro com uma pedrada, quando a tarefa do dia era justamente o oposto, salvá-lo. Centenas de pessoas gritavam enfurecidas. Até mesmo D.E.U.S, O Todo Poderoso, estava sem reação. Judas gritava “O que foi que você fez, seu idiota!” e Jesus, bêbado, ria. As irmãs de Lázaro, enfurecidas, começaram a fazer um longo discurso contra Jesus e convocaram os judeus a se unirem contra ele.

Houve um intervalo forçado no programa, a pretexto de um lanche para a plateia, mas era fácil de perceber que a intenção era outra. Produtores correndo de um lado para o outro, D.E.U.S. gritando “tragam ele aqui!”, enquanto dois seguranças arrastavam Jesus. Fomos removidos do local, enquanto Judas e Pedro consolavam as irmãs de Lazaro.

Após um longo intervalo, voltamos para os nossos lugares e Jesus reapareceu bastante sério. Disse que o que a plateia presenciou foi uma cura, um verdadeiro milagre e que Lázaro estava vivo, que era preciso deixa-lo morrer para trazê-lo de volta. Depois, se posicionou para receber aplausos, mas os aplausos não vieram. Jesus, meio ofendido, reforçou que Lázaro estava vivo. A plateia continuou em silêncio. Jesus, então, impaciente, levantou a mão e gritou “Lázaro, levanta-te anda!”. Lázaro, que a esta altura tinha uma coloração azulada, moveu inicialmente os braços e depois os braços e as pernas, em movimentos torpes e descompassados, até ficar de pé. Pude observar que fios transparentes puxavam seus membros.

A plateia, maravilhada, aplaudiu freneticamente. Algumas moscas começavam a pousar pelo corpo de Lázaro, que dançava de forma torpe no palco. Jesus tentava segurar o riso. Então, D.E.U.S. decretou o grupo 1 como vencedor do dia, uma vez que haviam “curado” Lázaro.

Porém, a encenação não durou muito tempo: um dos fios se partiu, fazendo com que metade do corpo de Lázaro caia sem vida no chão. Jesus começou a gritar “Levanta-te e anda, Lázaro! Anda! Levanta-te e anda caralho!” até que D.E.U.S. o interrompeu com um sonoro “Cala a boca, idiota”. O outro lado da corda se rompeu e o corpo de Lázaro caiu inerte no chão.

Neste ponto, a multidão perdeu o controle. Invadiram o cenário, pegaram as pedras que deveriam ser usadas em uma votação civilizada e saíram apedrejando indiscriminadamente. A intenção era apedrejar Jesus, mas no meio da confusão, voaram pedras para todos os lados. Judas, em um ato heroico, salvou Pedro, se jogando na frente de uma grande pedra que voava em direção à sua cabeça. Os mais rápidos se salvaram e o saldo final foi o corpo de Matheus, Tadeu e João estendidos no chão, enquanto Jesus, Pedro e Judas se escondiam da fúria popular.

Acredito que hoje é um dia histórico. Nem mesmo aquele jornaleco de bosta que é A Bíblia vai poder negar o que aconteceu. Por mais que mintam e distorçam a história, cada judeu aqui presente vai divulgar a verdade. Sim, a situação vai sair do controle de D.E.U.S. e seu filho querido vai conhecer inimigos pela primeira vez na sua vida. Não acredito que seja possível que Jesus vença o Big Mártir Judeia depois disso, está na cara, este prêmio é de Judas!

Para dizer que essa semana está sendo uma Via Crúcis para você, para dizer que tem orgulho de não entender as referências, ou mesmo para dizer que só assim para a história ficar divertida: deixe seu comentário.

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Comments (2)

  • Dei risada visualizando a cena da “ressurreição” de Lázaro, especialmente a parte dos fios puxando os braços e pernas do coitado, como se fosse um fantoche… Grotesco, mas engraçado.

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