+A expansão da fé no Brasil acontece em ritmo intenso: uma nova organização religiosa surge por hora no país. A facilidade para a abertura de novas igrejas — a burocracia é pequena, ao contrário do que acontece em outras atividades —, o fortalecimento do movimento neopentecostal e até mesmo os efeitos da situação econômica são apontados como motivos que podem explicar o fenômeno.

Quando a religião em si é o menor dos problemas de uma notícia, sabemos que lá vem um senhor desfavor da semana.

SALLY

Uma nova organização religiosa surge por hora no Brasil. Isto é um retrato do Brasil e um belíssimo desfavor da semana.

Alguém aqui já tentou empreender no Brasil? A burocracia, os custos e a dor de cabeça generalizada desestimulam e até impedem que pessoas boas, que tem ótimas ideias e projetos, criem sua startup ou abram uma empresa. Empresas, vilanizadas em tese pelos esquerdopatas, geram empregos e progresso social. Mas, abrir uma empresa no Brasil é caro, trabalhoso e até mesmo escrotizado: empresário é tudo ladrão, explorador e opressor. Igreja não, igreja é bacana. Nada mais justo do que tomar 20% do salário da pessoa em troca de um pedacinho no céu.

Abrir uma igreja é um procedimento totalmente desburocratizado. Igreja não paga impostos. O Brasil facilita ao máximo a abertura de igrejas. Vocês conseguem imaginar o que isso significa, né? Dar liberdade ao brasileiro médio não acaba bem. Pode abrir quantas igrejas quiser? Fodeu. Diarreia religiosa. Todo idiota tem poder para abrir uma igreja e, com isso, todo idiota consegue voz para propagar seus vômitos fecalóides e atrair mais idiotas que pensem como ele, fortalecendo as ideias idiotas. Sim, o Brasil desestimula quem gera emprego e melhora a economia e estimula quem propaga imbecilidades.

Quando você permite que um povo sem cultura e boa educação saia abrindo igrejas coisas, como esta acontecem: “Associação Ministral dos Homens Corajosos”, “Associação Missionária Boneka”, “Igreja Missionária As Portas do Inferno Não Prevalecerão”, “Associação Ministerial Chris Duran”, “Igreja Evangélica Pentecostal Porta Estreita”, “Ministério Para Que Ele Cresça”, “Assembleia de Deus Garagem da Vitória”, “Ministério Itinerante o Querer de Deus”, “Igreja Ministério Fonte Água Cristalina”, “Igreja Sinos de Belém Missão das Primícias”, e a impagável e sensacional “Igreja Protestante Escatológica”. Dá liberdade para brasileiro para você ver o que acontece!

Estas são para quem mora no Rio de Janeiro: “Assembleia de Deus Derrubando Muralhas em Irajá” (em Irajá, provavelmente deve ser tentativa de assalto!), “Evangelho Pleno do Poder de Deus em Jacarepaguá” (na boa, nem o demônio quer ir a Jacarepaguá, quem dirá Deus) e “Igreja na Obra da Restauração de Tudo em Itaguaí” (não gostaria que o frango que eu almocei volte à vida). Não estou de sacanagem, em breve teremos a “Sagrada Igreja do Meu Pau te Ama em Cristo”, a “Igreja do Funk de Deus dos Últimos Tempo” ou a “Congregação Manda Nudes Divinos”.

Sabem quem financia esta excrescência? Você e eu (além dos fiéis otários que pagam dízimo). Toda a gratuidade dada às igrejas tem um custo e quem paga somos nós. Pagamos para que a sociedade fique cada vez pior, cada vez mais emburrecida, com pessoas com a cabeça cada vez mais fechada, preconceituosa e ignorante. Já era ruim o bastante quando uns filhos da puta mercenários arrancavam dinheiro do povo na base do estelionato, agora que, além disso, temos também todo tipo de burro curioso vomitando o que pensa, a coisa vai ficar insuportável.

Todo tipo de ignorância será propagada. Todo imbecil tem voz, incentivo governamental e gratuidade de impostos, enquanto que jovens empreendedores que tem ideias para melhorar a produção de alimentos ou ajudar pessoas doentes tem que encarar toneladas de burocracia, fiscalização e custos altíssimos. Parabéns, Brasil, por este direcionamento. Espero que em 50 anos estejam regando alface com Coca-Cola, estilo Idiocracy e morram todos de fome.

Não sou contra a liberdade religiosa nem a diversidade de igrejas, mas acho que já é possível perceber que o assunto precisa ser mais bem regulado. Todo curioso, todo megalomaníaco, todo carente que se acha especial e acha que tem “uma mediunidade muito desenvolvida” se sente no direito de abrir uma igreja e propagar suas imbecilidades. Todo idiota se acha importante e acha que tem o que dizer. Gente, gratuidade do Brasil simplesmente não funciona. Olha o uso que as pessoas fazem do whatsapp! Brasileiro é pessoa que pega todos os saquinhos de adoçante do restaurante ou todas as balinhas do Uber e coloca na bolsa. Não dá!

Em um país de pessoas ignorantes, suscetíveis a todo tipo de resposta fácil e atalhos miraculosos, esta proliferação desenfreada de igrejas é especialmente nociva. Além de retroalimentar a ignorância, estimula um “nós x eles” de Cristo. Sim, o maniqueísmo e a agressividade com a diversidade não se restringe à politica, pode ser observado também no mundo religioso. Neguinho que dá pedrada em uma criança por ela se relacionar com o Candomblé está recebendo abrigo e incentivo em templos cujos pastores são incapazes de uma simples conjugação verbal.

Este desfavor da semana vai bem além do nosso rotineiro “religião é um desfavor que faz mal à sociedade”. A proliferação desenfreada de igrejas empodera pastores ainda mais incapazes do que o usual. Os filhos da puta são ruins, mas ao menos um filho da puta tem alguma inteligência e discernimento. Esses dementes pregadores são verdadeiros macacos com navalha e podem causar qualquer tipo de desgraça social imaginável.

Vou me repetir, mas não tem jeito: democratizaram antes de educar. Isso dá merda. Igreja sem impostos com total liberdade de criação e de culto é lindo em tese, mas só funciona para países civilizados. Assim como prisão para ressocializar e tantas outras premissas da lei brasileira que, em tese são lindas, mas estão a anos luz de dar certo em uma sociedade atrasada e tosca como a brasileira. Hora de admitir a condição de vira-lata e fazer leis condizentes com a realidade.

Parece democrático que o Zé Buceta da esquina possa abrir uma igreja, pregar o que quer e até usar substâncias alucinógenas em nome de um Deus, mas na verdade, é temerário. Colocar um povo sem discernimento para ouvir pessoas igualmente sem discernimento não vai dar certo. Boa sorte aí para quem deixa descendentes neste país, as perspectivas não são as melhores.

Para dizer que em vez de reclamar vai aproveitar e abrir uma igreja, para fundar a Igreja Desfavoriana dos Últimos Dias ou para flertar com o desastre e sugerir que eu abra uma igreja para louvar o Pilha: deixe seu comentário.

SOMIR

Quem já leu meus textos sobre religião sabe que eu chego até a classificá-la como uma espécie de doença mental. Uma falha do sistema empático humano que cria consciências humanas onde elas não existem, tudo isso potencializado pela nossa especialização em percepção de padrões, custe o que custar. E essa percepção, por incrível que pareça, me deixou bem menos agressivo em relação à religiosidade alheia: eu tenho os meus problemas na cabeça que outros não tem, outros tem esse que eu não tenho. A imperfeição inerente à condição humana torna isso inevitável. O ideal é convivermos bem e melhorarmos como um todo, nem que seja um pouquinho por vez.

Pois bem. Com essa introdução, o que realmente me incomoda na notícia: a democratização excessiva do discurso de autoridade religioso. Apesar de achar que o fiel médio tem a culpa de financiar todo o sistema, não podemos ignorar que quem costuma colocar as maiores barbaridades no mundo são os líderes religiosos. Quanto mais a igreja se estrutura, maior seu poder de interpretar e deturpar os conceitos da sua religião. Se considero religião um problema mental, considero religião institucionalizada um problema social. Porque é aí que o discurso supersticioso começa a trazer consigo os desejos pessoais de padres, pastores e sacerdotes em geral.

E lembrando que somos todos falhos, há de se ter muito cuidado com a proliferação da vontade de um em muitos. O que já era perigoso em tempos de grandes religiões com poderes centralizados começa a ficar ainda pior com essa atomização das igrejas, muito por culpa da falta de controle central nas igrejas evangélicas. Muitas pessoas podem pegar para si o discurso de autoridade religioso, emprestando de uma divindade a presunção de controle da realidade através da interpretação de escrituras ditas sagradas.

O que já um risco naturalmente torna-se ainda pior quando gente que não sabe interpretar qualquer texto toma para si a responsabilidade de definir moralidade e ética para um grupo de pessoas indefesas. Qualquer aventureiro pode abrir uma igreja, o Estado não tem políticas para coibir o uso indiscriminado da liberdade religiosa, e a maioria das pessoas neste país vive em condições tão degradantes que qualquer promessa de melhoria já é suficiente para modificar seus comportamentos.

O problema é que a explosão de líderes religiosos acontece justamente nesse país de pessoas desesperadas. E esses pastores que proliferam são amostras do mesmo universo: gente que como a maioria é analfabeta funcional, saindo de um sistema de educação fraquíssimo, convivendo com gente brutalizada sob a ilusão que o “jeitinho brasileiro” é uma coisa positiva, assim como seus fiéis. São cegos guiando cegos.

E como é característica de textos escritos em tempos antigos e revisados inúmeras vezes de acordo com interesses pontuais, suas escrituras sagradas oferecem pouca ajuda na formação de uma consciência factual do mundo em que vivemos. As pregações de pastores de baixíssimo nível intelectual são basicamente repetição de textos teológicos que não compreendem misturadas com conservadorismo ignorante de quem não teve acesso ao conhecimento humano atualizado.

E quando essa massa de profetas vazios encontra uma massa ainda mais numerosa de pessoas desesperadas por algum alento nessa vida injusta, temos um cenário de regressão intelectual severa. Porque não só a falta de conteúdo desses pastores evita que a maioria das lições mais razoáveis dos mitos religiosos sejam compreendidas como ainda reforçam visões pouco educadas sobre a sociedade e sua evolução desde a escrita desses mitos.

E o ser humano tem essa tendência a ser mais suscetível ao discurso daquele mais próximo, até porque o discurso vem mais personalizado. Um papa fala em linhas gerais sobre perdão e importância da família, um pastor de uma micro igreja vai até uma mulher que apanhou do marido para dizer que ela deve ter mais fé para evitar isso no futuro. A mensagem mais terrível prevalece pela sua proximidade. Analfabetos funcionais entendem ordens diretas, e não conceitos generalistas. Infelizmente.

Quanto mais as religiões conseguem se espalhar como oportunidade de negócio para pessoas que não conseguiriam respeito de nenhuma outra forma na sociedade por suas limitações, é o discurso atrasado e ignorante que vai ter poder. Triste dizer isso, mas saudades do poder da Igreja Católica…

Para dizer que eu seria um excelente pastor, para dizer que eu que tenho doença mental (devo ter mesmo, mas não essa), ou mesmo para dizer que a última frase do texto foi terrível: somir@desfavor.com

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Comments (11)

  • Qualquer garagem com cadeiras de plástico brancas e “Assembleia” escrito na parede da entrada é chamado igreja.

  • Não deve ser coincidência o fato de que, historicamente, o crescimento de religiões – hoje em dia sobretudo a evangélica por aqui – sempre aconteça em sociedades atrasadas, primitivas e pouco afeitas à razão e à ciência, certo? Juntando-se a isso dois fatores que vocês apontaram: 1- dos “cegos guiando cegos” – pastores analfabetos funcionais sem embasamento teológico algum pregando para fiéis tão analfabetos funcionais quanto eles próprios e 2- mais facilidade burocrática e econômica para criar novas “igrejas” do que empresas e temos a receita perfeita para que tudo vire uma merda bem grande, com perseguições – declaradas ou não – aos não-evangélicos, doutrinações de toda espécie e pastores ganhando cada vez mais espaço na política.

    E pensar que em países desenvolvidos, devido ao aumento no número de ateus, há igrejas – católicas e protestantes, é verdade, ms ainda assim igrejas – fechando as portas e se transformando em bibliotecas, boates, pubs e cafés…

  • Agora que você citou, dava pra fazer um texto sobre nomes escrotos que as pessoas escolhem para suas igrejas. É cada nome engraçado (e ridículo): “Igreja Verbo da vida” (qual o verbo da vida?!), “Igreja Jesus Majestade”, “Igreja O sangue de Jesus tem poder”, “Igreja Jesus é lindo e cheiroso”, “Deus é amor” etc.

  • Desculpa mas não consigo sentir pena de gente ignorante, se não fosse a igreja pra tomar o dinheiro dessa gente séria qualquer outro golpe.

  • É assim mesmo que o anticristo virá.
    Tentando converter em mentira (doença mental, estelionato, roubalheira etc) toda verdade (paz, prosperidade, abandono do vicio, etc).
    Como diz pastor Feliciano, a igreja entra onde o estado não quer entrar.
    Religião não é igreja.

    Lavagem cerebral é mais grave quando aplicada em pessoas intelectualizadas.
    Cuidado!!!

    Quero ver onde vcs vao socar a primicia persuasiva quando o lombinho estiver virando pururuca no quinto dos infernos.

    São ateus? Ema ema ema.
    DEIXA QUEM QUER IR NA IGREJA EM PAZ. AH PORQUE IGREJA N PAGA IMPOSTO. PAU NOS SEUS CUS. ENDIREITA ESSA PORRA PRIMEIRO. FAZ NAO COLOCAREM PAPEL NA CARNE. CESIO NA PACOQUINHA, ACETONA NO LEITE. FAZ ME APOSENTAREM ENQUANTO CONSIGO LAVAR A MINHA BUNDA SOZINHA.
    NAO VEM FALAREM DE CRENTES NÃO.
    VOCES NAO CONHECEM O QUE É ISSO. ENTAO N PODEM OPINAR.
    GRANDE MERDA FALAR Q EVANGELICO E BURRO,
    VAI ABRACAR O CAPETA SEUS ARROMABADOS DESGRAÇADOS.
    PAU NO CU DE VCS. ENQUANTO VCS CHORAM A GENTE SO CRESCE.
    E SE CONTINUAR RECLAMANDO VOU AVISAR O PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA DE DEUS SOBRE ESSE BLOG.
    CRIVELAO VAI FECHAR ISSO DAQUI.
    BOCAIS
    TEM INVEJA

  • (…) para dizer que a última frase do texto foi terrível (…)

    Eu preferia que você insinuasse sobre colocar amigo(s) para expandir a Igreja do Rock…

    E definitivamente errou feio, né ? Tinha tanta certeza na base do “piora antes de melhorar”…

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