Esquentando…

Eu ia sugerir isso como desfavor da semana, mas lembrei que Sally e eu poderíamos não estar no mesmo barco neste tema. Portanto, não posso deixar passar batida a decisão do presidente americano Donald Trump de sair fora do Acordo de Paris, sobre mudanças climáticas. Devemos temer? Provavelmente sim.

Mas, o que é o Acordo de Paris? Em 2015, durante a COP 21, a maioria dos países do mundo assinaram um compromisso para reduzir emissões de gases causadores do efeito estufa, tentando reduzir um aumento de temperatura médio no mundo de 2ºC para no máximo 1.5°C em relação aos níveis pré-industriais (vulgo antes da Revolução Industrial). Além disso, os países ricos deveriam garantir financiamento de cem bilhões de dólares por ano para a causa. Não tinha muita regra sobre o quanto precisava ser cortado de emissões e nem quanto tempo duraria o esforço. Além disso, seria revisto a cada 5 anos.

Como um dos países ricos desse mundo, os EUA tinham que arcar com uma parte desse bolo, mas fora isso, vamos concordar que o acordo não era lá grandes coisas? Comprometer-se a evitar que o aquecimento global passe de uma certa temperatura é basicamente não se comprometer com porra nenhuma. Se daqui a 50 anos não conseguirem, que chato. O acordo não prevê valores exatos de redução de poluição… no final das contas, pediram para todos os países do mundo resolverem o aquecimento global e eles responderam “vamos ver”.

Então, com o que se preocupar? Os EUA faziam parte de um acordo bem meia bomba utilizado prioritariamente para seus signatários acreditarem que estavam ajudando. Agora não fazem mais. É isso que vai selar o destino da humanidade? Provavelmente não. A visão mais honesta sobre o aquecimento global é que o que quer que tenhamos colocado em movimento com nossa participação no processo, vai continuar vindo mesmo se pararmos com tudo neste minuto. O gelo está derretendo nos pólos, os mares estão subindo, o clima está diferente em boa parte do planeta…

E mesmo se você for do tipo que não compra que foram os humanos que causaram essas alterações recentes, saiba que culpa nossa ou culpa dos astros, tem algo acontecendo com o clima no planeta, e não está sendo positivo para a humanidade. Estamos no meio de um processo muito poderoso, que vai se estender por séculos e mudar a forma como as pessoas vivem nesse mundo. Se dá para mexer no futuro ao ponto de evitar tudo isso? Não, não dá. Tanto que o próprio Acordo de Paris sugere reduzir um pouco as conseqüências, não eliminá-las.

O que temos que entender aqui é a escala das coisas: um processo global exige uma quantidade imensa de energia para continuar em funcionamento. As geleiras que estão derretendo precisaram acumular calor por séculos para finalmente chegarem ao ponto de quebra, um ano ou outro de variação é facilmente corrigível na escala geral das coisas, até porque não adiciona tanta energia no sistema que não possa ser dissipada de outras formas, agora, quando as coisas vão se acumulando por tanto tempo, começamos a ver os processos em andamento atualmente. Icebergs do tamanho de cidades se soltando da Antártica não vêm de graça.

E não tem geladeira nesse mundo que combata esse aquecimento que já se acumulou com o passar dos séculos. Para desfazer o que fizemos vai demorar muito, e provavelmente nem vale a pena o esforço todo. Então, qual a importância de um acordo como o que Trump esnobou recentemente? Bom, ele gera avanços. Ele adiciona energia no sistema humano, evitando que ele fique estagnado.

Aposto que todos nós temos a impressão que a humanidade só vai para frente quando não tem qualquer outra opção disponível. O que eu acho parcialmente verdade: não precisamos todos entender uma nova forma de funcionar para nos adaptarmos a ela. Muitos seres humanos ainda nem entenderam toda aquela história sobre Direitos Humanos resultante da Segunda Guerra Mundial. Historicamente, alguns grupos se decidem primeiro por um novo modo de fazer as coisas e de acordo com seu poder e influência, vão fazendo o resto seguir mesmo sem entender.

Os “chatos” do aquecimento global fazem parte desse grupo. Complicado explicar para a humanidade que essa merda já está feita e que precisamos da ilusão de evitar esse desastre para evitar os desastres seguintes. Aposto que até a frase parece confusa, não? Vamos lá: o que eu estou tentando argumentar aqui é que o aquecimento global está acontecendo e não vamos mais pará-lo, tarde demais. A comunidade científica concorda em peso com essa afirmação, mas não é exatamente essa a narrativa que foi espalhada. E sim que temos que nos unir e levar a sério para evitar o pior nesta crise.

Foi mal, humanidade, mas aquecimento global é um diagnóstico tardio. Nós estamos vendo os primeiros efeitos, as próximas gerações vão ver muito mais. Não somos capazes de colocar energia suficiente no sistema para reverter o processo. Dito isso, a humanidade não vai ser extinta só por isso. Há vida pós planeta aquecido. Mas, que tipo de vida? Nossa matriz energética é baseada em combustíveis fósseis, que tem data para acabar. A população vai estar muito grande nas próximas décadas, com uma necessidade imensa de alimentos, alimentos dependentes do meio ambiente.

Se você acha que o Acordo de Paris é algo para evitar o aquecimento global, não é bem assim. Na verdade, é para mitigar suas conseqüências e nos permitir um salto tecnológico por necessidade “fabricada”, para que possamos lidar com problemas do futuro. Tudo bem que nem eu, nem você e muito menos o Trump temos grande interesse em defender o mundo dos próximos séculos, mas nós somos indivíduos. Nós temos esse luxo. Estados não, Estados não tem data de expiração e devem se preparar para muitos e muitos anos no futuro. Nossos problemas no Brasil atual são reflexo de décadas e décadas de descaso com o que vinha pela frente. Alguns problemas não podem ser resolvidos na hora que acontecem, precisam de preparação.

Nossa relação com o clima é uma delas. Vamos agüentar o tranco do aquecimento global, mas será que dá para agüentar o tranco do colapso da matriz energética e alimentar sem grandes esforços para diversificação e eficiência? Porque na hora que o povo precisar se mexer para isso, já vão estar com as duas mãos amarradas nas costas.

Se eu estou puto pessoalmente com o Trump? Não. Mas eu sou finito. Eu pago impostos e agüento a encheção de saco de ter uma sociedade estruturada justamente para que alguém faça isso.

Para me chamar de ecochato agnóstico, para dizer que ainda não entendeu o ponto, ou mesmo para dizer que pelo menos se diverte com o Trump cagando para a opinião pública: somir@desfavor.com

Se você encontrou algum erro na postagem, selecione o pedaço e digite Ctrl+Enter para nos avisar.

Etiquetas: ,

Comments (12)

  • eu acredito em aquecimento global, mas esses acordos ecológicos é só pros países ricos continuarem metendo o bedelho em países pobres que estão se desenvolvendo.
    fácil pagar de amigo da natureza no próprio território e ir sujar a casa dos outros… tá cheio de empresa europeia fazendo a festa na amazonia. me poupe!

  • Sério até hoje não sei se essa porcaria do aquecimento global é uma falácia ou fato consumado… Pra variar ainda tem as versões da era do gelo

    • A luta contra o aquecimento global é um case espetacular de propaganda. É capaz de isso dar um Publiciotários interessante…

  • Os climatologistas dizem que esse papo é balela, que o aquecimento é cíclico e que essa campanha é de fundo econômico, para trocar gás de refrigeração. Tipo a tomada de três pinos ABNT e aquele kit de primeiros socorros, ou as luzes de uso diurno que virão a partir de 2018 nos automóveis. Assim como aquela conversa de que a Amazônia é o pulmão do mundo, tudo papo pra botar a mão no dinheiro que ela vale.

    • Como não deixo herdeiros neste mundo e sou um ser humano de saco cheio de tudo, honestamente, eu quero que o planeta se foda. Não vou gastar minha energia para resolver um problema que vai estourar em 200 anos.

      • Penso da mesma forma, Sally. Tenho tanto com o que me preocupar (cuidar da minha vida que já tá difícil). Esse pessoal que luta pelo bem estar do planeta não deve ter nada pra fazer hein? Vão todos TNC!

  • Wellington Alves

    Essa história de aquecimento global não passa de uma farsa. Tanto que os mesmos já estão mudando a nomenclatura para “mudanças climáticas”. Inúmeros cientistas apontam que vivemos ciclos de aquecimento e resfriamento. Dizem ainda que estamos prestes a entrar num período de resfriamento, que ocorre quando o sol reduz sua intensidade. Sempre ouvimos aquelas notícias que dizem que hoje fez a temperatura mais alta dos últimos 80 anos… Como assim? Quer dizer que há 80 anos atrás existia um aquecimento global?
    Do mesmo modo que dizem que tal dia foi o dia mais frio dos últimos 30 anos, ou como foi aqui em São Paulo, a maior estiagem dos últimos 100 anos.
    Tudo isso não passa de uma estratégia de grupos globalistas para interferir nas políticas públicas mundiais. Atenção: globalismo é diferente de globalização. Globalização é o comércio mundial, globalismo é a unificação dos governos para um comando central.
    Estes termos, tratados, que são impostos para que os países assinem, faz com que cada país abra mão de sua soberania e se submeta a diretrizes externas.
    Sugiro o podcast Senso incomum para entenderem melhor do que se trata, tem lá um episódio exatamente sobre globalismo.

    • Vou te falar isso com todo o apreço que tenho pelos impopulares: existe overdose de pílula vermelha. Quando a gente fica muito focado em olhar por trás da verdade, acabamos não olhando para ela. Eu não discordo terrivelmente de você, mas quando a narrativa fica tão perfeitamente amarrada como você e tantos outros estão apontando nos dias de hoje, é hora de desconfiar de novo.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Relatório de erros de ortografia

O texto a seguir será enviado para nossos editores: