Inglês e informática são duas áreas de conhecimento que aparecem como requisito em diversas vagas no mercado de trabalho, Sally e Somir concordam que ambas são importantes, mas não na hierarquia. Os impopulares mandam suas opiniões para apreciação.

Tema de hoje: o que é pior, ser analfabeto digital ou analfabeto em inglês?

SOMIR

Com certeza não conhecer inglês é muito pior. Eu até cedo o ponto que o conhecimento em informática permite mais ações do que o em inglês, mas quando se pensa no quadro geral, estamos falando de muito mais que o número de funções que cada um permite realizar, e sim de como isso se desenrola com o passar do tempo. E é aqui que eu digo: informática está em constante evolução, inglês muito menos.

Quando eu mexi no meu primeiro computador, precisava escrever comandos exatos numa tela preta para abrir um programa. Instalar uma placa de som (porque precisava colocar uma naquele tempo) era uma tarefa herculéica, que exigia de você o conhecimento de como as outras peças do computador estavam definidas no sistema para não causar conflitos. E mesmo assim, vivia dando problema. Eu precisei fazer um curso para saber como montar um computador, porque erros poderiam queimar a máquina!

Hoje em dia, só entusiastas montam computadores, e olhe lá. Eles já vem montadinhos, portáteis e com sistemas que já tentam prever o que você vai fazer e deixar tudo o mais óbvio possível. E os programas no computador moderno? Eles são bem específicos para o que as pessoas realmente usam, e as pessoas basicamente usam um navegador de internet e um ou dois programas de escritório no seu dia a dia. Quem faz esses programas tem a missão de torná-los intuitivos e simples de usar, evitando que você tenha que completar mais do que um ou dois passos para chegar a qualquer função necessária.

Quando eu comecei a aprender inglês, era a mesma coisa que agora. Digamos que algumas palavras novas surgiram, mas nem todas vão vencer o teste do tempo. Tirando modas passageiras, inglês é inglês há muitos e muitos anos. E desde os tempos da colonização inglesa, é uma língua muito famosa. Praticamente todo o conhecimento humano está traduzido para o inglês de uma forma ou de outra. Pudera, é a principal segunda língua do mundo. Um dos poucos lugares comuns entre culturas vastamente diferentes e separadas geograficamente é que com certeza alguma parcela da população sabe falar inglês. Um alemão visitando a Indonésia se beneficia de falar inglês, um russo visitando o Senegal idem.

E hoje em dia, muito pela evolução da informática, visitar um lugar não significa necessariamente por os pés no lugar. Eu tenho uma micro-empresa de atuação regional e já tive que me comunicar com gente da Alemanha, da Itália, dos Estados Unidos, até mesmo do Vietnã! Inglês é o que torna tudo isso possível, eu já vi muita gente analfabeta em informática se virar com programas super simples que só exigem clicar num botão para fazer uma videoconferência, mas nunca vi alguém se virar com uma língua que não conhece na mesma situação. Não tem programador ou designer que torne entender uma língua tão fácil quanto tocar um botão.

E mesmo se você não acredita que vá precisar se comunicar com outras pessoas no seu trabalho, o conhecimento mundial está codificado prioritariamente em inglês. Qualquer dúvida jogada no Google tem muito mais respostas em inglês, isso é, se você não está procurando a letra de algum funk carioca… quem entende inglês tem a chave que desbloqueia o repositório quase infinito de informações da internet. Mesmo considerando os tradutores automáticos: é mais fácil evoluir em usabilidade do que em algo tão cheio de sutilezas e peculiaridades quanto línguas.

O caminho até a informática ser algo tão absurdamente simples que basta pensar em algo para o computador entender é mais curto do que o de um tradutor perfeito (ainda mais em tempo real…). Faz mais sentido ter acesso agora a toda a cultura e informação que o inglês te proporciona do que estar limitado a uma língua usada por BMs, mas sabendo formatar seu computador quando necessário. E de boa? É bem mais barato depender de gente que sabe mexer em computador do que gente que sabe inglês. Qualquer um hoje em dia é capaz de montar um computador ou de resolver problemas simples com poucas horas de treino. Mão de obra muito mais barata.

Claro que o ideal é conhecer bem as duas coisas para tirar o máximo de proveito da comunicação moderna, mas considerando o trabalho que dá ficar proficiente em cada uma das áreas, é mais fácil já ter a base do inglês e aprender informática. Sem contar que embora eu tema que as pessoas comecem a falar em emojis no futuro, o inglês é bem mais estável. Porque tem essa também, o conhecimento informática é temporário. Tudo avança tão rápido que basicamente todos tem que continuar reaprendendo. Aprendeu inglês, aprendeu inglês. Pode partir para a próxima seguro.

Alfabetização digital é importante, mas é o mais rápido dos dois para aprender. E o que vai durar menos tempo como conhecimento válido. Inglês vale mais.

Para dizer que eu sou colonizado, para dizer que bacana mesmo é aprender chinês, ou para dizer que aprender informática só serve para te pedirem pra formatar computadores: somir@desfavor.com

SALLY

O que é pior nos dias de hoje: ser um completo analfabeto em inglês ou ser um completo analfabeto digital?

Certamente ser analfabeto digital, inclusive é questão de tempo para que idiomas deixem de ser uma qualidade muito valorizada, já que softwares de tradução estão se aprimorando cada vez mais. Em breve máquinas traduzirão com coerência.

Arrisco a chutar que, em pelo menos metade das vagas de trabalho que existem hoje não se usa inglês para absolutamente nada. Porém, se pensarmos em quantos trabalhos não se usa computador, e-mail, redes sociais e smartphone para nada, teremos mais dificuldades. Quase impossível um trabalho onde não haja comunicação ou ferramentas de trabalho relacionadas à internet.

Talvez você esteja pensando: “Ah, mas bem ou mal, todo mundo sabe um básico de internet”. Não, não sabe não. Talvez essa nova geração, que já nasceu com a internet em pleno funcionamento, mas quem nasceu na era da máquina de escrever pode ter sérias dificuldades até mesmo para ligar um computador. Tarefas simples como anexar uma imagem a um e-mail ou a uma mensagem de whatsapp, que para a maioria são uma coisa rotineira, podem representar um grande desafio.

Vocês realmente acham que uma pessoa com inglês perfeito, mas que não sabe colocar um anexo em um arquivo ou não sabe gravar um áudio no whatsapp tem espaço no mundo atual? Não nego que inglês ainda seja importante, mas, francamente, uma noção boa de informática e internet é muito mais. O analfabetismo digital é muito mais incapacitante nos dias de hoje. Não me refiro apenas ao mercado de trabalho, internet é hoje a principal ferramenta para se conseguir informação e para se comunicar.

Não falar inglês te restringe a compreender e se comunicar em inglês. Ser um analfabeto digital te restringe a não se comunicar. Hoje em dia quase tudo em matéria de comunicação acontece no meio digital, seja entre funcionários de empresas, seja na vida. É uma verdade horrível, mas inegável. Quem se informa através de jornal e livros está defasado, desatualizado e vai ter cada vez mais dificuldades de encarar este mundo.

Cada vez mais burocracias básicas do dia a dia estão passando a ser exclusivamente digitais. Em breve, coisas simples como pagar uma conta, só serão possíveis online. Vai chegar um tempo (e não está muito distante) onde quem não souber usar internet não conseguirá ser funcional na sociedade atual.

O grande diferencial é: dominando internet e computador, você tem todas as informações do mundo ao alcance de um clique. Quem domina sabe onde procurar, o que procurar e como filtrar, salvar e classificar o que encontra. Dominando inglês você pode ler livros em inglês. Grandes merda. O que você faz com inglês sem internet? Escreve um livro?

A velocidade de atualização que o mercado nos exige hoje só pode ser acompanhada se você correr com a ajuda da internet. A velocidade de atualização na vida exige velocidade. Informação, contatos, novidades, ideias, startups, relacionamentos, receitas de comida, tudo, desde o mais boçal até o mais profissional, está na internet.

Não dá para fugir, gente. O mundo está online. Quem fala inglês já teve muita vantagem no mercado de trabalho ou na vida – 50 anos atrás. Hoje em dia as skills valorizadas são outras: criatividade, proatividade, inovação, contatos… todas coisas que você consegue aprimorar online. Fora que, qualquer aplicativo melhorzinho se encarrega de ensinar inglês, para a pessoa ou para seus filhos.

Uma pessoa nunca vai conseguir fazer e cultivar o mesmo número de contatos ao vivo do que aqueles que ela consegue fazer online. E nem me refiro exclusivamente a redes sociais. Alguém duvida que o Desfavor seja também uma forma de fazer contatos? Entrar no mundo online, comentar, trocar ideias, ver e ser visto é uma forma de fazer contato que, apesar de mais superficial, é mais rápida, por isso permite manter mais contatos ativos na sua lista.

Fora que, quem está conectado, tem a possibilidade de aprender inglês com aplicativos, cursos gratuitos online, videoaulas e muitos outros meios. Saber inglês não te garante deixar de ser um analfabeto digital. Então, é óbvio que é mais importante a habilidade que te permite ter quaisquer outras habilidades que você deseje, né?

Não precisa ser hacker, não precisa ser programador, não precisa ser gênio da informática. Basta saber fazer uso produtivo de eletrônicos + internet, colhendo benefícios como conhecimento, contatos e inovações. Isso já te coloca na frente de todas as pessoas que falam inglês mas que não tem acesso a nada disso, que quando querem fazer contato, tem que sair com a pessoa ou dar um telefonema, que quando querem estudar tem que abrir um livro e que quando querem conhecer as novidades do mercado tem que comprar uma revista especializada.

O virtual é conhecimento em potencial, a ser explorado, incorporado. Falar inglês é apenas uma habilidade, que se esgota nela mesma. O virtual é a possibilidade de infinitas novas habilidades, a critério do usuário. Não adianta querer remar contra a modernidade: o meio de comunicação da vez é a internet, se excluir dele é se excluir de estar atualizado.

Inglês tem alguma importância cultural para beber de outras fontes? Talvez, mas tudo isso pode ser suprido pela internet: legendas, traduções, fontes no próprio idioma e tantos outros recursos. Além do que, vamos combinar, os EUA não são nenhum exemplo supremo de cultura, é só mais uma, que certamente não deve ser a única fonte de uma pessoa.

Sem domínio da interner, sem saber onde, como e quando procurar, sem o saber filtrar o que se encontra, a pessoa tem um carro que não consegue dirigir, vivendo uma vida onde tem que percorrer grandes distâncias a pé por causa dessa inabilidade na direção. Foi-se o tempo onde inglês, por si só, te levava a algum lugar na vida, hoje tem Google Tradutor.

Para dizer que internet é vida, para dizer que quem topou ficar sem sexo para manter a internet não pode escolher inglês como prioridade ou ainda para dizer que a pergunta deveria ter sido pornografia x internet: sally@desfavor.com

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Comments (10)

  • Ser analfabeto digital é muito pior. Por exemplo, pra aprender informática, nao necessariamente necessita-se do conhecimento do ingles. Ao passo que pra aprender inglês é importante saber “futucar ” os aplicativos e sistemas.

    “O mundo está on-line!”

    Sally sempre original…

  • Eu tenderia a concordar com o Somir nessa, mas dessa vez fico com a Sally. O inglês – aliás, qualquer outra língua, eu diria – é basante útil pra tu adquirir “cultura”, mais do que se comunicar com gente no exterior. Isso se a gente pensar que tu sai na frente ao saber ler numa língua estrangeira, daí pode ler livros e artigos na íntegra. Faz diferença, por exemplo, quando tu está numa pós-graduação e tem que ler Kant ou Hegel no original e ler a tradução, acreditem!

    Mas sobre analfabetismo digital, concordo que não saber o básico hoje em dia prejudica e muito. Aliás, eu juro que tento entender essas pessoas aí que tem dificuldades com o básico do básico de certas coisas, mas não dá. Como exemplo, cito minha mãe mesmo que vivo brigando com ela e dizendo que “poxa, a tecnologia está aí pra ajudar, pra facilitar, no celular basta tu fazer um gesto, deslizar o dedo de uma parte à outra da tela pra cumprir determinada função… qual a dificuldade de deslizar o dedo numa tela, me diz? E qual a dificuldade de mexer em algum celular que não seja o seu, já que, hoje em dia, quase todo celular é igual?” Não se se também é por medo da pessoa de fazer alguma cagada ou… enfim…

  • Estou com o Somir e falo com propriedade já que sou Analista de testes e tenho que lidar tanto com inglês quanto com informática no meu dia a dia, as coisas mais sutis da informática são muito difíceis ou impossíveis de aprender se você não tem um background em ingles então ingles é mais importante não tem como fugir disso, além disso está ficando cada vez mais fácil e intuitivo para o usuário final a cada ano que passa são lançados novos softwares e funcionalidades para facilitar a vida dos leigos em tecnologia.

  • Lembro que há vários anos meus pais cantaram essa pedra: estava começando a era dos computadores, e tinha que aprender a dominar o básico do básico, pra não correr por fora no mercado de trabalho. Dito e feito: hoje, apenas empresas cujos donos estão presos no século passado ainda insistem em se manter alheios ao avanço da informática/internet.

    Essa conectividade com o mundo até acaba exigindo da gente que, uma hora ou outra, tenhamos que aprender algum outro idioma – inglês, principalmente, pois grande parte do conteúdo na rede está nesse idioma. Mas pra chegar lá, não adianta saber apenas falar inglês, tem que dominar um computador. E em pleno 2017, ainda conheço algumas pessoas que ficam patinando na frente do PC até mesmo para uma simples pesquisa no Google

  • O pior mesmo é ser pobre.

    Mas entre essas duas opções, concordo com a Sally. Inglês pode ser importante para quem viaja e/ou trabalha se relacionando com pessoas de outros países. Mas tratando-se da massa, do trabalhador comum, é muito pior se for analfabeto digital.

    Lembrei-me de uma conhecida que falava inglês depois de passar uns anos trabalhando nos EUA como babá, faxineira, manicure, etc. Quando foi deportada, aos 30 anos, não conseguia trabalho nenhum por aqui porque não sabia nem ligar um computador. Hoje vive de bolsa família.

    Até pra procurar encanador, motoboy, diarista, taxista, etc estão utilizando cada vez mais sites e aplicativos. Sem chances pra quem for analfabeto digital.

  • Vou opinar antes de ler: um analfabeto em inglês não vai conseguir um emprego bem remunerado, mas um analfabeto digital periga passar fome.
    Depois da leitura, comento mais.

    • Ok, agora que já li, mantenho a opinião anterior. Somir, você desvirtuou os argumentos. Estamos falando de analfabetos, não semi analfabetos. Existe (muita) gente que não sabe fazer sequer o básico. Além do mais, muito interessante você dizer que precisou usar seus conhecimentos em inglês em conversas… PELA INTERNET!

  • Sem inglês eu arrumo emprego , mas quando eu não sabia os paranauê de computador, nem em sonho! Se vc não sabe mexer em computador, tablet ou smartphone vc não faz mais nada na vida. Ainda bem que a tecnologia vai substituir o saber idiomas.

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