Os Lacradores – A Guerra dos Esquisitos


18:52 – QG do Exército – Local desconhecido.

Numa sala escura, um grupo de militares reúnem-se numa mesa redonda. No centro da mesa, um holograma da cidade.

GENERAL: Desde as doze horas e vinte minutos da última quarta-feira, o indivíduo auto-intitulado Capitão Mongo…
TENENTE: A-ham…
GENERAL: Super Mongo…
TENENTE: Hm-HUM!
GENERAL: Capitão Especial…

A tenente sorri em acordo.

GENERAL: … está à solta na cidade, atacando sem piedade todas as minorias que encontra pelo caminho. Temos um vídeo do indivíduo em ação:

O holograma da cidade dá lugar a uma tela, onde numa gravação amadora pode-se ver Capitão Especial entrando num prédio cuja placa diz: “Centro de Apoio às Crianças Hemofílicas”. A imagem chacoalha por alguns segundos, e logo pode-se ver um rio de sangue vertendo da porta aberta. Os presentes na sala parecem chocados.

GENERAL: Descobrimos logo depois que esse local era fachada de um esquema milionário de desvio de bolsas de sangue compradas com verba da saúde pública para clínicas particulares de mudança de sexo.

Os militares se entreolham e cochicham enquanto a tela desaparece.

GENERAL: Estimamos que desde o começo dos ataques do indivíduo portador de necessidades especiais, a criminalidade local sofrer mais de um bilhão de dólares em prejuízos, desmantelando boa parte das maiores quadrilhas de minorias em atuação na cidade. Precisamos dar um fim nisso, mas… não precisamos ter muita pressa, entendem? Como Capitão Especial também é… especial… a imprensa está confusa. Temos que aproveitar.

Todos na sala acenam em concordância.

TENENTE: Mas, senhor, o público não vai começar a exigir alguma ação da nossa parte?
GENERAL: Vai, e eu tenho o plano perfeito. Vamos chamar de volta Os Lacradores, e tirar alguém muito especial da aposentadoria.

Os militares pensam por alguns segundos, e todos começam a rir.

Mais tarde, no QG Lacrado:

PÉROLA NEGRA: Não, sério, como é que a gente entra?

Mais tarde, no restaurante da esquina do QG Lacrado.

GARÇONETE: Com licença, o seu manequim está soltando tinta vermelha no chão.
PREPUCIUS: Ah, não. É Arco-Íris. Ele ou ela… perdeu os braços e as pernas numa recente batalha contra o mal e só está em sangrando um pouquinho. Arco-Íris, se mexe!

Prepucius cutuca o tronco de Arco-Íris, que estava apoiada por um pedaço de pau.

PREPUCIUS: Acorda!
ARCO-ÍRIS: Eu não estou me sentindo beeeem…
PÉROLA NEGRA: Eu não estou gostando disso.
PREPUCIUS: Sim, ele ou ela parece mal.
PÉROLA NEGRA: Deixa o meu sundae de morango bem nojento… querido ou querida, dá pra sangrar menos?
HOMEM CERVO: Não ouça ela, sangre livremente! Eu tinha uma namorada que me explicou que o sangramento da mulher é uma coisa linda e não deve ser impedido!
PREPUCIUS: Alguém deveria fazer alguma coisa sobre o Capitão Especial.
PÉROLA NEGRA: Sim, é um absurdo como o governo não se importa!
HOMEM CERVO: Será que ele não entendeu errado a nossa missão?
PÉROLA NEGRA: Você está dizendo que ele não tem capacidade de entender a diferença entre criminosos e inocentes?
HOMEM CERVO: Não, claro que não!

A porta do restaurante se abre com força. Um som de eletricidade adentra o ambiente.

VOZ: EU SOU…

Silêncio. Os Lacradores olham em direção ao som e enxergam um homem idoso vestindo um uniforme laranja berrante, com a cueca para fora da calça e um grande A desenhado no peito.

HOMEM: EU SOU… é…

Homem Cervo é o último a se virar, pela dificuldade de usar o exo-esqueleto brasileiro que recebera. Ao contrário dos outros, que olham para o estranho de forma confusa, ele abre um grande sorriso.

HOMEM CERVO: É o Alzraio!
ALZRAIO: Isso! Alzraio! Nós vamos combater o crime!
PÉROLA NEGRA: Quem?
HOMEM CERVO: Ele foi um dos primeiros heróis do Projeto Super Cotas, há alguns anos atrás. Ele acabou sozinho com uma quadrilha de tetraplégicos com poderes telepáticos! Na verdade eles não tinham poderes telepáticos.
ALZRAIO: Olá, jovens! Eu sou Alzraio, a prova viva que o Alzheimer não é impedimento para…
HOMEM CERVO: Combater o crime?
ALZRAIO: Quem é você? Juninho?

Alzraio parece perdido no meio do restaurante. Homem Cervo cochicha com PREPUCIUS:

HOMEM CERVO: Ele tem Alzheimer.
PREPUCIUS:
ALZRAIO: Os militares me mandaram aqui. Vamos, com a minha experiência e… o trabalho de vocês, vamos vencer o pequeno terrorista portador de necessidades especiais!

Mais tarde, no centro da cidade, nossos heróis chegam a tempo de ver que Capitão Especial está espancando um grupo de mulheres semi-nuas que seguravam cartazes sobre o orgulho das vadias, aparentemente numa marcha.

CAPITÃO ESPECIAL: Teta pra fora? Mongaaaaa!
VADIA (com orgulho): SOCORROOO!
CAPITÃO ESPECIAL: Mongo é ruim! A gente bate em gente ruim!
VADIA (com orgulho também): Pare com isso, opressor especial!

Capitão Especial olha para a mulher, vestida com uma roupa claramente menor do que seu corpo pediria, coberta de tatuagens toscas e com uma mancha evidente de sangue entre as pernas.

CAPITÃO ESPECIAL: MOOONGAAAA!

Prepucius, vendo a cena, usa seu raio da culpa em Capitão Especial. Capitão Especial sente-se culpado por não estar espancando a mulher o suficiente. Arco-Íris dispara um grito atordoante, mas apenas as mulheres caem no chão, onde viram alvos fáceis dos chutes de Capitão Especial.

PÉROLA NEGRA: Ele não entende culpa e está sempre atordoado mesmo. Temos que usar algo melhor. BALAAAAAS!
CAPITÃO ESPECIAL: Bala?
PÉROLA NEGRA: Olha aqui balinha gostosa!

Pérola Negra tira uma bala de dentro da quarta dobra da terceira barriga. Ela balança na frente do jovem problemático. Capitão Especial faz cara de nojo e volta a espancar as mulheres.

HOMEM CERVO: Ninguém é tão especial ao ponto de comer algo que saiu de uma das suas dobras… deixa que eu resolvo!

Homem Cervo começa a vibrar em supervelocidade, fazendo com que seu exo-esqueleto brasileiro desmonte na hora.

HOMEM CERVO: Ok, alguém aí resolve.

Uma enorme explosão de energia elétrica cai sobre Capitão Especial, que desaba na hora. As mulheres ao redor começam a chacoalhar com a corrente.

ALZRAIO: Jovem, pare agora! Pois eu sou… é…
CAPITÃO ESPECIAL: Vovô?
ALZRAIO: Juninho?
CAPITÃO ESPECIAL: Vovô tem bala?
ALZRAIO: Tenho sim, Juninho! Que saudade.

Alzraio corre até Capitão Especial, que o abraça com força.

CAPITÃO ESPECIAL: VOVÔ!
ALZRAIO: socorro… eu não sei quem é você…

Do outro lado da rua, dois soldados observam a cena, com um rifle de dardos tranqüilizantes empunhado no mais a frente.

SOLDADO 1: Atira?
SOLDADO 2: Não, aquela caída lá era minha ex, e ele ainda não bateu nela.
SOLDADO 1: Ok. Me avisa quando puder porque o comando já mandou parar essa palhaçada e mandar o mongo para o laboratório.
SOLDADO 2: O que vamos fazer com os outros?
SOLDADO 1: Provavelmente vamos deixá-los lutando nas redes sociais de novo, bando de retardados.
SOLDADO 2: Ok. Já limparam a sujeira do grupo de trombadinhas de ontem?

Do outro lado da cidade, debaixo dos escombros, surge uma mão. Uma garota normal e acima da média limpa a poeira do rosto e franze a expressão já naturalmente franzida.

NORMAL E ACIMA DA MÉDIA: Eu vou me vingar de vocês, Lacradores. Eu vou me vingaaaar!

ALZRAIO: EU SOU ALZRAIO!

A história acabou.

ALZRAIO: Você viu o Juninho?

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