Os Lacradores


Os Lacradores estão reunidos para receber o novo membro do grupo. Os quatro integrantes esperam ansiosamente, até que a porta se abre e entra Prepucius, causando reações exasperadas:

ARCO-ÍRIS: Macho opressor! Estuprador! Preconceituoso!
PÉROLA NEGRA: Calma, preconceituoso a gente ainda não sabe, vamos ver, se ele me rejeita pelo corpo, aí será certeza
HOMEM CERVO: Comer carne é assassinato!
SUPER MONGO: Abaaaaaaço!

Prepucius olha um pouco assustado e muito arrependido. Por razões que ele não entende, já que não falou absolutamente nada, seus colegas estão se voltando contra ele. Os ataques continuam:

ARCO-ÍRIS: Homem branco e hetero, o câncer da sociedade!
PÉROLA NEGRA: Racista! Capitalista! Escravocrata!
HOMEM CERVO: Você sabe quantos animais foram mortos para que você possa usar esse sapato e esse cinto?
SUPER MONGO: Abaaaaaaaaço!

Quando percebe que a situação está saindo do controle, ele decide usar seu super poder para se defender: o Raio de Culpa. Ele saca uma foto de sua mãe que leva consigo na carteira e dela sai um raio que atinge a todos.

ARCO-ÍRIS: Desculpe, deve ser terrível para um povo ser tão perseguido, vocês foram quase tão perseguidos quanto gays e mulheres
PÉROLA NEGRA: Entendo, entendo, não podemos ter nada pois você não pode comer carne de porco, foi injusto da minha parte te cobrar isso
HOMEM CERVO: *crise de choro
SUPER MONGO: *coçando a cabeça sem entender nada

Uma voz ecoa pelos autofalantes da sala: “Atenção Lacradores! É hora da primeira missão! Um banco está sendo assaltado por um grupo de cadeirantes, hora de ir ao local e impedir o crime!”.

Os Lacradores se reúnem e entram no Lacre-Móvel, um veículo ecologicamente correto, feito de lixo reciclado, movido a energia solar e se dirigem ao local.

HOMEM CERVO: Que cheiro é esse?
SUPER MONGO: *apontando para Pérola Negra
PREPUCIUS: Não toma banho? Não usa desodorante?
PÉROLA NEGRA: COMO É QUE É? Seu babaca, se você se rende à ditadura da estética e da futilidade cosmética, o problema é seu, eu sou livre e…
PREPUCIUS: Na boa… argumenta sem levantar o braço, por favor
PÉROLA NEGRA: SEU BOSTINHA BRANCO ESCUTA AQUI…
PREPUCIUS: *usa seu super-poder, o Raio da Culpa
PÉROLA NEGRA: Desculpe, não deveria ter falado assim com você. Te considero meu irmão, pois Hitler perseguiu tanto negros como judeus…

Chegando ao local, Os Lacradores encontram policiais com armas apontadas para dentro do banco, muitos populares aglomerados olhando e, do lado de dentro, cadeirantes rindo e gesticulando.

CADEIRANTE 1: Vai fazer o que, ô filho da puta? Atirar em um cadeirante? Boa sorte, vai virar manchete como vilão!
CADEIRANTE 2: Atira, seu merda, atira! Aqui é 50% a menos de risco de dano!

Os policiais tremiam e não conseguiam atirar, preocupados com a repercussão deste ato. Foi quando Os Lacradores entraram em ação, invadindo o banco.

PÉROLA NEGRA: Parado, meliante!
CADEIRANTE 3: Porra nenhuma, vou é sair de perto desse cheiro… *indo embora lentamente com um saco de dinheiro no colo
PÉROLA NEGRA: Eu disse PARADO! *procurando por algo em suas dobras de utilidade
CADEIRANTE 4: Vai trair seu irmão? Temos os mesmos ancestrais, fomos escravizados, agora você vai se voltar contra mim e me dar um tiro?
PÉROLA NEGRA: Na verdade, eu estava pegando hambúrguer, quer um pedaço?
CADEIRANTE 3: Coisa feia, negros se voltando contra negros, onde é que este mundo vai parar… é por esse tipo de desunião que os brancos nos escravizaram!
PÉROLA NEGRA: Eu não estou me voltando contra ninguém
CADEIRANTE 4: Então quebra essa pra mim, irmã?

Pérola Negra bufa e deixa o cadeirante negro sair impune.

ARCO-ÍRIS: Parado macho opressor homofóbico estuprador!
CADEIRANTE 5: Não sei se você percebeu, estou morto da cintura para baixo, como vou estuprar alguém?
ARCO-ÍRIS: *grito supersônico
CADEIRANTE 5: Cala a boca aí, Elfo! *atira uma caneta em Arco-Íris
ARCO-ÍRIS: Vocês viram isso? Homofobia! Feminicídio!
PREPUCIUS: Afinal, você é homem ou mulher?
ARCO-ÍRIS: *grito supersônico
CADEIRANTE 5: Acho que é um golfinho… Fica gritando aí, eu vou embora

HOMEM CERVO: Você sabe quantas árvores foram destruídas para fazer esse saco de dinheiro que você está levando?
CADEIRANTE 6: Caguei
HOMEM CERVO: Por favor, alguém ajuda aqui o rapaz a se trocar. Vamos ter consciência ecológica e usar como adubo, ok?
CADEIRANTE 6: Hã?
HOMEM CERVO: E você deveria pensar na possibilidade de usar um coletor fecal, para depois depositar o adubo diretamente nas plantinhas
CADEIRANTE 6: Comeu merda?
HOMEM CERVO: Bem, indiretamente sim, na minha horta não usamos agrotóxicos, apenas adubo natural, mas não acho educado falar assim… *falta de ar
CADEIRANTE 6: Tá fraco, amigão? Precisa se alimentar melhor! *rindo e passando por Homem Cervo, que estava sentado no chão, exaurido pelo longo diálogo

PREPUCIUS: É isso? Ninguém vai fazer nada? Estamos aqui para combater o crime!
PÉROLA NEGRA: Sendo o cadeirante negro, não é crime, é redistribuição de renda e compensação social por séculos de escravidão. Cala a boca, branco opressor, você não sabe o que é ter sido escravizado!
ARCO-ÍRIS: Este macho não é um potencial estuprador por estar paralisado da cintura para baixo, não há razões para lutar contra ele
PREPUCIUS: Nada disso interessa! Isso aqui é um roubo e eles estão indo embora com todo o dinheiro!
HOMEM CERVO: Dinheiro só gera desmatamento, você sabe quantas árvores tem que morrer para fazer tantas notas? É bom para que banco aprenda, hora de aderir ao dinheiro virtual!
PREPUCIUS: *tapa na própria testa
SUPER MONGO: *tentando brincar com um ioiô e batendo com ele na própria testa
PREPÚCIUS: Ok, vocês não querem fazer nada? Eu vou fazer, não vou assistir a um crime e me omitir!

Prepucius corre na direção dos cadeirantes, que, em fila indiana, estavam quase chegando na porta, sem a menor pressa ou preocupação, carregando sacos de dinheiro no colo.

PREPUCIUS: PARADOS! ESTÃO PRESOS!
CADEIRANTE 1: Você não está vendo que somos deficientes físicos?
PREPUCIUS: E daí? Estão cometendo crimes!
CADEIRANTE 1: E quem você pensa que é para nos julgar? Sabe a vida difícil que levamos em uma cidade que não é inclusiva?
PREPUCIUS: Eu sou aquele que teve seu povo perseguido, dizimado, eu sou vítima de genocídio! Sou… JUDEU!
CADEIRANTES: *rindo alto
PREPUCIUS: Qual é a graça?
CADEIRANTE 2: Riquinho, para você a vida é fácil, né?
PREPUCIUS: Todo o dinheiro do mundo não salvaria meu povo, fomos vítimas do Holocausto! Você pode não andar, mas pelo menos nunca ninguém perseguiu cadeirantes…
CADEIRANTE 2: *mostrando o dedo médio e saindo do banco

Para deter os criminosos, Prepucius puxa do bolso sua carteira e dispara seu Raio da Culpa na direção dos cadeirantes. Infelizmente o raio bate na parte metálica da cadeira e retorna, atingindo-o em cheio.

PREPUCIUS: Meu Deus! Eu, que fui perseguido e vítima de genocídio estava repetindo a história com estes pobres deficientes! Peço perdão!
PÉROLA NEGRA: Agora estou começando a te achar uma pessoa legal..
PREPUCIUS: Não posso perseguir um grupo homogêneo de pessoas, se não vou me transformar naquilo que tanto condeno…
HOMEM CERVO: Paz, irmão, paz
PREPUCIUS: Eu preciso visitar mais a minha mãe, coitada, ela sofre muito quando fica sem me ver…
ARCO-ÍRIS: Empoderamento feminino!

Enquanto Prepucius estava sob efeito do próprio Raio da Culpa, os cadeirantes saíram lentamente do banco, passaram pela polícia acenando e mandando beijinhos, entraram em um veículo e foram embora com todo o dinheiro. Quando ele voltou a si, ficou furioso com a fuga dos bandidos.

PREPUCIUS: Vocês percebem que fracassamos na nossa primeira missão, né? Vocês estavam preocupados com tudo menos com o crime!
PÉROLA NEGRA: Só porque eu parei para comer um hambúrguer agora eu sou uma fracassada? Não vou aceitar que você me imponha essa ditadura estética!
HOMEM CERVO: Você comeu um hambúrguer, assassina?
PÉROLA NEGRA: Sim, e eu amo meu corpo como ele é!
HOMEM CERVO: CARNE É ASSASSINATO!
PÉROLA NEGRA: UMA MULHER PODE SER BONITA COM QUALQUER PESO!
PREPUCIUS: Vocês estão se escutando?
HOMEM CERVO: ASSASSINA!
PÉROLA NEGRA: GORDOFÓBICO!

Começa uma briga entre Pérola Negra e Homem Cervo. Pérola Negra o pega pelo pescoço e os pés de Homem Cervo saem do chão. Desesperado, na tentativa de separar os dois, Prepucius mira seu Raio da Culpa em Pérola Negra e atira.

PÉROLA NEGRA: Coitadas das vaquinhas… elas são mortas de uma forma cruel para que o ser humano possa se alimentar da sua carne… Peço perdão por comer proteína animal, isso é uma monstruosidade! *chorando

Desolada, Pérola Negra solta Homem Cervo, que, exausto pelo esforço do embate, não consegue correr nem se levantar do chão. Tomada por forte emoção, Pérola Negra senta no chão e tem uma crise de choro, tirando as mãos do rosto apenas quando escuta os gritos dos outros super-heróis. Ela havia sentado em Homem Cervo.

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