As pedras do meu caminho – Parte 19

Continuamos no capítulo 32, que tem o overexplaining título de O AMOR RESISTIRIA A ACUSAÇÃO DE TRÁFICO DE ARMAS? Adoro que cada título de cada capítulo do livro é um spoiler do que vai acontecer nele. Sabe o que é isso? É a certeza de se ter uma boa história. Não precisa fazer suspense, não precisa fazer mind games com o leitor, a história é interessante o suficiente para adiantar o que vai acontecer e mesmo assim todo mundo ler. Vê se capítulo de Game of Thrones tem títulos como “Jon e Daenerys fazem sexo” ou “O Dragão da Liquigás destrói a muralha”? Não tem. Não é tão interessante como a vida do Rafael Pilha. Pilha > GOT.

Paramos com o Pilha e a Aline presos na delegacia depois de tentar passar pela fronteira com uma espingarda embrulhada em um cobertor, acusando de tráfico internacional de armas. Pilha foi removido sorrateiramente de sua cela e, em vez de ser levado para uma cadeia pública comum, foi levado para um presídio se segurança máxima, onde os presos ficavam isolados uns dos outros e não podem falar com ninguém. Quando questionou o motivo daquilo, ele ouviu que a ordem era impedir que ele desse entrevistas. Provavelmente estava relacionado com as muitas ameaças que ele fez ao delegado no dia anterior.

Para completar o pacote de danação do nosso herói, logo que ele chegou no presídio estourou uma rebelião. Aline ficou em pânico temendo que os presos pegassem o Pilha como refém, sabe como é, não é todo dia que tem um astro do rock no seu presídio. Já nosso querido Pilha teve outro sentimento: “Dava para ver que a coisa era muito séria, mas nós escapamos por minutos . Se tivéssemos entrado na galeria, estaríamos perdidos. Juro que não sei o que seria capaz de aprontar no meio daquela rebelião, porque eu já estava prestes a explodir mesmo”.

Ou seja, Pilha não teve medo da rebelião. Esse é o grau de badass do Pilha. True Facts About Chuck Norris é coisa do passado, pode anotar aí o primeiro da lista do True Facts About Rafael Pilha: Pilha não teme a rebelião, é a rebelião que teme o Pilha.

Aline, por sua vez, foi levada a uma cadeia pública de Foz do Iguaçu. Por ter diploma universitário, ela tinha direito a uma cela especial, somente dela, mas como aquele presídio não dispunha desta acomodação, para usufruir do benefício ela teria que ser transferida para um presídio em Curitiba. Ela recusou: “Não aceitei porque ficaria muito longe do Rafa. Em Foz, pelo menos, nossas cadeias eram vizinhas”. E você aí pensando que deixar o último pedaço de bolo para alguém é amor. Amor, meus queridos, é ficar numa cela com mais sete criminosas só para ficar na cadeia ao lado do seu namorado!

A imprensa espremeu o caso até a última gota, como sempre, tudo que o Pilha faz rende audiência. O evento tomou proporções tão grandes que o filho dele, Kauan, que não tinha a idade mínima para ter um perfil no Facebook, mas tinha, usou a rede social para fazer um apelo: “Não julguem meu pai”. Pois é, parece que o apelo foi ouvido, inclusive pelo juiz do caso, ele atrasou bastante o julgamento do pedido de liberdade provisória feito pelo advogado Leôncio (sendo Leôncio um adejetivo) do casal. Quando finalmente o pedido foi julgado, o juiz condicionou a liberdade deles a uma fiança de 55 mil reais, 40 mil para ele, 15 mil para ela.

Não tinham esse dinheiro. Pilha entrou em desespero e acabou indo parar no hospital com a suspeita de algum problema cardíaco. Felizmente estava tudo bem com ele, foi diagnosticado com “uma aguda crise de angústia”. Eu gostei deste diagnóstico. Se tira um preso da cadeia, suponho que seja aceitado para, por exemplo, faltar ao trabalho ou deixar de ir a algum compromisso chato: “Não vou poder, estou experimentando uma aguda crise de angústia”. Acho que vou testar. Invejosos dirão que ele simulou um piripaque para ficar na cadeia em lugar da prisão, já que seu advogado solicitou isto formalmente ao juiz e foi negado, mas nós somos Team Pilha e não damos ouvidos a invejosos.

Como não havia dinheiro nem infarto, nosso herói continuou preso. Então Elias Abrão, irmão da autora do livro e dono da produtora responsável pelo “A tarde é sua”, programa do qual o Pilha era repórter, resolveu pagar a fiança. Fiança paga, foram liberados. Primeiro o Pilha, que saiu do presídio de cabeça raspada, chinelo e calça de moletom (parecia aquelas minhoquinhas do jogo Worms) e, ao chegar do lado de fora sua primeira providência foi se abaixar para pegar uma flor do canteiro com a intenção de leva-la para Aline. Tinha uma tonelada de repórteres olhando, filmando e fotografando? Tinha. Mas tenho certeza que o gesto dele foi verdadeiro.

Cercado pela imprensa, Pilha deu uma entrevista tomado pelo calor da emoção, falando sobre como estava se sentindo e o que estava passando. Foram muitas pérolas, mas gostaria de destacar um trecho em especial: “Não cometi erro nenhum! A situação que me encontro é de sofrimento. Entrei há uma semana e ganhei um rolo de papel higiênico de 30 metros para durar 15 dias. Ninguém fica feliz com isso”. #Denúncia #DireitosHumanos #VemPraRua

*hiperventilando

Tanto a dizer… Não Pilha, você não errou, você não erra nunca, até quando você erra você acerta, pois enche nossos corações de alegria com um evento mais maravilhoso que o outro. Sobre o papel higiênico, fiquei aqui pensando (sim, eu gasto horas do meu dia pensando sobre a vida do Pilha, me julguem) que um rolo de 30 metros para 15 dias gera uma cota diária de 2 metros de papel higiênico por dia. Aí me bateu um aflição: será que eu, ser humano medíocre, por toda minha vida limpei a bunda errado? Para mim dois metros de papel higiênico por dia dá e sobra, e olha que eu sou mulher, eu limpo quando mijo e quando cago. Pilha limpa apenas em seu cagar e dois metros por dia não saciam sua higiene anal. Estou intrigada e, sim, vou desenvolver o assunto.

Quantos quadradinhos de papel higiênico são necessários para uma higiene anal adequada? Será que o Pilha caga mais do que os seres humanos normais? Será que eu cago pouco? Seria meu cu auto-limpante por isso eu não demando tanto papel? Muitas dúvidas. Talvez por não dispor de uma higiene anal completa, com água e sabão além de papel higiênico, como deve ser, Pilha precisasse de mais papel que o convencional mas… haja cu para ficar dando tanta passada de papel por dia, né? Assadura é pouco, o cuzinho pilhal deveria estar parecendo a bunda de um babuíno.

Sério, sérião. Quanto vocês gastam, em metros, por dia, limpando o cu? Estou intrigada, existe um ponto muito fora da curva aqui e eu preciso descobrir se é o Pilha ou sou eu. Se você veio aqui hoje procurando informações interessantes sobre cultura, tecnologia ou atualidades, peço minhas mais sinceras desculpas. Passe amanhã. E pouco importa esse detalhe quantitativo, se o Pilha se sentiu privado de sua dignidade, então eu também estou afrontada com esse presídio de merda cosplay de Venezuela!

O livro conta de uma forma mais contida o que realmente aconteceu na saída do Pilha da prisão. Recomendo que vocês leiam a nossa cobertura, que foi muito melhor. E não, não estamos inventando, tem vídeos da saída do Pilha na prisão falando várias coisas desconexas, verdadeiros desfavores para fins de processo (como por exemplo dizer que queria ser vereador em Foz do Iguaçu) e, inclusive, falando em Tupi-Guarani. Sim, tem coisas que só o Pilha faz por você.

No livro, o máximo que recebemos de feedback por este comportamento bizarro foi “Eu estava muito bravo, porque os advogados fizeram o contrário do combinado, que era buscar minha mulher primeiro. Além disso, tive que esperar mais de uma hora na porta da cadeia até eles me deixarem entrar. Estava muito irritado e nervoso”.

Caso vocês não se lembrem, na porta da cadeia onde estava Aline o Pilha deu outro faniquito falando um mix de coisas desconexas com coisas ofensivas. Chegou a socar o portão e dar uns berros perguntando se ia demorar muito a liberação da esposa. Astro do Rock é assim: não tolera desaforo nem dez minutos depois de ser solto de um presidio de segurança máxima. Quando Aline saiu, Pilha a esperava com a flor que arrancara do canteiro do seu presídio e disse que a amava.

Então, fica o recado para aqueles trastes que se sentem no direito de ficarem frios e distantes por estar com um probleminha financeiro ou com o chefe. Rafael Pilha estava saindo de uma condição desumana de dois metros de papel higiênico por dia, preso por mais de uma semana em um presídio de segurança máxima, sendo privado de uma higiene anal completa e satisfatória e ainda assim arrancou uma flor da porra do canteiro do seu presídio para levar até o presídio da namorada. Então, meus queridos, não tem desculpa, quem sabe tratar bem, trata bem mesmo nas maiores adversidades. Chupa sociedade.

Quando voltaram ao hotel, encontraram o quarto todo revirado. O carro também estava todo vasculhado, no que parecia ser uma operação pente-fino, em busca de alguma ilegalidade. Pilha ficou putaço, afinal, que desaforo é esse de desconfiar dele só por estar praticando tráfico internacional de armas? Onde é que vamos parar, Brasil? Na época ele levou os repórteres do “A tarde é sua” e fez um escarcéu, permeado por declarações meio paranoicas e algumas ameaças. No livro, foi mais comedido: “Comecei a pensar na possibilidade de terem mexido em tudo não para encontrar alguma coisa, mas, na verdade, para plantar alguma coisa lá dentro. E se tivessem colocado uma granada?”. Esse é um dos pesos de ser um astro do rock, as pessoas enfiam granadas no meio das suas coisas.

Mês que vem tem mais.

Para dizer quantos metros de papel higiênico você gasta por dia antes que eu transforme isso em um Ele Disse, Ela Disse, para dizer que já está na hora do Pilha aprontar novamente ou ainda para dizer que espera que o resto da semana seja com textos que te acrescentem um pouco mais: sally@desfavor.com

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