A polêmica da semana, que merecia ser Desfavor da Semana mas tomou uma proporção que nos impede de esperar até sábado, foi a decisão judicial sobre “cura gay”. Muito se falou “do juiz que disse que homossexualidade é doença” esta semana. Frases prontas como esta foram disseminadas nos corredores do seu trabalho, nas redes sociais e nas mesas de bar. Mas, de verdade, alguém sabe o que realmente aconteceu? Em minha opinião, foi algo ainda pior do que isso.

Normalmente nos propomos a escrever aqui o mais ninguém escreve, o que, geralmente, implica em um novo ponto de vista ou ângulo. Mas, infelizmente, o mundo anda tão mal informado e alarmista, que desta vez, para escrever o que mais ninguém escreve, antes precisamos fazer um relato do que realmente aconteceu.

Existe uma resolução (01/99) do CFP – Conselho Federal de Psicologia, que proíbe psicólogos de realizar qualquer tratamento que encare homossexualidade como doença: “os psicólogos não exercerão qualquer ação que favoreça a patologização de comportamentos ou práticas homoeróticas, nem adotarão ação coercitiva tendente a orientar homossexuais para tratamentos não solicitados”.

Alguns psicólogos que tiveram seu registro cassado por praticarem esse tipo de “terapia”, ingressaram com uma ação judicial pedindo que se autorize a prática de terapias de “reversão sexual”, ou seja, terapias para modificar a orientação sexual de uma pessoa, em bom português, voltadas para que pessoas que sentem atração sexual por pessoas do mesmo sexo, passem a sentir atração sexual por pessoas de sexo diferente. Entre os muitos argumentos usados, o determinante foi a alegação de que procura quem quer e que se alguém quer tentar isso, se lhe gera conforto ou ajuda, não cabe a nenhum órgão impedir.

Em sua decisão, o juiz Waldemar Cláudio de Carvalho, da 14ª Vara do Distrito Federal explicita de forma inequívoca que homossexualidade não é uma doença, dizendo que concorda com a orientação da Organização Mundial da Saúde: “a homossexualidade constitui uma variação natural da sexualidade humana, não podendo ser, portanto, considerada como condição patológica”. Porém, ele entende que se um cidadão do povo discordar dele e da OMS e quiser tentar reverter sua orientação sexual, ele tem o direito a tentar fazê-lo. De forma muito elegante, ele disse que as pessoas têm o direito a serem idiotas e tentar o impossível se assim o desejarem.

Esta foi uma decisão liminar, ou seja, uma decisão provisória, que ainda vai ser reanalisada. Quando você tem um pedido urgente para fazer ao Judiciário, um pedido que, se não atendido de imediato pode gerar sérios prejuízos, é possível pedir uma decisão liminar, ou seja, provisória, com uma análise rápida do caso, para tomar as providências mais urgentes e depois, quando não há mais risco de um prejuízo pela demora da decisão, o caso é analisado com calma e decidido em definitivo (minhas mais sinceras desculpas aos operadores do direito pela simplificação grosseira, mas este não é um texto jurídico).

Quem encabeça este pedido é uma psicóloga e missionária chamada Rozangela Alves Justino, que teve seu registro profissional de psicóloga cassado por oferecer esse tipo de “tratamento” de reversão sexual, popularmente conhecido como “cura gay”. Rozangela tem um blog muito do asqueroso, o qual me permito não divulgar para não promover esse tipo de excrescência onde defeca várias teorias bizarras sobre homossexualidade. Por exemplo, ela já defendeu que pessoas “se tornam” homossexuais “porque foram abusadas na infância e na adolescência e sentiram prazer nisso”. 

Rozangela, como a maior parte dos religiosos missionários, não é uma pessoa lúcida. Entre outras barbaridades, ela alega que “o movimento pró-homossexualismo tem feito alianças com conselhos de psicologia e quer implantar a ditadura gay no país”. Sim, é isso aí, Rozangela, os psicólogos vão na casa das pessoas, apontam uma arma para suas cabeças e dizem “Rápido, dê o seu cu!”. Ditadura gay, ai ai ai, é cada besteira que a gente tem que ler e escutar…

É evidente que a religião se sobrepôs à ciência (para não dizer que a estuprou) na argumentação de Rozangela. Como ela mesma admite: “Tenho minha experiência religiosa que eu não nego. Tudo que faço fora do consultório é permeado pelo religioso. Sinto-me direcionada por Deus para ajudar as pessoas que estão homossexuais”. Religião é uma coisa personalíssima, de foro íntimo, que você pode usar para reger a sua vida, jamais a vida alheia. Levar a sua crença religiosa, pessoal e intransferível, para o exercício da sua profissão e aplicação da ciência é um verdadeiro absurdo, muito mais grave que qualquer decisão judicial. E este sincretismo profissional-religioso é um câncer social que ainda é tolerado no Brasil. É contra ele que todos tempos que nos unir.

Ainda assim, discordo totalmente da decisão do juiz. Quem sou eu para discordar? A dona do blog. Aqui eu escrevo o que eu quiser. Talvez 15 anos atuando na área jurídica pudessem dar alguma credibilidade à minha opinião, mas minha argumentação em nada se relaciona com direito e com as leis. O juiz está batendo palma para maluco dançar.

Basicamente o juiz está dizendo que se tem gente querendo fazer, gente que possivelmente encontre um conforto nisso mesmo que não seja um tratamento eficiente, é censura impedir que eles façam e que não cabe a ele impedir que alguém busque caminhos alternativos para encontrar algum conforto.

Aí entramos em uma zona cinzenta muito, muito perigosa. Censura é impedir alguém de falar publicamente, de expressar sua opinião. Quando se trata de uma questão médica, científica ou qualquer outro conhecimento técnico, devem existir limites sim. Já pensou se eu pego um bisturi e começo a promover “cirurgias de retirada de encosto” nas pessoas? Eu não sou médica, não estou avalizada a performar nenhum procedimento médico, muito menos um desnecessário.

Então, liberdade de expressão é deixar que esta lunática escreva em seu blog que a cura gay é possível, coisa que ela o faz livremente. Porém, permitir que ela exerça isso profissionalmente, como psicóloga, não é censura. Falar não se confunde com atuar profissionalmente. Você fala o que quiser sobre a sua religião, tatua uma cruz na testa, prega em praça pública. Porém, impor a sua religião na hora de exercer sua profissão não dá.

Propagandas abusivas e enganosas são punidas todos os dias. Experimente vender um pedacinho do céu, a cura para o câncer ou qualquer outra coisa que não foi cientificamente provada e veja o que te acontece. Não é censura, muito pelo contrário, quem vende algo que não existe pode até cometer crime de estelionato. Novamente: você pode dizer o que quiser, estamos, ao menos em tese, em um país com liberdade de expressão. Porém vender o fornecer um tratamento para algo que não categorizado como doença não é sua opinião, é tirar proveito das pessoas.

Além disso, o juiz alega que a Constituição defende o amplo estudo e aprofundamento cientifico, portanto, restrições violariam a “liberdade científica”. Alguém aqui faz experimentos em mendigos em nome da ciência? Talvez já existisse cura para AIDS ou câncer se fizéssemos experimentos em seres humanos de forma indiscriminada, mas não o fazemos, pois a liberdade científica encontra limites em um pilar fundamental da Constituição, que é a Dignidade da Pessoa Humana (sim, esse é o termo, sim, é horrível). Tratar alguém que não é doente e prometer reverter algo que não é reversível fere a ética e dignidade desta pessoa.

Palavras não são passíveis de censura, pois vivemos em um país que zela pela liberdade de expressão. Procedimentos médicos, técnicos ou científicos se regem por uma regra diferente, pois eles demandam qualificação e respeito a normas específicas desta área. Não é apenas uma “expressão” da opinião de alguém, é uma intervenção direta, um “tratamento” na vida de outra pessoa. Não é válido argumentar que vai liberar pois algumas pessoas querem isso, se eu quiser vender meu rim eu não posso, se eu quiser realizar qualquer procedimento médico desnecessário, como remover um membro ou órgão saudável, eu também não posso e nada disso é censura.

Se aproveitar da fragilidade da pessoa para explorá-la prometendo algo que é impossível é algo que deve ser vedado pelo Judiciário e pela sociedade. Já vi charlatão sendo preso pois se aproveitou do desespero alheio e vendeu remedinho milagroso prometendo curar doença incurável, o que dizer então de quem promete curar o que nem doença é?

Além disso, esse papo de “procura quem quer” vai até a página 2, pois sabemos que os “clientes” desses Psicólogos de Cristo seriam os filhos adolescentes de pais conservadores, que não aceitam a homossexualidade de seus filhos. Então, a partir do momento em que se disponibiliza um “tratamento” para o público, a visão “procura quem quer” é muito medíocre e não corresponde à realidade.

O juiz errou, e errou feio, mas não por defender que homossexuais são doentes e precisam de tratamento e sim por acreditar que liberar um tratamento não comprovado “para quem quer” buscar esse tipo de conforto ou opção não faria mal à sociedade. Mas, não se preocupem, com este clamor social a decisão não vai ser mantida por muito tempo. É só uma liminar, não uma decisão definitiva, e ainda cabe recurso.

O juiz errou e acho muito bom que estejam batendo nele, mas porra, as sementinhas do mal são esses Psicólogos de Cristo e o perigo de se arrastar religião para qualquer prática profissional. Isso sim deveria ser amplamente debatido e combatido. A decisão judicial foi lastimável, mas ela não é a doença, ela é um sintoma. Não adianta atacar os sintomas, tomar um remédio para febre se você não trata da infecção que está se espalhando.

É ridícula uma sociedade que processa humorista por piada, mas libera cura gay por ser contra censura. Tá tudo errado, inclusive a forma como estamos combatendo esses erros. É preciso repudiar totalmente que se leve sua religião pessoal para qualquer prática profissional, seja a pessoa médica, psicóloga ou política.

Para dizer que a igreja católica promove a curra gay, para dizer que o que importa é que Pabllo Vittar estava no palco do Rock in Rio ou ainda para dizer que quem quer pagar por uma porra dessas tem mais é que se foder: sally@desfavor.com

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Comments (62)

  • Entendo a indignação apresentada, mas gostaria apenas de abrir um parêntesis dentro dessa questão toda, no seu artigo vc fala sobre psicólogos cristãos não misturarem religião com tratamentos. Gostaria por um momento que parasse de olhar apenas para essa tal “cura gay” e pensasse nos diversos casos de tratamento de drogas que são realizados com sucesso, não apenas pelo tratamento psicológico, mas por um auxílio espiritual, sei q infelizmente temos tendência a olhar apenas para o q vemos no nosso meio… Mas pesar de td esse lixo “crentelho” q andam disseminando por aí ainda existe muita coisa boa no meio cristão, principalmente em relação a isso que te falei, tem muitos psicólogos cristãos fazendo um bom trabalho por aí e colocar tds na mesma caixinha e rotulá-los como se fossem do mesmo nível dizendo até que não podem “misturar” as duas coisas quando solicitados, isso sim pra mim é preconceito, principalmente qnd vc faz isso olhando só para a sua experiência de vida com os mesmos.

    • Se a pessoa quer complementar um tratamento científico com outro espiritual, ok. O que não pode é aplicar tratamento espiritual ou religioso com a chancela da ciência, da psicologia, do CRP. Que o faça por fora.

  • A Rosangela Justino e a Marisa Lobo. A tal da Loba em pele de cordeiro, integrante da bancada gospel, já foi cassada e a justiça mandou devolver o CRP dela. Certeza que tb tem dedo dela nisso tudo.

    Já fui psicóloga e afirmo que os conselhos regionais vivem arregando pra esses crentalóides. Arregaram tanto que eles tem um corpo de psicólogos e psiquiatras cristãos que existe há muitos anos.Nem o conselho de medicina, nem o conselho de psicólogos desmontaram esse circo. O CRP MG mandou uma advertência pra esse pessoal e acabaram sendo taxados de cristofóbicos. Conheço vários que se dizem profissionais e vomitam seus preconceitos e falta de ética nas redes sociais. Os conselhos nem se dão o trabalho de ir lá fiscalizar o trabalho deles, a denúncia fica mesmo por conta dos clientes. Teoricamente os psicólogos tb poderiam denunciar mas, ninguém quer ser o coleguinha dedo duro dos religiosos influentes. Se todos os poderes arregarem pros crentalóides, são eles que vão decidir o que é ou não doença, o tipo de tratamento, as normas e ética dos conselhos de profissionais de saúde.

    • Se misturar religião com exercício da profissão fosse socialmente repelido com força, estas pessoas não teriam respaldo para fazer merda, pois mesmo que o CRP fosse conivente, seriam execrados em redes sociais. Hora da sociedade filtrar.

      • Concordo, aliás esse é um problema não só da psi mas de muitas outras profissões. Obrigada pelo ótimo texto.

  • Kahrinny Michelly

    RoZangela. Nomes grafados errados, inventados, bregas ou cheios de k, w, h, y e ll pra mim, já funcionam meio que como um raio-X da pessoa, já que, via de regra, a mesma é produto do meio. Me julguem!

  • Quanto há possibilidade de mudança, é possível que ela exista, sim. Já que NÃO HÁ NENHUMA PROVA de que isso não seja possível. Apenas os métodos já tentados não foram tão eficazes (E ainda foram mal executados)

  • Que maravilha ler um texto tão lúcido sobre esse assunto!!

    Pois é… E um certo médico aí vendendo a cura do câncer com dieta cetogênica??

    Aliás Sally, queria saber sua opinião sobre a avalanche de “tratamentos” prescritos pelas musas fitness por aí!

    • Um horror! Não são médicas, não são nutrólogas, não tem formação nem para prescrever exercício. O que deu certo para elas pode não dar certo para outras pessoas e ainda pode causar problemas. Uma temeridade!

      • Tenho me preocupado bastante com essa geração mais jovem (nossa, me senti uma avó agora), que consome tudo o que é postado no Instagram…

        O pior é que os profissionais (nutricionista, médico, educador físico) são proibidos pelos seus Conselhos de colocar conteúdo nas redes sociais (seria uma forma de auto propaganda), e aí temos essa enxurrada de (des)informações sem um contraponto correto….

  • Para complementar sobre o argumento do “mas e se a pessoa se sente mal sendo gay, não tem o direito de buscar reorientação?”.

    Tem o direito de buscar ajuda sim e a CFP não proíbe isso de forma alguma. A resolução do Conselho trata isso como egodistonia (rejeitar a si mesmo) e recomenda que os psicólogos tratem isso de uma forma específica que não cabe falar aqui, mas que não tem nada a ver com reorientação sexual.

    Portanto, as pessoas já estão supridas de opções de tratamento caso tenham problemas com a própria sexualidade. Permitir que elas tentem “reorientações sexuais” ineficazes só aumenta a repressão sexual e gera traumas na psíque do indivíduo.

    • E se quiser especificamente “cura gay”, que procure por fora, PSICOLÓGICO não pode fazer. Se você está com câncer pode fazer cirurgia mediúnica ou se tratar com um pajé, né? Eles só não podem fazer isso como medicina.

      • Para curar a egodistonia, o CFP recomenda a promoção da egosintonia. Ou seja; ouvir o paciente, entender porque ele rejeita um aspecto importante de si mesmo e ajudá-lo a ressignificar essa parte para que ele possa aceitar a si mesmo.

        • Vamos ver se entendi.

          Caso 1:
          – Não aceito esse corpo, ele não me define.
          – Ok, você pode mudá-lo para ser feliz, a natureza errou.

          Caso 2:
          – Não aceito essa atração que sinto.
          – Isso é natural, faz parte de você. Você precisa aceitar sua sexualidade e segui-la para ser feliz.

          É isso?

          • Não.

            Em primeiro lugar, a Psicologia não trata mudanças de gênero. Nenhum psicólogo na sua vida vai dizer “ok, muda seu corpo aí para ser feliz, a natureza errou”. Se você encontrar alguém que fale isso, denuncie para o CRP.

            O Psicólogo (e o psicanalista, terapeuta, etc) tem total liberdade para tratar dos efeitos dessa mudança na psique da pessoa, mas nunca para ASSUMIR E OFERTAR o tratamento.

            Até porque mudança de gênero é um processo biológico, envolve hormônios, cirurgias. Não dá para um psicólogo fazer isso.

            Se um paciente chegar e dizer “Olha, não me sinto bem nesse corpo, quero trocar”, a indicação da CRP É EXATAMENTE A MESMA: egodistonia, tratar com a promoção de egosintonia.

            Nunca que um psicólogo vai oferecer tratamento de gênero. Esse é o problema da cura gay: um psicólogo ser autorizado a oferecer um tratamento que não existe.

            Em todo o caso, a mudança de gênero EXISTE e a “”””reorientação sexual”””””” não.

            Mas eu aproveito o seu comentário para mandar a mesma pergunta para você:

            Pode a pessoa passar por uma “cura gay” para deixar de ser homossexual, mas é um problema ela ser trans?

            • Em todo o caso, a mudança de gênero EXISTE e a “”””reorientação sexual”””””” não
              Existe mesmo? Retirar um órgão funcional e construir uma estrutura artificial no lugar, que depende de meios externos pra simular de maneira minimamente satisfatória uma função sexual, fera o fato de que a pessoa se tornará dependente, pelo resto da vida, de tratamento hormonal para suprimir diversas características do corpo. Dá pra considerar essa mudança como algo real?

  • “os “clientes” desses Psicólogos de Cristo seriam os filhos adolescentes de pais conservadores, que não aceitam a homossexualidade de seus filhos.”.
    Perfeito. Pensei a mesma coisa por ter gente conhecida que já levou filho visivelmente gay para o psicólogo e olha que nem podia tratamento. Se pudesse, ele já teria sido “””curado”””…
    ” Procedimentos médicos, técnicos ou científicos se regem por uma regra diferente, pois eles demandam qualificação e respeito a normas específicas desta área.”
    Teoricamente era pra ser assim, mas o que esperar de um país onde o Conselho Federal de Medicina abarca a prática dos médicos homeopatas?
    Homeopatia é religião em forma de frasco. Não serve pra nada e é baseado na crença milenar do Porra nenhuma.

      • Sei que corro o risco de levar pedrada, mas…

        Homeopatia é um ramo das práticas integrativas e complementares (foco nesse termo) que tem evidências!
        Se o organismo reage a 1 vírus e gera uma doença ferrada, a 1 partícula de poeira e desencadeia uma alergia fenomenal, a 1 proteína de vacina e gera imunidade duradoura… Porque não reagir a uma quantidade mínima de medicação?

        Não sou adepta da homeopatia, não pratico e não utilizo. Mas não nego que existem pessoas muito capacitadas fazendo isso, que entendem que a área é COMPLEMENTAR, e que ajudam muito os pacientes que buscam esse tipo de tratamento.

        Mas é óbvio que os maus profissionais são MUITO maiores em número (qualquer um faz um curso semanal por 6 meses e vira homeopata…), e os bons ficam soterrados…

        • Existem evidências que esse complemento não é de origem psicológica? Quando a pessoa não acredita, não costuma funcionar.

          • É complexo falar dessa maneira, porque geralmente a questão de “acreditar” envolve outras coisas (como adesão ao tratamento e mudanças de vida).

            Alguns tratamentos alopáticos também não funcionam quando a pessoa “não acredita”. Mas vc diria que um antidepressivo é magia, ou que os efeitos são de origem psicológica?

            E sim, existem evidências de eficácia do tratamento homeopático. Não é tão abundante porque ninguém lucra com essas pesquisas né…

            • Eu também acredito lá que a homeopatia até funcione, mas é a longo prazo, é justamente um complemento. Afinal, homeopatia realmente não vai te curar quando tu estiver com uma dor de cabeça ou dor de estômago, por exemplo. Mas tendo a acreditar que sim, que aquelas essências extraídas de flores e de plantas realmente, em pequenas doses, podem mudar alguma coisa em teu corpo.

  • Innen Wahrheit

    Oi Sally,

    Não sei se vou conseguir me fazer entender, mas acho que há muitas condições e situações que definem (o que se convencionou chamar de) a orientação sexual de um indivíduo (spoiler: minha opinião é que ninguém nasce orientado a nada) – e as abordagens tanto por parte de quem defende ou de quem condena, pelo menos por enquanto, estão bem longe de compreendê-las.

    • Em muitos aspectos sim, mas tratar como doença quem não é mainstream? Desculpa, isso já se sabe não ser verdade.

  • Eu realmente gostaria que o cristianismo, islamismo, judaísmo etc fossem extintos da face da terra mas isso não é possível (mas pelo o que tudo indica, com o passar dos anos a religião vai sim se tornar obsoleta).
    Inclusive, ótimo texto, Sally! Você deve ter sido uma grande advogada!

    • Advogados são muito pomposos e preocupados com erudição e aparência. Eu sempre destoei, sempre fiz questão de falar simples, claro. Isso é visto pela classe como medíocre, então, provavelmente, aos olhos da sociedade, eu não fui uma boa advogada…

      • Acho que saber se comunicar, de maneira simples ou não, é algo muito importante (principalmente para uma advogada) e eu tenho certeza que isso você fez bem. Gosto muito de saber que existe gente sensata feito vocês no mundo lol

        • Obrigada, Camila.

          Mas a prioridade no direito é pompa e ostentação. O advogado que fala algo que ninguém entende é visto como muito fodão.

          • Que pena isso…

            Na minha área também tem muito disso! Infelizmente!

            Também sempre fiz questão de falar da maneira mais simples possível, porque o importante é que a pessoa entenda…

            • É um clássico Brasil: a forma de falar conta mais do que o conteúdo. Não importa o que você diz e sim como você diz.

    • Não há substituto para a religião, a não ser que nos tornemos todos niilistas.
      Nietzsche na veia – e, confesso, ao menos assim seríamos todos sinceros.

  • Essa é uma questão polêmica porque os conhecimentos que fundamentam a posição do CFP são baseados em uma teoria pós-moderna que nega a biologia: a Queer Theory. Como na Psico brasileira, especialmente nas universidades e nos CRP/ CFP o pessoal é majoritariamente de esquerda, simpatiza com esta ideia. A retirada da homossexualidade dos compêndios de psiquiatria foi fruto de um movimento político, de uma disputa política sobre o que significa normalidade e qual a origem do sofrimento dos homossexuais. Inicialmente, o fetichismo transvéstico foi mantido nos compêndios, mas a luta política é para tirar todas as parafilias, menos a pedofilia e a zoofilia. O resto, deve poder. Psicopatologia é um terreno pantanoso.

    • Mas independente da classificação que seja feita, esses lunaticos de Cristo não estão aptos a lucrar com um suposto tratamento que não se mostrou válido, concorda?

      • Não é bem “lucratividade” o que eles estão procurando. Há muitos clientes que não se identificam como gays, não como esses que a sociedade vende como “o futuro”.

        Se é para ser como uma Pabbllo Vittar, melhor ficar no armário mesmo. Dá mais respeito.

      • Entre um fanático evangélico e um fanático de esquerda em um debate, eu torço para que o teto caia em cima dos dois.

    • Você está falando bobagem.

      A homossexualidade deixou de ser considerada e tratada como doença em 1974 pela APA. Outras organizações seguiram e foram adotando esse consenso com o tempo.

      A teoria queer só surgiu nos anos 90.

      É impossível a teoria queer ter influenciado algo antes do seu surgimento.

      • O movimento gay surgiu antes da teoria Queer. Ele vem da década de 60/ 70, junto com outros movimentos políticos das minorias nos EUA. Ela surgiu para “legitimar cientificamente” a despatologização de outros casos á medida em que os travestis e transgêneros passaram a integrar o antigo movimento gls, que foi virando glbt, glbtt e movimento da diversidade. Em nenhum momento eu disse que a Queer Theory veio antes do movimento político.

    • Nada a ver, a homossexualidade foi tirada do DSM bem antes de existir a teoria queer, sem contar que os psicólogos e psiquiatras do mundo todo seguem essas diretrizes, não tem nada a ver com os esquerdistas (que não estou defendendo, antes que me chamem de esquerdista).

      • Leia de novo. DSM retirou a homossexualidade dos transtornos após as pressões sociais do movimento gay (década de 60/70).

        CFP criou resolução impedindo tratamento de homossexualidade egodistônica em 1999, depois da teoria Queer.

        O conceito de normalidade tem muitas componentes (estatística, normativa, funcional, etc.). Patologias entram e saem dos DSM e das CID conforme o consenso de especialistas que se reúnem em grupos de estudos. Estes especialistas se referem a pesquisas clínicas, experimentais, enquetes e também à weltanschaung e ao zeitgeist em que estão imersos. A categoria Transtornos sexuais no DSM 5, de 2013, era anteriormente “Trantornos sexuais e de identidade de gênero” no DSM IV. Depois da teoria Queer e das mudanças no movimento gay nas décadas anteriores, incluindo transgêneros no movimento. Sem entrar no mérito se isto é moral, bacana, decente ou outra questão do tipo. O argumento é que política influi no que é considerado socialmente aceitável e isso muda o que é considerado normal ou patológico.

        Cite um estudo da teoria Queer que tenha base experimental ou uma referência à biologia (que não seja pura e simplesmente sua negação em nome de um projeto sustentado no desejo).

        • É curioso isso, me faz lembrar obviamente da leitura de Foucaut em “história da sexualidade”. Como ele diz, em tempos modernos (pensando aqui no século XX em diante) é justamente no corpo onde a luta política entra, solidamente sustentada pela luta ideológica e pelos discursos que atravessam tal corpo. Daí a necessidade de tantos debates pra tentar definir o que é certo e o que é errado em termos de sexualidade e comportamento humano e social. É uma tentativa de estratégia de controle através do corpo, no qual entra sim um “argumento político”, “sustentado no desejo”.

          • Exato, Gê. Este é o ponto que foge à vista de quem não tem estas leituras. De que este conceito de normalidade sexual passa por um embate político e que as ciências humanas têm embates epistemológicos internos, pautados também por ideologias.

        • Porra, você acha que a História da Humanidade começou em 1920, né? Não é possível.

          Você fala como se a homossexualidade SEMPRE FOSSE UMA DOENÇA e só não é mais considerada assim por causa de “movimentos políticos”.

          Você só não cita, por exemplo, que ela só passou a ser considerada uma patologia em 1886. A própria OMS só considerou homossexualidade uma doença mental em 1977 e depois retirou 13 anos depois.

          Não adianta falar que “eu nunca disse que sempre foi uma doença”, porque quando você fala que “só deixou de ser por movimentos políticos”, está inferindo que essa desclassificação não aconteceu por motivos científicos também.

          Porra, parece que vocês nunca saíram da fase pré-operatória do desenvolvimento cognitivo. Vai começar a dizer que o mundo não existia antes de você nascer também?

          • Vai estudar, garoto. Antes de Kraepelin nem tinha psicopatologia, tinha era um amontoado de teorias pré-científicas com resquícios de filosofia e medicina humoral. Já faz tempo que se abandonou o termo “doença” (disease) pra transtornos (disorders) mentais, então a ideia de “curar doença mental” está defasada décadas. No tempo do Kraepelin se chamava todas as alterações psíquicas/ comportamentais de psicopatia. Enfim, taxionomias e nosografias mudam. O que eu disse desde o começo, pra quem sabe ler e não é um recém-formado sabe-tudo, é que a psicopatologia é fruto de um mix de ciências biológicas e mudanças sociais alavancadas pela política. É uma fronteira entre estudos hard e “ciência pós-moderna” desenvolvida por ativistas.

            O mundo existia antes de eu nascer e eu já estudava estes assuntos bem antes de VOCÊ nascer. Na Grécia antiga ser gay era até bacana. Sócrates (se existiu de fato) era, Platão também e namoravam os aluninhos. Em cada época e lugar estes parâmetros mudam. Agora, no século XXI, os “empoderados lacradores” estão ditando regras em vários espaços, transformando os cursos de Psicologia em um mix de Serviço Social com Antropologia. Estudam meia dúzia de textos pós-modernos e agem como se soubessem mais do que os professores. Voltando ao conselho: vá estudar história da Psicologia, história da Psiquiatria, História da Filosofia, depois a gente conversa.

  • Botando um pouco de pilha, Sally: a maioria das pessoas que procuram tratamentos de “cura gay” o fazem porque não querem ser gays. Claro, há os que acham isso ridículo, mas há também o desejo da pessoa se sentir feliz consigo mesma e não se prender ao estereótipo homossexual vigente, uma mistura de Ru Paul com Jean Wyllis que demora mais tempo bradando contra homofobia que lutando para uma vida melhor para si.

    Tipo… eu não me identificaria com esses chatos de galocha. São gente repugnante, que só sabe reclamar e “lacrar” por aí. É melhor encarar uma cura do que ser como eles.

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