Sally e Somir nunca foram de criticar jogos, sendo fãs de muitos eles mesmos. Mas também não ignoram que pode ser uma derrota na vida gastar muito tempo com eles. Dentre dois muito famosos, eles escolhem o mais loser para se dedicar. Os impopulares jogam junto.

Tema de hoje: o que é mais loser, LOL ou Pokemon Go?

SOMIR

Gostaria de salientar que não jogo nenhum deles, gosto dos meus jogos com mais reflexão do que reflexos; então considero-me neutro o suficiente para ter a melhor opinião aqui. Se é para definir o que é mais loser, Pokemon Go ganha. E nem tem muito a ver com nerdice, afinal, eu nunca escondi ser um e não acho nada demais dedicar seu tempo a um jogo que te diverte.

Mas, aqui entra a minha reflexão: se você vai fazer uma coisa, faça de verdade. Se vai fazer nerdice, por que tentar fingir que não? Quem tem a segurança de jogar o que gosta não fica devendo a ninguém além de si. As pessoas que jogam LOL aceitam que sua interação com outros seres humanos tende a ser limitada naquele ambiente, e jogam da mesma forma com ou sem aprovação social, sem desculpinhas esfarrapadas que é menos nerd.

Pokemon Go é um jogo tão bobo e desnecessário quanto qualquer outro, a única razão para jogar é achar a mecânica divertida. Quem o faz não é mais ajustado socialmente só porque fica passeando pela rua, até porque continua vendo a realidade através de uma tela de celular. E não é como se quem joga LOL ficasse isolado de outros seres humanos, a pessoa é tão autista e isolada quanto quiser. Quem quer companhia consegue até jogando paciência.

Então temos que entender que nenhum jogo substitui o impulso social de uma pessoa específica, uma pessoa extrovertida vai atrair pessoas com quase tudo o que fizer, uma pessoa introvertida provavelmente não. Sally vai usar muito a carta da sociabilidade no jogo que ela gosta, mas evidentemente que ela está analisando através da própria capacidade de interação. Ninguém vai aprender a ser menos estranho ao redor de outros seres humanos só por jogar o Pokemon Go, não?

E, com o mito do elemento social do Pokemon Go devidamente trabalhado aqui, vamos voltar a comparar os jogos num campo mais realista: o do jogo em si e o que ele representa. Pokemon Go é um Candy Crush que usa a câmera do seu celular, LOL é um jogo bem mais complexo que exige conhecimento específico, reflexos, planejamento e trabalho em equipe. Se você vai gastar tanto tempo com um jogo, que pelo menos seja um que exercite seu cérebro. Até porque se for para gastar calorias, existem tarefas bem mais eficientes do que ficar andando feito um autista na rua.

Já que é pra ser nerd, nada de fazer as coisas pela metade. Pokemon Go pode ser um jogo muito divertido, mas por ter a profundidade de um pires, meio que falha nessa alma nerd de ser. O que gera um problema: fazer a pessoa tentar explicar que não é nerd para quem obviamente vai achar nerd não importa o que você diga. Quem é idiota de te achar inferior por jogar qualquer um desses jogos vai ser idiota se você disser para ele/ela que tem que sair na rua para jogar ou não. Quem é capaz de entender que é um hobbie não vai mudar muito a opinião sobre você por causa do elemento “rua” do Pokemon Go.

Então, já que não faz diferença, o jogo mais complexo e profundo (mesmo que por uma pequena margem) começa a fazer diferença. Até porque se formos mesmo pensar em vitórias da vida real, fora do jogo, você pode ficar rico e famoso (dentro da comunidade) se jogar LOL muito bem. Pode virar sua carreira, você pode ter fãs e viver disso se for capaz. Já no caso do Pokemon Go, sempre vai ser um hobbie até a empresa finalmente não aguentar mais os custos do jogo. LOL tende a ter novas versões, mantendo seu hobbie por mais tempo, a produtora do jogo dos monstrinhos já usou os bacanas e só pode usar os novos cagados lançados posteriormente. Menos loser apostar num time que está ganhando, não?

E outra, vamos ser honestos: o conceito de loser é baseado na média da população, e a média da população é dose: se importa com o que é mais popular. Pokemon Go ficou famoso no começo, mas agora desapareceu da mídia. Claro que ainda tem gente jogando, mas comparado com talvez o jogo mais famoso do mundo na atualidade? Pessoas “normais” devem ter ouvido falar do LOL pelo menos alguma vez na vida, e provavelmente daquela parte dele onde pessoas disputam prêmios gigantes em dinheiro em torneios internacionais.

Para uma pessoa “genérica”, é muito mais bacana seguir uma moda. Só a gente aqui acha interessante quem faz o que quer independentemente da popularidade. E reforço: nesta coluna raras são as vezes que falamos só das nossas percepções. Pensando no geral, é muito menos loser fazer algo que milhões de outras pessoas fazem.

Ah, mais uma coisa, talvez a mais importante: se você quiser, ninguém fica sabendo que você joga LOL. Mas, Pokemon Go? Eventualmente você vai ser obrigado a puxar o celular e ficar fazendo macaquices para pegar um dos monstrinhos no meio da rua. E outras pessoas vão ver. Não gosto de quase nada do que falei nos últimos parágrafos, mas… é a verdade.

Para reclamar do atraso, para dizer que eu atrasei ou mesmo para reclamar que eu atrasei: somir@desfavor.com

SALLY

Gostaria de iniciar o texto de hoje dizendo que não tenho absolutamente nada contra jogos, videogames e diversão eletrônica no geral. Muito pelo contrário. Muito pelo contrário mesmo. Meu vício remonta da década de 80, quando eu já sofria intensa taquicardia com o aviso de combustível acabando do River Raid. Então, é apenas uma questão de preferência.

Acho League of Legends, doravante denominado “LOL”, mais derrota do que Pokemon Go por dois motivos: 1) limita mais sua vida (inclusive a vida social) e 2) sou viciada em Pokemon Go.

Não me interpretem mal, LOL é um puta jogo. O problema é que te prende em uma cadeira, longe do mundo real e da vida social. Sim, eu sei, dá para conversar com as pessoas dentro do LOL e há encontros e competições, mas, convenhamos, na maior parte do tempo LOL monopoliza o jogador, obrigando-o a deixar todo o resto da sua vida de lado. Já Pokemon Go é um jogo que roda “em segundo plano” da sua vida, você pode fazer suas atividades normais e, eventualmente, quando houver uma oportunidade, pega um Pokemon.

Para quem não está familiarizado com o esquema de jogo de Pokemon Go, funciona da seguinte forma: eles mapearam o mundo todo e o jogo faz aparecer Pokemons esporadicamente, dependendo do local onde você esteja e outros fatores. Não é uma constante, você pode ficar horas sem encontrar um Pokemon. Também não tem a obrigação de pegá-lo quando ele aparece, pode simplesmente deixar passar. Não há missões, linha temporal ou obrigação de regularidade: entra quem quer, quando quer e pega os Pokemons que desejar.

Assim, é perfeitamente possível conversar com outra pessoa, olho no olho, se exercitar ou até ler um livro com o aplicativo aberto. Eventualmente, quando aparecer um Pokemon, seu celular vai vibrar e você decide se vale a pena interromper o que está fazendo para dar atenção ao jogo. Então, além de ser um jogo que demanda menos pelo grau de complexidade próximo de zero, também é um jogo que toma menos tempo. Por ser jogado apenas no celular, permite uma mobilidade maior

Além disso, Pokemon Go estimula as pessoas a caminharem, a saírem de casa. Quanto mais você anda, mais Pokemóns aparecem e mais benefícios o jogo te dá. Já vi muito gordinho sedentário andando por horas em parque na tentativa de conseguir benefícios (chorar um ovo de 10km). Então, se você jogar direito, Pokemon Go pode trazer até um benefício para sua saúde. E, dependendo do que o jogador busque (existem dinâmicas que te permitem um grau de interação com outros jogadores), além de sair de casa também de aproxima de outras pessoas, ao vivo.

LOL te tira da realidade. Seu mundo passa a ser o mundo fictício que aparece na tela do computador. É aquele tipo de jogo em que você mergulha tão profundamente que esquece de comer, nem lembra o tempo que passou jogando e, se a cortina estiver fechada, não sabe nem se é de dia ou de noite, se está chovendo ou se está sol. É um grau de alienação da realidade que eventualmente é bacana, mas regularmente não é saudável. Pokemon Go te obriga a sair no mundo real, pois o mundo real é uma parte importante da dinâmica do jogo: certos Pokemons aparecem em determinados ambientes ou horários, não tem como emular isso do sofá de casa. Tem que andar, tem que frequentar diversos lugares, tem que transitar no mundo real.

Não é segredo para ninguém que eu prezo igualmente por corpo e mente. Acredito que um marombeiro de academia que não cuida do seu intelecto é tão merdinha quando um nerd que só investe no seu intelecto e abandona seu corpo (apesar dos nerds inexplicavelmente se acharem melhores que os marombeiros). São os dois lados da mesma moeda. Então, é esperado que eu aplauda um jogo que conseguiu tirar as pessoas do sofá. Você pode achar que uma caminhada de meia hora por dia não é nada, mas ela pode ser a diferença entre a saúde e a doença.

Sei que é possível estar no mundo real e não prestar a menor atenção nele, focando apenas no celular. Infelizmente acho que todos nós já vivenciamos esse jantar do capeta, onde você vai na intenção de conhecer a outra pessoa e ela vai na intenção de cutucar o celular a noite toda. Então, por mais que Pokemon Go não seja garantia de socialização, ao menos é garantia de dar oportunidade para socialização e para conhecer novos lugares. Já é alguma coisa. No ruim, no ruim, a pessoa sintetiza alguma vitamina D por estar andando no solzinho.

Além disso, Pokemon Go é um jogo para todas as idades, é possível inserir crianças, idosos e até pessoas bem burras e toscas para jogar ao seu lado. É democrático, basta ter um celular com internet, coisa que hoje quase todo mundo tem. Não precisa de tal computador, com tal monitor e tal resolução. Também não precisa saber falar inglês, resolver desafios complexos ou ficar horas para solucionar um problema. É um jogo simples, praticamente um álbum de figurinhas móvel com um toque de meritocracia no lugar da sorte aleatória. Isso favorece ainda mais o jogo sem isolamento social, basta que você tenha a habilidade de inserir e engajar pessoas do seu meio no jogo.

Então, dentro dos meus valores, é menos derrota um jogo que não me exige tanto, que não me afasta tanto do convívio social, que não me obriga a investir dinheiro em computador caro, que não me prende dentro de casa e que não me demanda atenção total e exclusiva quando estou jogando. Eu sempre fui fã da realidade e sempre desgostei de escapismos, nada mais natural do que gostar mais de um jogo que mistura uma boa dose de realidade na sua dinâmica.

Para dizer que ambos são igualmente derrotas, para dizer que quem ainda joga Pokemon Go é estranho ou ainda para dizer que nos respeita menos a partir de hoje: sally@desfavor.com

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Comments (6)

  • Acho que League of Legends é mais “jogo” do que Pokémon Go, mas é mais fácil encontrar pessoas que entram na espiral do vício e acabam sacrificando coisas que realmente importam na base do LoL. E por ser um jogo “freemium” quem entra nessa espiral ainda pode torrar uma quantia nada modesta de dinheiro em cima do jogo – além do jogo ter muitos recursos desbloqueados apenas com dinheiro, é um daqueles jogos que dão duas opções ao jogador – dedique centenas de horas de jogatina para liberar os recursos ou abra a carteira.

  • Bem … eu acho legal esses com realidade virtual com óculos , ou aqueles com kinect , tem uns com dança, jogos olímpicos ,são bem divertidos (nem sempre) . Desses dois aí q nem conheço fico com Somir e me sentiria uma retardada procurando monstrinhos pelas ruas.

    • Você não procura, você simplesmente anda, passeia e quando aparece um seu celular vibra e você decide se quer pegar ou não.

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