Pelado no museu.

Agora que tooooodo mundo já falou o que queria sobre o assunto, falo eu. Semana passada uma discussão sobre uma performance artística no Museu de Arte Moderna de São Paulo gerou mais debate e polêmica. Consistia em um homem nu, com o qual os visitantes poderiam interagir. Entre eles havia crianças, que de fato interagiram, tocando-o. Pronto, o Brasil explodiu naquela pancadaria polarizada: se você é a favor, está defendendo pedofilia. Se você é contra, é um moralista babaca conservador censor.

Não demorou muito para que os argumentos sobre o fato se desviem para argumentos sobre os argumentadores. No lugar de um debate saudável sobre limites e proteção às crianças, onde todos convergem juntos para um objetivo comum (fazer o que é melhor para as crianças) veio mais um show de horrores de ofensas, ameaças e longos discursos dos donos da razão.

Difícil escrever sobre isso, pois muito já foi dito. Difícil trazer algo novo. Mas, mais difícil ainda é não falar sobre um assunto que gerou tanta repercussão. Não dava para ser Desfavor da Semana, pois consideramos que ensino religioso confessional é mais grave que um fulano pelado no chão do museu, mas não dá para ignorar o assunto esta semana.

O que mais me entristeceu vou deixar para o final, pois precisa de contexto para ser compreendido. A segunda coisa que mais me entristeceu é que fiquei com a sensação de que ninguém tinha razão, talvez por estarem todos argumentando com a clara intenção de ter razão, e não de debater, o que gera uma distorção de percepção e de raciocínio: tudo que é dito milita a favor do convencimento e não da reflexão e solução do problema.

Quem foi a favor disse que nudez é uma coisa natural, debochou daqueles que se chocam um pênis e que crianças frequentemente vem os pais pelados. Disseram também que nudez está presente em vários outros momentos (quadros, esculturas, TV) e ninguém nunca se revoltou contra isso, disseram que os pais das crianças autorizaram que elas estivessem lá, que em momento nenhum a criança tocou no pênis do homem ou fez qualquer coisa de caráter erótico, pois crianças não tem maldade, que índios andam nus na frente de crianças e isso nunca matou ninguém.

Vamos lá. Nudez não é natural em nossa cultura, independente de discutirmos se deveria ou não ser: não o é. Tanto que se você sair pelado no meio da rua, incorre em crime. Eventualmente pode ser autorizado de forma pontual, em algumas praias, mas certamente não podemos dizer que a nudez em público seja natural.

Ninguém se chocou com um pênis, as pessoas se chocaram por um pênis estar acessível aos olhos e ao alcance da mão de crianças. Não sei se crianças daquela idade convivem com um pai pelado dentro de casa, não tenho filhos, não tenho como julgar, mas certamente não é comum que crianças convivam com estranhos pelados, com o pênis à mostra.

Sim, a nudez está presente em muitos outros momentos, mas isso não significa que ela seja inofensiva para crianças, tanto é que existe classificação etária para protege-las de imagens que supostamente podem causar algum dano. Um programa de TV ou um filme com nudez certamente terão restrição de horário e um aviso indicativo. Além disso, para a cabeça de uma criança, é diferente ver o Davi de Michelangelo pelado do que ver um homem real pelado, não é uma comparação válida quadros ou esculturas com pessoas reais. Há quadros que retratam feridos e mortos e certamente o trauma em ver um ferido ou morto ao vivo seria mais impactante na criança.

Os pais autorizaram. Ok, mas existe um limite legal mínimo do que os pais das crianças podem chancelar. Existem mães que prostituem as filhas e isso não é aceitável só porque a mãe autorizou. Se for algo que seja nocivo para a criança, a lei intervém, o Conselho Tutelar intervém e se encarrega de dar a esta criança a proteção que os pais deveriam ter dado e não deram. Então, aval de mãe não autoriza tudo, não é argumento, sobretudo no Brasil, um país onde os pais tendem a ser relapsos com seus filhos.

Criança não precisa ter maldade para que a exposição precoce ou de forma inadequada a pornografia lhe cause um dano. Não sou especialista, não sei se causa ou não, não tenho competência para entrar nesse mérito, mas dizer que criança não tem maldade não é argumento. Muito menos pensar que por não ter encostado no pênis do sujeito não houve dano. Acredito que dificilmente algum pai ou mãe se sentiria confortável ao ver a filha passando a mão em um homem pelado que ela nunca viu fora desse contexto, ou seja, mesmo sem passar a mão nos genitais, é algo que merece ser pensado, refletido e não imediatamente descartado e taxado de inofensivo. Será que não abre uma porta? Até que ponto a criança entende o contexto ou se banaliza a nudez e contato físico?

Índios andam pelados, mas é outra cultura, outra realidade. Índios matam deficientes físicos quando nascem. Muitos praticam estupro com normalidade. Práticas propagadas por tribos indígenas são totalmente reprováveis em nossa cultura, e até mesmo consideradas crimes, portanto, não tem como descolar um ato de outra cultura e com isso tentar provar que ele se adequa à nossa.

Quem atacou esta performance disse o seguinte: não é arte, é pedofilia, o museu deveria proibir esse tipo de coisa, o museu deveria proibir que crianças presenciem esse tipo de coisa, o “artista” deve ser punido, o museu deve ser punido, compararam o evento com homens ejaculando em mulheres no ônibus e acharam bem feito que funcionário do museu foram agredidos por conta do ocorrido. Vamos lá.

Bastante perigosa essa ideia de “não é arte”. Eu realmente não acho que seja, mas é uma opinião minha e me parece extremamente nocivo que se defina o que é arte pautado na minha opinião ou na de um grupo. É bem simples: não gosta? Não consuma. Não gosta e acha que faz mal à sociedade? Acione o Judiciário, para que peritos especializados, pessoas que dedicaram sua vida a estudar a mente humana, digam se isso pode ou não pode causar um dano à criança. Censurar por você não achar que aquilo é arte abre um precedente horrível que acaba mal. Não aprenderam nada com os erros do passado?

Pedofilia é a prática de atos de natureza sexual com crianças. O que tínhamos ali era um sujeito jogado no chão, inerte, que em momento algum encostou nas crianças, as crianças foram até ele e encostaram nele. Veja bem, em minha opinião é bastante errado permitir que crianças vejam ou encostem em um homem estranho nu (em qualquer parte do seu corpo), mas pedofilia, não é. Não vamos banalizar o crime, por gentileza, pois chega até a ser um desrespeito com quem já foi vítima desta atrocidade. A lei penal não permite interpretação extensiva. Não é pedofilia, ponto final.

O Museu deveria proibir esse tipo de coisa? Não. Acho nojento, acho de péssimo gosto, acho medonho, mas proibir algo por desagradar a um grupo é um caminho muito equivocado. Como já disse, se há fundado receio de que isso provoque um mal à sociedade ou às crianças, o caminho não é censura no grito “por eu não aprovar” ou “eu, a Nobody Sally” achar que faz mal e sim o Judiciário, com a devida análise de pessoas avalizadas a dizer se isso efetivamente causa um mal. Muito achismo para o meu gosto, todo brasileiro se acha perito.

O Museu deveria proibir que crianças vejam esse tipo de coisa? Mesmo que eles quisessem, não é possível. Hoje, a classificação etária é meramente indicativa. Já ocorreram outras celeumas por pais levarem filhos a filmes inadequados e em todos os casos o entendimento foi no sentido de que o aviso de conteúdo inapropriado é obrigatório, mas a palavra final é dos pais da criança. Se alguém achar que aquela criança está sendo exposta a um conteúdo nocivo, pode acionar o Conselho Tutelar e denunciar os pais, mas o Museu não pode barrar a entrada de crianças e muito menos vai tirar uma exposição por causa de pais sem noção. Concorde ou discorde, estas são as normas do país onde você vive, então, culpe o Poder Público, não o Museu.

O “artista” não tem culpa. Seque sabemos se ele tinha consciência de que haveria criança no local. O “artista” não tem qualquer obrigação de zelar pelo bem estar do filho dos outros. Nem o artista, nem o museu. Esta responsabilidade é dos pais da criança, que estavam ali e acharam adequado que suas filhas participem daquilo. Então, se for para responsabilizar alguém, responsabilizem a mãe da criança. Mas isso ninguém quer fazer, pois sabe-se que hoje em dia dá merda criticar mulher. Tanto o “artista” como o Museu fizeram tudo dentro da legalidade, com aviso indicativo, atuando até onde a lei permite.

O evento me pareceu inadequado sim, mas não há comparação com um homem ejaculando em uma mulher em um ônibus. Um é uma violência sexual, uma postura ativa, covarde, sem escolha. O outro é um evento de péssimo gosto que talvez cause algum tipo de dano à criança, porém de outra natureza, tanto é que são tratados de formas diferentes pela lei.

Endossar agressão a funcionários do Museu vai além da ignorância, é mau-caratismo. A responsabilidade é da mãe da criança, apenas da mãe, o Museu não tinha respaldo legal para impedir a entrada destas crianças e, mesmo que tivesse e houvesse falhado, não é agredindo funcionários que se resolve o problema.

Para não pagar de omissa, segue minha opinião, que é apenas minha opinião, ou seja, pode estar errada, pode ser revista, deve ser usada para refletir não para convencer: por alguma razão que eu desconheço se convencionou “proteger” a criança de contato com o nu durante a infância, é assim que as coisas são. Se isto merece ser modificado, que o seja de uma forma pensada, estudada, racional. Não é mamãe dizendo “Ah, mas EU não vejo nenhum problema nisso!”. Você não está avalizada, com seu achismo, a decretar que isso não causa nenhum mal para a criança. Considerando o risco, me pareceria prudente que as pessoas sejam menos arrogantes e tomem uma decisão como esta com mais embasamento, pelo bem de seus filhos. Permitir que uma criança apalpe um estranho pelado pode passar uma mensagem errada para a criança. É preciso pensar não apenas se é adequado fazê-lo, como também qual é a melhor forma de fazê-lo. Acredito que essa mãe foi arrogante e irresponsável e não está protegendo a filha como deveria.

Agora vamos falar do que realmente me preocupa nisso tudo. Verdade dolorosa: eu estou cagando e andando para as crianças do Brasil. Não tenho filhos justamente por achar que este país é um lixo de lugar para criar crianças. Vou além, acho que pais que tem filhos no Brasil tem mais é que se foder, pois sabiam da merda que isso aqui era e botaram filho no mundo mesmo assim. Então, vai reclamar com o Papa. Pega tua indignação, volta no tempo e usa camisinha, pois ao colocar um filho neste país você automaticamente o sujeita a todo tipo de desmando, descaso e violência, não venha de indignado, pois estas eram as regras do jogo e você topou sujeitar seu filho à grande tsunami de bosta que é este país. Faz as malas e sai ou então assuma responsabilidade por ter colocado um filho em um país assim sem encher os ouvidos de quem teve o bom senso de não fazê-lo. Vocês não vão mudar o Brasil, ficar gritando e brigando não resolve nada.

Passado este desabafo, o que me preocupa, enquanto pessoa insensível aos problemas infantis, é o desdobramento disso. Uma horda de pessoas emputecidas com uma série de escaralhamentos sociais que vem acontecendo tendem a reagir procurando o lado oposto, para fazer cessar o que consideram ser um abuso. O lado oposto a essa suposta libertinagem, baixaria e putaria que sempre foi o Brasil é o ultra-conservadorismo, a repressão, a ditadura.

Cambada de filhos da puta, me ouçam com atenção: eu entendo que vocês estejam putaços com esse grau de baixaria que está acontecendo (eu também estou), mas porra, parem de reagir com raiva, com ira, com revanchismo, se não vocês vai acabar criando um cenário onde a porra do Bolsonaro vai se eleger no ano que vem como herói moralista! Não é preciso um extremo para combater o outro, por sinal, os dois extremos são igualmente ruins.

Então, por gentileza: pelo caminho da luz, da informação, do debate. A putaria que é este país não vai mudar com Presidente moralista, apenas vai ficar mais camuflada. Isso te basta? Espero que não. Não estamos em busca de vingança e sim de um país melhor, certo? Espero que sim.

Para me parabenizar por ter conseguido ofender a todos sem exceção, para mais uma vez usar o discurso de que se eu não tenho filhos não posso falar (posso sim, o blog é meu, se não gosta não leia) ou ainda para dizer que o mundo está tão maluco que para dizer o que mais ninguém diz tivemos que nos tornar ponderados: sally@desfavor.com

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Comments (47)

  • “Criança não precisa ter maldade para que a exposição precoce ou de forma inadequada a pornografia lhe cause um dano. Não sou especialista, não sei se causa ou não, não tenho competência para entrar nesse mérito, mas dizer que criança não tem maldade não é argumento. Muito menos pensar que por não ter encostado no pênis do sujeito não houve dano. ”

    Exatamente, segundo especialistas causa dano sim. Mesmo não configurando pedofilia ou abuso, é um estímulo que ocorre antes do momento ideal de um amadurecimento psicoafetivo. Estimula curiosidade para uma cabecinha que ainda nao tem construido e consolidado um limite saudável em suas relações e afetividade. Abre uma porta!

    Como sempre nunca me decepciona em seus posicionamentos… Saudades!

  • “Cambada de filhos da puta, me ouçam com atenção: eu entendo que vocês estejam putaços com esse grau de baixaria que está acontecendo (eu também estou), mas porra, parem de reagir com raiva, com ira, com revanchismo, se não vocês vai acabar criando um cenário onde a porra do Bolsonaro vai se eleger no ano que vem como herói moralista!”

    Até que enfim alguem percebe o óbvio. Já disse isso pra amigos de esquerda mas eles parecem não conseguir agir de outra forma. O melhor cabo eleitoral do Bolsonaro é a esquerda. Até eu penso em votar nele considerando as alternativas.

    • Né? Assim fica difícil, estão escrotizando o cara por vias tão erradas que acabam gerando simpatia a seu favor. Tem tanta coisa ruim para falar dele, não precisa desse circo!

  • Olha, o ÚNICO ponto que realmente me incomoda é o dinheiro público gasto nessas exposições (Lei Rouanet é desconto em imposto, logo quem paga a conta dessa, e de outras, brincadeiras é o povo).

    Disso, aliás, ninguém falou – quando é que vão suspender logo os incentivos culturais e deixar os mecenas financiando “macaquinhos”, “homens nus”, “masturbações sociológicas” e coisas do gênero?

    • Ah Fábio… Desde sua criação o dinheiro da Lei Rouanet só vai para coisa hedionda: Claudia Leite, site de poesias da Maria Bethania, e coisas ainda piores.

      Apesar de ser mais uma bosta na qual se usa o dinheiro público, eu tendo a achar que é um pouco pior pela natureza da “arte”.

    • E outra: meia dúzia de artistas pau no cu dependentes de Rouanet querem ditar o que a sociedade pode ou não repudiar. Estão tão errados como o povo que quer fechar museu.

      • Sim, ambos os extremos são péssimos, mas o povo parece não perceber que não é necessário “aderir” a um dos lados, é possível concordar com uns em algumas coisas e com outros em outras coisas, formando você mesmo sua própria opinião, “a la carte”.

        • Sally, o povo está cansado de ser tratado como “massa de manobra” da elite esquerdista. Certo, a direita (ou o que chamamos de direita no Brasil) não é lá muito correta, mas os grupos progressistas conseguem tratar o brasileiro médio como o português tratava o índio em 1500.

          Quer dizer… pior. O português ao menos sabia que precisava negociar com o indígena.

  • Vou ter que concordar com a esquerda, não tem nada demais em nudez, não tinha nada demais na exposição do Santander e ver a direita que sempre defendeu liberdade de expressão defendendo censura é ridiculo e hipócrita.

    • Existe problema com nudez sim. Certo ou errado, se convencionou que nudez não é aceitável em nosso cotidiano, tanto é que se você sai pelado na rua incorrerá em crime. Além disso, não estamos falando apenas de nudez, estamos falando de uma criança exposta a nudez de um estranho e sendo incentivada a tocar nele. Se você não vê problemas, saiba que psicólogos e outros profissionais dedicados a estudar a mente humana e infantil acreditam que esse tipo de exposição precoce pode sim causar danos.

  • Eu caí na burrice de tentar discutir o assunto com super novos críticos de arte e censores da vida geral. Me estressei e perdi tempo.

    • Eu também me aborreci tentando conversar. Expliquei que em nossa sociedade convencionamos proteger crianças de nudez e comecei a ouvir que se dependesse de mim colocariam uma calça jeans no Davi de Michelangelo, como se fosse exatamente o mesmo uma estátua ou um homem estranho nu. A falsa simetria correu solta para ambos os lados neste episódio…

  • “Não tenho filhos justamente por achar que este país é um lixo de lugar para criar crianças. Vou além, acho que pais que tem filhos no Brasil tem mais é que se foder, pois sabiam da merda que isso aqui era e botaram filho no mundo mesmo assim. ” Felicidade saber que não sou a única que pensa assim!O pior é que esse tipo de gente burra e sem noção são os que mais procriam. Uma merda sem fim.

    • Uma frase que virou clichê: a definição de loucura é fazer sempre a mesma coisa esperando resultados diferentes. Assim é o brasileiro, sabe que o país é uma bosta, se porta sempre da mesma forma e se indigna e faz escândalo quando o mesmo resultado aparece.

      Ter filhos no Brasil apenas porque “tinha vontade de ter filhos” tem nome: egoísmo. Se planeje, saia do país e dê uma condição digna para o seu filho, ou então, pelo bem dele, não o tenha para viver esta realidade grotesca e brutalizada.

      • Ter filhos é dedicar-se e dar amor a um novo ser, é encarar o maior desafio da sua vida. Se você não pensa dessa forma, não compensa.

      • Acho que alguma vez nos idos do passado do desfavor já comentei isso, tenho a ligeira impressão, mas vou comentar de novo: também não penso em ter filhos. A meu ver, mais do que dar amor, do que dar carinho e educação, há também que se ensinar/transmitir limites, valores, moral, e isso não é fácil. Mais do que isso, é uma tarefa árdua, a meu ver, em tempos atuais, e tu teria que abrir mão de si pra se dedicar ao outro. É uma entrega. Ok que tem um lado lindo nisso, mas… por outro lado há um lado egoísta meu que não me permite ter esse nível de dedicação para com uma pessoa. Se dedicar assim destoaria de meus projetos de investir em mim, na minha carreira profissional, etc. Não daria pra conciliar as duas coisas.

        • Concordo com você, não dá para ter tudo na vida, ao ter filhos se abre mão de muita coisa. Mas vou além… nosso amor e valores não basta. Um dos fatores determinantes para definir o que um filho será é o entorno, e nós não temos o poder de mudar o Brasil. Então, ou sai do país e dá um bom entorno para seu filho se tornar um bom ser humano, ou tem no Brasil ciente dos estragos que este entorno fará com a criança (o que eu classifico como egoísmo), sem se dizer surpreso ou indignado com isso.

          • Não ter filhos é uma decisão correta, e sábia. Entretanto, está diante do “normal” que se espera, até porque o ser humano é, por natureza, totalmente gregário.

            Aliás, curiosamente a Bíblia até prega a possibilidade das pessoas viverem sozinhas, desde que vinculada a um pequeno detalhe: tem que ser casta, a vida inteira.

            Sexo? “Forget it”, isso não te pertence mais… se é que já lhe pertenceu um dia…

            • A Bíblia prega pessoas engravidando do Espírito Santo, um idosos colocando um casal da cada animal em uma arca e um zumbi que volta depois de três dias. Uma belíssima obra de ficção que infelizmente foi levada a sério por um grupo anencefálico.

  • Essa polêmica do MAM é só mais uma prova de que o Facebook está deixando essa galera cada dia mais e mais histérica. Coisas que normalmente seriam resolvidas com um pouco de conversa e bom senso hoje sempre viram gritaria, escândalo e grosseria generalizada. Essas redes sociais dos infernos dão reforço positivo pra galera surtada que não sabe argumentar de forma ponderada e racional. Aí, quando surge um assunto mais polêmico e delicado, é aí que a manada fica totalmente fora de controle: é manifestante dando porrada em funcionário, petição querendo fechar o museu, xingamentos dos dois lados… deus me livre, eu quero distância dessa gente!

    • Binho, cheguei a tentar conversar com pessoas dizendo que hoje nudez não é natural (tanto é que se você sair pelado na rua é preso), mas que se a sociedade achar que é hora de rediscutir isso, o assunto teria que ser conversado à luz da informação, e não na marra, jogando homem nu para criança tocar. Ouvi como resposta que eu só penso assim por não gostar de criança e, consequentemente, não me importar que elas sofram ataques de pedófilos. O mesmo povo que deixa filho na cela de estuprador em presídio te dá lição de moral se você diverge deles de alguma forma, é muito lamentável.

  • “Agora que tooooodo mundo já falou o que queria sobre o assunto, FALO eu”

    Adorei o trocadilho, intencional ou não…

  • Eu fiquei preocupada justamente com essa acusação de pedofilia. Não imaginava que tanta gente não soubesse o conceito.
    A ignorância e arrogância do povo brasileiro são assustadoras.

    • A coisa é bem errada por si só, não tem necessidade de imputar crime de pedofilia, acaba desmerecendo o argumento de quem está fazendo uma crítica muito válida.

      • Pedir ao brasileiro médio que “viaje” nos conceitos de arte pós-moderna é esperar demais. Somos burros de carga, não nos peça para ser abstratos – principalmente quando envolve a prole.

      • Concordo, Sally! Eu trabalho com Direito Penal e, como você disse bem, aquilo no museu não era pedofilia. Mas… pode sim abrir portas para ela. A exibição não tinha conteúdo erótico, mas a exposição e o contato da criança com o nu a erotizam precocemente. Banalizam a conduta que caracteriza pedofilia.

        • Exato! Pode facilitar o acesso de um pedófilo à criança, criando uma falsa sensação de normalidade de algo que não deve ser normal. Nudez, na nossa cultura, não é normal. Deveria ser? Não sei, podemos discutir isso, mas o fato é que hoje, não é.

          Li muitos psicólogos dizendo que a exposição de crianças de forma precoce à nudez pode (eu disse PODE) causar algum tipo de dano, quando se vive em uma sociedade em que nudez é tabu. Portanto, se o que se pretende é quebrar esse tabu e passar a encarar a nudez com tranquilidade, talvez a melhor forma não é fazer assim, rompendo padrões repentinamente.

  • Preferia os anos 80 e 90. Sério: naquela época a mulherada realmente andava nua no Carnaval, a “banheira do Gugu” parecia coisa de criança perto do que se passava na TV… mas, entre uma coisa e outra, tínhamos espaço para discussões de verdade, civilizadas, entre políticos e especialistas em geral.

    Está todo mundo tão cheio de si, tão dono da verdade, tão “cagador de regras” (desculpe o termo) que vamos voltar ao tempo em que mulher não podia sair de casa sozinha porque “não era direito”. Não custa lembrar, o Brasil já foi um país extremamente moralista, justamente nos tempos em que o Imperador mandava por aqui, a Igreja Católica era um braço do Estado e as pessoas nas ruas fingiam erudição, enquanto botavam contos e contos de réis de patrimônio em escravos “de primeira linha”.

    Se é para retornar aos bons tempos, queria voltar ao início do pós-ditadura. Era uma droga, o país estava se reorganizando, mas ainda não tinha uma Constituição impondo um modelo de país condenado ao fracasso – nem uma elite sonhando em tornar o Brasil em país escandinavo.

    Afinal, a Noruega parece bonita de longe, mas lá faz muito frio – e é chato para burro.

  • O assunto até desgastou de tanta briga que teve. Discussão de internet é assim: ninguém muda de opinião e todo mundo fica puto.

    “vocês vai acabar criando um cenário onde a porra do Bolsonaro vai se eleger no ano que vem como herói moralista!”
    Bolsonaro é mais conhecido e apoiado entre os mais escolarizados e a maioria do Brasil é pobre e sem estudo decente. Me pergunto se o que pesa mais pra essa maioria é bolsa família ou moral religiosa. Na cabeça de muitos deles qualquer coisa diferente do PT significa perda de ajuda governamental.
    Por isso ainda tem chance do Lula ser eleito e termos que aturar de novo os lacradores cacarejando “a democracinha venceu chupa elite” (depois perguntam por que brotam separatistas e defensores de ditadura), mas eu sou maluca e acredito em toda possibilidade, até uma nova intervenção militar. Só precisa de um gatilho forte. Sei lá, esta é a década do impossível. Disseram que a Dilma não seria impedida, que não rolaria o Brexit, que o Trump não seria eleito…

    • Eu acho que tanto nessa discussão como na questão do Bolsonaro, o fio condutor é a coerência.

      Os mesmos que defendem a liberdade de apreciar qualquer tipo de arte são os que pedem censura de humorista. Ainda que isso não seja percebido com esta clareza pelo povo, há algum entendimento rudimentar sobre a existência de falsidade e hipocrisia. Bolsonaro é o pior lixo que existe, mas ao menos aos olhos do povo, ele se mantém coerente: é uma merda e se comporta como uma merda.

      Em tempos onde todos estão muito incoerentes, coerência (ainda que para ser um merda) pode sim definir eleição. Trump está aí para provar.

  • Sally, você conseguiu traduzir exatamente o que eu tenho visto por aí. Dois extremos, um onde se fala de pedofilia, morte ao artista, fechamento do museu, esquerdistas canalhas e outro onde se fala em moralismo, conservadorismo, crentes, etc.

    É uma pena que, infelizmente, tentar racionalizar para qualquer um dos lados não dê certo. Convivi com ambos e tentei mostrar um outro lado que talvez não tivessem sido pensado:
    1. O toque da criança no homem não foi erotizado, ele teve zero resposta sexual. A mãe pode criar a filha num contexto onde naturaliza a nudez, mesmo que ela ainda a proteja de eventuais ataques de pedófilos. Uma coisa pode não excluir a outra.
    2. Mostrar para a criança um homem nu e incentivar o toque como uma experiência de arte pode confundir a cabeça da criança quando alguém com más intenções quiser se aproximar dela. Muitos acham que o pedófilo só trabalha com violência e de cara a criança percebe a diferença, mas não levam em conta a quantidade de pessoas que só percebem o abuso quando adultos.

    O que aconteceu foi que tomei no cu, só em estressei e fiquei puta. Então foda-se né.

    Eu estou bem no muro em relação a esse assunto e, sinceramente, não tenho filho e não pretendo ter aqui no Brasil, por isso não estou particularmente interessada no tema. A única coisa que faz com que eu me importe realmente é a tentativa de algumas pessoas de culpabilizar o museu, fechar a exposição, matar o artista, etc. Por mais que eu não ache legal esse tipo de arte, por opinião pessoal, acredito que ela deve existir.

    • Você apresentou dois pontos de vista válidos, sobre os quais as pessoas deveriam discutir e refletir. Mas hoje, se você não concorda com a opinião alheia, sempre muito radical e cheia de certezas vazias (já que as pessoas não estudam antes de “achar” alguma coisa), vira inimiga, burra e merece ser atacada.

      É lamentável. Felizmente temos aqui um espaço saudável para discutir isso. Curiosa para saber o que os Impopulares psicólogos acham.

      • Exatamente, do lado religioso conservador eu não esperava nada para dizer a verdade. Mas, do outro, que se diz tão aberto e desconstruidor, só recebi pedrada também. Até liberdade de expressão tive que defender para o cara que acha que isso não é arte!
        QUÉDIZÊ, só pode falar quando concorda com a sua opinião??? Ok que existem limites legais, mas de resto..

        • Adoro gente que se apropria do conceito de “arte”.

          “Só é arte o que eu acho que é arte”. Os donos da razão saíram da toca esta semana!

          Pode ser arte e você pode achar um lixo e também nociva para a sociedade, mas não deixa de ser arte por isso.

      • Concordo muito com vcs Meg e Sally.

        Como ex psi acredito que as crianças, de modo geral não estão preparadas pra exposição a nudez em um contexto não erotizado e artístico, mal recebem educação artística e, em muitos lares educação sexual é quase inexistente, fica a cargo da igreja e da escola. Crianças não deveriam ser permitidas nesses locais,já que não tem maturidade e educação para lidar com o conteúdo da exposição. Faltam leis que proíbem a presença de crianças em locais/ eventos inapropriados pra elas. O problema é que a não permissão de crianças está sendo confundida com segregação de crianças e mães. A verdade é que a vida com filhos tem suas limitações e uma delas é não poder levar os filhos pra todos os lugares. A polêmica é feita pelas pessoas que não aceitam esses limites. Se não pararem esse pessoal, tudo o que não for adequado/ apropriado pra crianças será proibido pra todos.

        • Já houve um tempo em que se proibia a entrada de crianças, mas daí um pessoal (que provavelmente acreditava estar no primeiro mundo) começou a falar que isso era intervencionismo do Estado na escolha de cada pai de criar seu filho e que o máximo que o Poder Público poderia fazer era indicar a idade. Caiu a proibição, hoje é mero indicativo, uma temeridade quando se tem pessoas com titica de sabiá amarelo como média da população. Hoje, a via correta para proteger uma criança é mirar nos pais.

          • Eu achava que restrição de idade tinha respaldo legal e não que era uma decisão dos pais. Eu acho ridículo isso, não é porque é mãe e pai que pode fazer tudo ou que se tornou expert em educação infantil.

            Mas, isso já traz outra discussão. Atualmente tenho percebido as maiores discussões em temas sobre educação infantil. Se alguém falar um pio sobre isso, especialmente se não tiver filho, já tem 5 pessoas com pedra na mão porque acham que você quer segregar criança, segregar mãe, etc. O que não vêm é que, muitas vezes defendendo o direito da mãe de estar nos lugares, acabam prejudicando as crianças.

            Por exemplo, bebê com os pais em bar à noite. Já vi e não entendi como isso não foi motivo de choque geral. Lugar com cigarro, bebida, falatório alto, ambiente totalmente inapropriado para criança/bebê. E por aí vai.

            Eu sei que a mulher, para variar, se fode na criação dos filhos, é muito mais cobrada, tem mais responsabilidades e espera-se muito mais envolvimento dela do que do homem. Muitas vezes a gravidez não é planejada e eu não acredito no discurso “não quer correr risco de ter filho então não transa”. Sabemos que métodos contraceptivos falham também e o ser humano não é perfeito.

            Só que não dá para entender como as pessoas que decidem engravidar não entendem que uma vez pais não podem fazer tudo o que faziam antes. Muita coisa vai ter que ficar para trás, pelo menos até a criança crescer ou ter ajuda de terceiros, contratada ou não.

            Agora, deus me livre passar pelo que o Desfavor passou com o texto sobre gravidez. Em geral as pessoas são totalmente irracionais quando se fala em maternidade, então eu fico é na minha mesmo.

            • O grande problema é que brasileróide acha que tudo na criação de filhos é empírico e intuitivo, pois eles o fazem assim, sem estudar, sem se informar. Daí a falsa premissa de que só tendo filhos para saber.

              Muita coisa sobre saúde e desenvolvimento de crianças está sacramentado pela ciência, não depende de experiência. Essa desgraça de criança acordada até tarde que você narrou, é criminoso. Sono de qualidade para crescimento e saúde da criança é cedo. Criança ir dormir depois das nove da noite, para mim, já seria motivo para Conselho Tutelar batendo na porta.

              Mas, foda-se o que diz a ciência, se eu não tenho filhos, não posso falar. Papais e mamães não vão abrir mão de fazer o que querem e vão enfiar uma criança em um bar no meio da noite.

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