Ontocracia Evolutiva.

Nada do que está neste texto saiu da minha cabeça, é uma mera divulgação das ideias alheias, mas, como não encontrei material em português sobre o assunto, achei que valia a pena compartilhar com vocês.

Não sei se vocês perceberam, mas a democracia faliu. Não apenas no Brasil, como nas Américas como um todo, até mesmo nos EUA. E as pessoas mantém um morto na mesa de jantar por “falta de algo melhor”. Bora plantar uma sementinha então. Desfavor Explica: Ontocracia Evolutiva.

Uma breve história sobre a falecida: como todos devem saber, a democracia se consolidou na Grécia antiga e a palavra significa “povo no poder” (demos = povo, kratos = poder). A moda pegou porque funcionava gostoso, funcionava bacana. Naquela época, naquela realidade… que seria Antes de Cristo, em um país dividido em várias Cidades-Estado, com pouca população, onde todo mundo podia participar efetivamente de todas as tomadas de decisões.

Assassinando a história e simplificando mais do que deveria para fins didáticos, a coisa acontecia mais ou menos assim: os Senadores debatiam entre si as questões que estavam afetando a população e precisavam ser reguladas ou revistas e depois iam até uma praça pública em dia e hora marcados para conversar com o povo que se interessasse sobre o assunto. Cada tomada de decisão passava por esse processo. O povo era ouvido e tinha inclusive o poder de vetar coisas que não quisesse.

Como modelo, é super bacana e funcionou maravilhosamente bem, Antes de Cristo, em cidades mínimas, com poucos habitantes e problemas de pequena complexidade. Convenhamos que pegar um sistema desse e tentar amoldá-lo à sociedade atual é pedir para dar errado. É evidente que mais de dois mil anos depois, de uma explosão demográfica e de uma diversidade cultural violenta isso não ia dar certo. É como querer empurrar um quadrado por um buraco feito para um círculo.

O que acontece hoje, na prática? O povo tem que votar em quem “mais” o representa, em um grande pacote de adesão. Você gosta da proposta do Fulaninho para educação, mas não concorda com nada do que ele pensa sobre segurança pública. Você gosta da proposta da Fulaninha para saúde, mas acha um horror como ela se posiciona no que diz respeito ao meio ambiente. Assim, somos obrigados a eleger pessoas que nos representam… pero no mucho. Por mais que nos representem em algumas questões, em outras certamente votarão contra nosso pensamento ou interesse. Isso não é democracia. Só recebe esse nome para tentar dar legitimidade a esse aleijão que criamos.

Mas, criou-se no inconsciente coletivo um mito de que o único sistema onde o povo tem representatividade é a democracia e que, aboli-la seria necessariamente tirar direitos do povo. Sempre. Em 100% dos casos. Única forma no universo do povo ser representado é a democracia, e não discorde de mim, se não você é ______ (complete com a ofensa que melhor lhe aprouver).

Esse tipo de crença limitante, provavelmente plantada de propósito pelos que tem interesse em que nada mude, nos atrofiou para pensar em outras possibilidades. Na boa? Existem infinitas possibilidades, hoje vou falar sobre apenas uma delas, mas tenho certeza de que, agora que vai destravar na cabeça de vocês que tem como fazer de outro jeito e povo continuar com voz, cada um de vocês consegue pensar em diferentes formas também.

Provavelmente cegos por esta crença limitante, em vez de romper com este sistema totalmente falido, as pessoas resolveram se adaptar a ele: cada vez mais vemos gente “aderindo” a um partido e se portanto como se você tivesse que concordar com tudo que eles dizem. E ai de quem abre a boca para discordar de qualquer decisão do partido ou do político: traidor, burguês, coxinha, mortadela, capitalista, fascista, nazista, taxista, ciclista… vão te chamar de tudo, até mesmo de coisas que não fazem sentido. Se você é do partido tal, tem que ser leal, aplaudir e defender todos seus posicionamentos.

Assim, em vez de adaptar um sistema de governo que claramente não se encaixa mais na nossa sociedade faz tempo, nós é que estamos tentando nos amoldar a ele. Percebem que não te jeito disso acabar bem? Por isso, de uns tempos para cá eu estou realmente torcendo contra, querendo que tudo dê bastante errado, querendo que Dr. Rey vença as eleições presidenciais e vá às reuniões da ONU com suas camisetinhas transparentes mostrando os mamilos.

Espírito de porco? Inconsequente? Alienada? Não, estrategista. Quanto mais debilitado e ineficiente o atual sistema estiver, mais fácil derrubá-lo e colocar outra coisa mais adequada em seu lugar. A partir de hoje Desfavor declara guerra à democracia. Tem jeito melhor de fazer.

Como eu disse, são muitas opções. Hoje vou falar da Ontocracia Evolutiva, mas ao longo do ano podemos falar de outros. Obviamente não dá para traçar todo um plano concreto de funcionamento de um sistema complexo como este dentro do meu limite de quatro páginas, então, vou falar das diretrizes gerais e se vocês quiserem, continuamos a conversa nos comentários.

O termo também vem do grego: onto = ser , kratos = poder. Quer dizer, cada um tendo um poder como indivíduo, não como coletividade. “Mas Sally minha mãe me ensinou que a união faz a força, você quer desmobilizar o povo e enfraquecer as massas! Hitler, fascista, nazista, economista, baterista!”. Para. Respira. Toma uma maracujina. Eu quero que cada um se represente, acabar com os intermediários, que são o câncer do sistema, pois além de não nos representar, nos tomam direitos e infraestrutura, se corrompendo, roubando e agindo em causa própria.

Você pode estar sentindo uma resistência forte, pois isso rompe com tudo que aprendemos, desde a infância. Nosso sistema educacional funciona assim: a criança escuta, a professora fala, pois aquele que sabe menos deve ouvir aquele que sabe mais, pois quem sabe mais, quem conseguiu chegar lá, quem está no comando é quem está apto a te dar as respostas certas.
Escreve na prova de ciências que a função do esqueleto é conquistar o castelo de Greyskull para você ver o zero que você toma. Não se recompensa criatividade, não se recompensa, caráter, não se recompensa nem sequer esforço: ou você repete aquilo que “quem sabe” disse, ou você é reprovado. Claro que estudo é importante, conhecimento é importante, mas criou-se uma supervalorização intelectual. Há coisas tão importantes como o saber, coisas como caráter, ética, altruísmo e outros.

Então, eu, você e todos os que estão lendo este texto aqui com a gente agora, crescemos com esse mindset: a professora sabe mais, por algum motivo ela está lá, devo ouvir o que ela diz. Isso nos preparou para um mercado de trabalho onde o patrão sabe mais, afinal ele chegou a um cargo de chefia, por isso você deve ouvir e acatar o que ele tem a dizer. Nossa vida é basicamente essa, ouvir quem supostamente tem mais conhecimento que a gente e acatar o que a pessoa diz. Pois é, talvez seja hora da gente desapegar dessa hipervalorização do conhecimento. Tem mais conhecimento que eu? Dane-se, eu tenho outras coisas tão valiosas quanto. Eu também posso decidir.

Nesse condicionamento que vem desde a infância, a gente toca essa democracia distorcida: votamos em quem achamos que tem mais preparo, mais conhecimento, mais condições e delegamos a eles as nossas escolhas. Quando tem que decidir algo importante, você não vota. Quem vota é o Deputado que você elegeu, que talvez nem tenha, naquela questão, o mesmo entendimento que você. Vamos deixar que ele decida, afinal, ele deve ter mais conhecimento daquilo.

Mas, na verdade, deixamos que ele decida pois disso vem um ganho secundário que o brasileiro adora: se der errado, a culpa não sua. Delegar responsabilidades te exime de arcar com o risco da decisão. Aí ficamos no sofá reclamando de como fazem tudo errado, como são incompetentes. Mas nós não fazemos nada, apenas delegamos.

Hoje a tecnologia permite que todos tenham voz, como bem provaram as redes sociais. E se a gente usasse isso para outras coisas, além de ficar brigando com o coleguinha que discorda da gente, pedindo nudes e postando selfie? E se, em vez de fazer o povo no poder, a gente colocasse o indivíduo no poder e cada um pudesse decidir sobre cada questão? E se, para decidir qualquer coisa que te afete, fosse necessário ouvir a sua opinião, dispensando assim aqueles que supostamente te representam, como por exemplo, Deputados?

E se cada questão fosse submetida a uma votação online, com aviso prévio e tempo para o povo debater os prós e os contras em redes sociais criadas especialmente para isso? E se, do seu celular, do seu tablete ou do seu computador de casa você pudesse, todas as manhãs, ao acordar, votar naquilo que te afeta? E se, pela primeira vez em muito séculos, nós fossemos os responsáveis se algo desse errado?

Tecnologia para isso existe. “Ah Sally, mas é óbvio que vão…”. Desculpa, vou te interromper por aqui mesmo. Sim, muita coisa pode dar errado. Sim, pode ser corrompido, distorcido, pode tudo. Mas se tem uma coisa que eu aprendi nessa vida, é que medo não deve ser fundamento para nenhuma escolha ou decisão. Pode acontecer um bilhão de problemas? Pode. Isso é motivo para continuar com um sistema obsoleto que não nos representa? Não. Segue o baile. Implementa o troço e vai corrigindo os problemas. Até porque, problema por problema, a democracia tá cheia deles.

E, não se enganem, o principal problema durante muito tempo será o Brasileiro Médio decidindo. Sairão atrocidades que até o diabo vai duvidar. Normal, um povo condicionado desde a primeira infância a delegar, a abaixar a cabeça para professor, patrão e político, vai se embananar aos montes quando ele for o responsável por decidir tudo. E, se querem saber, é um mal necessário. O brasileiro tem que passar por esse perrengue para aprender a decidir, para aprender a se responsabilizar. Uma hora aprende, a próxima geração, que vai nascer com esse novo mindset vai se sair melhor, a outra melhor ainda, até que um dia a coisa flui. Ninguém chega na academia pegando o peso máximo no primeiro dia, não é mesmo?

Deu medinho? Em mim deu, na primeira vez em que ouvi tudo isso. Fomos criados para seguir líderes, somos um passarinho com cara confusa quando alguém abre a portinha da gaiola, somos lideres-dependentes. Mas calma, que dá para criar uma rede de suporte para fazer o sistema funcionar da melhor forma possível. Por exemplo, para começar, o sistema de votação teria que ser bem simples, como um referendo, para que as pessoas digam apenas “sim” ou “não”, com uma pergunta clara, expondo o projeto de lei, mas resumindo-o em uma pergunta, pois a gente sabe que o povo não vai ler muitas linhas.

E, como não precisaríamos mais dessa tonelada de gente nos “representando”, poderíamos praticamente extinguir os políticos da forma como os conhecemos hoje. Seriam necessários burocraticamente, para fazer as leis e submetê-las à votação, mas não teriam mais qualquer poder de decisão. Com isso, enxugaríamos a máquina pública e sobraria um dinheirinho, que com certeza nós saberíamos utilizar de forma melhor. Chega de Ministérios inchados, de assessores parlamentares, de motoristas. Chega dessa estrutura como a conhecemos hoje, político tá lá para implementar o que o povo decidiu, eles não decidem mais nada.

Não haveria um Presidente da República e sim órgãos por assuntos de conhecimento e interesse. Quer dizer, se você é médico e acha que a medicina do país está indo pelo caminho errado, você pode se candidatar para ser uma liderança temporária em um projeto nesse grupo, com o compromisso de colocar em prática projeto que resolva o problema, com subsídio público. Porém, há um prazo fixo para concluir os projetos, improrrogável, e se, ao final, você não tiver apresentado o projeto concluído, funcionando e sendo eficiente para a sociedade, além de ter que devolver o dinheiro, é destituído do cargo e não pode voltar a se candidatar a ele por X tempo. Se o projeto for entregue no prazo previsto e for eficiente, pode se candidatar novamente para o cargo.

Estes grupos seriam municipais ou estaduais, e poderiam ter a participação de quem quisesse colaborar de alguma forma com o projeto ou que quisesse apenas fiscalizar se o dinheiro público está sendo utilizado da forma correta. Porém, os projetos só poderiam ser conduzidos por quem tivesse conhecimento na área, chega dessa esquizofrenia democrática de colocar um engenheiro como Ministro da Saúde. Todos os projetos, bem como seu andamento, seriam tornados públicos online, assim como sua prestação de contas. O jornalismo entraria em festa, seriam criadas até publicações para fiscalizar quem está fazendo direito e quem não.

Desta forma, se algo der errado porque o projeto é ruim, porque não está sendo executado da forma correta ou seja lá por qual motivo for, em vez de reclamar do seu sofá, você é co-responsável, por não fiscalizar, por não contribuir, por não fazer absolutamente nada a respeito. Quem vai ser premiado com poder é gente que faz, não gente que “detém saber”. Quem executar projetos de sucesso tem a possibilidade de se candidatar novamente. O mundo está precisando mais de gente que faz do que de “doutor”. Tem criança de 14 anos resolvendo problemas sérios, acabou a era onde o diploma media a capacidade de alguém.

Em um devaneio ainda maior, presumindo que esta ideia de descentralizar poder por competências desse certo e centenas de grupos das mais diversas áreas se formassem em cada estado brasileiro, nada impediria que estes grupos fossem interligados pela tecnologia, uma espécie de crowdfunding de ideias, um colaborando com o outro, somando esforços.

Um grupo no Acre descobriu um jeito de tornar água do mar potável? Porque não criar mais grupos em outros estados para difundir esta ideia pelo Brasil? Um grupo de Curitiba está trabalhando na cura do câncer? Porque não divulgar isso e se grupos de outros estados, ou quem sabe, até de outros países, quiserem se juntar para ajudar estarão cientes do que está sendo trabalhado? Já pensou que bacana o mundo aderindo à Ontocracia Evolutiva e os mais diversos grupos dos mais diversos assuntos trocando informações, unindo forças e complementando conhecimento? Já pensou se o mundo vira esse grande Orkut prático?

Assim, extinguiríamos partidos políticos e tiraríamos o poder das mãos dos políticos, que seriam meros burocratas cumprindo a vontade do povo. Nós decidimos, eles executam a burocracia para isso virar lei. Também deixaríamos quem sabe sobre cada assunto agir nesses grupos de projetos e nos conectaríamos muito mais ente todo o Brasil (e com o mundo) do que através dos nossos pomposos representantes de hoje. Sem contar que isso reduziria os gastos públicos de forma drástica, sobrando mais dinheiro para projetos que realmente podem melhorar a vida das pessoas.

Eu sei que é complexo e que seria necessário normatizar tudo isso, mas possível é. Seriam necessários infinitos ajustes ao longo do processo, seriam indispensáveis inúmeros mecanismos de fiscalização para coibir favorecimentos, corrupção e tudo de errado que se costuma fazer. Mas possível é. Assim, estaríamos recompensando pessoas com boas ideias, gente que faz, gente que pode promover melhoras na sociedade.

Então, reveja seu mindset e, em vez de rejeitar de cara algo tão novo e me apontar nos comentários tudo que poderia dar errado, dê um passo além e proponha como solucionar o problema que você encontrou.

É isso, achei importante compartilhar com vocês. Espero que abra algumas mentes e sirva para perceber que, no mínimo, há vida representativa além da democracia. Se gostou compartilhe, fiz questão de escrever com uma linguagem decente para que possa ser compartilhável.

http://rid.la/onto

Para dizer que no Brasil seria Antocracia Evolutiva, para dizer que precisa de um tempo de reflexão para conseguir opinar ou ainda para dizer que está topando até Monarquia para botar um fim a este sistema falido: sally@desfavor.com

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Comments (41)

  • Domingos Pellegrini

    Na Grécia o “povo” que podia se manifestar na praça eram apenas os homens ricos, excluídas as mulheres, os pobres e os escravos. E hoje, para criar a ontocracia, seria preciso criar toda uma rede de debate e votações que simplesmente substituiria o atual Estado e seus poderes públicos por outros sucedâneos decerto tão custosos e falíveis quanto. E o atual Estado como seria descartado? Como utopia é bonito, mas é só uma visão simplória da evolução necessária.

    • Ninguém está dizendo que seria fácil de implementar, estamos dizendo que seria possível.
      Só é falho se for mal implementado.

  • Oi Sally! Compartilha comigo as fontes das ideias que você escreveu no texto? Quem introduziu a palavra ontocracia? estou curiosa. Não achei nada no google a não ser algo vago no site do Matias de Stefano.
    Obrigada!

  • Legal, excelente, são grandes perspectivas pela frente. Acredito num futuro promissor com esse tipo de intervenção, dá crédito ao ser humano como um indivíduo positivo e colaborativo (apesar da realidade as vezes se mostrar diferente em alguns casos), mas como você citou, ‘humaniza e responsabiliza’ cada decisão tomada. Consigo elaborar alguns cenários que esse tipo de abordagem faria sentido, como por exemplo na segurança. Ultimamente todo mundo anda revoltado ao extremo, e em pouco tempo seguramente seria aprovada a pena de morte, o porte de armas, penas maiores e extinções de regalias em cadeias (indulto de natal, de páscoa, do dia do índio), e nesse ponto acredito que seria uma retomada do cidadão de bem ao seu estado de sensação de segurança. Conforme as medidas fossem sendo tomadas, acredito que por mais fortes que sejam, tendem a melhorar o cenário que hoje, só nos traz uma perspectiva de piora cada vez maior.
    Educação também creio que teria um pico de melhora a curto prazo, pois tem muita gente que gosta e defende essa bandeira, se dedicando a causa em troca da satisfação da vocação cumprida. Já imaginou ter o mesmo trabalho, mas com perspectivas de resultado tremendamente positivas? O trabalho em educação está aí, fazê-lo bem feito ou mal-feito leva o mesmo tempo, basta saber onde melhor colocar os esforços. Criar comissões regionais de caráter educacional faria um bem imenso aos alunos no médio prazo, e aos docentes em curto prazo, pois teriam mais engajamento e as ideias teriam fluência em todas as esferas, fazendo com que todo mundo se aproveite do melhor possível de cada um. Existem muitos professores com senso vocacional, porquê não oferecer essa oportunidade a eles:
    Penso também que outros cenários a coisa fique mais flutuante, como por exemplo na política externa e na questão cambial. Aí sim teríamos uma babilônia, seria necessário muito mais tempo para percebermos algum resultado prático ou rápido. A política econômica as vezes demanda rapidez na tomada de decisões, e fico imaginando como seria esse sistema nessa questão…
    Agora, concordo que devemos eliminar sumariamente esse tipo de eficiência semelhante ao ‘ministério da pesca’, da ‘integração nacional’, da ‘transparência’ e demais atravessadores, que em nada acrescentam além de desfavores para a nação.

    • Ia dar merda como em qualquer regime possível, porém, quem fizesse merda perderia poder (não poderia mais apresentar um projeto) e todos nós seriamos responsáveis. Não seria mais viável ficar do sofá de casa reclamando. Acredito que seja isto que falte ao brasileiro: se responsabilizar. Poder descentralizado e por curtos períodos de tempo (projetos) parece algo que valha a pena se tentar. Quem sabe um dia?

  • Achei uma ideia excelente. Basta olhar o que está acontecendo em termos políticos no mundo inteiro para concordar que a nossa ideia atual de democracia falhou. Só uma ressalva em relação à democracia, aliás: não era todo mundo que votava na Grécia Antiga, era todo cidadão, e para ser cidadão tinha de ser homem, livre, maior de 21 anos e filho de pai e mãe nativos da cidade-estado em questão. Não que eu concorde com essas restrições – até por ser mulher – mas nem em lugares pequenos, no berço da democracia houve realmente decisões democráticas no conceito que entendemos hoje.
    Acredito que o risco de dar merda no início poderia ser bem diminuído se as pessoas tivessem de fazer um testinho para adquirir o direito de votar. Não de conhecimentos gerais ou escolaridade, mas uma prova simples de interpretação de texto para pelo menos garantir que quem vota saberá no que está votando.

    • É verdade, Paula. Nem todo ser humano era considerado cidadão.

      Esse teste que você sugeriu seria um mundo ideal, mas acho que na prática a coisa precisaria ser na base de muito erro, de muita merda, para que ao longo das décadas as pessoas percebam: “eita, olha a desgraça que deu! eu preciso votar direito, se não acontece este horror!”. Infelizmente, a história mostra que, enquanto coletividade, o ser humano precisa fazer muita bobagem para aprender…

      • Vocês estão considerando que as pessoas sempre serão capazes de pensar “no todo” na hora de uma tomada de decisão. Para ver como isso é equivocado, basta observar as reuniões de trabalho, que deveriam ter como foco um projeto em comum e, muitas vezes, acabam desembocando em uma disputa de egos – onde o mais importante é garantir o “seu” bem, não o “bem comum”.

        • Não. As pessoas pensarão nos próprios umbigos por muuuuito tempo. E vão errar por muito tempo. Só que desta vez, vão sentir o erro como responsabilidade delas e vão pensar mais antes de cada tomada de decisão.

  • Se fosse possível testar isso em uma visão micro , tipo um bairro, é mostrar como funcionaria e com resultados positivos , acho até q seria possível mudar o sistema atual. Sem nada concreto acho difícil o brasileiro atual deixar seus times . O ódio por coxinhas ou petralhas , ou os defensores do bolsomito unem as pessoas mais q tudo.

    • Ah… no Brasil? Impossível agora. Vai demorar séculos para estas pessoas de cabecinha fechada, com mindset sempre voltado para criticar, falar mal e ver o lado negativo terem coragem de mudar ou de ousar. O Brasil é regido pelo medo, pelo apego ao conhecido. Nem com paulada na cabeça o brasileiro entende uma coisa como a Ontocracia Evolutiva e arrisca. A gente joga a ideia pro mundo, porque né, se eu deixar de falar porque “ninguém vai fazer”, eu viro uma dessas pessoas que não faz nada, só reclama. A gente joga a ideia pro mundo, mas sabe que dificilmente vai acontecer por agora.

      Perceba que no texto eu sugeri expressamente que as pessoas tentem ir além e, em vez de escrever o que não daria certo, escrevam soluções para o problema. Observe quanta gente veio aqui falar só de problema, sugestão que é bom, para resolver, quase ninguém dá. O foco é o problema, o impedimento, o que inviabiliza, pois isso permite que as pessoas continuem sentadas no sofá sem ter que fazer nada, sem se sentirem responsáveis, com o argumento de “não dá por tal motivo”. Graças a essa acomodação, a esse mindset, o país está como está.

      Sério mesmo, o Brasil está preso em uma zona de conforto muito da desconfortável e topa tudo, se prostituí das piores formas, dá o cu lubrificado com areia para não ter que se mexer nem que se responsabilizar.

  • Existe uma centena de grupos e pessoas com essa ideia que você aqui chamou de ontocracia evolutiva, mas tem canais no youtube que chamam de libertários ou de anarcocapitalismo
    São filosofias semelhantes onde prevalece o indivíduo ao coletivo/facismo e com redução máxima do Estado.
    Imposto é roubo!
    Acesse ideiasradicais no youtube

    • A ontocracia também parece mais coletiva em haver mais importância aos órgãos públicos e associações que surgirem com mesma importância; além do mais, ainda há vários problemas de desigualdade para sanar (como saneamento básico).

  • Leane Lorguetie

    Peço perdão pela minha ignorância Sally, Mas e se a maioria da população aceitasse e quisesse mudar para a Ontocracia Evolutiva. Existe algum meio legal de implementar isso? Ou o processo seria como uma “revolução” ou luta para “derrubar” a democracia?

    • Leane Lorguetie

      Já tive ideias parecidas com a Ontocracia Evolutiva, tenho vontade de criar algum sistema que possa ajudar a implementar essa idéia, mas sei que vou ter que reunir pessoas que se interessem pela idéia, quem sabe não consigo fazer isso na minha cidade. Seria um sonho pelo menos testar.

  • Mas, Sally, desde quando nota de escola se afere somente pelo resultado de provas? Nas minhas sempre teve uma 3a nota, qualitativa. E nela contava frequência, interesse, comportamento, essas coisas. Nem vou falar daqules trabalhinhos em grupo que ninguém aprende nada. Eu não gosto de aluno participativo. Se eu estou na aula é para ouvir o professor. Até porque essas participações nunca são para tirar dúvidas, algo que a pessoa realmente não entendeu. É sempre alguém querendo contar um caso que aconteceu, puxar o saco.
    Mas voltando ao assunto do texto: eu não acho que esse seja o mesmo caso dos políticos. Para mim está claro que eles não tem conhecimento de nada (e sim de alguéns). Eu não me importaria de ir todo mês a urna eletrônica votar em coisas que me afetam. Sim, sabemos que ela pode ser fraudada. Mas eu prefiro eu mesma decidir do que votar em alguém para isso. Não poderia ser online porque acabaria excluindo um monte de gente. Concordo que esse negócio de partido político não dá.

    • Na minha escola sempre fui avaliada só por nota. E na hora de decidirem em qual faculdade você entra, algo crucial para seu futuro, é só por nota também. E na hora de aprovar em um concurso público, geralmente também. Aliás, em quase tudo na vida somos um números: seu peso, o manequim que você veste, número de seguidores, etc. Me parece que somos uma sociedade pautada por números que, na maioria das vezes, recebem mais importância do que deveriam.

      Os políticos tiram proveito dessa nossa mentalidade de sempre ter um líder para decidir (professora, patrão, marido etc) e abusam, pois sabem que o brasileiro não é chegado em arregaçar as mangas e fazer ele mesmo. Preferem ficar no sofá culpando quem faz e não depreendem disso responsabilidade alguma, eleitor é apenas vítima de político malvado.

      Olha, daria para ser online sim, desde que houvesse a opção de postos de urnas para quem não tem acesso à internet. Não sei se é verdade, mas outro dia li que 96% dos brasileiros tem acesso a internet de alguma forma, nem que seja só no smartphone (era informação de internet, então, pode estar errada).

  • Hoje a tecnologia permite que todos tenham voz, como bem provaram as redes sociais. Inclusive os imbecis, antes eles tinham uma certa modéstia, mais hoje com as redes sócias a modéstia foi as favas.

    • Sim, sobretudo os imbecis que não sabem quando usar “mais” e “mas”.
      Para ser arrogante, meu anjo, tem que ser flawless, se não você vai ser massacrado na internet lá fora. Falo pro seu bem.

  • Off: botões novos no site? Pra compartilhar em rede social, oi?

    Sobre o texto: Sally, tuas ideias são bacanas, mas… Não será um tanto dificultoso por em prática e em andamento tendo em vista que algumas ideias (como essa que tu citou sobre tornar a água do mar potável, ou a cura do câncer) não são de interesse comum/coletivo pra quem está no poder?

    • Quem tem poder hoje não teria poder algum na Ontocracia Evolutiva, então, não, não acho que seria mais difícil do que é hoje não. A beleza de estar em um sistema muito cagado e ineficiente é que praticamente qualquer coisa é melhor opção.

      Quando forem textos que nós julgamos fazer mais bem do que mal à humanidade (ou seja, 1%), vamos disponibilizar botões de compartilhamento.

      • Não o é, pois veja por exemplo a indústria farmacêutica? Perderia zilhões com a descoberta da cura não só do câncer, como também várias outras doenças.

        • A indústria farmacêutica tbm perde milhões com os custos dos remédios da quimioterapia, assim como tbm perdem com as novas terapias sendo avaliadas. A cura do câncer, teoricamente, não existe pq o câncer é complexo demais para ser curado com 1 remedinho. A terapia CAR T-Cell parece se aproximar mais do conceito de cura como desejamos, entretanto contudo todavia, está disponível para apenas alguns cânceres e em último caso, com efeitos colaterais…escrotos. Acho que a *cura* jamais vai ser desenvolvida, talvez não porque o câncer não pode ser curado, mas pq não vamos achar a cura, mesmo. (Nos EUA, o linfoma de Hodgkin e o câncer de prostata, estágio inicial, tem uma taxa de sobrevivência de 5 anos de
          86% e 99%, respectivamente. Talvez a quimio seja, de fato, a nossa cura?)

  • “Porém, os projetos só poderiam ser conduzidos por quem tivesse conhecimento na área, chega dessa esquizofrenia democrática de colocar um engenheiro como Ministro da Saúde.”

    Obrigada!!! Me sinto num meio em que ninguém parece problematizar esse fato bizarro!

    No mais, as ideias são ótimas! Mas quem propõe os projetos seria o “indivíduo” representante (como vc deu o exemplo do médico se tornando uma liderança temporária), ou eu posso chegar lá e montar um projeto e submeter à votação??

    • A ideia inicial é que eualquer um pode propor, mas quem conduz o projeto é a pessoa escolhida, com formação na área do projeto. Mas, como é um sistema novo, vale tudo, qualquer regra pode ser modificada ou adaptada se surgir uma sugestão melhor.

  • Sempre que vejo textos como esse me lembro do Estado Novo getulista, e de como deveria ter funcionado o país sob a Constituição de 1937, a saber: diversas Comissões, Conselhos e Ministérios coletando ideias e transformando-as em projetos que um Presidente centralizador (tipo um “CEO”) repassaria a um Congresso, eleito pelo povo, com poder apenas para rejeitar ou aprovar integralmente as ideias dos especialistas.

    A cada quatro anos o Congresso seria eleito pelo povo, de maneira setorizada, e elegeria o “CEO” do país, para direcionar as estratégias que o Brasil adotaria naquele período – e as funções diplomáticas de sempre.

    Funcionaria? Talvez, MAS… e se o CEO fosse o Lula, ou o Ciro? E se os Conselhos e Comissões fossem tomados por gente sem noção, como ocorre aqui em São Paulo? E se…

    • Não há CEO na Ontocracia Evolutiva. Não há centralização de poder. As decisões são tomadas por voto popular online.

      Lula seria líder de um projeto dentro das suas competência (que não sei quais são, pois nem para operar maquinário ele tem competência já que perdeu o dedo). Se o projeto não fosse cumprido e não fosse eficiente, ele seria destituído quando acabasse o prazo, que certamente seria muito menor que quatro anos.

      Na Ontocracia Evolutiva quem não entrega resultado perde o poder.

        • O que se considera conclusão e o que se considera um resultado eficiente estão na descrição do próprio projeto, com critérios objetivos. Por exemplo: projeto para reduzir mortalidade infantil: em 1 anos a taxa de mortalidade deve cair de x% para y%.

          • Isso, em tese, só seria possível se existisse um “gestor máximo” do produto todo – ou um “Conselho Gestor”, o Ministério que avaliaria se o desempenho é aceitável, ou não.

            Desculpe tanta cutucada, daqui a pouco eu vou usar meu blog para responder a esse projeto.

            • Não, Fábio. Temos uma cabeça muito focada em uma autoridade máxima que viabiliza tudo: a professora, o patrão, o presidente. Hora de romper com isso, não é necessário um líder para nos dizer o que fazer nem onde temos que ir. Basta estabelecer critérios objetivos para o que se espera do desempenho e, se houver dúvidas ainda assina, se vota para bater o martelo se o projeto foi ou não cumprido.

  • “E se, para decidir qualquer coisa que te afete, fosse necessário ouvir a sua opinião, dispensando assim aqueles que supostamente te representam, como por exemplo, Deputados?”

    A Estônia já faz algo assim desde 2005. Assisti uns dez anos atrás uma reportagem na BBC em que um cidadão de lá havia submetido para a plataforma digital do governo proposta de adotar o horário de verão da União Europeia, a fim de aproveitar mais os dias longos de sol do curtíssimo verão por lá. A proposta foi aceita na mesma semana por um comitê de oito pessoas. Simples assim

    A plataforma digital é essa aqui:
    https://e-estonia.com/solutions/e-governance/i-voting/

  • Muito bom!!!! Culpa In vigilando, cada um sendo responsável! !!! Adorei, aliás, como não pensei nisso antes? Muito embotamento no meu caso…obrigada, Sally!

    • Culpa na fiscalização e na escolha também, já que os líderes de cada projeto seriam eleitos.

      Bete, tenho certeza que agora que caiu a trava do “democracia é ruim mas é a melhor opção” você consegue pensar em outras formas!

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