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A Polícia Federal segue até a sede do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo com uma mega operação envolvendo mais de cinquenta agentes e suporte de helicópteros. O comboio avança sob vaias de poucos e aplausos da maioria. Chegando lá, uma turba enfurecida de defensores de Lula berra palavras de ordem contra as viaturas, que vão formando um cordão ao redor do prédio.

Da janela do último andar, o ex-presidente acena para a plateia, inflamando mais ainda os ânimos. Um grupo de cinco policiais federais se posiciona na direção da porta de entrada, uns cinquenta metros e centenas de pessoas de distância entre os dois pontos. Eles começam a avançar, pedindo calma. Os manifestantes pró-Lula não se movem. Os policiais tentam conversar, sem sucesso. Os gritos e palavras de ordem tomam conta do ar, os agentes sofrendo até para escutar o que chega pelos pontos que tem nos ouvidos.

O clima é tenso. Tentativas de negociação são feitas por telefone entre delegados da PF e líderes do PT, os primeiros pedindo livre passagem para os agentes, e os segundos tentando protelar a prisão até a análise do Supremo Tribunal Federal sobre as ações que ainda podem cancelar a prisão em segunda instância. Nenhum dos lados está disposto a ceder. A imprensa – nacional e internacional – coloca-se em peso no local, alguns atrás do cordão de segurança e outros dentro do prédio, convocados pelo PT horas antes. Uma transmissão ao vivo de dentro do prédio começa a ser realizada, alcançando milhares de visualizações logo nos primeiros minutos.

Uma hora se passa. A Polícia Federal continua ouvindo os xingamentos da multidão, mas não avança. É só aí que chegam os primeiros carros do batalhão de choque da polícia militar, veículos blindados munidos de mangueiras de água de alta pressão, bombas de gás lacrimogênio e várias outras formas de dispersão de multidões. Dos veículos descem quase uma centena de soldados com armaduras corporais e escudos. Eles tem porretes e espingardas com balas de borracha. A multidão de defensores de Lula sente o clima e começa a reagir de forma mais violenta. Algumas pedras já começam a voar em direção da polícia.

A tropa de choque reage inicialmente levantando os escudos. As pedras continuam. Até que é disparado o primeiro tiro, para o alto. Gritaria e correria generalizadas, alguns manifestantes recuando para mais próximo do prédio, outros formando uma linha em frente aos policiais. Uma granada de gás lacrimogênio é lançada para dispersá-los, o que funciona momentaneamente. Mas logo o grupo volta a se unir numa ofensiva contra os escudos policiais. Começa uma batalha transmitida ao vivo para o mundo todo, porretes contra mastros de bandeiras, pedras contra granadas de gás e efeito moral. As balas de borracha começam a voar, acertando manifestantes, jornalistas e até mesmo os vidros do sindicato.

O caos é total, os manifestantes são arrastados para longe, abrindo espaço para os agentes federais invadirem o prédio, com armas de fogo em punho. O portão está fechado, e a equipe de choque usa ferramentas para arrombá-lo. Lula transmite ao vivo de um celular, dizendo que não vai se entregar sem lutar. O mundo assiste. Donald Trump manda uma mensagem por rede social na hora, dizendo que aquilo era triste. As cenas já estão ao vivo nos principais canais de notícias dos EUA e da Europa.

Assim que a porta é arrombada, a Polícia Federal invade. Tiros podem ser ouvidos. Na transmissão ao vivo, Lula começa a descer as escadas junto com seus companheiros, entoando palavras de ordem. Nem os tiros parecem impedi-lo de ir encontrar os policiais. Ao chegar ao térreo, Lula só consegue apontar seu celular para os invasores com armas em punho antes da transmissão cair. Mais tiros são ouvidos. A gritaria dentro da sede do sindicato para por alguns segundos.

Os jornalistas já começam a dizer que Lula teria sido atingido. As manifestações do lado de fora param, a polícia não dá informação alguma. Tudo vira especulação pelos próximos minutos, principalmente quando a ambulância deixada de plantão no local se aproxima da entrada, com um grupo de paramédicos entrando no prédio logo em seguida. Nas redes sociais, a informação já está difundida: Lula foi morto. Dois tiros no peito. Nenhuma fonte oficial confirma. As pessoas com roupas e bandeiras vermelhas nas imediações começam a chorar copiosamente.

Poucos minutos depois, os paramédicos saem com o corpo de Lula desfalecido por sobre uma maca, lençol sujo de sangue cobrindo o peito. O mundo todo assiste à cena. Um comandante da polícia entrevistado à distância confirma que o ex-presidente foi atingido durante a confusão, mas não diz se foram fatais. Mais especulação. Manifestantes de esquerda e movimentos sociais saem às ruas por todo o Brasil, furiosos. Começam quebra-quebras e arrastões em algumas cidades. A fúria é mais pronunciada no Nordeste e no Rio de Janeiro.

A noite é tomada por informações desencontradas sobre o estado de saúde de Lula, enviado para um hospital de altíssimo padrão na capital paulista. Alguns dizem que já chegou morto, outros revelam que estava em coma induzido. Nas ruas de várias cidades as manifestações vão tomando corpo, e perto das 6 horas da manhã do dia seguinte, o presidente permite o uso de força militar para coibir a revolta de alguns setores da população, especialmente no Rio de Janeiro. O exército usa armas letais para controlar a situação, o que só agrava os ânimos daqueles já furiosos pela possível morte de Lula.

A sede da Polícia Federal de Curitiba precisa ser protegida de uma turba enfurecida, alguns armados. Os militares envolvidos acabam abrindo fogo ao reagir a tiros ouvidos dentro da multidão, matando dezenas de manifestantes do MTST e aumentando os conflitos imensamente nos estados do Nordeste e no Rio de Janeiro. Algumas horas depois, Michel Temer declara lei marcial e dá plenos poderes ao exército para controlar a rebelião popular.

Militares venezuelanos são avistados invadindo a fronteira de Roraima, enfraquecida na sua proteção pelas ordens de concentração nas cidades revoltosas. Em São Paulo, a notícia que a morte de Lula está sendo mantida em segredo finalmente ganha confirmação com a liberação de um vídeo do corpo gravado dentro do hospital, vindo de fonte desconhecida. O exército brasileiro negocia com líderes do PT a retirada das tropas venezuelanas, sem sucesso. Sem contingente para defender o estado do norte, os soldados comandados por Maduro tomam a capital e anexam o local. O regime comunista venezuelano convida a cúpula do PT, de partidos de esquerda e outros movimentos sociais para se reorganizarem em Boa Vista.

Passa-se um mês do evento em São Bernardo. Rio de Janeiro, boa parte do Nordeste e do Norte estão sob lei marcial. Roraima é palco de uma lenta guerra entre Brasil e Venezuela, que garante a manutenção dos poderes dos generais e que Michel Temer seja mantido como mero fantoche. A guerra entre os países é altamente criticada pelas nações estrangeiras, mas o número limitado de mortos pela pouca capacidade bélica de ambas as nações fazem com que a apenas a ONU mande uma equipe para garantir direitos básicos de refugiados.

Depois de mais um mês, o Congresso e o Senado são dissolvidos. O Legislativo é derrubado, sem gerar grande revolta na nação. O Judiciário, no entanto, continua funcionando, e acaba decidindo que condenados em segunda instância não podem mais ser presos imediatamente.

Lula reaparece no dia seguinte para a surpresa do país e agradece mais um plano brilhante da sua equipe de advogados.

Para dizer que não sabe de quem eu estou tirando sarro, para dizer que eu vou ser odiado por todas as partes, ou mesmo para dizer que não aguenta mais ler sobre isso (espere até amanhã…): somir@desfavor.com

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