Enquanto isso…

Enquanto isso, numa reunião ministerial:

FAZENDA: Nossa equipe fez e refez os cálculos, está tudo certo!
SAÚDE: Esse não é ponto! A ideia é que não faz sentido.
FAZENDA: Você não quer resolver os problemas do país, isso resolve.
PLANEJAMENTO: O que eu acredito é que o Ministro da Saúde está dizendo, e com razão, é que por mais que os números demonstrem, não é a coisa a se fazer.
FAZENDA: Olha, meu trabalho é fazer o dinheiro dar para todo mundo. Do jeito que vai não tem como. Vocês querem ficar sem dinheiro?
EDUCAÇÃO: Não, mas não dá pra matar todas as crianças negras do país, seu maluco!
FAZENDA: Então mata as brancas também, se matar todas, até melhora os resultados.
SAÚDE: Ninguém vai matar crianças!
FAZENDA: Eu já disse, se matar os aposentados, tira muita renda das famílias.
PLANEJAMENTO: Acredito que a questão não seja a raça ou idade, e sim matar.
FAZENDA: Que nada! Criança morre rapidinho. Na comunidade que eu atendia quando ainda era vereador, morria criança de gripe o tempo todo. Imagina só? Morrer de gripe!
EDUCAÇÃO: Você está se escutando, seu maníaco?
FAZENDA: Ainda vai ter muito trabalho com programas de educação para adultos, larga de ser dramático, não vou tirar seu emprego.
SAÚDE: Ele não está falando disso! Não podemos matar as crianças para equilibrar as contas!
FAZENDA: Já sei… vocês estão achando que vai ser caro, né? Eu já falei com o Ministro da Defesa, e mesmo com os problemas de financiamento do Exército, ainda dá pra fazer.
DEFESA: Se fossem adultos, teria que ser com munição, que temos pouco. Mas se for para matar crianças, dá pra fazer com as mãos.
EDUCAÇÃO: Você está do lado dele?
DEFESA: Não, eu só estou respondendo a indagação do colega. Matar as crianças é economicamente viável para a gente, só isso. Devemos fazer? Não sei.
TRABALHO: Tem muitas indústrias que dependem delas.
PLANEJAMENTO: Excelente argumento. Matamos as crianças e de repente nos vemos sem carvão para fazer um churrasco.
FAZENDA: Eu não disse que não teria algum custo para nós, mas pelo menos estamos conversando sobre o tema de forma civilizada.
SAÚDE: E como vamos lidar com todos os pais traumatizados pela perda dos filhos? Eu vou ter que montar um programa de acompanhamento psicológico por décadas!
FAZENDA: Ainda mais barato do que cuidar da saúde das crianças. Um psicólogo atende uns 40 casais por dia, e a gente manda prescrever sempre o mesmo remédio. Quebramos uma patente e está tudo resolvido.
ECONOMIA: Eu temo que isso reduza a competitividade do país. Crianças sempre ajudaram a baratear os custos.
FAZENDA: Por isso que somos uma equipe! Eu não cheguei aqui pra resolver tudo sozinho, e sim para dar um primeiro passo.
ECONOMIA: Talvez se a gente combinar uma supervisão mais branda com o Ministério do Trabalho…
TRABALHO: … a gente possa usar os deprimidos pela morte dos filhos para trabalhar por menos e com menos garantias…
FAZENDA: Isso! Quando pensamos juntos, pensamos melhor!
EDUCAÇÃO: Eu não acredito que isso está acontecendo! É impensável matar as crianças, não por dinheiro, mas por princípio. Moral, ética!
DEFESA: Tecnicamente, podemos declarar guerra contra as crianças. Aí elas seriam o inimigo, resolvendo esse problema.
FAZENDA: Ah, alguém quer um aumento de verba, né?
DEFESA: Estou contribuindo apenas.
FAZENDA: Vamos pensar nisso. Vai sobrar muito dinheiro mesmo…
CULTURA: Não se esqueça da gente.
FAZENDA: Só de não ter que montar peças infantis, já vai melhorar.
EDUCAÇÃO: Chega! Isso é absurdo! Eu me demito! Eu vou denunciar isso para o mundo todo, vocês são monstros!

O Ministro da Educação sai da sala batendo a porta.

TODOS: Hahahaha!
DEFESA: Eu duvidei desse plano…
FAZENDA: Eu disse que era o melhor jeito de nos livramos desse chato.
ECONOMIA: O cidadão é tão maluco que realmente achou que mataríamos todas as crianças do país.
SAÚDE: Realmente não era para estar aqui mesmo.
TRABALHO: Bom, foi divertido, mas precisamos voltar para o ponto dessa reunião.
FAZENDA: Bem lembrado. Castrar toda a população pobre do país, quem está de acordo?

Para dizer que deveria ser um Dés Potas, para dizer que não tinha como dar errado, ou mesmo para dizer que eu não tenho coração: somir@desfavor.com

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Comments (3)

  • "Ema" (Wine)Round

    …Tentando me considerar um pouco além de elogiante :

    Melhor #n27 EVER ! #Aplausos

    * Parte “além” : já repassarei às mais jovens da (minha) família…hahahahaha

  • Para dizer que está sentindo falta da anula eu!

    E já que o assunto é crianças… Toda vez que eu começo entrar muito aqui eu sonho com o desfavor. Mês passado eu sonhei que o site ia acabar porque a namorada do Somir estava grávida de uma menina. Ele não estava com cabeça para continuar escrevendo e a Sally concordou em abrir mão do blog. Aí deixaram uma mensagem anunciando isso e os comentários iam desde gente perguntando se isso era trollada, passando por outros desejando boa sorte/ agradecendo, até o drama, perguntando para Sally como iam fazer, se ela ia fazer outro blog.

    • Desse susto vocês não morrem. Nem Somir nem eu teremos filhos. Nem Somir nem eu vamos largar o Desfavor por causa de relacionamento. Nós dois juntos formamos uma “unidade” indissolúvel, é uma das poucas certezas que tenho na vida

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