Operação verdade.

Nunca houve tanta disponibilidade de operações plásticas como nos dias atuais. Relativamente seguros e cada vez mais baratos, os procedimentos tornam-se cada vez mais populares. Com isso, Sally e Somir discordam sobre o grau de honestidade necessário para uma pessoa que realizou um para com seu(sua) parceiro(a). Os impopulares procedem com suas opiniões.

Tema de hoje: é desonesto não contar sobre suas plásticas para o(a) parceiro(a) quando perguntado?

SOMIR

Não. É meio besta, na minha opinião, mas desonesto é forçar demais a barra. E eu tiro essa opinião de uma grande lição de vida que a própria Sally me ensinou: quando a informação impacta diretamente na vida da sua parceira, é essencial dizer a verdade. Quando você falha nisso, pode ter certeza que a relação começa a falhar. Mas, e no caso quando a verdade é irrelevante para a vida da outra pessoa? Bom, aí exercita-se os músculos do bom-senso.

Não esconda uma doença da sua parceira (coloque no masculino se for o seu caso), não esconda uma demissão, não esconda um contato com uma ex… mas, uma plástica? Oras, aí fica ao seu critério. Muito embora eu não consiga perceber exatamente o motivo de esconder uma plástica, afinal, é algo que já está feito e não deveria ter impacto algum na relação, posso entender que o tema seja mais sensível para outras pessoas.

Sim, acreditem ou não, outras pessoas pensam diferente da gente. E mesmo que seja do meu feitio desconsiderar um pouco o que eu julgo burrice, é mais saudável e eficiente para a vida tentar entender o outro como vindo de um “universo” diferente do seu. As conclusões do outro são baseadas em informações e percepções personalíssimas, fazendo com o que seja bobagem para um possa ser uma enormidade para o outro. Faz parte.

Se a pessoa fez uma plástica, fez por algum motivo. Por necessidade e/ou vaidade, quis aquilo em sua vida. E vamos concordar que mudar uma parte do seu corpo é um processo mental pesado, por mais superficial que você ache a operação, para a pessoa valeu a pena entrar na faca para alcançar o resultado. Ao invés de olhar para a plástica como uma maquiagem ou roupa, deve-se considerar o estado mental necessário para fazê-la.

E é aí que podemos entender como uma pessoa pode se sentir péssima por admitir que a fez. Ninguém gosta de se sentir feio e inadequado, quem perde toda a vaidade normalmente tem que ser tratado de algum problema mental de tão sério que é um ser humano perder esse impulso. Pode-se presumir com uma grande possibilidade de acerto que aquela pessoa fez a plástica por achar extremamente importante para sua imagem. Sim, estou falando de alguém que corrige um problema oriundo de um acidente e uma pessoa que coloca silicone na bunda só para ficar maior no mesmo barco.

Porque no final das contas, o estado mental que a levou até a plástica é o mesmo. Se você quiser julgar o mérito, direito seu, mas nunca se esqueça que na cabeça da pessoa, aquilo foi sério o suficiente por pelo menos algum tempo.

Pois então: a pessoa se sentia feia e inadequada antes da plástica e fez um esforço tanto consciente como permanente para mudar essa realidade. É tão bizarro assim ela não querer contar para os outros que não tinha essa imagem desejada antes? Se ela quer ser vista com a aparência que pagou para ter, presume-se que não queira ser julgada por uma anterior. Todo mundo tem o direito de esconder o making-off, oras. Tem mulher que não admite ser vista sem maquiagem, e não achamos uma traição que ela não queira mostrar o antes.

E voltando ao ponto inicial: o que realmente impacta na vida da pessoa com quem você está a revelação de uma plástica? Só se a pessoa acabou de fazer uma e precisa de repouso… mas se estamos falando do fato consumado, é só mais uma coisa que a pessoa fez para ficar mais atraente (se fez diferença ou não para você não é relevante), assim como uma dieta ou uma rotina de exercícios. Não quer contar como fez, não conta. Até porque não tem mais volta, não gera decisões novas num relacionamento.

Eu sei que alguém vai argumentar, nem que seja para fazer graça: nem no caso de alguém que fez cirurgia de troca de sexo faria diferença. Porque só tem uma forma de não perceber que a mulher já foi homem quando já tem acesso ao corpo todo do/a parceiro/a: negação, MUITA negação. A verdade é evidente.

Se a pessoa não quer contar, não conta. Direito dela. Sim, é importante ter verdade numa relação, mas é importante também que ninguém precise se violentar por causa disso. Se contar algo que NÃO impacta o relacionamento dali para frente é difícil demais para a pessoa, não conta. Se um dia tiver vontade, vai contar. Acho falta de educação perguntar, mas se estamos no caso de perguntar, até mesmo mentir na cara dura para cortar o papo é válido.

Se uma namorada minha me visse saindo do banheiro e perguntasse se eu caguei mole ou duro, eu jamais diria a verdade, até falaria que estava vendo pornografia de anões gays paraguaios para não mencionar o tema, acho que a verdade não é direito dela nesse caso. Eu repensaria que tipo de relação eu estaria, mas acima de tudo, não veria problema algum de esconder uma informação desnecessária dessas, ou mesmo inventar algo completamente diferente.

O que você conta ou deixa de contar sobre você que diz respeito só a você não é direito de ninguém. Privacidade é direito universal em qualquer relação, querer a verdade não é sinônimo de violar sua individualidade. Repito: ainda acho bobagem não querer revelar uma plástica, mas morro lutando pelo direito de quem não quer.

Para dizer que só importa se ficou mais gostosa, para dizer que amor de verdade é cagar de porta aberta, ou mesmo para dizer que pede teste de DNA da pessoa para saber se ela é raça pura também: somir@desfavor.com

SALLY

Atenção, que o tema de hoje tem sutilezas: É desonesto não contar ao parceiro sobre ter feito uma cirurgia plástica, se ele perguntar expressamente sobre isso?

Sim, é desonesto sim. Disso necessariamente tem que decorrer um término? Não, o parceiro pode não dar dimensão ao fato e a vida seguir normalmente, porém, não deixa de ser desonesto. É uma mentira, ainda que sem más intenções, e mentira é o principal veneno de um relacionamento.

Não estou falando que tem que passar recibo que qualquer procedimento estético que você faça, nem que tem que contar tudo ao parceiro. Estou falando de uma situação onde algo te é expressamente perguntado e você, em vez de falar a verdade, mente descaradamente. Pouco me importa se é sobre um nariz ou sobre um assassinato, eu espero que quem se relaciona comigo se mantenha na verdade e vou achar desleal se não o fizer. Pode não ser um deal breaker, pode nem ser motivo para briga, mas que é desleal, isso é. Não querer falar sobre um assunto não te dá o direito de mentir sobre ele.

Olhar nos olhos do outro e jurar que você nunca fez uma coisa que você fez é feio, por mais inofensiva que seja essa coisa. É sobre a mentira, não sobre o ato em si. “Ain Sally, mas que diferença faz uma plástica?”. Supondo que não faça a menor diferença: já seria babaquice mentir por algo irrelevante. Porém, não sabemos como é a cabeça do outro, suas experiências de vida, seus medos, seus critérios. Se a pessoa está perguntando, ela espera que o parceiro diga a verdade. Esperar a verdade e receber mentira é uma merda, seja sobre o que a pessoa almoçou, seja sobre seu estado civil. Não é pela plástica, é pelo ato de mentir.

Se você acha que uma plástica não diz respeito a mais ninguém, pode dizer isso a seu parceiro. E, para aqueles que jogam a cartada do “eu não sei ser grosso” para se esquivar de falar verdades, saibam tudo nesta vida pode ser dito com educação. Nada justifica mentira. Diga com carinho, de forma calma e serena algo como: “Olha, Fulano, me desculpa, mas esse tipo de pergunta me parece invasiva. Não acho pertinente a gente falar sobre meu corpo, me incomoda. Podemos mudar de assunto?”.

A pessoa vai ficar puta com você? Bem, acredite, mais puta da vida ela vai ficar quando descobrir que você mentiu. Sim, mentira tem perna curta. Um dia a verdade cai no colo de todo mundo. E outra… se a pessoa fica puta por você querer preservar uma parte da sua vida, aí seria o caso de se perguntar por qual motivo você está com uma pessoa com a qual não pode estar na verdade, com a qual precisa mentir para conviver. Nesse caso, me parece que a “culpa” (o melhor termo é “responsabilidade”, mas não é de tão imediata compreensão…) não está no outro, por mais neurótico que ele seja, e sim em você: culpa na escolha.

Já aconteceu comigo. Um cerumaninho com o qual eu estava saindo e prestes a engatar um namoro tinha belos olhos verdes. Um verde um tanto quanto incomum, que não parecia existir na mãe natureza. Perguntei por perguntar se ele usava lente de contato colorida, pois aquele verde era muito incomum. O cerumaninho negou, meio ofendido até, disse que não, de jeito nenhum, aquela era a cor natural do olho dele. Mentira tem perna curta para aqueles que estão dispostos a ver a verdade (para negadores, ela pode se eterna) e um belo dia, o universo, troll que é, fez saltar uma das lentes dele do olho no meio da rua.

Lá estava o cerumaninho, parecendo um Husky Siberiano, um olho de cada cor: um preto mais escuro que a noite e outro verde Hulk. Fiquei olhando para a cara dele, com visível decepção. Disse que foi uma mentira muito infeliz e desnecessária e perguntei a razão pela qual ele tinha feito isso. Até então, havia chance de salvar a situação.

Quem reconhece o erro, aprende com ele e se torna uma pessoa melhor costuma contar com a minha boa vontade. Mas o cerumaninho foi patético: tentou dar uma invertida me chamando de nazista, de só querer namorar pessoas de olhos claros, do olho castanho dele ser “pouco” para mim (que, por sinal, tenho olhos castanhos…). Sem condições, né?

Então, não é pelo procedimento estético, é pela mentira. Se a pessoa tem ressalvas, tem assuntos proibidos, não se sente confortável para tratar do assunto sem mentir, tem que ver isso aí. Um relacionamento saudável pressupões confiança, cumplicidade e verdade. Então, seria de bom tom se manter dentro desses balizadores.

Não quer responder? Não responde. Se mantém na verdade e diz que não se sente confortável para falar sobre isso. Ao contrário do que muito Zé Cu adora pregar para justificar mentirinha contumaz, estar na verdade não é ter que contar tudo pro outro. Estar na verdade é não mentir, dizer como se sente a respeito de algo.

Esteja na verdade com o outro. Se não for possível entrar em determinados assuntos, mantenha-se na verdade, explique que não se sente confortável falando sobre aquilo e, se possível explique seus motivos.

Relacionamentos verdadeiros pressupõem várias situações difíceis de encarar, vários assuntos e momentos delicados, várias conversas não muito fáceis. Se a pessoa rateia por causa de uma cirurgia plástica, desculpa mas não vejo um bom futuro nisso aí.

Para perguntar se pode mentir a respeito de tomar bomba, para dizer que você não tem esse problema pelo total desinteresse do seu parceiro em saber sobre você ou ainda para dizer que isso é problema de classe média: sally@desfavor.com

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Comments (7)

  • “Então, não é pelo procedimento estético, é pela mentira.”

    Resumiu o que eu penso sobre isso. Pra que mentir? Até onde eu sei, um dos pilares de um relacionamento saudável é a confiança. Nesse caso em particular de plásticas, acho que o único contexto crucial onde isso importaria é se o casal decide ter filhos. Se a pessoa fez mudanças no corpo dela pra “corrigir” genes “ruins” que deram a elas alguma feiura ou deformidade, acho obrigatório que isso seja informado. Ninguém tem a obrigação de ter filho feio por omissão do parceiro(a).

  • Só me lembro de um caso de um cara na china que processou a ex esposa porque o filho deles nasceram feios e ele descobriu que ela fez varias plasticas para ficar bonita e enganou ele. Dá processo issaeee!

    E aquela velha pergunta famosa na internet: “Dr. meu filho vai nascer com meu nariz antes ou depois da plastica?” HAHAAH

    Prefiro contar a verdade sempre. É desonesto sim.

    • Acho até desonesto consigo mesmo não assumir o que faz. Fica parecendo que a pessoa tem vergonha ou acha insuficiente a forma como nasceu, precisa mentir que “corrigiu” algo…

    • Não sei. Não sei em qual contexto seria feito. Não sei qual a relevância disso para a pessoa… Só sei que o fato de me fazerem uma pergunta escrota não é aval para mentir.

  • Acho desonesto sim.
    Já pensou se o relacionamento fica sério? Se acontece uma gravidez??
    O parceiro((a)) tem direito de saber que a criança poderá vir com um nariz horrendo, por exemplo. Afinal, como a Sally diz, filho não herda plástica.
    Sei que meu motivo parece meio fútil, mas sei lá, acho que o parceiro (a) tem direito de saber a verdade.
    Aliás, sou a favor de dizer toda a verdade: plástica, lente de contato, até progressiva no cabelo…

    • Nem acho que isso seja uma questão, porque eu não vou ter filhos e ficaria puta do mesmo jeito, pela pessoa jurar nos meus cornos uma coisa que é mentira…

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