Sobrevivendo a Furacões.

Mudanças climáticas, um puta azar do caralho, transição planetária, natureza em fúria. Não importa como você queira chamar, coisas inusitadas estão acontecendo. Neva no deserto, chove peixe, orcas dizem “Hello”. Neste contexto, nada mais me espanta, qualquer coisa pode acontecer. Tendo isso em mente, resolvi escrever sobre algo que dificilmente afete a maioria, mas, se acontecer, vocês vão tirar de letra: Desfavor Explica – Sobrevivendo a Furacões.

Antes de mais nada, vamos diferenciar a classificação que se dá aos ventos. Os ventos fortes que derrubam coisas e causam danação podem ser divididos basicamente em duas categorias: ciclones e tornados.

Um ciclone é movimento de ar que se desloca em uma grande área, geralmente envolvendo centenas de quilômetros. Se caracteriza por ventos com velocidades iguais ou superiores a 120 km/h e tem um potencial de destruição enorme, pois atinge uma área enorme. É como se uma grande parede de vento varresse toda uma região.

Um tornado também é um movimento ar, só que em uma área menor, mais concentrado. A velocidade do vento é maior, 500 km/h ou mais, porém o alcance destrutivo costuma ser menor, pois ele atua em uma área mais restrita. Onde passa, destrói mais que o ciclone, mas passa em menos lugares. É como um gigante com um secador de cabelo apontado para você.

Então: ciclone = vento mais fraco, mas de amplo alcance x tonado = vento mais forte, de pequeno alcance. Dentro do gênero Ciclone, temos o furacão e o tufão. A diferença é muito simples: o local onde ocorrem. Furacões de formam forma-se no Oceano Atlântico ao norte, no Mar do Caribe, no Golfo do México e no Oceano Pacífico próximo ao litoral da América do Norte. Tufões se formam no Oceano Pacífico a leste da Linha Internacional de Data, próximo ao Japão, ao sul da Ásia e também na porção leste do Oceano Índico.

O Furacão, ou, no inglês, “Hurricane”, recebeu esse nome graças a um Deus Caribenho meio malvado, chamado “Hurrican”. Quando ventava forte lá, os nativos locais atribuíam isso à fúria deste deus. Para ser considerado um furacão, os ventos devem ultrapassar 119km/h. Normalmente, não costumam haver furacões por aqui, mas, o planeta anda em fúria e alguns de vocês viajam, então, pode ser que um de nós um dia seja confrontado com um troço desses. Melhor estar preparado.

Um furacão pode se desenvolver rapidamente, a partir de nuvens de chuva. Nem sempre dá para emitir um alerta com muita antecedência. Porém, sabe-se que existem épocas do ano mais propícias à formação de furacões, geralmente entre maio e novembro. Então, se você vai a algum lugar que seja uma área onde aparecem furacões nesta época do ano, já deve ir preparado.

Até hoje, o pior furacão registrado foi o Irma, que manteve por mais de 24h ventos de 297 km/h. Não sei se você reparou, mas furacões recebem nomes humanos. Isso acontece para simplificar a vida dos envolvidos, pois se fosse dado um nome técnico, seria mais complicado alertar a população. Muitos brincam que eles têm nome de mulher, pois quando chegam são selvagens e molhados e quando vão embora levam sua casa e seu carro. Piada rápida, apenas para eliminar leitores feministas.

Normalmente o nome dos furacões obedece al dois critérios: são organizados por ordem alfabética e alternam nomes femininos com masculinos. Um exemplo brasileiro, para que você entenda: vamos supor que ocorressem furacões no Brasil e que este ano tivéssemos 7 episódios. Os nomes seriam: Adrielly, Bernardson, Carlloyne, Davidson, Ellyett, Fendandson, Gisllaine etc. Cada furacão novo ganha um nome típico do lugar, começando pela letra seguinte do abecedário, e se alterna nome de homem com nome de mulher.

Mas chega de teoria, vamos à prática. Vamos lidar sempre com dois cenários aqui: 1) você sabe que está em uma área propensa a furacões e 2) uma danação se abateu no Brasil e chegou um furacão impossível do nada.

Se você sabe que vai para uma área onde ocorrem furacões, precisa de duas coisas: um plano de desastre e um kit de emergência.

O plano de desastre consiste em combinar com todas as pessoas que estejam com você o que vão fazer em caso de um furacão, para que na hora, não fiquem perdidos ou discutindo sobre o que fazer.

Esse plano de desastre deve começar observando quais são as rotas de fuga do local onde você está (saídas de emergência, etc.) e tentar prever imprevistos, por exemplo, estabelecer um ponto de encontro caso vocês se percam um dos outros. É preciso que todos na casa saibam desligar o gás, a luz e água (para que, caso o furacão danifique alguma estrutura, não gere danos aos presentes) e que todos saibam como contatar os serviços de emergência (bombeiros, polícia, ambulância, etc). É de bom tom deixar estes números afixados em um lugar visível.

O kit de sobrevivência tem que estar pronto, montado, em local de conhecimento de todos e de fácil acesso. Você cria o seu conforme sua necessidade ou pode comprar um pronto. Normalmente ele tem alguns itens de primeiros socorros, uma lanterna a pilha (quase certo que vai faltar luz durante o furacão), água potável, barrinhas de proteína ou outros alimentos compactados e, se possível, um rádio de pilha, para tentar sintonizar em alguma estação de rádio, de modo a escutar notícias e melhores rotas de fuga.

Se acontecer no Brasil, sinto muito, vamos ter que improvisar, pois ninguém aqui jamais pensou em um plano de desastre muito menos tem um kit de primeiros socorros. Lanterninha do celular e buscar na memória tudo que você leu neste texto. Não se preocupe, seu cérebro só tem um objetivo nessa vida: que você sobreviva. Isso que você está lendo vai ser armazenado e, quando a hora chegar, as informações importantes vão voltar.

Vamos supor que o furacão foi camarada e se fez anunciar com uma certa antecedência. Você sabe que em breve ele chegará, mas tem tempo de tomar providências. Seguinte: o que causa estragos é o vento forte varrendo tudo, arrancando tudo, levando tudo. Então, por óbvio, para minimizar os estragos, você deve recolher tudo que for “arrancável”. Por exemplo, um balanço de criança no quintal ou uma calha solta, pode virar uma arma mortal arremessado contra sua janela. Dá uma checada em tudo que estiver solto e possa ser arrastado e remove do lado de fora da casa, da varanda ou de perto das janelas. Não se esqueça de colocar os animais de estimação para dentro.

Na sua casa, os pontos fracos são as janelas. O vidro pode “explodir” diante da pressão de um vento muito forte. A solução é colocar tábuas ou fitas adesivas nos vidros, para aumentar sua resistência e tentar manter o vidro no lugar. O material mais indicado é o compensado (aquela madeira mais fina), coloque as tábuas fazendo um X na janela, e outras reforçando esse X, de modo que, ao final, pareça um grande asterisco.

Não tem tábuas? Beleza, Silver Tape, qualquer fita para reparos, o mais grossa possível. Faça o mesmo asterisco. Se puder, coloque algo na frente da janela para te proteger, caso o vidro não aguente e se estilhace mesmo assim. E, mesmo protegendo, durante a passagem do furacão saia de perto das janelas. Muita gente se aproxima para tentar ver o que está acontecendo e acaba se ferindo seriamente.

Feche o gás, pois se o furacão destruir a tubulação, o fogão, o botijão ou qualquer coisa remotamente relacionada com gás, você e sua família podem explodir. Desligue a água e a energia elétrica, pois se der problema nas duas juntas, você corre um sério risco de ser eletrocutado, já que água se espalhará pelo chão da sua casa e se eletricidade chegar a ela, um grande choque percorrerá o ambiente.

Se der tempo, estoque comida de fácil preparo ou instantânea. Tenha em mente que você pode não ter luz, gás ou água para cozinhar, então, algo pronto em lata está ótimo. Estoque água potável também, não se sabe por quanto tempo o sistema de abastecimento de água pode ser interrompido. Especialistas calculam que, em condições ideais, se precisa de 4 litros de água potável por pessoa. Chegue o mais perto que puder disso.

Se der tempo, saia da área. Evacuação é sempre a melhor possibilidade, desde que feita em segurança. Pela rota normal dos furacões, quanto mais ao norte, mais seguro você estará. Leve apenas o necessário: celular, carregador, documento, dinheiro, mantimentos e kit de primeiros socorros.

Também existe a possibilidade da casa ter um “quarto do pânico”, pensando justamente nesse tipo de catástrofe. É um quarto blindado, geralmente subterrâneo, já preparado com mantimentos. Pior dos mundos, você pode ir para um abrigo comunitário, onde, apesar de lotado, você estará seguro.

Detalhe importante: onde quer que você vá, seja evacuação, seja abrigo, tem que sair pelo menos duas horas antes da chegada da tempestade. Para leigos, pode dar a impressão, depois que o furacão chega, que está inofensivo, que tem pouco vento. Mas em questão de minutos a força aumenta e pode até te matar se você estiver na rua. A coisa escala muito rápido. Então, se o furacão já chegou, sua maior chance de sobrevivência é ficando onde está e se protegendo.

Agora vamos supor que seja no Brasil. Você não vai ter um aviso decente, nem com antecedência. Talvez você fique sabendo por um popular da sua rua passar gritando “FURACÃO, CARAI!” e dez segundos depois o Furacão chegar. Então, tudo que eu disse acima, é balela.

No improvisão: vá para o cômodo da casa que tenha paredes mais fortes e menos janelas, pode ser até o banheiro. Dentro desse quarto, procure o local mais protegido contra impacto: objetos que podem ser arremessados, estilhaços, pedaços do teto que podem cair, etc. Se puder, se cubra com algo duro, que funcione como um escudo, como já ensinamos aqui no texto sobre terremotos.

As principais causas de ferimento por furacões não são desabamentos e sim detritos voando na pessoa: vidro, madeira, objetos. Então, onde quer que você esteja, mantenha-se longe de janelas, vidros ou de qualquer coisa que possa ser arremessada contra você.

Se possível, deite no chão, onde o risco é menor, e se cubra com algo para se proteger, como dissemos no parágrafo anterior. A passagem de um furacão é muito assustadora, pois geralmente as pessoas estão no escuro, encolhidas, escutando barulhos aterrorizantes, sem saber direito o que está acontecendo. Aguenta firme, não saia, não se aproxime da janela para olhar, fique onde está. Só há uma hipótese onde especialistas recomendam a saída: enchente. Se o local onde você está alagou e a água está subindo, bem, é sair ou morrer afogado.

Se for caso de vida ou morte e você tiver que sair, saia com algum “escudo” improvisado para se proteger, muitos detritos estarão voando em alta velocidade lá fora. Antes de sair, tente ligar para o serviço de emergência do local, pois mesmo sem linhas telefônicas comuns funcionando, muitas vezes os serviços de emergência conseguem continuar operando. No furacão Katrina milhares de ligações foram atendidas. Talvez alguém atenda, talvez alguém te resgate.

Ao sair, abrigue-se onde puder, tendo como principal preocupação fugir dos detritos. Carros não são uma boa opção de abrigo pois além de serem relativamente leves, podendo ser levados pelo furacão, ainda tem vidros em toda sua lateral, ou seja, as chances de você se ferir são enormes.

Atenção para um erro recorrente: o vendo diminuí, a pessoa pensa que o furacão passou, sai de casa ou se aproxima da janela e se ferra. Pode ser apenas o chamado “olho do furacão”, ou seja, seu centro, onde quase não há vento. O Furacão é uma massa de ar que gira, assim como o tornado. Só que por ter uma extensão enorme, não conseguimos perceber seu “formato”. Mas se você olhar em imagens de satélite, vai ver que ele tem um centro onde as forças praticamente se anulam. Então, parou de ventar? Aguarde uma confirmação oficial de que o furacão passou. Liga seu radinho de pilha e só saia depois que as autoridades considerarem seguro.

“Mas Sally, estou incomunicável, como vou saber a hora de sair?”. Espere, no mínimo, 30 minutos depois que o vento parar para sair ou se aproximar de janelas. E, mesmo assim, mesmo que o furacão tenha passado, saiba que você vai ter que sair com muito cuidado, pois lá fora pode ter um mar de destroços, objetos cortantes pelo chão, coisas desabando. Sai na disciplina, comportadinho e atento.

Cuidado especial com árvores (que podem estar aparentemente de pé, mas cair a qualquer momento), fios de alta tensão e postes, objetos cortantes pelo chão e locais alagados. Não pise em poças ou em água pois, se em algum ponto um fio de alta tensão estiver caído encostando nessa água, você pode ser eletrocutado. Além disso água pode esconder buracos, bueiros abertos e uma série de outros perigos que você não vai ver, afinal, a água que fica de uma tempestade é suja e barrenta, nunca se sabe o que está por baixo.

Muita cautela na hora de entrar em qualquer construção após um furacão. Um leigo pode não saber identificar quando a estrutura está abalada, quando há vazamento de gás e outros perigos. Na dúvida, chame por ajuda e espere que eles cheguem para fazer qualquer coisa que possa colocar sua vida em risco, como, por exemplo, religar eletricidade e gás na sua casa.

Esperamos de coração que nunca passem por isso, mas se passarem, tentem ficar calmos, furacões não costumam fazer vítimas se as pessoas tomarem estes cuidados básicos.

Para perguntar onde caralhos está o Somir, para dizer que se tiver furacão no Brasil não dá tempo de nada, simplesmente desaba tudo ou ainda para dizer que torce por um furacão em Brasília: sally@desfavor.com

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Comments (19)

    • Se tem alguém que luta para punir severamente estupro, é o Poker. Ele tem um milhão de defeitos graves, mas não esse…

  • Eduardo Amaral Nunes

    É interessante ler sobre o furacão Catarina que passou em 2004 no RS e SC, e ver o total despreparo brasileiro nesse assunto. Meteorologistas e especialistas brigaram até o último pra definir o que era se era tempestade ou furacão a e se merecia atenção especial ou não. Geralmente em SC as tempestades vão da terra pro mar, mas nesse caso ela foi e do nada voltou, aí era meio tarde. No fim o alerta foi dado praticamente no dia da chegada do furacão.

  • “Se der tempo, estoque comida de fácil preparo ou instantânea. Tenha em mente que você pode não ter luz, gás ou água para cozinhar, então, algo pronto em lata está ótimo”.

    Quando houve as enchentes 10 anos atrás em Santa Catarina, com mais de 100 mortos, lembro de um bombeiro dando entrevista, em um misto de ironia e desespero, feliz com as toneladas de macarrão, arroz, feijão e óleo doados chegando nos locais da tragédia. “Agora só resta esperar botijões, fogões e água para cozinhar isso tudo e matar a fome de todo mundo!”…

  • “Atenção para um erro recorrente: o vendo diminuí, a pessoa pensa que o furacão passou, sai de casa ou se aproxima da janela e se ferra. Pode ser apenas o chamado “olho do furacão”, ou seja, seu centro, onde quase não há vento”

    Acho que foi mais ou menos isso que aconteceu há pouco tempo no Haiti. Os ventos tinham acalmado, a galera saiu na rua pra ver os estragos, e boom: outra ventania furiosa varreu todo mundo. O grosso das mortes ocorreu justamente com o pessoal que foi pra rua após o “primeiro round”.

  • O Brasil nao esta sobrevivendo a um. Acabaram de esfaquear o Bolsonaro. Repercutindo no mundo mais uma incivilidade brasileira em tempo recorde. Em menos de um ano ja chocamos o mundo como vergonha mundial mais umas tres vezes (greve caminhoneiros, neyplay, incendio do museu). Estamos de parabéns gente! Tem povo mais atrapalhado q esse?

    • Pois é, somos Quarto Mundo de falta de coesão disfarçados de “Primeiro Mundinho de PIB”, ou seja, muitíssimo pior que “Belíndia”.

  • Mais um ótimo texto, Sally. Já sabia de algumas dessas informações, mas é sempre bom aprender mais alguma coisa. Afinal, conhecimento nunca é demais e nunca se sabe quando se vai precisar. E também gostei de aprender sobre a origem do nome “Hurricane”. Nunca tinha parado pra pensar nisso…

  • Apenas uma pequena correção sobre a origem dos furacões: eles se formam somente sobre o oceano, pois é a temperatura da água que alimenta o vórtice convectivo. Assim, eles podem ser vistos às vezes muitos dias antes de tocarem a terra, e sua trajetória calculada pelo movimento de Coriolis. Logo que adentram o continente, perdem seu motor de força (calor da água oceânica) e se dissipam em alguns km (geralmente de 20 a 30), tornando-se tempestades tropicais. Por isso as áreas afetadas sempre são litorâneas. Uma outra característica do furacão é que por ser gigantesco, ele tem uma “zona de calmaria” no seu centro. Qual a merda? É que isso faz com que tenhamos a parede frontal atingindo uma zona, em seguida passa a calmaria, e logo a seguir, vem outra ventania de igual potência, mas em sentido contrário.
    Já o ciclone se forma a partir dos choques de massas de ar quentes e frias sobre o continente, que ao se encontrarem, começam a “dançar” e rodopiar. Sua detecção é mais difícil de ser feita a longo prazo. Geralmente se consegue com apenas algumas horas de antecedência, através de imagens de radar (que permite ver as massas de nuvens de baixo para cima, ao contrário das imagens de satélite, que se enxerga de cima para baixo). Sua duração também é bem menor que a de um furacão, que pode durar semanas enquanto tiver alimentação, enquanto um tornado dura apenas alguns minutos geralmente.
    Desculpe pelas correções, mas sou geógrafa apaixonada por meteorologia, e acredito que vocês são os tipos de pessoas que vale a pena ensinar. Obrigada

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