Uma multinacional pode lucrar bilhões fazendo um bem para a humanidade? Se você acha que não, pense novamente. Desfavor Explica: Leite Fermentado Yakult.

Ao contrário do que muitos pensam, “Yakult” é o nome de uma empresa japonesa, o nome do produto é “Leite Fermentado Yakult”. Mas, como somos íntimos do produto, nos referiremos a ele apenas como “Yakult” neste texto.

De fato, o principal produto da empresa é esse leite fermentado que vocês adoram e defendem até a morte por aqui, mas também vendem outros produtos. Aproveitando que o Yakult está completando 80 aninhos de vida, vamos falar desta bebida tão idolatrada pelos Impopulares. Na verdade, o Yakult tem mais de 80 aninhos de vida, mas, como a marca só foi registrada em 1938, ele existe oficialmente desde então.

Tudo começou em 1925, quando o Japão passava por um surto de infecções gastrointestinais tão forte que estava elevando a taxa de mortalidade infantil. Na época, um médico japonês chamado Minoru Shirota, especializado em medicina preventiva, preocupado com a questão, decidiu realizar voltar suas pesquisas para tentar conter o problema. Ele trabalhava no laboratório de microbiologia da Universidade de Medicina de Kyoto e foi lá que encontrou a solução.

Ele foi o primeiro a conseguir criar uma cultura de bactérias lácticas benéficas para a saúde humana. Em sua homenagem, esta bactéria foi batizada de “Lactobacillus casei Shirota”. O grande pulo do gato do Dr. Shirota foi conseguir uma espécie de lactobacilos que resistiam à acidez do estômago e, que se mantinham vivos no intestino, inibindo a proliferação de bactérias intestinais nocivas e, por consequência, equilibrando da flora intestinal.

Em bom português: você pode beber, que os “bichinhos” passam pelo estômago, sobrevivem, e quando chegam no seu intestino atuam de forma benéfica, ajudando a regular a função intestinal.

Então, como prevenção e até tratamento, estes lactobacilos, que o povo chama comumente de “Lactobacilos Vivos” (pois não morrem no estômago, chegando vivos ao intestino) foram adicionados a leite desnatado e fermentado e vendido em sistema de entrega domiciliar, para que o maior numero de pessoas possíveis tivesse acesso. Nascia o Yakult.

Inicialmente, mocinha entregavam o produto em bicicletas com cestinhas térmicas ou em carrinhos (semelhantes a aqueles carrinhos de picolé) que mantinha o produto resfriado. Eram conhecidas como “Yakult Ladies”, ou, no Brasil, “Mulheres do Yakult”. Suas roupinhas eram fofas e combinavam com as cores da embalagem do Yakult.

A ideia de colocar exclusivamente mulheres para distribuir o produto foi do próprio Dr. Shirota, que queria dar espaço para elas no mercado de trabalho. Era um período difícil, mundialmente falando, onde muitas mulheres precisaram sair de casa e trabalhar e ele resolveu dar essa forcinha. Fofo, não?

O Dr. Shirota era realmente uma cabeça fora da caixinha. Ele fundou um Centro de Pesquisas para continuar aprofundando os estudos e melhorando os produtos da marca. Mesmo já estabelecido no mercado, estava sempre presente e atento a tudo.

Graças a isso ele reparou que as mãos das “Mulheres do Yakult” eram excepcionalmente macias. Como as embalagens eram de vidro e não raro quebravam (só passaram a ser de plástico em 1968) ele creditou isso ao contato das mãos com o Yakult e resolveu pesquisar onde estava o benefício.

Descobriu que existia que um componente obtido pela fermentação láctea que agia como um hidratante e rejuvenescedor da pele. Foi lá e lançou uma linha de cosméticos com este componente, em 1961. Estes cosméticos chegaram a ser comercializados no Brasil por dez anos. Em 2009 sua venda foi descontinuada por aqui.

Com o passar dos anos, a demanda foi tanta que as Mulheres do Yakut não conseguiam mais dar conta de todas as entregas. O produto passou então a ser comercializado da forma que conhecemos hoje: disponível em diferentes pontos de venda.

O produto chegou ao Brasil em 1966. Fez tanto sucesso que, apenas dois anos depois, em 1968, começou a ser produzido por aqui mesmo, em uma fábrica em São Bernardo do Campo, no ABC paulista. Foi a primeira fábrica da empresa fora da Ásia. O Yakult também foi o primeiro produto da categoria no Brasil a ser reconhecido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA como “alimento com alegações de propriedades funcionais”, em 2001. Um alimento funcional é aquele além das propriedades nutricionais básicas produz efeitos benéficos à saúde.

O formato da embalagem atual teria sido inspirada nas bonecas japonesas Kokeshis, originárias do norte do Japão. Ela é padronizada, a mesma para todo o mundo (vendida em mais de 30 países): com 65ml, ou 80g. Porém, em algumas regiões da Ásia, onde o produto é muito apreciado, fizeram uma embalagem um pouco maior, com 100ml.

Para os descompensados que pedem Yakult Litrão, saibam que isto não seria inteligente, primeiro porque depois de aberta a embalagem, o tempo de vida útil do produto seria muito reduzido e segundo porque estimularia a beber muito mais do que o recomendado. A quantidade que te faz bem é um, e apenas um Yakult por dia. Mais do que isso pode gerar alguns revertérios desagradáveis.

Os benefícios destes simpático lactobacilo vivo já foram muito contestados. Há quem diga que são tão eficazes como qualquer iogurte. A marca promete seu produto auxilia na prevenção de distúrbios digestivos como a diarreia e prisão de ventre, ou seja, ajuda a prender ou a soltar, conforme a necessidade. De fato há pesquisas médicas dizendo que o Yakult ajuda a regular a função digestiva e intestinal, mas os resultados são desagradáveis demais para serem postados aqui, pois, entre outras coisas indesejáveis, falam da consistência das fezes. Passo.

O preparo do Yakult é relativamente simples: leite desnatado é esterilizado e colocado em tanques de Pré-Fermentação e de Fermentação. No tanque de Pré-Fermentação, o leite esterilizado recebe os Lactobacillus casei Shirota. Após um período nessa pré-fermentação, o líquido é transferido ao Tanque de Fermentação, que é a etapa mais importante.

É na fermentação que os lactobacilos probióticos se desenvolvem. Depois, o leite fermentado passa por outros processos para agregar sabor, cor e consistência e está pronto para ser engarrafado e vendido. Hoje, basicamente todo o processo é automatizado, o que permite uma produção em grande escala. O único cuidado que fabricantes, transportadores e revendedores devem ter é manter o produto sempre refrigerado.

Atualmente, a Yakult é uma multinacional muito bem sucedida, seu lucro é calculado na casa dos bilhões de dólares. Ela se tornou líder global no mercado de bebidas probióticas (ou seja, usando bactérias benéficas em sua composição). Cada Yakult contém cerca de 16 bilhões de lactobacilos casei Shirota. A versão power, que tem um sabor um pouquinho mais acentuado, se chama Yakult 40 (vendida no Brasil) e contém cerca de 40 bilhões.

Mas nem só de Yakult vive a Yakult. A marca emplacou vários outros produtos, todos funcionais (é só dar um pulinho no site deles, para ver quais são). A empresa está presente em mais de 30 países ao redor do mundo. O Yakult é consumido diariamente por mais de 30 milhões de pessoas. Curiosidade: além do sucesso de vendas, a empresa também é dona de um time de beisebol no Japão, o Tokyo Yakult Swallows.

O grande responsável por todo esse sucesso é o Dr. Shirota. Ele faleceu no dia 10 de março de 1982 aos 82 anos, mas deixou uma herança importante: medicina preventiva é tão importante quando investir no tratamento das doenças. Talvez a Yakult seja o primeiro exemplo do que hoje se chama “Investimento de Impacto”, ou seja, uma empresa que alia o lucro à possibilidade de tornar o mundo melhor.

Não é fazer caridade ou reinvestir os lucros em alguma causa. É a atividade-fim da empresa que é voltada para um mundo melhor. O Yakult solucionou um problema grave no Japão e posteriormente ajudou pessoas no mundo todo. Então, é perfeitamente possível ter lucro e fazer um bem a um grande grupo de pessoas com o seu produto.

Não, esta não é uma postagem patrocinada, não ganhamos nem uma gota de Yakult ou qualquer benefício direto ou indireto por este texto. Os caras são bons mesmo, tanto que o a bebida foi considerada um dos alimentos mais consumidos no século XX. Além de serem bons, conseguiram aliar lucro a um produto que salvou a vida de muitas pessoas quando não existiam outras alternativas. Palmas para o Dr. Shirota e para todos os envolvidos. Podem continuar idolatrando o Yakult, eles merecem.

Para dizer que você paga o preço de uma diarreia para tomar vários Yakults por dia, para dizer que deveriam ter mudado o nome do produto ao chegar no Brasil assim a população não pronunciaria “Yarkut” ou ainda para dizer que está seriamente enjoado de ler texto meu todo santo dia: sally@desfavor.com

Se você encontrou algum erro na postagem, selecione o pedaço e digite Ctrl+Enter para nos avisar.

Etiquetas:

Comments (43)

Deixe um comentário para Anônimo Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Relatório de erros de ortografia

O texto a seguir será enviado para nossos editores: