Vida lá fora.

Vários bilhões de anos-luz para qualquer lado que se vá e ainda nenhuma prova concreta de vida alienígena. Sally e Somir discutem a conexão entre essas informações, os impopulares fazem contato.

Tema de hoje: você acredita em vida alienígena?

SOMIR

Até este momento, não. Com certeza é uma questão difícil de definir, mas colocado na posição de dar um chute, começo cada vez mais a pender para o lado do não. Escrevi há algum tempo um texto sobre o Paradoxo de Fermi, que trata justamente dessa relação entre o tamanho e idade imensos do Universo e a falta de provas de vida alienígena. É estranho, muito estranho mesmo. E talvez essa estranheza de ainda não termos captado qualquer sinal seja mais conclusiva do que o esperado.

O fato de existir vida na Terra não indica de forma alguma que vida é algo que surge com facilidade no Universo. A sequência de eventos que a originou por aqui torna qualquer bactéria um elemento extremamente único. Sim, existem trilhões de planetas por aí, mas também estamos falando de uma chance numa escala inversa das condições necessárias para a vida surgirem num deles.

É muito mais do que a posição do planeta da chamada zona habitável de um estrela viável, onde a água pode ficar no estado líquido, é uma soma de fatores na composição do sistema planetário que permite o acúmulo se elementos necessários como carbono, hidrogênio e oxigênio nesse ponto; é a chance desses materiais serem atingidos por um outro planeta criando um satélite natural como a Lua e toda a estrutura geológica da Terra… que inclusive gera o campo magnético necessário para proteger o planeta da radiação solar.

Tudo isso aliado a escapar de eventos de destruição total nas imediações. Uma supernova por perto e a vida se torna inviável de novo. Um cálculo rápido sobre a quantidade de estrelas no universo visível e a probabilidade de qualquer uma delas explodir sugere um desses eventos por segundo! Adicione a isso erupções de raios gama atirando para todos os lados, meteoros, cometas e colisões planetárias… não é um ambiente seguro nem aqui, nem em galáxias há bilhões de anos-luz de distância. Tanto que mesmo depois do surgimento da vida, a que reside aqui já foi quase que eliminada algumas vezes por eventos do tipo.

E nem começamos a falar da vida em si ainda. A prática sugere que se a abiogênese (criação da vida por algo não vivo) aconteceu mesmo, ela é um evento absurdamente raro. Tão absurdamente raro que nunca mais foi observado, e olha que não faltou gente procurando por ele. Ainda nem entendemos direito esse processo, de tão impossível de replicar. E mesmo considerando as formas de vida mais simples da Terra, são de uma complexidade incrível em relação ao que brota naturalmente do processo estelar habitual. Vida é matéria que se replica sozinha, um desafio à entropia que não vemos em qualquer outro lugar da realidade conhecida. Se você estudar sobre tudo o que está relacionado à existência da vida aqui, vai notar como a probabilidade é minúscula, mas minúscula numa escala que faltam números depois a vírgula para expressar.

Você pode estar se perguntando se não é muita arrogância achar que estamos no único planeta com vida no Universo. Oras, arrogância com quem? Com o hidrogênio? A nossa visão das coisas tende a humanizar o que não é humano, e isso influencia nesse tipo de pensamento: não tem ofensa nenhuma ao resto da matéria dizer que só aqui uma combinação específica dela aconteceu. Ainda somos isso: combinações de matéria. Os elementos que te constroem não são únicos, estão em praticamente todos os lugares. Na verdade, foram as estrelas que criaram quase que todo o conteúdo do seu corpo atual. Não tem arrogância aqui porque achar que vida é algo tão especial e desejado vem da nossa própria percepção de valor. As partículas fundamentais não se importam com o lugar onde estejam ou a função de suas aglomerações.

É totalmente viável que a vida só exista aqui, pelo menos do ponto de vista do Universo: se era uma propriedade inevitável da matéria, bom, este aqui conseguiu fazer uma vez pelo menos e a condição está satisfeita. Eu sei que parece anti-intuitivo pensar que só a Terra abriga vida, que parece querer se achar muito especial… mas, só achamos vida especial porque estamos vivos o tempo suficiente nesse planeta para pensar nessas coisas. Daqui há alguns bilhões de anos é quase que certeza que a vida na Terra desaparece por eventos naturais. E o resto do Universo vai continuar existindo numa boa. Nossa vida não é essencial para a realidade. Até por isso é provável sim que só tenha acontecido aqui. Formação de estrelas parece essencial, e essa acontece por todos os lados que olhamos.

E voltando ao Paradoxo de Fermi: se a vida é minimamente mais comum do que apenas nós, isso deveria ter um efeito exponencial no Universo: bilhões de planetas deveriam ter alguma forma de vida só aqui na nossa galáxia, quiçá no universo todo. Aí a falta de qualquer sinal de inteligência vinda de fora começa a parecer muito estranha mesmo: não tinha nada de muito especial com a idade do Universo quando a vida começou aqui, ela era possível muitos bilhões de anos antes. Se com todo esse tempo com vida em outros planetas nenhuma civilização conseguiu deixar marcas visíveis por nós, ou estamos procurando a coisa errada, ou realmente tem alguma limitação séria até mesmo no conceito de vida em outros lugares.

Eu tenho certeza que não existe vida fora da Terra? Claro que não. É mais fácil estar errado do que certo em qualquer análise do tipo. Mas ter uma visão de realidade mais realista de acordo com as provas não é de forma alguma se achar especial demais por estar vivo. As pessoas confundem muito isso. Não precisa ter mais nada envolvido nessa conversa além de “baseado nas evidências que temos, acredito que não”. Todo o resto inventamos para saciar nossos egos.

Para dizer que eu estou me contradizendo, para dizer que você foi abduzido e pode confirmar que existem, ou mesmo para dizer que é um átomo de hidrogênio e ficou ofendido: somir@desfavor.com

SALLY

Você acredita na existência de vida alienígena?

Antes de mais nada, quero deixar bem claro que certeza ninguém tem. Quem tem, deveria repensar, pois não há qualquer subsídio para bater o martelo em definitivo nem para o “sim”, nem para o “não”. O que existe é um juízo de probabilidade dentro de uma gama limitada de informações que conhecemos.

Então, com base nas informações que a ciência me dá, mas também com base no que eu mesma já vi, vivi e experimentei e com base na minha intuição (se for levar em conta só a ciência boto o teste de QI na primeira página do desfavor novamente), eu tendo a acreditar que a probabilidade de existir vida alienígena é maior do que a de não existir.

O que não quer dizer que eu acredite em todos os relatos de abduções, canalizações, avistamentos e demais relatos de contato humano com ETs. Provavelmente a maior parte não é verdade, mas isso não apaga o fato de que o universo é grande demais para que o ser humano seja o único floquinho de neve especial vivo nele. Me parece uma visão muito limitada.

Percebam que a frase não fala de aliens circulando entre nós, sobrevoando a Casa Branca. Também não cita que eles sejam mentes pensantes e detentores de tecnologia de ponta. Estamos falando apenas de EXISITIREM e serem SERES VIVOS. A exigência é mínima. Um ameba em Marte que apenas faz babar por toda sua existência já resolve o problema. Uma moita em Vênus já vira o jogo a meu favor. EXISTÊNCIA + VIDA.

Por sinal, nem era para que eu esteja cacetando a ciência, é que foi um ano de desconstrução do racional, mas a ciência, coitada, é minha aliada hoje. Qualquer pesquisador sério vai concordar que existem boas chances de que haja VIDA alienígena, ou seja, fora do planeta Terra. O que eles não concordam é que essa vida possa chegar aqui (até então, eles entendem que a distância é muito grande para ser de alguma forma percorrida) ou que essa vida seja inteligente o suficiente para equacionar um contato.

O ser humanininho é muito arrogante, não? Adoro ver como pessoas inteligentes são enclausuradas por suas mentes brilhantes e descartam algo sem o menor subsídio, informação e conhecimento para isso. “Ain, mas se existem, porque nunca vimos?”. Meu anjo, talvez eles não tenham o menor interesse em vir nesta titica de planeta. Talvez não possam. Talvez venham o tempo todo e nós é que não conseguimos vê-los, porque somos toscos e limitados. Talvez seja uma outra resposta que nosso pequeno cérebro limitado não consegue nem sequer cogitar, compreender e mensurar.

Quando falamos de aliens, do desconhecido, nenhum argumento é válido se usar coisas conhecidas como premissa: “se estivessem aqui a gente veria”. Você não sabe. Deixa de ser tosco. Você não vê a radiação e, pode ter certeza, ela está ali. Que conversa é essa, da Idade Média, que tem que ver para atestar veracidade? Só porque não encontraram vida como nós a conhecemos, não quer dizer que 1) não exista vida como a nossa ; 2) que não exista outra forma de vida e 3) que um humano tosco consiga percebê-la ou identifica-la.

“Ain, mais não tem água em outros planetas, como pode ter vida?”. Sério, esse tipo de premissa me desperta ímpetos agressivos. Primeiro, quem disse que você conhece todos os planetas da galáxia? Por alto, estima-se que, só na nossa galáxia, a Via Láctea, existam 100 bilhões de planetas, você tá ciente do que cada um tem ou deixa de ter? E de todas as outras galáxias?

Após o telescópio Hubble, sabemos que existem, pelo menos, dois trilhões de galáxias no universo, cada uma delas com bilhões de planetas. Faz as contas aí e me diz a favor de quem está a probabilidade. Com base em que se afirma que nesta imensidão, nada, lugar algum, planeta nenhum tem uma gota de água?

E outra: quem disse que todas as formas de vida precisam de água? Na Terra precisam, mas sua cabeça é tão fechadinha que você não consegue conceber que algo diferente da regra que você conhece possa existir? Não é muita pretensão achar que a única forma de vida viável é com os requisitos que conhecemos aqui na Terra? O ser humano é tão idiotão que por séculos se acreditou que só existiam cisnes brancos, pelo simples fato de que nunca haviam visto um cisne negro. Um belo dia, encontraram uma porcaria de um cisne negro e certeza que vigorou por séculos veio abaixo. Percebem? Nem no nosso fuckin´ planeta a gente consegue saber direito o que existe e o que não existe, quem dirá em outras galáxias.

“Ain, mas são distâncias muito grandes, impossível esse deslocamento, não tem combustível que permita”. Quem disse que para se deslocar é preciso viajar, percorrer distâncias, da forma como nós conhecemos? Quem disse que a noção de tempo deles é linear, que a distância se percorre com deslocamento físico e que eles precisam de algum combustível? Parem de pensar feito pobre, feito humaninho medíocre. Vocês acham o que? Que ET vai pro ponto de ônibus interestelar e fica dando sinal para um busão espacial parar e eles subirem?

Isso excluindo que existam diferentes dimensões, apenas para evitar a fadiga, porque é uma ideia que, apesar de aceita pela ciência, não é aceita pelas pessoas. A ciência admite a existência de, pelo menos, uma quarta dimensão, sem tempo linear, que opera em uma “frequência” diferente da nossa, portanto, é imperceptível para a gente. Torça o nariz se quiser, é um fato. A frequência vibracional é diferente e pode ser imperceptível para nós.

Então, pode ser não apenas que exista vida originária de outros planetas, como que ela esteja no seu sofá e você só não consiga percebê-la. Sendo muito simplista e grosseira: se você muda a sua tv de canal da Globo para o SBT, deixa de conseguir perceber o que a Globo está transmitindo. A Globo deixou de existir porque você não está mais sintonizando essa frequência? Não, né?

A NASA encontrou material orgânico em Marte. Além disso, já se estudam diversas estruturas como sendo possíveis formas de vida alienígena: para citar uma só, dou como exemplo a “Partícula do Dragão”, descoberta por uma equipe de pesquisadores da Universidade de Sheffield e do Centro de Astrobiologia da Universidade de Buckingham, no Reino Unido. Tudo que se sabe e se viu nas últimas décadas converge para a ideia de que o universo é extenso e variado demais para que humaninho tosco ache que é a única forma de vida viável.

Aceitem: não somos tão importantes nem tão bem feitos nem tão fodas. Somos apenas um macaco pelado destruindo a rocha onde vive no meio de um universo tão extenso que nem conseguimos mensurar, explorar ou conhecer.

Os deixo com as palavras de Michio Kaku, um dos físicos criadores da Teoria das Cordas (não é pouca merda não), que não apenas concorda comigo, mas ainda é mais otimista do que eu, pois além de afirmar a existência, ainda tem fé em um contato: “Numa escala de 1 (pouco provável) a 10 (muito provável), eu diria que nossa chance de fazer contato com ETs em meados deste século é 8”.

Para dizer que gosta de temas nerd nesta coluna, para dizer que se existirem você está aberto a abduções ou ainda para ser cético se comparando a um santo católico e dizer que você precisa ver para crer: sally@desfavor.com

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Comments (16)

  • to com a Sally.
    Não me espanta a vida ter sido criada na Terra, (tudo na Terra possui vida, animal, mineral ou vegetal)
    O que me espanta é essa vida animal ser capaz de raciocinar e criar laços afetuosos.
    Tudo que existe em TODO o Universo está vivo, o Universo é um ser inimaginável em tamanho, vivo. Há vários tipos de vidas, cada qual tem suas necessidades básicas para sobreviver.
    Na Terra, o animal pensante no qual nos transformamos é apenas um nada na imensidão que nos rodeia, e esse animal pensante é apenas uma fase acidental intermediária da vida que conhecemos hoje, com certeza um dia qualquer no futuro seremos totalmente diferentes do que conhecemos hoje.
    O homem não é o fim da criação, ele está em uma lentíssima evolução não perceptível no curto prazo de poucas gerações.
    Em todo o Universo as mesmas vidas estão em evolução. Nunca nos encontraremos.
    Não to dando conta nem das vidas na minha casa, que dirá das vidas do Universo?
    À essa IMENSIDÃO deram o nome simplório de DEUS.
    Io

  • Nota: eu só acho engraçado essa fixação toda que o ser humano tem por essa narrativa – um tanto estereotipada, é claro – de que existem outros seres lá fora mais ou menos parecidos conosco, e mais ou menos evoluídos que nós. O ser humano sonha até hoje em um dia encontrar algum et, marciano ou whatever, que tenha alguma característica diferente no corpo, ou mesmo uma sociedade (ou antes, organização social) mais evoluída tecnologicamente que nós, etc etc.

    Quer dizer, toma-se sempre como base o modelo eurocentrico da coisa, o ser humano no centro do universo. Isso sim, de fato, é pensar de maneira muito limitada e arrogante.

    • Ge, eu acho isso muito triste e limitador. Tomara que não sejamos nem capazes de ver ou perceber estes seres a olho nu, com nossa percepção pura, assim quem sabe o ser humanos se convence que sua visão, audição e percepção no geral é tosca, rude e precária, presa na terceira dimensão.

  • Vi num programa uma vez que existem bactérias em outros planetas que resistem a altas temperaturas, mesmo que não seja uma vida inteligente, ainda é uma forma de vida. Concordo com a sally, pode ser que a vida alienígena não seja como nós imaginamos, o que ninguém sabe ao certo. Aliás, como já comentaram aqui, quem garante que não seremos extintos daqui a alguns milhões de anos? Os dinossauros estão aí de prova. Talvez nem estejamos vivos pra fazer um contato, visto que a qualquer momento pode acontecer uma merda.

    • Alienígenas podem sequer ser visíveis para nós. Você escuta um apito de cachorro quando alguém assopra? Não. Isso quer dizer que o apito não tocou? Não. Isso quer dizer que ele tocou em uma frequência que seu corpo não tem a capacidade de identificar. Mas o ser humaninho… ele acha que é capaz de ver e escutar tudo que existe…

  • “Então, pode ser não apenas que exista vida originária de outros planetas, como que ela esteja no seu sofá e você só não consiga percebê-la.”

    Você me fez olhar extremamente desconfiada para a parte vazia do meu sofá….

    E eu acho que podem até existir, e se forem menos evoluídos, não conseguem chegar aqui. E se forem mais evoluídos, que diabos iriam vir fazer aqui? Jogar amendoins para a gente? Melhor irem visitar Saturno…

  • Especulando, mesmo que tenha existido alguma espécie em algum lugar do Universo, que tenha conseguido se desenvolver ao ponto de construir tecnologia para procurar vidas em outros planetas, ainda assim essa civilização pode ter entrado em colapso e já estar extinta há milhões de anos. Nós nunca saberemos.

    Nós existimos, tecnológicamente falando, há um tempo irrelevante no Universo. Há pouquissimos anos atrás começamos a procurar vida lá fora e, mesmo que exista, ainda assim podemos nunca encontrar, tendo em vista o tamanho do Universo, a impossibilidade tecnológica ou mesmo a impossibilidade temporal para que isso ocorra.

    • Sim, pode ser. Mas isso não quer dizer que não exista vida, ela pode existir e ser incapaz de se comunicar conosco. Nós somos incapazes de estabelecer uma comunicação distante e, ainda assim estamos vivos.

  • No universo infinito, não teria o mínimo sentido só ter vida aqui. Claro que existe vida em outros planetas, mas é impossível fazer contato. Mesmo se fosse possível, eu entendo perfeitamente os ETs não quererem falar com a gente.

  • Recomendo fortemente um livro chamado “O mundo Assombrado Pelos Demônios”, do Carl Sagan.
    Existem audiobooks (que considero uma droga mais forte que podcasts). Basta perguntar pro gugol.

  • O que me mais me surpreendeu foi a posição do Somir na verdade. Se nem isso eu consigo prever, quem dirá uma possível vida alienígena.

    Estou com a Sally, pelos números a chance de existir alguma vida é mais provável. Apesar das possibilidades serem enormes, infelizmente não dá pra sair procurando o que não se sabe o que.

    • Quem não sabe o que procura, não o reconhecerá se o encontrar. Não tem qualquer condição do ser humano achar qualquer coisa se procurar no escuro.

      Mas daí a dizer que, porque eu não sei encontrar, não existe, é forte demais para mim.

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