Feminicídios.

Nos quatro primeiros dias de 2019, ao menos quatro feminicídios foram registrados no Rio, uma média de um caso a cada 24 horas. De acordo com dados do Instituto de Segurança Pública do Rio, em todo o mês de janeiro do ano passado, foram cometidos sete crimes desse tipo no estado. Já de janeiro a novembro de 2018, foram registrados 62 casos. LINK


A imprensa parece inundada com notícias sobre feminicídios no começo de 2019. Desfavor pelo motivo óbvio da violência, mas também pelo vazio da discussão gerada. Desfavor da semana.

SALLY

Mulheres são fisicamente mais fracas do que homens. Força física, em sociedades involuídas, costuma ser o determinante para definir quem subjuga quem. Por consequência, mulheres são oprimidas em larga escala, desde sempre, nesse tipo de sociedade. Isso acontece por um conjunto de fatores como mentalidade das pessoas, sistema legal falho e desamparo por parte do Estado em criar mecanismos para coibir ou reprimir esta conduta. Quando há uma parte mais fraca e isso não é de alguma forma nivelado, o ser humano mais forte fatalmente oprime o ser humano mais fraco.

Está tudo dito no parágrafo acima. Daqui pra baixo, estou apenas enchendo o número de páginas que esta coluna pede. Sim, é simples assim.

No Brasil a imprensa está com uma mania muito feia que é espremer desgraça. Desgraça rende visualizações, rende cliques, rende audiência. Acontece uma desgraça? A imprensa vai e fica falando exaustivamente sobre isso o quanto pode. O “feminicídio” é uma delas. Morre uma mulher nas mãos de seu marido e a imprensa apenas grita “Morre uma mulher nas mãos dos seu marido!”, para disseminar o mal-estar, a desesperança e o medo.

“Feminicídio”. Termo curioso vindo da boca de pessoas que em outros momentos pregam que somos iguais, que somos todos humanos e que gênero não importa. Quando convém à bandeira que levantam, parece que importa sim. Ok, beleza, já entendemos que no Brasil homem agride e mata sua mulher. O que vamos fazer a respeito? O que a imprensa e aqueles que lhes dão audiência estão fazendo é olhar para um atropelado no meio da rua, passar horas gritando e divulgando que tem um atropelado no meio da rua, sem prestar-lhe socorro.

Não sei se vocês perceberam, mas adianta de porríssima nenhuma ficar alardeado cada crime, números ou detalhes sórdidos do caso. Talvez aquele agressor em particular seja prejudicado, pelo clamor público que o caso causa, mas para aquele, há outros cem batendo na mulher no exato mesmo minuto, que sairão impunes. Então, gritar caso a caso não é uma solução para resolver o problema. Aliás, gritar e fazer escândalo dificilmente serão solução eficiente para qualquer problema, vejam a esquerda e o PT, que fim levaram usando essa tática.

Noticiar é importante sim, porém noticiar de forma realmente combativa, colocando em pauta propostas, soluções, medidas para ajudar a reverter o problema. Apenas divulgar uma agressão é explorar o sofrimento de outra pessoa em troca de audiência.

Vejo alguns meios de comunicação posando de “bravos” porque tiveram “coragem” de divulgar algo. Essa mentalidade da década de 80 me causa um pouco de pena. Hoje em dia todo mundo divulga tudo, não há uma sombra de possibilidade de algo ser censurado, não há entrave, não há dificuldade, a informação cai no seu colo com um clique. Grandes merda que você divulga tudo. Eu também. E de graça, do sofá da minha casa.

Divulgar algo não é mais “heroico” como era na década de 80, onde era preciso investigar de forma física, correr atrás, ir ao local, buscar testemunhas, fazer um verdadeiro trabalho de detetive. Hoje se copia e corta o depoimento que a vítima deu em sua rede social, hoje se copia e corta a notícia do coleguinha em outro site. Jornalistas são, salvo honrosas exceções, símios treinados para copiar e colar ou papagaios que só repetem o que já é de conhecimento público. E é justamente por isso que gente grande está quebrando, como a Editora Abril. Para copiar e colar, eu mesma faço, não pago quase vinte reais para uma revista.

Mera divulgação é algo que qualquer tia do cafezinho de qualquer empresa de produção de conteúdo pode fazer. Isso não basta mais. Jornalismo decente deve ir além do que todo mundo está fazendo. Poderia, por exemplo, fazer isso que nós estamos fazendo e apontar o ridículo de ficar apenas gritando números de homicídios de mulheres. Que tal, além de gritar o problema, trazer novos pontos de vista e oferece um debate pensando em possíveis soluções?

O cerne da questão da agressão é: sem um Judiciário eficiente, nada funciona em um país. Atualmente sabemos que o Judiciário brasileiro é altamente falho (por incompetência mesmo) e também corrompido. Agressores covardes de mulheres saem impunes, enquanto que inocentes que são vítimas de mentiras de mulheres loucas e carentes são punidos de forma rigorosa. Não há caminho possível saindo deste ponto de partida. Quando não se pode confiar nas decisões e na rapidez do Judiciário, ou voltamos para a autotutela e cada um que pegue em uma arma e se defenda, ou estamos sujeitos a toda sorte de injustiça.

E aí o calo aperta. Porque este mesmo Judiciário, justamente por ser corrompido, atende ao interesse de muitos, como políticos, empresários e principalmente a imprensa. A Globo contrata todo mundo como Pessoa Jurídica para não pagar direitos trabalhistas, por exemplo, e nunca faliu por causa disso. É uma burla à lei e ela sai impune. Na hora de se safar, o Judiciário corrompido é ótimo, portanto, na hora em que o Judiciário corrompido erra, melhor não apontar dedos, pois a imprensa está até a raiz dos cabelos comprometida com esses erros.

Se você não pode apontar onde deve ser melhorado para operar uma mudança definitiva… faz o que? Fica gritando, tal qual uma idosa de cidade pequena na janela quando vê algo que acha errado. Isso é no que se transformou a imprensa brasileira, mais uma peça na engrenagem de um sistema corrupto. Apontam e gritam, como histéricos que querem atenção, sem nenhuma postura voltada para efetivamente solucionar o problema.

E isso reflete na sociedade toda. Estão criando uma sociedade igualmente histérica, inundada diariamente por notícias ruins, cimentando uma crença no medo, na falta, na necessidade de se defender o tempo todo. Essa conta vai chegar, muito além de um surto de depressão e síndrome do pânico. Efeito Pigmaleão, sua mente cria realidade. Realiza que bosta de realidade a coletividade está co-criando, graças a essa forma bizarra que a imprensa encontrou de ser combativa sem realmente combater o problema e suas causas: pessoas reativas, estressadas, prontas para briga, sempre com medo, sempre esperando pelo pior.

Se chiar adiantasse, sal de frutas não morria afogado. Estamos sabendo que no Brasil tem violência contra a mulher e contra os seres humanos no geral o tempo todo. Vamos falar um pouco sobre quem tem responsabilidade por este quadro só piorar e o que pode ser feito a respeito?

Para dizer que a solução é o aeroporto, para dizer que quem cria homem agressor são as mulheres ou ainda para dizer que a culpa de tudo é do Bolsonaro: sally@desfavor.com

SOMIR

Palavras são poderosas. Mesmo nos nossos diversos textos sobre liberdade de expressão, tomamos cuidado de nunca fazer pouco delas. Quando o termo feminicídio foi forçado no nosso vocabulário algum tempo atrás, discutimos a função prática dele na redução da violência contra a mulher, parecia apenas uma forma de “sensacionalizar” o tema e gerar uma ilusão de combate sem efetivamente lidar com o problema.

E como podemos ver agora, funcionou. O termo virou praxe no discurso jornalístico, tornando as notícias sobre assassinatos de mulheres uma categoria separada das dos homens, com enorme potencial sensacionalista. Enquanto tudo era homicídio, o número gigantesco de homens mortos de forma violenta todos os dias contava nas estatísticas. E, de uma certa forma, o brasileiro já estava acostumado com isso. Sabíamos que a violência matava sem parar por aqui, era mais um fato da vida.

O poder da palavra feminicídio é pinçar um número consideravelmente menor de mulheres assassinadas no Brasil e fazer dele um número chocante de novo. Tudo isso sem tomar nenhuma atitude real para combater a violência. Em tese, o caminho para fazer o brasileiro se importar de novo com as pessoas que morrem de forma violenta no país seria diminuir o número delas até que não parecessem só mais uma estatística inerente ao funcionamento do país. Eventualmente os números ficam tão grandes que nem a notícia que o Brasil foi campeão mundial de assassinatos chama a atenção.

Sem os homens na equação, o número de assassinatos no Brasil cai o suficiente para começarmos a nos importar novamente. É um misto de conseguir transformar a vítima em ser humano de novo e uma esperança que números menores sejam mais fáceis de lidar. Se fosse apenas um truque psicológico para lidar com uma situação de forma mais simples, pode não ser muito ético e até meio insensível com os homens que morrem feito moscas pela violência urbana brasileira, mas vá lá, é a premissa de um plano. Mas… essa é a extensão das ações tomadas no país. Chama de feminicídio, diz que alguém tem que fazer alguma coisa, e pronto.

Do jeito que está, tende a não gerar resultados. Porque a discussão começa a girar ao redor de repressão policial e mais leis para lidar com o tema. Coisas que não lidam com o problema prático. Quem mata uma mulher por motivos passionais não pode se importar menos com as leis ou com a forma como vai ser tratado pela polícia ou mesmo na cadeia. No momento da violência, é um ser humano irracional. Pra começo de conversa, na maioria desses casos eram homens que já eram abusivos com as vítimas, que mesmo sabendo que não é mais aceitável na sociedade atual, batiam e torturavam psicologicamente suas companheiras. A pena pode ser de 3 ou 300 anos que essa pessoa age da mesma forma.

E no outro sentido, em muitos desses casos, as vítimas eram complacentes de alguma forma com a violência sofrida. Em alguns deles, podemos ver mulheres que passaram anos com homens violentos antes de serem assassinadas. Um dos maiores problemas de tentar analisar o lado da vítima aqui é que atualmente considera-se culpar a mulher pela violência sofrida quando se tenta entender os motivos pelos quais ela ficou nesse relacionamento. É uma questão extremamente complexa que jamais caberia só neste texto, mas me parece um misto de insegurança das pessoas sobre serem confrontadas com seus erros: “se disse que eu errei, é porque me quer mal” com um elemento psicológico feminino de valorizar inconscientemente agressividade masculina. É uma Caixa de Pandora que a humanidade não quer abrir ainda.

Evidente que não estou tirando responsabilidade alguma dos homens que cometem essas violências. Mas não é tabu algum falar sobre a mentalidade doentia que acomete muitos homens ao se sentirem compelidos a usar violência para se impor e ao tratarem mulheres como posses materiais ao invés de seres humanos. A tal da “masculinidade tóxica” que os lacradores adoram criticar, mesmo que exagerem e considerem quase tudo o que seja masculino como tóxico… seja como for, já estamos liberados para analisar o porquê de tantos homens agirem assim com as mulheres. Mas mesmo isso ainda não faz muito parte da discussão sobre o tema. Parecemos presos ainda na ideia de que esse problema é da polícia. Podemos continuar fazendo as mesmas coisas de sempre, e é só gritar mais alto que os “alienígenas” que fazem mal para as mulheres vão desaparecer.

Complicado tratar problemas humanos desumanizando as pessoas. É proibido falar dos erros que muitas mulheres cometem quando permitem e ou toleram um homem desses perto de si e seus filhos e quando efetivamente escolhem e recompensam homens violentos, e dá uma preguiça de falar sobre a programação bizarra que fazemos com os homens desde a infância para resolver os problemas na base de agressão e se medirem pelas suas posses (incluindo mulheres). Mais fácil criar um termo saboroso para manchetes e ficar esperando os políticos criarem uma lei que resolva tudo.

E enquanto a sociedade tolerar essa mentalidade, continuaremos sendo violentados por ela.

Para dizer que não sabe se me chama de machista ou feminista, para dizer que a solução é sexo virtual, ou mesmo para dizer que em sociedade de troglodita as coisas são assim mesmo: somir@desfavor.com

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Comments (22)

  • Fã do Desfavor

    ”O termo virou praxe no discurso jornalístico, tornando as notícias sobre assassinatos de mulheres uma categoria separada das dos homens, com enorme potencial sensacionalista. Enquanto tudo era homicídio, o número gigantesco de homens mortos de forma violenta todos os dias contava nas estatísticas. E, de uma certa forma, o brasileiro já estava acostumado com isso. Sabíamos que a violência matava sem parar por aqui, era mais um fato da vida.”

    Muitos dos casos de violência entre homens acontece entre ”iguais”, briga de bandidos. Retire essa fração, e vamos ter uma redução na porcentagem de homens mortos. No mais, acho válido que o crime doméstico tenha a sua própria categoria. Só não sei o quão válido é o termo ”feminicídio”, porque nunca vi um homem matar uma mulher apenas por ser mulher. Homocídio ou ”LBGTcídio” é mais válido do que ”feminicídio”. homem psicopata e sociopata e especialmente vicioso em relação à mulher, a prefere escrava dele do que morta.

    • Trabalhei muito tempo com direito criminal. É assustadora a quantidade de mulheres que jogam água fervendo no ouvido de marido dormindo, que envenenam e que enfiam alicate na barriga dos infelizes. Penso que se o abuso de confiança (usar da confiança de morar junto para atacar alguém) torna o crime mais grave, deveria tornar para ambos. Conjuge que agride conjuge tem que ser punido com rigor.

  • Acho que não deviam dar ibope pra tragédia. Divulga 1, logo aparecem 10 iguais. Na hora de fazer campanha pra mulher poder andar armada eles não querem. É verdade que é proibido andar com spray de pimenta? O que pode me acontecer? Por que vende no Mercado Livre então? E arma de choque pode? E spray de gengibre é bom?

    • É proibido sim. Vende porque é difícil controlar, as pessoas denunciam, o vendedor tira e no dia seguinte volta novamente. Mas não recomendo comprar por lá, podem ser toscos e mal feitos. Uma pessoa conhecida foi usar, não dez efeito e o agressor ficou ainda nais irritado.

      Armas não são a resposta e sim escolher com quem você se relaciona, pulando fora de qq mínimo abuso, ainda que seja verbal

      • Um colega falou que mulher deveria andar com gás mostarda. Eu olhei para ele e falei ‘amigo, não é proibido no Brasil, é proibido por Genebra, o que você bebe?’ Ou será que ele acha que gás mostarda é parente de gás catchup e gás pimenta? Fica a reflexão.

        E que eu lembre gás pimenta só polícia podia usar (nem sei se pode mais), mas o peão insistia que compra em qualquer lugar. Dado que ele acha que gás mostarda (e provavelmente napalm) são todos a mesma coisa….

        • Sim, só a polícia pode usar. O problema de comprar nesses Mercado Livre da vida é que Zé Cu fabrica o troço em casa, de forma tosca e nem sempre funciona. Então, se você ataca seu agressor de forma ineficiente, o resultado pode ser muito, muito ruim.

    • Alguns sprays de gengibre são bons, sim. Tem um vídeo no YouTube, do canal sobrevivencialismo, que testa uns modelos específicos.

      • É complicado, muito complicado. Não recomendo, pois é o tipo de coisa que você só descobre se dá certo no momento do ataque…

    • Fã do Desfavor

      ”Na hora de fazer campanha pra mulher poder andar armada eles não querem. ”

      A maioria dos crimes acontece dentro de casa. Seria melhor se a mulher aprendesse a detectar falsos príncipes encantados antes de cair em suas arapucas do que de lhes dar o ”direito” de usar armas, especialmente quando passam a dormir com o bandido…

      • Mulher não é débil mental. Mulher SABE quando um sujeito se torna agressivo. Dificilmente alguém chega do nada e fratura seu maxilar. A coisa começa com um grito, depois com um empurrão e vai progredindo. A mulher TOLERA isso e permite a progressão. É o mesmo que uma pessoa que decide entrar em um beco escuro, reduto de criminalidade à noite e morar ali: é questão de tempo até sofrer algum dano por causa desta escolha ruim.

        Não dá para tutelar e salvar as pessoas de suas escolhas ruins, Estado não é papai, Judiciário não é Papai. É preciso ter um mínimo de noção de que se um sujeito quebrou a sua cara diversas vezes, não é para voltar para ele dizendo “mas eu amo ele”. Não dá para salvar pessoas que não se amam, elas sempre tomarão escolhas erradas que refletirão em danos aos seu físico e psicológico.

        Agressor tem que ser punido sim, SEMPRE. O que quero dizer é que não dá para evitar agressões, agir de forma preventiva, quando a própria mulher não colabora e não se preserva minimamente. Escolher ficar ao lado de uma pessoa agressiva termina mal, o Estado não tem como impedir isso.

        • Fã do Desfavor

          Mas a psicologia nos ensina que é possível detectar, com variável sucesso, esses excrementos antes que caiamos em suas armadilhas, seja em relação a homens ou à mulheres

          • Não precisa de psicologia. Qualquer ser humano sabe identificar quando lhe é dirigido um comportamento agressivo. A pessoa pode fechar os olhos e tolerar (e sim, isto é uma escolha) ou pular fora na hora. Se a pessoa escolhe tolerar, fica com o elemento agressivo, casa com ele, faz filhos, se coloca na mão dele financeiramente… não tem como pretender que o Estado impeça, de forma preventiva, que ela seja agredida. NÃO EXISTE ISSO, só no reino da imaginação. O Estado não pode colocar um policial dentro da casa da Dona Maria para zelar por ela 24h por dia porque ela fez uma escolha errada de vida!

            O que o Estado pode fazer é coibir a conduta, depois que ela acontece. Mas depois, sem trocadilhos, muitas vezes Inês é morta.

  • A imprensa me incomoda há um tempo porque até as supostamente de melhor qualidade estão se tornando sensacionalistas. A ponto de chegar numa criança com fome e perguntar como ela se sente quando chega em casa e não tem comida. Isso não acrescenta em nada, não ajuda e deixa 0 conhecimento/utilidade para a sociedade.

    Em relação ao feminicídio, eu como feminista, não achei ruim. Quando temos grupos sociais que estão sendo mortos por questões específicas da sua existência e não por violência genérica eles precisam sim ser protegidos pelo estado. Só criar a lei não adianta, muita coisa ainda teria que ser feita para reverter esse quadro de fato.

    Sobre dois pesos e duas medidas, uma coisa que sempre me incomoda no texto de vocês é reclamar que isso acontece. Para mim esses dois pesos devem existir sim porque, afinal, as pessoas são tratadas diferentes de acordo com cor de pele, gênero, situação financeira, não somos tratados todos como humanos somente. Não é vitimismo, é olhar para a sociedade e enxergar o que acontece.

    Esses lacradores me irritam porque mais atrapalham do que ajudam, assim como vocês já falaram foram eles que ajudaram a eleger quem está aí no poder. Mas usar extremismos para deslegitimar um movimento importante e necessário não me parece ser o caminho certo.

    • Você acha que é uma questão de desigualdade uma mulher que escolhe um parceiro que enfia a porrada nela?

      Quando é um estranho na rua, concordo totalmente. Há vulneravilidade. Mas quando a mulher decide se manter ao lado de um homem que a agride, não é mais físico o problema. É ela fazendo uma escolha. E nesse caso, não acho que mereça tratamento especial.

      • Mas, Sally, o feminicídio ocorre geralmente quando a mulher decide sair desse relacionamento abusivo! E isso não depende do nível de violência a que ela está submetida (não são só os espancadores que matam).

        Concordo com a Meg. E os fatores por trás dessa “escolha” que vc acredita que as mulheres fazem tem muito da socialização dessas mulheres e homens. Como elas podem escolher, se as vezes não têm conhecimento que há uma escolha? Se não se sentem empoderadas nem como ser humano?

        • Nanda, uma pessoa não chega quebrando seu maxilar na primeira desavença. Um homem agressivo, abusivo, dá inúmeros sinais disso. A mulher ESCOLHE fica, por carência emocional, geralmente, muito mais do que por dependência financeira. Em algum momento ela decide deixar aquela pessoa entrar na sua vida. Nesse momento, da entrada, há escolha sim, mulher não é debil mental de não saber identificar uma pessoa agressiva, só quer parceiro a qualquer custo.

          O que quero dizer é: se a mulher opta por deixar entrar na sua vida um sujeito agressivo, é impossível que o Estado a proteja, muito menos de forma preventiva. É ilusório pensar o contrário. Seria como se eu entrasse em uma favela carioca repetindo o discurso que “O Estado tem a obrigação de me proteger”. Vou levar uma rajada de tiros, simples assim. Em primeira instância, nós somos responsáveis por nossa segurança e bem-estar. Não dá para se meter em um relacionamento com uma pessoa agressiva e esperar que o Estado te salve. A vida não é conto de fadas, nós somos responsáveis por nossas escolhas.

      • Sobre isso, Sally: vai demorar muito tempo até o brasileiro de elite entender que não precisa (nem deve) proteger as pessoas de si mesmas. A grande maioria dos crimes qualificados como feminicídio são fruto de escolhas erradas de mulheres que preferiram ficar com os “muito malvados” da turma.

        De mais a mais, cadê os velhos e bons “motivo torpe” e “motivo fútil”, adaptáveis a toda e qualquer situação? Precisamos estereotipar as minorias a ponto de colocá-las no mesmo nível de outros “dignos de pena” da sociedade, como pessoas com deficiência e idosos?

        • Pois é, Fabio. Eu fico puta quando tratam mulher como débil mental que não é capaz de perceber, escolher ou pular fora de um homem abusivo. Na boa? Toda mulher tem opção, inclusive a Dona Maria, favelada, cujo marido banca a casa. Em algum momento ela optou por ficar com ele. Ela vivia sem ele antes, ela se colocou nas mãos dele por opção.

          Não que mulher não precise de proteção, agressão é crime, mulher agredida merece amparo, homem agressor merece cadeia. O que não pode é esse discurso de mulher morta pelo marido “valer mais”. Não vale, é escolha. By the way, é enorme o número de mulheres que agridem maridos, os machucam e até os matam e é tratado como crime comum. Se abusar da confiança é vil e merece punição maior, deveria valer para ambos os lados, não?

          • Olha, estão fazendo pior do que desprezar essa escolha. Estão achando que isso é determinado pela sociedade, como se todo mundo fosse uma folha em branco – ou, pior, como se as pessoas fossem condicionáveis, como os cachorrinhos de Pavlov.

            O resultado? Mais e mais medidas “socioeducativas” previstas inclusive na Maria da Penha para fazer o agressor “se arrepender” – e evitar o certo, que é punir o canalha de forma pesadíssima. Não dá, não rola, não é possível compreender isso.

            • Olha, em tese, a Lei Maria da Penha é bem rigorosa, até demais. Permite que um homem seja preso por agressão se sequer falar algo que diminua a autoestima da mulher. O problema é a aplicação desta lei, como eu disse, não tem para onde ir com um Judiciário falho, incompetente e corrompido.

              Mas de uma coisa você pode ter certeza: não há qualquer possibilidade do Estado ajudar essas mulheres se elas não se ajudarem e começarem a pular fora no primeiro evento agressivo. Não existe homem que seja um doce por anos e, depois que a mulher ficou dependente, sustentada e com filhos começa a bater nela. A pessoa dá sinais antes e mulher não é retardada mental, mulher percebe. Tem que ter culhão de bancar ficar sem relacionamento enquanto ainda não tem uma amarra forte com esse sujeito e pular fora. Somos fruto das nossas escolhas, escolher ficar com um cara agressivo por anos e depois querer que um Estado que sabemos ser cagado e incompetente te defenda dentro da sua própria casa é viver no mundo da ilusão.

          • Quanto ao seu “by the way”, o fato é que as mulheres que agridem acabam chamando uma “lei do retorno” bem interessante. Agressoras, via de regra, são o tipo que faz questão de parecer mais e mais “malvadonas” diante da sociedade – e se cercam de gente tão ruim quanto elas.

            No final, dificilmente você não verá esse tipo de mulher com a vida arruinada, justamente porque não construiu nada – só destruiu.

            • Sim, há um orgulho entre mulheres agressoras, porque não são socialmente condenadas.

              Acho que homens ou mulheres com perfil de agressores atraem bosta para sua vida, não tem como pessoas legais ficarem perto de gente assim.

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