Desastre dos desastres.

Não bastassem as pessoas, o mundo ainda tem uma séries de desastres naturais que podem acontecer a qualquer momento. Sally e Somir discutem sobre os tipos mais assustadores. Os impopulares se protegem como puderem.

Tema de hoje: qual o pior desastre natural de todos?

SOMIR

Eu voto no grupo aquático de desastres. Enchentes e tsunamis em geral. Poucas coisas me parecem mais terríveis do que enfrentar quantidades colossais de água em lugares que não foram projetados para isso. Água é uma das substâncias mais abundantes no planeta, inclusive nosso corpo é basicamente feito disso, mas nossos antepassados projetados para viver nela viveram há alguns bilhões de anos atrás.

A água parece inocente quando falamos de uma banheira, mas o líquido tem características devastadoras quando aparece em lugares e volumes fora do nosso controle. Primeiro que água é o solvente universal: praticamente tudo o que existe pode ser diluído nela. Não é à toa que a usamos para limpar as coisas, as moléculas de água entram em basicamente qualquer lugar, por mais sólido que pareça. Água dilui sal, açúcar e montanhas!

Sem contar as propriedades do líquido, que não precisa de muito esforço para se enfiar em qualquer buraco disponível. Água invade quase qualquer ambiente, e ainda expulsa de lá o que estiver. E assim que encontra resistência, torna-se extremamente “sólida” também. Não é à toa que tantas máquinas usam sistemas hidráulicos para transferir força de um ponto ao outro. Outros desastres naturais com certeza são mortais, mas pelo menos não tem esse potencial de estrago gerado pela água.

Numa enchente, podem ter certeza que nada fica no lugar. Não tem parede forte o suficiente para te proteger de algo que não precisa derrubá-la. Num furacão ou num terremoto, a força da estrutura conta. Se você construir bem, sua casa pode te proteger de quase todos os desastres naturais, mas, a não ser que você sele sua casa ao ponto de nem ar poder entrar, a água consegue chegar até você. E como todos precisamos de ar para viver, fica complicado escapar. A única forma de escapar da água é estar acima dela, e por mais que cada vez mais pessoas morem em apartamento, boa parte da estrutura necessária para nossa vida está no nível do chão.

Enchentes pequenas já conseguem inviabilizar um lugar: alguns centímetros de água que sejam já estragam móveis e equipamentos básicos. Não existe agricultura no segundo andar… e considerando novamente as características básicas da substância, não tem como varrer a água para fora de casa. Ou ela abaixa sozinha por causa da gravidade, ou é extremamente difícil dar conta disso. Sem contar tudo o que ela se infiltra no processo. Terremotos pequenos ou nem causam danos consideráveis, ou causam algo que conseguimos arrumar em poucos dias. Mesmo a menor das enchentes demora semanas para permitir o retorno à normalidade, e não sem a necessidade de repor as coisas estragadas.

Mas tudo isso é fichinha quando falamos de tsunamis. Aí você pega todos os problemas das enchentes e adiciona o peso de milhões de toneladas de água varrendo uma cidade. A cena de uma onda gigante chegando numa cidade costeira é assustadora, mas é na passagem da água que as coisas ficam realmente problemáticas. Como já disse, água transfere energia que é uma beleza: a força imensa necessária para causar um tsunami vem inteira para cima do lugar atingido. A água carrega o terremoto ou impacto até o lugar onde estamos. Um terremoto há milhares de quilômetros só assusta se tiver água entre ele e você.

Quem viu as cenas do tsunami do Japão sabe: é completamente inescapável se você estiver no lugar atingido. Não tem parede que resolva. A água chega e atropela tudo o que estiver no caminho. É uma questão de altura mesmo. Se você estiver acima do limite onde a água vai alcançar e num local que não vai ser derrubado pela força dela ou diluído no líquido, não vai morrer na hora. Um dos países mais organizados do mundo, com sistemas de proteção para quase todos os problemas naturais conhecidos… destruído por uma onda. O japonês aprendeu a lidar com terremotos, mas não tinha como lidar com a água.

Morre muita gente em terremotos muito porque os lugares não têm infraestrutura para lidar com eles. A maioria dos sismos é pequena, e mesmo alguns dos maiores podem ser mitigados com arquitetura bem planejada. Morrem milhares de pessoas em lugares pobres com casas mal construídas, mas não em lugares onde há dinheiro e expertise para construir bem. Agora, tsunami? Se foi desastre incalculável no Japão, é prova do poder dos tsunamis estar em outro nível.

Sem contar que com o conhecimento humano atual, dá para evitar morar em lugares suscetíveis aos terremotos. Eles acontecem basicamente só nas bordas das placas tectônicas, não é à toa que quase todos os vulcões ativos estão nesses lugares. Agora, é bem mais complicado evitar morar ou estar numa área onde tsunamis podem acontecer. A maior parte da humanidade vive ao redor de áreas costeiras. Você pode ser obrigado a estar num desses lugares a qualquer momento da sua vida, dada a quantidade de grandes cidades, turismo e comércio que acontecem às margens dos oceanos.

Um mega terremoto pode ser mais destruidor para o planeta do que um mega tsunami, mas ninguém está preocupado com as rochas do planeta Terra se não tiver vida em cima delas. Um tsunami devasta muito mais do que é necessário para sustentar a vida humana e todas as outras do que qualquer terremoto. Tanto que as áreas ao redor de vulcões são historicamente muito férteis para plantas e animais. Um lugar que é varrido pelo mar constantemente não consegue sustentar vida, um lugar que é chacoalhado consegue. Não é sobre os megatons de potência de um desastre, é sobre o potencial de destruição de vida que ele tem.

Para dizer que o pior de todos é o ser humano, para dizer que seu medo é ser pobre porque pobre morre muito mais fácil nesses desastres, ou mesmo para dizer que um meteoro resolve o meu texto e o da Sally numa pancada só: somir@desfavor.com

SALLY

Qual o pior dos desastres naturais?

Todos são devastadores, mas acredito que o pior seja o terremoto. Quando a terra sacode e abre, meus amigos, o estrago é assustador.

Qualquer outro desastre que “varra” uma cidade, como tsunami ou furacão vai causar enormes estragos, porém algo pode ficar de pé. Quando falamos de um grande terremoto, não fica nada de pé e ainda destrói tudo que está abaixo da terra, que em muitos casos é a rede elétrica (ou seja, além de todo o desastre se fica no escuro), a tubulação de gás (ou seja, tome incêndio por cima do que já caiu) e a de água (ou seja, sem condições de apagar os incêndios). Mexe com toda a estrutura criada pelo ser humano para uma cidade funcional.

Existem diferentes tipos de precaução para evitar danos de água, raios, neve e outros fenômenos naturais, mas, me diga, como você evita que um prédio caia quando o chão se abre debaixo dele? Em caso de um terremoto severo, com fendas no chão, não há construção humana que possa ficar de pé. Quando o mundo era composto basicamente por casinhas de madeira, o estrago era menor, mas hoje, com edifícios de mais de 100 andares, o que acontece não é bonito.

O terremoto mexe com a estrutura do planeta. Placas tectônicas batendo afetam tudo, inclusive os mares. Um terremoto pode dar início a uma tsunami, e de fato, se o país estiver em uma região costeira, um terremoto muito forte fatalmente vem com uma tsunami de brinde… já o contrário eu nunca vi. É um combo mortal: primeiro derruba tudo, depois vem uma onda e mistura bem os destroços.

O maior terremoto já registrado no planeta ocorreu no Chile, e foi de magnitude 9,5 na escala Richter. Até então nem se sabia se um terremoto poderia passar de magnitude 9. Descobrimos que sim, que pode, e quem tem alguns “prometidos” (como o The Big One, em San Andreas, nos EUA) que provavelmente serão maiores do que esse.

Depois disso, cientistas começaram a estudar a repercussão de terremotos com magnitude acima de 9 e a conclusão foi assustadora: um terremoto que chegue a 12 na escala Richter pode simplesmente partir o planeta ao meio. Sei que tsunamis são mortais, mas porra, partir o planeta ao meio é outro nível.

Mesmo terremotos “menores”, abaixo de 12 escala Richter, podem causar estragos coletivos. Podem mover cidades de lugar e, dependendo da localização e intensidade, podem mudar a rota do planeta. Vou repetir: terremotos nem tão grandes podem mudar a fuckin’ rota do planeta.

E não é apenas pelo seu poder destrutivo. Uma tsunami passa e varre todo mundo, quem estiver no caminho morre afogado na hora. Não deve ser agradável, é claro, mas já pensou ficar soterrado por dias em escombros, no escuro, e morrer lentamente de sede, de fome ou de ferimentos? Na boa, prefiro que seja instantâneo.

Mesmo em matéria de medidas preventivas, a tsunami é mais camarada: o mar recua de forma gritante, a própria mãe natureza te dá um spoiler de que algo vai acontecer. Os bichos sobrem as montanhas. Se você estiver atento e tiver a possibilidade de correr para um local alto, pode ser que tenha uma chance. Terremoto não, muitas vezes nem quem está de olho no sismógrafo consegue dar o alerta com tempo suficiente para evacuar as pessoas de toda a área afetada.

Como já disse, geralmente a tsunami é consequência de terremotos, por isso, o estrago que ela provoca é maior: ela já encontra tudo destruído quando passa. Estima-se que se não fosse pelo terremoto que a antecede, se fosse a tsunami pura, não faria muito estrago, a menos que fosse de proporções nunca antes vistas no planeta.

Recentemente teve uma ocorrência rara na Indonésia: uma tsunami sem terremoto, graças a um pedaço de um vulcão que caiu no mar e criou um ondão. Foi ruim, morreu gente, salvo engano, 400 pessoas, mas nada se comparado a terremotos.

Os números falam por si. Se compararmos os mortos de uma tsunami pura com os mortos de um terremoto puro, a diferença é gritante Um terremoto 8 na escala Richter matou mais de 800 mil pessoas na China. Purinho, sem tsunami. Causou danos severos em até 800km do epicentro. Não só abriu fendas no chão, provocou elevações, como também promoveu liquefação da terra, ou seja, o chão derreteu, literalmente. Você consegue imaginar isso? O chão virar líquido debaixo dos seus pés e tudo afundar?

Graças à estupidez humana, os terremotos podem matar mesmo quando não tem potência suficiente para isso. O humaninho imbecilóide constrói usina nuclear em áreas de alta incidência de terremotos, conhecida como Círculo de Fogo do Pacífico. Não dá para blindar uma construção 100% contra chão se abrindo, contra chão ficando líquido. Contra água, dá para chegar bem perto, mas contra o chão se desfazendo, não imagino como.

Então, mesmo um terremotinho mais ou menos pode jogar radiação para todo o planeta, acabando com a raça humana, se acontecer em um lugar vulnerável. Prefiro água, mesmo que seja muita, do que o chão se desfazendo debaixo dos meus pés, ou debaixo de uma usina nuclear. Penso que nossas chances são maiores se for só água, por maior que seja a onda. Ondão pode dar merda? Pode, pode muito. Mas chão se abrindo VAI dar merda, com certeza absoluta.

Se você imaginar a escala que deveria ter uma tsunami para varrer o planeta de ponta a ponta e colocar essa mesma escala em um terremoto, ele partiria o planeta ao meio. Partir ao meio > alagar. Por mais que todo mundo morra no final das contas (no caso da água eu não acredito, o humano é uma praga que sempre sobrevive), o efeito/estrago do terremoto é muito mais grave.

Se me fosse pedido para escolher entre ondão e puta terremoto, eu escolheria o ondão, até porque, fatalmente depois do terremoto viria o ondão de qualquer forma.

Para dizer que começamos a semana te assustando, para dizer que quer mais é o terremoto para acabar com esta desgraça de uma vez ou ainda para dizer que pior do que tsunami são as barragens brasileiras: sally@desfavor.com

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