Vocação política.

O presidente nacional do PSL, Luciano Bivar, disse ser contra a regra de cotas aplicada atualmente na política brasileira, que determina que 30% dos candidatos de um partido devam ser do sexo feminino. Para ele, a mulher na política não tem vocação e essa regra de cotas “violenta o homem”. LINK


Gostamos da pessoa? Não. Achamos que a mulher é inferior ao homem? Não. Ele disse alguma mentira? Não. Desfavor da semana.

SALLY

Da forma como foi pintado nas manchetes parece que o sujeito é um babaca misógino de primeira linha, né? As pessoas foram condicionadas a reagir mal quando qualquer pessoa coloca em xeque qualquer capacidade de mulher e parecem ter esquecido que homens e mulheres tem, como regra, algumas características e aptidões diferentes.

O que ele disse não é uma mentira. No Brasil a mulher não tem vocação para política. E, quer saber? Eu acho isso um elogio, não um demérito. Que bom que em um meio fétido, desleal e sujo as mulheres não transitam bem, não aparentam ter interesse. Pode ser cultural, pode ser biológico, pode ter a explicação que vocês quiserem, mas, de fato, no Brasil, a mulher não tem muita vocação política. Não é uma sentença, não é dizer que mulher não tem “capacidade”. É dizer que, hoje, no país, elas não focam nisso.

E querer mudar isso na base das “cotas” é muito escroto, pois apenas cria “candidatas laranja”, mulheres sem a menor noção ou vocação para a coisa, que estão ali para cumprir uma tabela. Hoje, no Brasil, se 30% das candidatas não forem mulheres, o partido é punido. Novamente batemos na mesma tecla: jogar pessoas sem o devido preparo pela janela não é equidade, é estelionato social.

De onde saiu o critério de que, para haver justiça, equilíbrio e igualdade é preciso uma equiparação numérica entre homens e mulheres? Cada um que faça o que gosta, o que sente como propósito de vida, o que tem vontade. Se disso resultar uma desigualdade numérica, foda-se. Uma coisa é se mulheres estivessem proibidas de entrar na política, mas não é o caso. Elas simplesmente não têm interesse. Mulheres podem, apenas não apresentam interesse em se candidatar.

Aí vai a lei e te diz qual é o percentual de mulheres que tem que ter interesse em política. Me revira o estômago ver tanta intervenção estatal onde não deve, e tão pouca onde deve. Metade do Brasil não tem saneamento básico, pessoas morrem de fome, de doença, de violência onde o Estado não se faz presente, enquanto isso ele escolhe regular quantas mulheres tem que se candidatar. Quem não tem a base da pirâmide não pode querer construir o topo.

Adianta? Adianta colocar um monte de candidata mulher que não tem a menor vocação para estar ali, que não tem como projeto de vida ser política, que está ali apenas para cumprir tabela e pelo dinheiro? A maioria acaba que não se elege, e, se for eleita, pior ainda, estará lá só para cumprir tabela. Não é assim que se melhora o país. Se é que existe alguma chance de melhora, ela seria com pessoas seriamente empenhadas, comprometidas e com profundo conhecimento e vontade de operar mudanças.

Um congressista está lá para lutar pelo povo. Está lá porque quer, acredita e gosta trabalhar em prol de um Brasil melhor (ou ao menos, deveria). É um funcionário pago com o nosso dinheiro, e não custa barato. O mínimo que devemos exigir é que seja O MELHOR, independente de sexo. Ter um decréscimo qualitativo para forçar uma mulher que não tem vocação para aquilo, que não gosta e nem queria estar lá é sacanagem com o povo.

Fora que nessa de ter que colocar 30% de candidatas mulheres, muita gente que realmente queria estar ali acaba ficando de fora por ter pênis. Quando chegamos ao ponto de vetar alguém em função de sexo, flertamos de perto com uma forma escrota de imposição, exclusão e cerceamento. Deixa o povo decidir, cacete! Se a demanda do povo por mulheres for muita, os partidos naturalmente procurarão mais mulheres e mais mulheres procurarão ser candidatas. As coisas se regulam naturalmente, não na porrada com imposições.

Além disso, o sujeito não desmereceu a capacidade feminina em momento algum, apenas disse que no Brasil não há vocação política feminina. Para não ter erro, vou citar as exatas palavras de Luciano Bivar: “quando as mulheres entram, elas têm sucesso enorme. (…) Tem mulheres que dão de 10 a zero nos homens, até em mim”.

Para não ter erro, nessas horas a gente chama pelo dicionário: vocação é uma inclinação, uma tendência. Sejam sinceros, olhem para a mulher brasileira e me digam se ela tem vocação política? Não que não possam virar excelentes políticas, mas tem essa inclinação para o meio político? Não tem.

Se você acha que deveria ter, ok. Mas não é assim, impondo uma presença numérica que se consegue. É estimulando o interesse, dando ferramentas para desenvolver algumas capacidades, fomentando oportunidades para formação que sirva de suporte para esse meio. Se uma pessoa quer ser médica não se resolve dando um bisturi na mão da pessoa, não é mesmo?

O grande problema é: o grau de histeria chegou a tal ponto que não se pode dizer absolutamente nada que não seja um endeusamento elogioso da mulher. Gente, está tudo bem não ter vocação para alguma coisa, ok? Não é demérito, não é motivo para se ofender. Todos nós “não temos vocação” para algo. E todos nós podemos mudar essa realidade se quisermos.

Por exemplo, mulher, via de regra, não tem vocação para localização espacial. Está cientificamente comprovado que homens tem esta parte do cérebro mais desenvolvida e a utilizam melhor. Da mesma forma que homem não tem vocação para ler sentimentos e se expressar, está comprovado que mulheres tem essa parte do cérebro mais desenvolvida e a utilizam melhor. Isso não quer dizer que uma mulher não possa desenvolver esta vocação e se tornar melhor que todos os homens do mundo. É vocação, não é sentença de morte.

Mas, como de costume, o Brasil acha que resolve tudo com lei. Tem pouca mulher na política? Cria uma lei OBRIGANDO a 30% das candidatas serem mulheres, queiram elas ou não, queiram os homens ou não. É grotesco. É uma forma tosca e burra de tentar resolver algo. É a cara do congressista brasileiro achar que isso soluciona as coisas.

Aí a gente vê esse bando de tiazona no horário eleitoral, lendo um texto que mal sabe o que significa, transparecendo claramente que não tem vocação para estar ali, sabendo que está apenas para cumprir tabela: o partido não a quer ali, mas a lei obriga. Ela claramente é um peixe fora d’água ali, mas o dinheiro é bom, então vai lá, senta e lê um texto escrito por um homem, sendo apenas um fantoche com vagina.

E o povo ainda aplaude essa “iniciativa” que busca “igualdade”. Não entenderam que quando a igualdade é apenas formal, ela só fomenta ainda mais a desigualdade. Não aprenderam a procurar pela igualdade material, onde se iguala na essência, não nos números.

E quem se opõe ainda sai como machista. Ê Brasil…

Para me chamar de machista, para dizer que mulher tem vocação para tudo sempre ou ainda para dizer que se há alguma vocação da mulher brasileira é mostrar a bunda, se fazer de vítima e casar e ter filhos: sally@desfavor.com

SOMIR

Cotas sempre vão ser um assunto complicado. Quando falamos de cotas em concursos públicos, por exemplo, existe uma preocupação com o nível de capacitação real do candidato para exercer a função, mas pelo menos tem gente suficiente querendo participar. No caso da cota de 30% de candidatas na política brasileira, nem isso. Os partidos são obrigados a criar candidatas laranjas porque simplesmente não tem material humano para cumprir a obrigação. Um “crime” feito por obrigação legal.

Normalmente o conceito por trás das cotas é fazer um grupo de pessoas que queria participar de algo finalmente conseguir. Quando surge a cota de alunos da educação pública nas universidades igualmente públicas, pelo menos você entende o que está acontecendo. Concordando ou não com as implicações disso, podemos enxergar um grupo de pessoas recebendo uma chance que não teriam antes. Demanda represada.

Agora, quando a cota surge e mesmo assim não tem gente suficiente querendo a vaga, está na hora de analisar isso melhor. Se boa parte dos partidos não consegue encontrar candidaturas viáveis entre mulheres ao ponto de ter que colocar qualquer uma só para dar o valor pedido por lei, começa a ficar claro que as mulheres não estão tão interessadas assim em serem candidatas. Você pode até achar que os partidos sabotam as mulheres e não dão estrutura para elas concorrerem, mas quem já viu como eles funcionam de perto sabe muito bem qual é o interesse natural das mulheres nisso tudo: os partidos tem que ir buscar mais mulheres para se candidatarem depois que todo mundo com interesse se manifestou.

E aí acabamos com essas candidatas laranjas. Que só estão lá para cumprir a obrigação dos 30%, mas que não queriam sequer concorrer. Isso quer dizer que os partidos não gostam de mulheres candidatas? Evidente que não. Quer dizer que a falta de representação atual vem mais da falta de vontade da mulher média de estar na política do que qualquer impedimento real criado pelos partidos. Até porque não se discute mais a viabilidade de candidaturas femininas.

O presidente do PSL falou que mulher não tem vocação para política tendo a candidata mais votada da história do Legislativo no Brasil no seu partido (Janaina Paschoal, para deputada estadual em SP – podia ter entrado como senadora na maior parte do país com essa votação…) e tendo a segunda deputada federal mais votada do país. E esses dois números são contando os homens. Ele está vendo que mulheres podem sim ter votações gigantescas e serem pra lá de viáveis como candidatas, mas mesmo assim diz que não tem vocação. Bom, aqui entra a diferença entre indivíduos e grupos. O brasileiro já perdeu quase que todo o preconceito de votar em mulher. Aqui em SP, o PSDB botou todas as fichas numa mulher para vencer o Suplicy para o Senado, e ganhou. Mulher já ganhou até para presidente (deu muito errado, mas ganhou).

Partidos políticos gostam de quem dá voto, e mulher dá voto. A questão aqui é que não adianta só nascer mulher para ter essa capacidade, tem que ter um esforço da pessoa para se tornar viável como candidato ou candidata. E é nesse ponto que as mulheres perdem, e muito. Não é como um concurso público ou um vestibular: a pessoa tem que dar a cara a tapa e fazer todo o jogo político para se tornar viável. Se as mulheres em média não são tão afeitas a isso, como a Sally bem disse, é até motivo de orgulho. Política é algo muito sujo mesmo. Mas não muda o fato que o sistema exige alguns passos antes de ter uma candidatura com chances, e que os partidos políticos sofrem para achar mulheres que tenham dado esses passos.

E sim, isso é falta de vocação. Ser político e concorrer a cargos eletivos é algo que consome a vida da pessoa. Tem que querer muito e tem que fazer muitas escolhas difíceis para seguir em frente nessa carreira. Como estamos vendo desde a liberação feminina das últimas décadas, mulheres que fazem essas escolhas conseguiram quebrar o estigma e vencer eleições. Assim como costumam fazer em várias das profissões consideradas exclusivamente masculinas até então. Mulher que paga o preço de estar numa profissão historicamente dominada por homens costuma ir muito bem. Se a exigência for puramente cerebral, nada impede equiparação ou até vantagens para elas (no mundo dos negócios, eu já aprendi que se uma mulher está num cargo gerencial alto, ela vai ser em média mais bem preparada que a média dos homens, por exemplo)

Desde que… paguem o preço. Não adianta pra ninguém querer entrar numa profissão e não fazer o esforço necessário, homens ou mulheres igualmente. Se em média mulheres não querem ou não conseguem fazer o necessário para ter uma candidatura viável, é culpa dos partidos? Partidos, especialmente num sistema como o brasileiro, não constroem ninguém, eles pegam pessoas com chances de ganhar e ajudam a paga pela campanha deles. Se a legislação queria que mais mulheres se tornassem viáveis como candidatas, não deveria ter olhado só para a linha de chegada. Se 10% das mulheres fazem as escolhas necessárias para serem políticas, não tem como preencher 30% de vagas válidas para elas, oras.

É uma lei preguiçosa que só menciona um desejo do Estado sem dar nenhuma ajuda para as pessoas se adequarem. Aí não adianta. Mas, como tem genitálias diferentes envolvidas e o partido do Bolsonaro, Luciano Bivar vai ser chamado de machista opressor, e essa vai ser a profundidade da discussão. Pronto, acabou. Não vai ter nenhuma reflexão para homens ou mulheres, só o reforço da ideia que basta usar as palavras certas para descrever o tema e tudo se resolve. A ilusão de que a maior participação política dos homens é resultado de simples opressão masculina serve para a maioria, e não precisa ser modificada. Afinal, qualquer outra visão sobre o tema exige esforço, e se tem uma coisa que homens e mulheres do Brasil concordam, é que “alguém tem que fazer alguma coisa, mas não eu”.

Para dizer que igualdade não tem graça na hora do sacrifício, para dizer que eu odeio mulheres por querer que façam o que querem fazer, ou mesmo para dizer que a verdade é opressora: somir@desfavor.com

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Comments (6)

  • Fico imaginando o desvio de recursos de campanhas de candidaturas lançadas só para cumprir a cota, de forma semelhante ao que acabou por derrubar o ex-ministro do Bolsonaro…

  • Se for pra ter mais “Marias” do Rosário, “Jandiras” Feghali, “Manuelas” D’Avila, “Dilmas”, aquelazinha que surgiu de decote um dia desses e outros tipinhos deploráveis na política só por causa da vagina, prefiro continuar votando em homem mesmo.

    No mais, ele não mentiu. É o que eu sempre achei também. Infelizmente mulher quer levar emoção e sentimentos pra um ambiente que exige racionalidade e uma dose de ‘sangue frio’. Política é assim (e eu não tenho o menor interesse em entrar pra essa área). Se a mulher consegue ser realista o suficiente pra deixar as próprias paixões de lado e governar como se deve, perfeito. Não me oponho. Mas se ela for o contrário, tem que cair fora mesmo (e deixar pra quem sabe).

    Mas né… Infelizmente é aquele tipo de raciocínio que não dá pra sair falando por aí, porque mulheres são deusas intocáveis e infalíveis, e se você fala um “a” logo vem uma horda de afetadinhos te chamar de ‘misógino’ pra baixo. Eita época triste essa…

    • Sim, qualquer diferencial que mulher tenha “por ser mulher” e seja positivo pode ser exaltado aos quatro ventos que recebe aplausos: ser mais sensível, se expressar melhor etc. Mas se você cita qualquer diferencial que mulher tenha “por ser mulher” que não seja positivo é machismo para baixo. Vai entender…

  • Mulheres conquistaram facilmente espaço em áreas nas quais existe algum orgulho em participar. Ser político não é ser advogado, ou engenheiro, ou qualquer outra profissão “da moda”.

    Ser político – na verdade, estar político – envolve abandonar sua carreira original para dedicar-se a uma vida de viagens e discussões constantes, sendo procurador de gente tão interesseira quanto você (mas que não tem coragem de dar a cara para bater). Mulher aguenta isso?

    P. S.: Países parlamentaristas tem cota e alternância de gênero, mas também tem lista fechada. Deputado, num lugar como esse, é apenas um funcionário do partido – não precisa caçar votos, como aqui.

    • Mulher aguenta, mas não QUER, essa é a verdade. Porque continua com aquele sonho bizarro da década de 50, de ser esposa e mãe.

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