Pilhas históricos.

Hoje nosso querido Rafael Pilha comemora mais uma primavera. Um homem fascinante, incompreendido no seu tempo, de uma complexidade inalcançável pela maioria. Em uma sociedade onde seguir determinado padrão é a única forma possível de ser objeto de admiração, ele ligou o foda-se, abaixou as calças, mostrou a bunda e dedo médio. Pilha é como é e suas excentricidades não impedem que ele seja um grande homem.

Para provar meu ponto e também mostrar que a história é composta por pessoas que destoaram absurdamente do padrão, hoje vamos conhecer perfis, digamos, excêntricos ou fora do convencional de grandes nomes da história. Reis, imperadores, líderes que comandaram uma nação e cujo comportamento fugia bastante da “normalidade”. A história está repleta de Rafaéis Pilhas.

Vamos começar falando de Justiniano. Justiniano foi o comandante do Império Bizantino no século VI. Ele era uma pessoa bem peculiar. Seu temperamento não era fácil, frequentemente o moço tinha uns rompantes de raiva e desconfiança que o deixavam transtornado e, entre outras coisas, o faziam atacar quem passasse por ele, geralmente com mordidas na cabeça. Podia ser um parente, um amigo ou alguém que trabalhe para ele, do nada ele saltava e mordia.

Ignorá-lo não era uma opção, era preciso tentar espantá-lo quando ele começava a morder. Nas duas vezes que tentaram ignorá-lo ele acabou devorando dois de seus servos. A solução encontrada para entreter Justiniano de modo a que ele não surte foi colocar rodinhas no seu trono e empurrá-lo por todo o palácio em alta velocidade, assim ele se distraía e não mordia ninguém e obrigar a alguém a tocar música dentro do palácio o tempo todo para tentar acalmá-lo.

Nabonidus reinou na Babilônia e decidiu que o deus mais popular daquela cultura, Marduk, não era bom o bastante, ele era melhor. Mandou fazer um tempo para ele mesmo e o povo tinha que abandonar o antigo deus e adorar a… ele. Mas não era apenas megalomania o problema, Nabonidus tinha comportamentos bastante exóticos. Frequentemente acreditava que era um bode, se despia e saía pastando de quatro pelos jardins, comendo grama. Passava horas nu, mastigando pasto, e ignorava qualquer um que tentasse interagir com ele.

Mas nem só de delirantes se compõe a loucura. Vejam o caso de Frederico, rei da Prússia, um control freak com comportamento obsessivo que obrigava a todos que o cercavam a entrar no seu esquema de regrinhas absurdas. Uma vez ele achou que os funcionários públicos estavam sendo muito displicentes e resolveu regular sua conduta. Resolveu escrever normas de conduta em um extenso texto de 35 capítulos e 297 parágrafos. Nem seu filho escapava: quando a criança completou seis anos de idade era obrigatório que fosse acordado todos os dias às seis da manhã com tiros de canhão, para que crescesse acostumado com a guerra.

Frederico acreditava que apenas homens altos poderiam oferece a segurança de que ele precisava, por isso sua guarda imperial era composta apenas por homens com mais de 1,80m. Infelizmente não havia a quantidade de homens altos que ele desejava disponíveis na Prússia, então Frederico começou a sequestrar franceses altos para incorporá-los na função. A ousadia quase virou uma declaração de guerra por parte da França.

E por falar em França… A França teve um rei chamado Carlos VI, em1380. Carlos era conhecido como “Carlos, O Louco” e não faltavam motivos. Ele costumava correr pelo castelo uivando e fingindo ser um lobo, muitas vezes sem roupa. Não era possível tentar contê-lo, pois além de achar que era um lobo, ele gritava que era feito de vidro e que poderia quebrar caso alguém encostasse nele. Mas se era ruim quando ele tirava as roupas, pior era quando estava com elas: ele fazia questão de urinar e defecar nas próprias roupas e se recusava a tomar banho, alegando que fazia mal para sua saúde.

Há malucos mundialmente famosos, como Vlad III, da Romênia (spoiler: tá na árvore genealógica do Somir). Assim que Vlad assumiu o poder ele resolveu vingar a violenta morte do seu irmão, assassinado de forma bárbara pela nobreza local. Perdeu um pouco a medida e mandou empalar todos os que estavam remotamente envolvidos (inclusive as crianças) e deixou os corpos expostos ao público.

Enfiar a pessoa em uma estaca feito um picolé era a marca de Vlad. Ele gostava de ostentar as mortes dos rivais e deixava os corpos ali expostos. Com o tempo, isso se tornou realmente útil para ele: em 1462, quando os otomanos resolveram invadir seu reino, se depararam com 20 mil soldados empalados no caminho. Dizem os relatos históricos que o conquistador otomano Mehmet II vomitou quando viu a cena e rapidamente resolveu dar meia-volta. As lendas sobre o Conde Drácula são inspiradas em Vlad.

E por falar em otomano, Mustafá I também merece menção. Para evitar uma disputa de poder, enquanto seu irmão reinava, mandou trancar Mustafá em uma ala do palácio, completamente isolado, até mesmo sem janelas. Ali ele permaneceu por 14 anos. Quando seu irmão morreu, foram tirar ele do cativeiro, mas, ao que tudo indica, Mustafá não estava muito bem de cabeça.

Sua principal diversão era jogar o tesouro real pela janela e ficar rindo enquanto o povo se matava para pegar, uma espécie de Silvio Santos da época. Fez tanta loucura que resolveram trancar Mustafá novamente. Passado um tempo, fizeram uma nova tentativa e soltaram Mustafá e ele voltou a fazer merda. Desta vez saiu nomeando servos como governadores. Durou seis meses, ninguém aguentava mais o maluco. Ele foi trancado de volta e desta vez não soltaram mais. Morreu 16 anos depois do último confinamento.

O imperador Zhengde, da China, decidiu que aquela realidade não lhe agradava e mandou construir uma realidade nova: mandou construir uma cidade falsa nos jardins do palácio, com diferentes cenários, e cada dia atuava em um papel. Um dia era comerciante, no outro um general e assim ia vivendo realidades que ele criava. Usava perucas, se vestia de forma diferente e repreendia os governados se o tratassem como imperador. Para o desespero do império, ele estava mais interessado em brincar de faz de conta do que comandar a China.

Nadir Shah tanto armou que conseguiu depor o rei da Pérsia e assumiu o poder, mas ser um armador tem seu preço: ele começou a ver conspirações em tudo. O tempo todo torturava e matava para tentar descobrir conspirações contra ele, brincando com os corpos depois de mortos, criando desenhos, trocando uma cabeça pela outra e até fazendo torres de cabeças. O auge se deu quando ele começou a suspeitar do próprio filho e o cegou para tentar arrancar “a verdade”. Como não conseguiu nada, decidiu cegar todos da nobreza que estavam assistindo a cena. Depois disso, acabou morto pelos próprios homens, que perceberam que seriam os próximos a perder a visão.

Farouk foi um rei do Egito que também destoava do convencional. Para começo de conversa, era cleptomaníaco. Ser cleptomaníaco sendo rei é uma furada, pois suas vítimas são famosas e a coisa repercute. Certa vez ele enfiou a mão sorrateiramente no bolso de Winston Churchill e roubou seu relógio. A merda foi tamanho GG.

Além disso, comia compulsivamente uma dieta composta por: refrigerante (há relatos de que tomava 30 garrafas por dia) e caviar, que ele comida direto do pote. O auge de sua loucura ocorreu quando ele teve um pesadelo onde era atacado por leões. Levantou putaço, pegou uma arma, foi até o zoológico e matou todos os leões de lá.

Ivan IV, conhecido como “Ivan o Terrível”, tocou o terror na Rússia. Consta que ele nunca foi flor que se cheire, mas quando sua esposa morreu, surtou de vez. Começou a achar que ela havia sido envenenada e a ver culpados por todos os lados. Matou boa parte da nobreza russa, nem sempre de forma discreta. Seu tesoureiro, por exemplo, foi cozido em um caldeirão. Mandou cegar os arquitetos que fizeram seu palácio, para que nunca mais possam fazer nada tão bonito ou mais bonito do que o que ele tinha.

Daí pra frente Ivan despirocou de vez. Uma vez deu uma surra na sua nora por não gostar das roupas que ela estava vestindo. Quando ouviu um boato de que uma cidade estava se rebelando, matou todos os moradores da cidade, pegou o arcebispo, que supostamente seria quem estava incitando a revolta, o costurou em uma pele de urso e botou seus cães para caçá-lo. Bateu boca com seu filho, que lhe deu uma resposta atravessada. Ivan pegou um cetro de ferro e deu na cabeça do filho, que morreu na hora. O curioso é que depois de cada atrocidade cometida, Ivan ajoelhava e ficava batendo com a cabeça no chão, em penitência. Haja cabeçadas.

Mas nem todo maluco era violento. O rei George III da Inglaterra, por exemplo, era gente boníssima. Às vezes tinha uns rompantes, tirava toda a roupa e se recusava a vesti-la de volta. Uma vez, se aproximou de uma árvore e lhe deu um “aperto de mão”, quando lhe perguntaram se ele estava bem, respondeu: “Não me interrompa! Estou conversando com o rei da Prússia!”. Dizem que no final da sua vida, quando já estava muito doente, em seu leito de morte, conversou sozinho por 58 horas seguidas até efetivamente falecer.

O Sultão Ibrahim era tão maluco que seu irmão, Murad IV pediu aos guardas do império otomano que o matem antes da sua morte, para evitar que ele assuma o poder. Porém, na hora de executar a missão, acharam que Ibrahim era maluco demais para representar uma ameaça e o deixaram vivo por pena. No começo, ele tinha apenas pequenos hábitos estranhos, como por exemplo, insistir em só “alimentar” os peixes das piscinas do palácio com moedas, proibindo que qualquer “outro” alimento fosse disponibilizado. Descuidado, promíscuo e irresponsável, ele só dava prejuízo.

Com o tempo, a coisa piorou. Ibrahim não queria saber de governar, ele só queria saber de uma coisa: mulheres gordas. Ordenava que fossem levadas a ele as mulheres mais gordas que encontrassem. Isso começou a se tornar uma missão difícil, pois após cada gorda, tinham que encontrar outra gorda ainda mais gorda. Ele só se deu por satisfeito quando acharam uma moça que pesava mais de 150kg. Ele ficou tão feliz que deu a ela uma pensão oficial do governo e o título de Governadora Geral.

Esta obsessão por gorda foi explicada posteriormente: certa vez estava em uma orgia onde havia animais e ficou deslumbrado com as partes íntimas de uma vaca. Mandou fazer um molde e disse que só sossegaria quando encontrasse uma mulher com partes íntimas deste mesmo tamanho, no caso, a moça de 150kg. Tanto fez que acabou levando seu império à ruína.

Temos também o famoso Calígula, que em poucos anos fez o diabo. Ordenou que seu cavalo favorito virasse cônsul e sacerdote, fazendo um estábulo de mármore para ele, com sofás e cadeiras luxuosas. Certa vez, em um espetáculo Circus Maximus (gladiadores etc) não havia mais pessoas para lutar, mas Calígula queria que o show continuasse. Mandou arrastar as pessoas das cinco primeiras fileiras da plateia para que “lutem” contra os leões. Todos foram mortos, enquanto ele se divertia. Não era apenas um autoritário, era um doente. Ele tinha uma predileção estranha: mastigava o testículo de seus desafetos, enquanto eles ficavam penduradas de cabeça para baixo

Calígula não tinha limites. Uma vez foi insultado por um popular e ordenou a execução dele e de toda sua família em praça pública. Ocorre que, entre a família, havia uma menina de 12 anos, que, de acordo com as regras da época, deveria ser poupada, pois era uma virgem. Não seja por isso, se esse era o problema, Calígula resolveria: estuprou a menina na frente de todo mundo e depois disse que agora podiam matar.

A história está cheia de loucos, cada qual com sua mania. Uns sádicos, outros psicopatas, outros porcos, outros delirantes. Esse padrão de “bom cidadão” mainstream pode servir muito bem ao sistema, mas quem sai da caixinha acaba sendo muito mais interessante de observar. O ser humano é fascinante.

Para dizer que perto deles o Pilha é bem normal, para dizer que se for pesquisar, os líderes de hoje tão nesse patamar também ou ainda para dizer que a pior ruina é que uma pessoa tenha condição de fazer tudo que ela quer: sally@desfavor.com

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Comments (10)

  • Gente fazendo pilhices é algo que nunca faltou neste mundo. Saindo um pouco do terreno dos governantes e entrando no das artes, também já houve um monte de loucuras. No final do séc. XIX, o pintor holandês Vincent Van Gogh, durante um surto, ameaçou com uma faca seu amigo e – também artista plástico – , o francês Paul Gauguin, e cortou fora a própria orelha, dando-a depois enrolada num lenço para uma prostituta, que teria desmaiado ao abrir o embrulhinho. Para piorar, o mutilado ainda teria ido para casa deitar como se nada tivesse acontecido e só não morreu de tanto sangrar porque essa mesma prostituta, quando se recuperou do desmaio, avisou a polícia e Van Gogh acabou encaminhado a um hospital psiquiátrico.

    Ainda no séc XIX, mas no campo da música clássica, podemos citar o alemão Ludwig van Beethoven, que costumava despejar muita água gelada na cabeça enquanto compunha. De acordo com o próprio Beethoven, tal hábito serviria para “estimular o cérebro”. Outro caso de doideira de músico erudito mesmo mesmo século foi o do russo Piotr Ilich Tchaikovski que, na primeira vez em que regeu uma música de sua própria autoria em público, teve a alucinação de que sua cabeça iria se desprender do corpo a não ser que a mantivesse totalmente rígida, crispando os músculos do pescoço. Depois disso, ele só voltou a atuar como maestro diante de uma platéia 10 anos depois.

  • A realeza sempre foi cheia de casamentos consanguíneos e incestos então não é de se estranhar que tenha originado tanta gente louca.

  • Outra do Calígula: ele chegou a declarar guerra a Netuno! Um belo dia, o mais doidão dos imperadores de Roma, só porque sim, resolveu levar tropas de um dos exércitos mais poderosos da Antiguidade para uma praia e mandou atacar! Como ninguém quis se arriscar a contrariar um louco, ainda mais um com os poderes de um imperador, os soldados, sem opção, obedeceram como puderam: entrando no mar totalmente equipados com suas armaduras para “golpear” as ondas com espadas, punhais e lanças. Em certas versões dessa história, conta-se que o próprio Calígula teria “chicoteado” a água gritando impropérios contra Netuno e, ao ver o recuo da maré algum tempo depois, entendeu aquilo como um “eu desisto!” do deus dos mares. Pra completar a cena ridícula, antes de irem embora, ordenou que seus homens coletassem conchinhas da praia como “troféus de guerra”.

  • Quando o embaixador Otomano foi falar com o Vlad ele se recusou a tirar o turbante.
    Diante da situação, Vlad resolver pregar o turbante na cabeça do embaixador.

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