Pancada na cabeça.

O atacante Neymar reagiu à provocação de um torcedor depois da perda do título da Copa da França pelo Paris Saint Germain diante do Rennes, neste sábado. Quando subia à tribuna do Stade de France para receber a medalha de prata, o craque brasileiro acertou com um soco o rosto de um homem que insultava os jogadores do PSG. LINK


Por vias diferentes, Sally e Somir concordam que Neymar, seu entorno e boa parte dos brasileiros cometeram um belo de um desfavor da semana.

SALLY

Os textos de hoje são curiosos, poucas vezes algo assim aconteceu na história do Desfavor: Somir e eu discordamos abertamente, mas, ainda assim, chegamos à mesma conclusão: Neymar é um bosta e mais bosta ainda é o brasileiro por reproduzir em larga escala esse mesmo tipo de merda.

Para quem não sabe, Neymar agrediu um torcedor na arquibancada do estádio, após a derrota do seu time, o Paris Saint-Germain. O torcedor disse “aprenda a jogar futebol, Neymar” e isso bastou para que o Menino Ney (menino com quase 30 anos na cara) dê um soco na cara do cidadão.

Ruim. Péssimo. Mas ainda existia a possibilidade de contornar a situação. Porém Neymar, mestre na arte de se cobrir de merda, resolveu abrir a boca para justificar uma agressão dizendo que foi “xingado” e que “Ninguém tem sangue de barata”. Neymar criou um dos exemplos mais didáticos que eu já vi, ilustrando todo um modo de funcionamento do brasileiro em um único evento.

Não é sobre Neymar, é sobre algo que aconteceu com o Neymar, mas ilustra de forma muito educativa um problema atual: uma geração mimada que interpreta qualquer coisa que lhe desagrade como um xingamento, ofensa, agressão ou ataque. O torcedor disse que ele não sabia jogar futebol. As pessoas tem o sagrado direito de achar que você não está fazendo seu trabalho direito. Isso não é um xingamento. Nem tudo que é desagradável de escutar é um ataque, xingamento ou agressão.

A crítica está se perdendo: se doeu ao escutar, é uma agressão, um xingamento e abre portas para uma resposta agressiva, até mesmo agressão física. Muitas pessoas estão relativizando o que Neymar fez com argumentos como “não bateu tão forte” ou “o torcedor era racista”. Pouco importa, responder a palavras com um ataque físico de qualquer intensidade é uma involução, um absurdo, um descontrole.

Além disso, não importa o que o torcedor disse, se incomodar com o que estranhos falam sobre você não é “ter sangue de barata”, é ser um ser humano bem resolvido. Se deixar afetar, incomodar ou perturbar pelo que um desconhecido disse beira o retardo mental. Neymar já passou da idade de se comportar como um adultinho, ainda assim, não o faz. O brasileiro médio, no geral, assim como o “Menino Ney”, não o faz.

O motivo? Todos nós. A sociedade tolera esse tipo de retardo mental. Não tem um custo social se comportar como um adolescente histérico após os 18 anos, assim, a maior parte das pessoas o faz e se esconde em frases babacas como “ninguém é perfeito”, “ninguém tem sangue de barata” e outras do tipo. Até quando vamos tolerar isso? Pelo visto, pra sempre, pois tem muitos ganhos secundários em poder se comportar como um adolescente imaturo e imbecilóide.

Uma atitude vergonhosa, reprovável em qualquer país civilizado, no Brasil é tolerada: “Ah, mas também, o cara provocou”. Somos o país do “Ah, mas também…” para justificar atrocidades. “Ah, mas também, estava de saia curta, acabou estuprada”, ou, como diria o filho duma puta do Mujica “Ah, mas também… se colocaram debaixo dos tanques”. Desculpa, mas agredir o coleguinha por uma opinião (ainda que contrária a você) ou passar com tanques por cima das pessoas são coisas que NÃO SE FAZEM, independente do que a pessoa tenha feito, independente de “Ah, mas também…”.

Na última Copa do Mundo Neymar se comportou de maneira infantilóide pela milésima vez, daí veio uma forte campanha para limpar a bunda do Menino Ney, com direito a comercial da Gilette passando pano para as imbecilidades que ele fez. Quem se presta a fazer aquele comercial, a escolher o caminho do “foi mal, não vai se repetir” tem a obrigação de fazer por onde melhorar, ou ao menos fingir que melhorou, por uma questão de palavra, de honra, de vergonha na cara.

E aqui, minha crítica não vai para o Neymar, uma ameba que chuta uma bola. Vai para os que o assessoram. Não dá para pedir um voto de confiança do público eternamente e seu cliente continuar fazendo merda. Isso se chama “incompetência”. Foram extremamente incompetentes. Se o “Menino Ney” é um retardado irrecuperável, não usa esse tipo de estratégia, pois acaba sendo um tiro no pé. O Brasil é um país cu que tolera tudo, mas o local de trabalho dele não é mais o Brasil. Cagaram. Cagaram feio. Ou promete que vai melhorar e faz por onde o animalzinho amadurecer, ou usa outra estratégia.

Sim, eu me surpreendi com a merda que o Neymar fez, não por esperar algo desse protozoário que faz embaixadinha, mas por esperar que uma equipe muito bem paga não tenha feito seu trabalho direito. Neymar tem dinheiro para contratar os melhores, e, ao que tudo indica, os melhores falharam miseravelmente. Eu sou mais competente em limpar o nome dos meus clientes do que os encarregados do Neymar, que provavelmente recebem muitos zeros a mais do que eu no final do mês. Me espanta que gente tão bem paga tenha feito uma cagada desse porte. Parabéns, viu?

Provavelmente mesmo depois da milésima palhaçada, Neymar vai para a Copa América e, de bobear, com a braçadeira de capitão. O motivo é: essas merdas que ele faz não o desabonam no Brasil, já que o brasileiro faz essas mesmas merdas o tempo todo. É um pacto tácito de tolerância à bostificação das relações que emerdifica a sociedade e queima o país no exterior. Fato: na Europa Neymar é visto como um merdinha, no Brasil é escalado com louvor e glórias.

Me espanta que ninguém perceba este mecanismo e diga “não, chega, a palhaçada passou do limite”. Me espanta que não se promova um boicote. Me espanta que as pessoas não percebam que ganhar uma Copa Whaterver não justifica manter em campo um verme que envergonha e suja o nome do seu país. Foda-se que Neymar joga bem (nem acho que jogue), sua postura é tóxica, nociva, vergonhosa. Tolerar isso em troca de um troféu é um dos tipos mais baratos de prostituição que eu já vi. Vira-latas que aceitam tudo por cinco minutos de glória, em um país onde o único mérito possível é esporte. Me chamem quando brasileiro ganhar um Nobel, aí talvez eu aplauda.

É isso que reproduzimos todos os dias: comportamentos inaceitáveis que caem na conta de terceiros (“Ah, mas também…”) ou que são justificados por um interesse secundário (“é escroto, mas joga bem, tem que deixar”). O brasileiro ou é negador ou é uma puta barata que se vende por um ganho secundário e tolera tudo. Não me espanta que seja o país onde mulher fica com marido que a espanca porque ele paga as contas, onde se vota em político que “rouba mas faz”, onde se culpa a vítima do estupro. Até quando serão vira-latas? Até quando serão mulher de malandro? Não tem vergonha não?

Este texto não é sobre Neymar, é sobre um mecanismo de funcionamento da sociedade brasileira que calhou de ser muito bem ilustrado por uma atitude babaca desse mimadinho de merda. Criticar o Neymar não basta, é preciso olhar à nossa volta e corrigir este mesmo mecanismo nas nossas vidas, seja parando de fazer, seja parando de ser conivente com quem faz.

Sugiro que comecem hoje mesmo.

Para dizer que “Ah, mas também…”, para dizer que Neymar é a cara do Brasil ou ainda para dizer que porrada em europeu custa caro e ele finalmente vai ser responsabilizado: sally@desfavor.com

SOMIR

Neymar não parece ser uma pessoa horrível. Com certeza deve ser muito querido por várias pessoas que o conhecem pessoalmente e pra quem não lembra, ele era muito carismático no começo da carreira. Quando tinha seus 18, 19 anos de idade, dava suas mancadas como qualquer adolescente, mas era uma personagem divertida do futebol brasileiro. Só que o tempo passou. Passou e levou com ele praticamente todo esse carisma. O que sobrou foi um adolescente de quase 30 anos de idade amargurado pelo fato de que nunca vai ser tão grande quanto se esperava dele. Isolado numa bolha de validação daqueles que vivem ao seu redor e relembrado da realidade toda vez que tem que lidar com o resto do mundo. Esse choque constante de temperaturas entre o calor da promessa e a frieza dos resultados reais gerou uma personalidade doente.

E cá entre nós, Neymar não está onde está pela sua proeza intelectual. Mesmo tendo passado muito menos dificuldades que a imensa maioria dos outros jogadores de futebol, afinal, já sustentava a família com folga aos 11 anos de idade com a promessa de ser um dos maiores jogadores do mundo, Neymar parece nunca ter convivido o suficiente com pessoas inteligentes e bem ajustadas. O que honestamente não é um problema quando tudo vai bem e não falta dinheiro, mas que cobra uma conta cara quando surgem problemas que exigem reflexão e autocontrole. O soco da notícia é só mais uma das parcelas que ele paga e continuará pagando na vida. Não tem cabeça para lidar com o que está acontecendo.

Estou com peninha de um jogador de futebol podre de rico? Claro que não. Ele pode pagar pela bolha na qual escolheu viver até o fim de seus dias. Todo mundo tem seus problemas, e a maioria ainda é pobre. Então, é só uma questão de tentar entender o que acontece aqui e começar a questionar quem esperava algo de diferente vindo dele. O “menino Ney” morreu há uns 5, 6 anos atrás. Esperava-se um amadurecimento dele, mas não veio. Provavelmente porque nada do que se passou em sua vida foi grave o suficiente para gerar essa necessidade. No final do dia, ele só chutou uma bola pior que outra pessoa. O dinheiro continua vindo, muitas das mulheres mais bonitas do mundo continuam se jogando aos pés dele, milhões de pessoas continuam puxando o saco dele não importa o que faça.

Não tem consequência. Tanto que quando ele faz algo obviamente repreensível como bater num torcedor chato, a discussão é se ele tinha motivo ou não para fazer isso. Cria-se uma polêmica se ele deve ser convocado para a seleção brasileira. Só isso. Ele continua sendo tratado como um menino que não sabe o que faz e que ainda precisa amadurecer. Pra mim o desfavor é um só: Neymar é adulto e sabe o que está fazendo. Ele é isso aí mesmo, compre se quiser. Não consigo acreditar que alguém ainda se surpreenda ou tente achar uma explicação externa para suas atitudes. Essa é a personalidade do cidadão: mimado com tendências elevadas para a irracionalidade.

Incapaz de entender críticas, sentindo-se atacado por todos que não o bajulam, como boa parte dos brasileiros. Ele não teve uma criação diferenciada, então tornou-se um brasileiro médio com muito dinheiro. É só isso. Ele é só um daqueles moleques marrentos que você encontra em qualquer lugar do Brasil, imensamente inseguro, cheio de tintura no cabelo, tatuagens e penduricalhos coloridos para expressar sua necessidade de atenção. Pouco interesse em estudo, mais preocupado em ter do que ser. Pegue qualquer um desses moleques marrentos, adicione milhões de euros em sua conta bancária e você tem o Neymar. Não são pessoas inerentemente ruins, como eu disse no começo do texto, a maioria tem vários amigos que gostam muito deles também, fazem coisas boas e normalmente tem algum talento. Mas… tem esse problema de temperamento e dificuldade pronunciada de pensar a fundo no que fazem da vida.

O absurdo é esperar muito mais do que isso deles. Neymar é o golaço que fez no jogo e o murro que deu no torcedor. Esse é o pacote. A mídia pode tentar pintá-lo de qualquer outra forma quanto quiser, mas no final do dia, Neymar vai ser Neymar. Não adianta a assessoria de imprensa escrever uma nota que ele não entende, não adianta ele repetir feito um papagaio o que uma agência de publicidade o mandou falar, não adianta nem dar chances para ele agir de forma diferente. Eu trabalho com publicidade e posso te garantir que quando o cliente quer fazer algo errado, ninguém segura. Gente que quer mudar faz por onde sozinha. O entorno pode servir para ajudar, mas nunca faz as coisas pela pessoa. Sim, eu sei que estou reclamando de discutirem sobre algo que não vai mudar num texto sobre esse algo, mas este texto não é para o Neymar, ele teria desistido no primeiro parágrafo (seja por desinteresse ou por notar que não estou elogiando). Este texto é para quem vive no mesmo mundo que ele e fica insistindo em idealizar outras pessoas.

Sally discordou de mim quando disse, mas repito aqui: de uma certa forma, o torcedor que levou o murro me lembrou daqueles casos de pessoas que mexeram com animais no zoológico e acabaram morrendo. Acharam que um tigre entenderia que era só uma brincadeira? Se você sabe o que uma pessoa é, fica difícil defender quem vai lidar com ela esperando algo diferente. Pessoas mudam, é claro, mas mudanças são fatos raros no decorrer de uma vida. A tendência é que o comportamento habitual se repita. Ele sabia que o Neymar ficaria puto por alguém ter a audácia de entrar na bolha de validação dele para dizer algo negativo. Valida a agressão? Não. Diferentemente do tigre, Neymar tem obrigação de respeitar regras básicas de convivência humana. Mas não foi um resultado inesperado. Ainda mais considerando que ter muito dinheiro tende a tornar as regras básicas de convivência humana mais flexíveis…

Quer o Neymar chutando uma bola pelo seu time? Ele é isso. Quer o Neymar como ídolo? Ele é isso. Quer que o Neymar seja uma pessoa diferente? Ele não quer ser. O Brasil anda tão carente de ídolos que sobrou Lula, Bolsonaro e Neymar para esse povo! Ficam dando murro em ponta de faca por gente cheia de problemas e idealizando um mundo diferente. Tem gente que é babaca mesmo, e esperar algo muito diferente é sofrer à toa. Neymar vai chorar por sua desaprovação no colo de uma supermodelo enquanto se esquenta com notas de 100 dólares queimando na lareira… ele não está nem aí. Por que nós estaríamos?

Para dizer que esse foi o Ele Disse, Ela Disse mais estranho de todos, para dizer que damos muita atenção para quem não merece, ou mesmo para dizer que aquele soco vagabundo é vergonha por si só: somir@desfavor.com

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Comments (10)

  • Esporte é pra ver isso mesmo, é um área que não tem a menor importância e por isso pessoas fazem merda e não tem consequência.

  • Oh, eu pensei que vcs tratariam dos cortes desastrados do Ministro da Educação e Balbúrdia Abraham Weintreta :P

    Mas então, adorei as abordagens de vcs a respeito do “menino Ney” (de 30 anos), que deveria amadurecer com o tempo, mas ele só piorou, justamente por não ter tido limites. Isso me faz pensar do quão danoso pode ser pra muitos o início de carreiras assim tão precocemente, sem um rastro de maturidade mental pra lidar com estas coisas. Fora esta questão da idolatria, tão comum neste país, seja no futebol e na política, onde jogadores e políticos fazem cagadas, mas ai daquele que criticar estas pessoas, sempre tem um gado pra defender até a morte.

  • “O Brasil anda tão carente de ídolos que sobrou Lula, Bolsonaro e Neymar para esse povo! ”

    Esqueceu Anitta e Pablo Vittar.
    Socorro……….

    E tá fazendo certinho o “menino Ney”, “ninguém tem sangue de barata” é a justificativa de 10 entre 10 agressores. Usarem esse discurso pra ATENUAR o que rolou é o fim (mas funciona…………. no Brasil ao menos).

  • Me fez lembrar do Benzema, atacante no auge da carreira no Real Madrid…aí em 2015 caiu na besteira de se envolver em um esquema de chantagem de um colega da seleção francesa, por conta de um vídeo íntimo vazado. Foi flagrado conversando com um dos chantagistas, tripudiando o colega e prometendo ao chantagista convencer o colega a pagar o valor pedido.

    Nisso, mesmo sendo o craque que era, foi banido da seleção desde então…e a França acabou campeã sem ele.

    Ou mesmo a criancice do Ryan Lochte, o tiozinho da equipe olímpica de natação americana, aqui no Rio…perdeu patrocínios e espaço no time…E aí, a Gilette cortou o patrocínio do menino Ney?

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