Bola murcha.

Ao mesmo tempo que a Copa América mostra péssimos jogos em estádios vazios e desorganização galopante, ainda temos que aguentar a péssima Copa do Mundo feminina sob o risco de ser taxado de misógino. Desfavor da semana.

SALLY

Alguém precisa falar: o status do futebol mudou. Não que o povo vá parar de assistir, mas nem de longe tem o mesmo prestígio que tinha antes. O status mudou e o brasileróide, como sempre, demora a perceber as mudanças sociais e continua tratando o esporte como tratava em seus tempos de ouro. O resultado, obviamente, é desastroso.

Esta Copa América no Brasil é a prova concreta disso. Futebol teve seu status rebaixado no Brasil nos últimos anos, mas, ainda assim, acharam que seria adequado cobrar meio salário mínimo por um ingresso. Vimos estádios vazios, ingressos encalhados e uma pretensa surpresa dos organizadores, dinossauros parados no tempo sem qualquer condição de se atualizar. O status do futebol mudou, ou a realidade concreta se adequa a isso, ou mais vexames virão.

É prejudicial para o próprio futebol que seu tratamento não seja adequado à nova realidade. É um desaforo ver jogadores que ganham o próprio peso em ouro performando de forma vergonhosa sucessivamente. Quando a seleção argentina está atrás do Catar, na lanterna, quando o Brasil empata em casa com a Venezuela, é hora de entender que o futebol mudou, portanto, o tratamento dado ao futebol tem que mudar, inclusive no que diz respeito a estratégia de jogo e convocação.

O que estamos vendo hoje é um Frankenstein: futebol novo, completamente diferente, sendo tratado como futebol antigo. É como tentar enfiar um cubo em um buraco onde só cabe um círculo. A falta de visão, preguiça e incompetência brasileira e da maioria dos países latino-americanos estão criando um espetáculo grotesco, um híbrido tosco, que não agrada a ninguém e começa a, sistematicamente, não dar certo, ainda que as pessoas não entendam bem o motivo.

Some-se a isso a tentativa barata de lacre de emplacar seleção feminina como algo a ser admirado. Mas olha… nem a masculina vem sendo admirada, quem dirá a feminina. É hora de dizer verdades: você pode achar futebol feminino uma merda. Você pode achar chato, achar que falta força e habilidade, sem que isso faça de você um machista escroto.

“Mas Sally, você está dizendo que mulheres não são capazes de jogar futebol?”. São sim, só que eu acho que fica CHATO PRA CARALHO, pois falta explosão, força muscular, velocidade e habilidade. E não vai ser uma imposição social politicamente correta que vai me fazer mudar de ideia.

Existem diferença físicas entre homens e mulheres, isso é fato científico, gostem ou não. Quando falamos de força e explosão, mulher nunca será igual a homem, justamente por isso não competem juntos em esportes. E futebol sem força e explosão eu acho uma merda.

Gente cobrando que se prestigie a seleção feminina… quem fala uma coisa dessas não tem qualquer noção de realidade. Na escala de Maslow, prestigiar a seleção feminina é o topo do topo da pirâmide. O brasileiro tem muitas, mas muitas outras prioridades mais urgentes e importantes do que isso.

Mas tem que ser feito, não importa a realidade, e vai ser massificado na sua cabeça até você concordar ou, ao menos, fazer por puro constrangimento. Um exemplo: funcionários dispensados mais cedo do trabalho para ver o jogo de futebol feminino. Sejam sinceros, quantas dessas pessoas vocês acham que realmente viram os jogos?

Futebol feminino está virando apresentação de criança no colégio: é um saco, é precário, é mal feito, é escroto, mas neguinho vai assistir em um misto de culpa e obrigação. Gente, tá tudo bem achar que futebol feminino é uma merda, com isso você não diz que as mulheres em si são uma merda, diz que criaturas com pouca força muscular e explosão não performam bem em uma atividade que existe muita força muscular e explosão.

Aí vem os pau no cu fiscais do salário alheio e começam a marretar que é um absurdo que jogadora mulher ganhe menos do que jogador homem. Na boa? Nunca existiu igualdade de salários entre homens e mulheres, pois seu valor de mercado é diferente. Modelos mulheres no topo da carreira ganham muito mais do que homens, só para citar um exemplo.

E tá tudo bem achar que mulher faz algumas coisas pior do que homem e que homem faz algumas coisas pior do que mulher, não é preconceito, são cérebros diferentes, físicos diferentes, hormônios diferentes. Pessoas tem seus limites sim, e tá tudo bem aceitar os limites do corpo para prática de esportes que requerem força.

No mundo não há igualdade: homens são maioria em presídios, morrem mais cedo, são mais vítimas de violência e assassinato. Comparar homem x mulher pode render todo tipo de resultado e desigualdade, dependendo para qual lado você decidir puxar. Em alguns casos é desigual para prejudicar as mulheres, em outros para beneficiar.

O curioso é que os mesmos que pedem salário igual, pedem tratamento diferente. A jogadora Marta fez algo proibido: publicidade dentro de campo. Usou um batom (horroroso) da Avon em campo alegando que era de longa duração e não borrou durante o jogo todo. Ela fez uma publicidade descarada e quando começaram a falar em punição, o povo pulou e disse que não era bem assim.

Se um jogador de futebol homem faz algo remotamente parecido, arregaçam ele, no mínimo, com multa. Mas era só uma menina, não é mesmo? Ela não sabe direito o que faz? Ah, vão se ferrar! Preconceituoso é quem pede esse tratamento diferenciado café com leite e faz vista grossa para um erro grosseiro de jogadora mulher. Quem quer tratamento igual tem que aceitar tratamento igual, inclusive quando isso implicar em uma penalidade.

Eu exerço meu direito e acho futebol feminino uma belíssima merda, assim como acho muita coisa feita por homem uma bosta. Ser mulher não quer dizer perder a autocrítica, não sou obrigada a gostar de tudo que é feito por mulheres. Futebol feminino é um saco e achar isso não é vergonha nem motivo para ser repreendida.

Eu tenho o sagrado direito de desgostar. Você tem o sagrado direito de desgostar. Nem sempre desgostar de algo que uma mulher faz é machismo ou preconceito, às vezes a coisa é uma merda mesmo, dá licença? Ou mulher só faz coisa linda, perfeita e incriticável?

O futebol mudou, e pelo rumo que as coisas estão tomando, vai ficar tão chato que vamos acabar perdendo completamente o interesse e substituindo-o por algo novo.

Para dizer que se nem torcida nem jogador podem xingar não é futebol, para dizer que também acha futebol feminino uma merda ou ainda para dizer que se queimar para fazer propaganda da Avon é o mais vergonhoso: sally@desfavor.com

SOMIR

Alguns produtos deixam de existir com o tempo, porque não existe mais público interessado nele, como por exemplo o videocassete. Já outros conseguem se adaptar com o passar dos anos: as TVs de tubo viraram tela plana e conseguiram sobreviver. É um ciclo natural do mercado. O interesse vem e vai de acordo com os desejos e necessidades de cada época. Esportes profissionais também contam como produtos nesse contexto. Sem uma plateia para consumir, eles praticamente desaparecem.

O futebol vem fazendo um trabalho razoável para se manter relevante no último século, mesmo com cada vez mais concorrência pelo limitado tempo livre do cidadão médio. E esse processo de relevância está sendo puxado prioritariamente pelos países europeus, onde residem os maiores campeonatos e potências do esporte. Os ingleses são um exemplo perfeito disso: o campeonato local era um desastre até os anos 90. Um bando de brucutus dando bicudas na bola para outro brucutu cabecear. Foi aí que surgiu o projeto da Premier League: queriam transformar o campeonato que só interessava os locais em um produto mundial.

Para isso, não dava mais para continuar jogando aquele jogo feio. Contrataram jogadores e técnicos para mudar a cara do esporte por lá, e investiram pesado para melhorar a experiência do futebol como um todo. Houve resistência, como sempre há de existir, mas era um projeto tão sólido que com o tempo aquela virou a cara do futebol inglês. Um jogo rápido, bonito e cheio de gols. Hoje em dia é o melhor campeonato para se assistir no mundo, porque eles se preocuparam com o produto. Os times fazem bilhões e contratam os melhores talentos (competindo basicamente só com os dois gigantes espanhóis e um time francês controlado por um árabe rico em poder financeiro).

Não foi o respeito às tradições (o jogo inglês era uma piada antigamente) ou valorização do que os atletas já faziam (um bando de brucutu que achava drible coisa de viado) que tornaram o campeonato inglês no que ele se tornou, foi uma visão clara de criar o melhor produto possível para seus clientes. Provaram que dava sim para tratar o futebol como um negócio e deixar o público feliz no processo.

Agora, na via oposta, temos o futebol sul-americano. Vivendo de glórias do passado e ainda se achando a última bolacha do pacote. Não fazem nada pelo produto além de cobrar mais caro por ele a cada ano que passa. O resultado são os jogos horrendos da Copa América em estádios vazios porque o ingresso custa caríssimo. É o jogo parando por 10 minutos a cada confusão na área porque não souberam implementar o árbitro de vídeo. No campeonato inglês, os árbitros tem segundos para tomar uma decisão. Aqui fica essa palhaçada sem fim, e todo mundo reclamando do mesmo jeito no final. Mas, de boa? Eles que se afundem. Os dirigentes sul-americanos são em sua maioria muito ricos e muito corruptos. Ninguém te força a ter dó deles, pelo menos. Que a CBF, a AFA e similares se explodam na sua própria incompetência, todo mundo vai dar risada.

Só que nesse mesmo barco de incompetência está o futebol feminino. E nele a encheção de saco está viva como nunca. O bando de chatos habituais se uniu em torno da Copa do Mundo feminina para tentar nos fazer sentir mal por não acompanhar o torneio. Querem que nos sintamos pessoas horríveis por não ver os jogos ou torcer pelas mulheres. Imagina só a reação das pessoas se grandes meios de mídia ficassem criticando as pessoas por não comprarem ingressos caros para ver aqueles marmanjos perna-de-pau da Copa América? Todo mundo os mandaria tomar bem no meio das traves do cu. Mas no futebol feminino não pode…

Não pode dizer que o produto futebol feminino é uma merda. Porque aparentemente é machismo ou mesmo misoginia. Livre-se dessa programação, repita comigo: futebol feminino é uma merda! É patético até. E isso não quer dizer que mulher não saiba ou deva jogar futebol, quer dizer que o produto é terrível. Num misto de incompetência da FIFA com a mentalidade horrenda de muitas jogadoras de que “são iguais em tudo” aos jogadores masculinos, o esporte sangra a olhos vistos. Está tudo errado no campo feminino. Mulheres são menores e menos atléticas, mas jogam no mesmo campo que os homens. Já viram um jogo? Elas ficam espalhadas pelo campo como formigas, muito longe umas das outras. O campo tinha que ser consideravelmente menor para aumentar a dinâmica do jogo.

A bola é a mesma! Bola de futebol parece leve, mas não é. Precisa de muita musculatura e resistência para pegar nela com a força necessária para um jogo rápido. A bola tinha que ser mais leve, ou menor. Porque o jogo feminino fica parecendo uma partida de peteca, com a bola subindo e descendo lentamente em arcos curtos por falta de potência nos chutes e passes. Se a bola no chão quase chega no seu joelho, é hora de repensar o tamanho dela. E nem me fale sobre os gols…

Goleiras altas no futebol feminino são equivalentes aos goleiros mais baixos do futebol masculino. Anãs debaixo daquelas traves. Sem explosão suficiente para buscar a boa jogada nos cantos. Gol de futebol feminino normalmente compreende um chute bizarro e uma goleira que fica parada olhando a bola entrar porque nunca que iria alcançar aquilo. O campo, a bola e as traves tinham que ser corrigidas para o esporte ficar minimamente agradável. Vôlei e basquete femininos fazem isso e funciona.

E vamos falar a verdade: uma das graças do esporte também são os corpos das atletas. Tanto treino nas pernas no mínimo deve render umas bundas bacanas de ver, mas estão todas com shorts largos imitando uniformes masculinos. Mulher usa roupa apertada na bunda para TUDO na vida, mas quando entra em campo aparentemente não pode mais. Precisa de bunda para homem ver futebol feminino? Provavelmente não. Basta melhorar a qualidade do produto, mas nem isso querem oferecer. Os jogadores masculinos aceitaram uniformes BEM mais apertados nas últimas décadas, as mulheres e os gays que assistem devem ter gostado bem mais. Até homem entendeu que mostrar a bunda melhorava a audiência, mas que teimosia ridícula é essa do futebol feminino?

E olha que tudo isso é falando de como as jogadoras realmente boas podem fazer isso funcionar. Sim, tem pouca gente jogando e vemos muitas amadoras em campeonatos, mas isso pode melhorar com o tempo se começarem a pensar mais no produto futebol feminino e menos nessa asneira inútil de “respeita as mina”. Não, foda-se as mina, porque elas jogam um arremedo de esporte sem potencial claro de lucratividade e precisam desse feedback para tornar seu esporte atrativo.

Feminismo histérico não ajuda ninguém, nem as mulheres. Querem igualdade? Então tem igualdade na honestidade: futebol feminino é muito ruim de ver e eu fico triste que a Marta não tenha nascido homem, porque ela merecia muito mais. Melhora esse produto aí, que até jogo da seleção brasileira masculina anda melhor de ver.

Para dizer que eu sou machista, para dizer que esporte feminino é vôlei e só, ou mesmo para dizer que assistir por pena está de ótimo tamanho: somir@desfavor.com

Se você encontrou algum erro na postagem, selecione o pedaço e digite Ctrl+Enter para nos avisar.

Etiquetas: ,

Comments (15)

  • Dois textos espetaculares. Concordo com cada ponto que foi levantado. Da falta de qualidade do jogo à incapacidade física de praticar o esporte no mesmo molde do praticado por homens. De como o produto é ruim, de como o produto masculino na América Latina é ruim. De como assistir futebol feminino é um saco e como você não pode externar isso sem sem taxado de misógino.

    Acertaram em todas.

  • O futebol feminino ser lento nem é o maior problema para mim; duro é você perceber que nenhuma seleção, dentre as grandes da categoria, tem criatividade. O Brasil, aliás, era o único que tentava fazer algo mais cadenciado, bonito, mais próximo do masculino – muito disso graças à Marta, nos bons tempos.

    Marta ter se transformado de excelente jogadora em péssima lacradora é um sinal – de que nos lascamos.

  • 20comer70correr

    5×0 fora o baile da maior seleção de futebol do planeta.

    Amanhã as “guerreiras” do Brasil entram em campo para envergonhar seu povo novamente.

  • Nem vejo o futebol masculino, imagina o feminino. Deus me free dessa chatice. Aliás, já peguei um “ranço” (é, tive que usar essa palavra porque é a que define melhor meu sentimento) involuntário pela Marta porque ela bateu o pézinho dizendo que não ia aceitar patrocínio porque “recebe menos que homem” – sem comentários pra uma atitude dessas (Gisele Bündchen ganha oceanos de dinheiro, provavelmente muito mais do que quase todos os modelos masculinos juntos, mas você não vê nenhuma feminista reclamando de “desigualdade salarial” nesse caso. Típico).

    E eu também sou da “opinião impopular” de que há esportes em que homens se saem melhor que as mulheres e vice-e-versa. Eu gosto muito de Pole Dance, por exemplo, mas só acho interessante quando é mulher fazendo (tipo, tem uns homens que mandam bem, são muito habilidosos, mas sei lá… Não chego a achar uma merda ou ruim, mas pra mim fica faltando algo a mais).

  • Estou passando uma semana na casa da minha avó e às vezes vejo parte de algum jogo por tabela. Nem os narradores conseguem esconder o tédio e a frustração.

  • Outra coisa ruim de ver a seleção feminina da Argentina jogar é que não podemos nem culpar o Higuaín pela derrota.

  • Vocês agora lêem pensamento, é? Ontem mesmo mostrei pro meu pai este vídeo do Paul Joseph Watson: https://www.youtube.com/watch?v=r76u3K27oUE, publicado há dois anos e no qual ele diz muito do que também foi exposto aqui. Em tempo: esse Paul Joseph Watson é um escritor, radialista e web-celebridade britânico de direita e conservador.

  • E se homem falar que não curte futebol chamam de viado. Futebol é um saco! Tanto de homem quanto de mulher. De mulher menos mal, que tem umas gostosinhas.

  • “(…) não importa a realidade, e vai ser massificado na sua cabeça até você concordar ou, ao menos, fazer por puro constrangimento. Um exemplo: funcionários dispensados mais cedo do trabalho para ver o jogo de futebol feminino. Sejam sinceros, quantas dessas pessoas vocês acham que realmente viram os jogos?”

    Sério? Pois no meu trabalho, ninguém estava sequer sabendo que essa tal copa feminina estava acontecendo…

  • “Futebol feminino está virando apresentação de criança no colégio: é um saco, é precário, é mal feito, é escroto, mas neguinho vai assistir em um misto de culpa e obrigação”.

    Eu ri.

  • Minha singela opinião é que qualquer esporte profissional é pura perda de tempo. Futebol é só um dos mais idiotas e irritantes, e que ainda por cima nos faz perder postagens do desfavor.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Relatório de erros de ortografia

O texto a seguir será enviado para nossos editores: