Gêneros Musicais – Rock

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Tio Ge explica – gêneros musicais 2 – Rock

Continuando a série de textos sobre gêneros musicais, nesse eu falo de rock. Uma história do rock não será meu objetivo contar, existem livros por aí que se propõem a isso. Indico como leitura, aliás, o livro de Paul Friedlander, professor da Universidade de Oregon, Rock and Roll: uma história social. Entretanto, para comentar sobre os trocentos subgêneros subjacentes, não há como não ter que voltar um pouco na história, e talvez seja melhor mesmo comentar em ordem cronológica.

Pois bem, rock, em termos de estrutura harmônica, é algo bem simples em sua origem. É bem parecido com o pop, com uma estrutura de acordes que se repete incessantemente durante toda música, mas a diferença sutil reside mesmo na ideia de riff. Riff (ou célula rítmica) é um conjunto de notas que se repete durante toda melodia e que serve de base para improvisos outros com outros instrumentos. Quem aí nunca ouviu as primeiras notas de sweet child o’ mine de Guns e logo identificou, por essas primeiras notas, que se tratava realmente daquela música específica e não outra? Pois é. Toda música de rock tem seu riff, e existem vários riffs de músicas famosas por aí: I want to break free, crazy little thing called Love, sympathy to the devil, smeells like teen spirit, entre tantas outras.

Em termos de estruturação de arranjo, o rock conta com uma bateria marcante (bumbo-surdo-caixa alta/clara-pratos de maneira totalmente clara, som pesado, aprofundado, nítido), um baixo elétrico, e as guitarras amplificadas, sendo minimamente duas: uma pra fazer os riffs e outra pra fazer os solos. É possível encontrar às vezes 3 ou 4 guitarras, como em Metallica, Dragonforce ou Aerosmith, pra fazer além dos riffs e solo, também o lead e rythm guitar. Além disso, pode ter também (embora não seja item obrigatório) teclados com alguns efeitos, e alguns instrumentos de sopro pra fazer os chamados “recheios”, que consistem em algumas poucas notas no meio do arranjo. Muito raramente tu se depara também com órgãos do tipo hammond com aqueles vibratos emocionantes. Não podem faltar também, obviamente, os vocais, que também devem ser presentes, voz forte, tons geralmente altos, seguidos até de alguns berros e gritos como na vertente do heavy metal.

Em termos de progressão harmônica, existem duas que são básicas: I-IV-V e V-II-IV-I. Partindo de dó, para fins didáticos, temos: acordes dó-fá-sol e sol-ré-fá-do. Sim, o rock é só isso. Mesmo. O rock, na verdade, vem lá do blues, embora sofra influência também do country e do r&b (em outro texto explico sobre o blues, que é realmente algo mais complicado) com uma repetição enorme de quase sempre os mesmos acordes, e que segue o padrão de 12 compassos com a fórmula I-IV-I-I/IV-IV-I-I/V-IV-I-V. Mas, como disse no texto anterior, para cada subgênero muda-se a estrutura harmônica e progressão da mesma.

O rock nasce lá nos anos 1950, e é difícil determinar com exatidão suas origens graças à enorme influência de outros gêneros no meio. Há quem diga que ele já começa lá nos anos 1940 com forte influência do boogie woogie, e há discussões sobre isso até hoje. O nome “rock” vem de “rocking”, algo que exprime a ideia de um êxtase espiritual, vocabulário bastante usado pela música gospel. Já o “roll”, segundo consta, pode ter duas origens: a primeira remete a uma ideia de relação sexual, a segunda a uma ideia de trabalhadores braçais que trabalhavam nas ferrovias Reconstruction South. Para manter o ritmo de trabalho, os homens cantavam canções no ritmo do martelo, daí o nome roll.

O fato é: os nomes mais representativos nesse período são: Elvis Presley, Chuck Berry, Jerry Lee Lewis, Johny Cash e Bill Haley. O primeiro subgênero que nasce daí é o rockabilly, que não tem diferença em termos de estrutura com o rock dito “clássico”, na sua forma pura, apenas se diferencia pelo fato de que foi tocado por cantores brancos, e que tinha boa influência da música country. O termo, inclusive, é uma junção da palavra “rock” com “hillbillies” que significa caipiras.

Nos anos 1960 a coisa muda de figura, e quem domina o cenário são os Beatles. Há quem ame, há quem odeie, não vou entrar nisso. Também há toda a questão do mérito relativo ao contexto histórico da época, também não vou entrar nisso. Há quem diga também que é a maior banda do século, eu particularmente fico incomodado com esse tipo de idolatria, aliás, estou pra ver uma banda que dure cem anos emplacando sempre os primeiros lugares nas paradas de sucesso. Talvez o Queen, mas numa faixa de espectro aí de 40 anos, e ainda assim, discutível…

O que os Beatles trazem de novidade, em relação às estruturas harmônicas, é basicamente o uso de uma progressão mais estendida e o uso de substituição de acordes. Exemplo: lembram daquela progressão simples I-IV-V? Pois bem, eles alongavam para I-IV-V-VII antes de voltar para o I, ou mesmo substituíam o V pelo VIm (o m depois do algarismo romano indica que o acorde é menor) ou pelo IIm7 (o número aqui indica que o acorde é acompanhado da sétima, isto é, a 7ª nota a partir da fundamental/tônica).

Já em termos de arranjo, eles trazem sim novidades que até então não haviam sido experimentadas. Teve a mistura das guitarras de rock com elementos da música clássica. Teve também o uso de efeitos sonoros com uso de loops (um pequeno pedaço de áudio que se repete incessantemente), double tracks (duas faixas do mesmo instrumento sendo tocadas ao mesmo tempo) separadas em estéreo, uma de cada lado, e com variações de velocidade e volume entre elas, o dubbing vocal, novas formas de equalização, novas formas de posicionar o microfone e a guitarra a fim de provocar feedbacks e microfonias, enfim. Para além disso, vale acrescentar que John Lenon e Paul McCartney sabiam o que estavam fazendo, eles sabiam misturar vozes e construir polifonias à la Bach.

Ao mesmo tempo (mais precisamente, até em 1964, que foi o auge) nos EUA o subgênero que dominava era o surf music. Mesma estrutura harmônica do rock clássico, a diferença reside mesmo no timbre de guitarra utilizado no arranjo: abusava-se do efeito de “reveerb”, que consiste em alongar o som da nota por mais tempo reverberando no ar, daí dava-se um efeito de imitar o som das ondas do mar com aquele “wuon wuon wuon” produzido pela oscilação harmônica das cordas da guitarra. Os maiores representantes desse gênero são Beach Boys e Dick Dale.

Ainda nos anos 1960 acontece um monte de coisa ao mesmo tempo: destacam-se Rolling Stones com umas letras pesadas e umas levadas de guitarras bem pesadas com muitos amplificadores e pedais, tem também o surgimento do “garage rock”, que como nome já diz, são essas bandinhas que tocavam de maneira um tanto precária nas garagens. O som costuma ser cru, principalmente de bateria, afinal, gravar em um lugar desses é realmente complicado. É comum o uso de pedais “fuzzy” pra distorcer bastante a guitarra, e em termos de progressão harmônica, ao invés do clássico I-IV-V, partem do IV grau e usam IV-V-VII. Destacam-se aqui Patti Smith, The Pretty Things, The Animals, The Kinks.

Na outra ponta está o surgimento do “Power pop” que vai ter seu auge nos anos 1970 e vai desencadear no new wave dos anos 1980. O estilo é uma tentativa de estrutura rítmica que vem do hard rock com uma pegada pop. Aqui entram como representantes The Who, The Byrds, Beach Boys, e até um pouco dos Beatles. Em outra ponta também está o surgimento do folk rock, que é nada menos que a mistura do folk tradicional com timbres de guitarra. E, pra entender bem grosso modo o que é folk, a palavra vem de “folklorie”, significa música do povo, tradicional, tem suas origens na música celta e bávara. É comum o uso de harpa, violinos, bandolim e gaita no meio do arranjo, e em termos de estrutura temos algo diferente aqui: seguem vários acordes menores encadeados entre 5as e 4as (exemplo: V-I-II-V-III-VI-VII-I), que quase sempre dão um ar melancólico à coisa. Representantes da música folk hoje são The Coorrs e Damien Rice, com aquelas músicas tristes e melancólicas. Representante do passado posso citar The Mammas & The Pappas.

Além de todos esses subgêneros, nasce também nessa época o country rock que, da mesma forma que o folk, implica apenas na substituição do violão acústico, utilizado no country tradicional, por guitarras amplificadas pra deixar o som mais pesado. Só que em termos de estrutura harmônica, eu diria, o country é bem interessante: ele costuma utilizar tanto acordes quanto notas paralelas entre intervalos de 3ª ou de 4ª descendo e subindo a escala rapidamente pra lá e pra cá. Exemplo bem básico: “si-sol-lá-fá-sol-mi-fá-ré/fá-dó-si-dó-si-ré-dó-mi-ré-fá-mi-sol-fá-lá-sol-si”. Reparem que entre si e sol há um intervalo de 3ª, entre lá e fá também, entre sol e mi, entre fá e ré, e por aí vai. Dá pra notar isso naquela música “the devil went down to Georgia”, ou mesmo nas músicas de Alan Jackson.

Pra tentar fechar os anos 1960 (é realmente muita coisa!) tem também o surgimento do hard rock em oposição ao soft rock, e o heavy metal. Mas ambos os estilos terão seus auges na década seguinte. O hard rock tem esse nome porque “hard” designa algo pesado, duro, e era justamente a ideia que queriam passar com aquelas guitarras barulhentas cheias de saturadores harmônicos e amplificadores valvulados, pedais de distorção, bem como aquela bateria marcante, com bumbo e caixa clara bem profundos (papo técnico: punch) e nítidos. Isso tudo além de pratos bem marcados e vocais gurutais, que por vezes chegavam ao falsete. Jimmi Hendrix, Led Zeppeling, Eric Clapton, Deep Purple, Aerosmith, Metallica, Guns, AC/DC, Kiss, Thin Lizzy, Black Sabbath, Ozzy Ousborny, Van Halen, entram todos aqui.

Em termos de estrutura harmônica, aqui a coisa começa a ficar interessante, pois para além do clichê I-IV-V começa-se a usar progressões maiores e encadeamentos mais intensos com substituição de acordes aqui e ali. Exemplo é a progressão I-IIm7-IV-V-V7-subV7-III-VII-VIIm7-I7. Partindo de dó, vou ter: dó-ré menor com sétima-fá-sol com sétima-substituto de quinta com sétima (ré)-mi-lá-si menor com sétima. Começa-se a usar os chamados Power chords que são os acordes sem a 3ª nota lá no meio. Exemplo partindo de dó: ao invés de dó-mi-sol, vou ter apenas dó-sol sendo tocados na guitarra. O intervalo entre essas duas notas produz uma dissonância interessante ao ouvido, além de uma tensão interessante que pode ser bastante explorada para outros encadeamentos harmônicos. Além disso, nos solos era comum utilizar a escala pentatônica maior. Essa escala, bem resumidamente, é uma escala de cinco notas, excluindo o IV e o VII graus. Exemplo partindo de dó: dó-ré-mi-sol-lá. Sim, aqueles solos intermináveis e infernais da guitarra nos agudos utilizam só essas notas, é só isso mesmo!

Um exemplo contemporâneo pra notar tudo isso é Nickelback, principalmente aquele álbum de 2008, “dark horse”, que está recheado de elementos do hard rock. Menção honrosa para a faixa “Just to get high”.

O soft rock faz uma oposição ao hard rock: não há essa estrutura complexa nem nada pesado. Ao contrário, é tudo leve, guitarra acústica ao invés de elétrica, letras que falam de amor, ritmo mais lento. Representantes desse gênero são Elton John, Rod Stewart, The Carpenters, e Bee Geese.

O heavy metal (ou simplesmente metal) é bem próximo do hard rock em termos de estrutura, e por vezes até confundido com este. Judas Priest e Iron Maiden entram aqui nesse rol, Kiss em menor grau. Alice Cooper, Poison, Motorhead e toda essa turminha entram aqui. Mas a ideia do metal é produzir aquele som de objetos de metais rangendo e batendo uns contra os outros, daí o uso aos adeptos do gênero de acessórios como correntes metálicas. Aliás, pequena curiosidade, para quem não sabe, o som da guitarra sem nenhum pedal de efeito e apenas com o captador principal ou ponte, é bem parecido com o som de um violão acústico. Ela só vai chegar àquele som arranhado com o uso de pedais e efeitos. O heavy metal, neste caso, abusa da distorção do timbre a fim de obter aquele som de rugido/rangendo metálico.

Quanto à estrutura harmônica, daí a coisa fica mais interessante ainda que o hard rock: há o uso da pentatônica maior, dos Power chords, mas agora acrescentam-se o uso de trítonos (intervalos de 3 tons inteiros (exemplo: fá-si) que gera uma puta tensão irritante e que pede pra resolver em algo estável, mas como o músico não resolve, deixa suspenso ou coloca outro acorde com maior tensão ainda, daí o sucesso virtuosístico desse tipo de arranjo). Além disso, há o uso das progressões dos modos gregos frígio e eólio, como I-VI-VII, I-VII-VI e IV-VI-IV-VII.

Explicando bem por alto aqui o que são os modos gregos: são nada menos que escalas, que seguem fórmulas específicas de agrupamento de tons e semitons. O modo frígio segue a fórmula semitom-tom-tom-tom-semitom-tom-tom, e o modo eólio segue a fórmula tom-semitom-tom-tom-semitom-tom-tom. Aplicando essa fórmula partindo de dó, vou ter: dó-réb-mib-fá-sol-láb-sib, e dó-ré-mib-fá-sol-láb-sib. Em outro texto vou acabar precisando voltar com mais profundidade nisso.

O riff no heavy metal também é algo interessante de ser notado, já que ele se diferencia pela rapidez na execução e várias “muted” notes com colcheias e semi-colcheias. Desenhando para ficar mais claro: sabe aquele ritmo pesadão bem do tipo tá ta-ra-ta ta-ra-ta ta-ra-ta sempre com 3 notinhas? Pois é. Sim, é um gênero sofisticado, para ouvidos sofisticados. Em minhas disciplinas de arranjo e composição tive que lidar com esses tipos de arranjo e… foi sofrível!

Uma variação do heavy metal bem conhecida é o nu-metal, ou new-metal. Ele surge lá nos anos 1990 com Red Hot Chilli Peppers, Janes Addiction, Rage Against The Machine e essa turminha aí, mas tem seu auge no começo dos anos 2 mil, e o maior representante é Linkin Park. A estrutura harmônica é simples, progressão clichê com algumas poucas variações, mas a inovação reside mesmo no uso de outros elementos como batidas e versos de rap no meio do arranjo, e mesmo no timbre da guitarra que tende a ser “nu”, isto é, som distorcido, agressivo, mas totalmente limpo, clean, sem aquele chiadinho vintage das guitarras dos anos 1970.

Outro gênero que ganha popularidade nos anos 1970 e que por vezes se confunde com o heavy metal é o rock progressivo. A ideia inicial era justamente produzir progressões simples, mas que fugissem do tradicional clichê de encadeamento harmônico. Daí se explica algumas músicas que são simplesmente I-II-III-V ou V-VI-VII-I se repetindo incessantemente.

Mas o rock progressivo cresceu em termos de estrutura e ideia, e, não raro, é comum achar algumas músicas aí com mais de 15 minutos de duração com solos intermináveis. A ideia outra do progressivo diz respeito a uma progressão longa, que se assemelha à forma sonata na música erudita: há a exposição de um tema 1 e 2, variação A e B dos temas 1 e 2, e depois de toda essa mistura, desenvolvimento e conclusão dos mesmos, isso quando não resolvem também inserir um enorme solo, seguido de outro refrão, outro solo curtinho e aí sim finalizar a música. Dá pra encontrar isso em Pink Floyd, Jethro Tull, Dragonforce, Genesis, e Emerson Lake & Palmer.

Em termos de arranjo, aqui vira uma mistura de tudo, com violinos, violoncelo, trompete, piano, órgãos hammond, moog, além de sintetizadores com aqueles sons “diferentão”, isso fora exploração de harmonia vocal, como coros em intervalos de 5ª e 4ª, assim como usados na igreja. Em termos de estrutura harmônica, aí a coisa pega: por vezes segue a mesma estrutura do heavy metal, por vezes seguem progressões não tão usuais, porém bem longas, pra não dizer intermináveis. Exemplo: I-IIm7-IV-V-V7-subV7-III7-VIm6-IV7-VII-V-VII7-I7.

Explicando essa progressão, ela é nada menos que aquela I-V-VII-I, só que adiciona um IIm7-V no meio, seguido de um IV-V7-subV7 entre o V e o VII grau, e um III7-VI antes de chegar no VII, e um “retardo” da cadência voltando pro V grau pra preparar para o VII7 e daí concluir em I com sétima. Tirando toda essa sopa de letrinhas e números, o mecanismo interno reside, simplesmente, num salto entre II-V, III-VI e V-VII, tudo isso no meio da progressão principal que é I-V-VII-I. Sim, é realmente longo e complicado.

Ainda nos anos 1970, surge também o glam rock, que é o diminutivo de “glamour”. Aqui, o que conta é o visual: tem que ser carregado, glamuroso, purpurinas,saltos, batons, glitter, lantejoulas, tudo que os anos 1970 exige. Acho que não preciso citar Queen aqui, né? Outras bandas que entram nesse meio são T-Rex, Kiss, Europe, Skid Row, Guardian, e David Bowie. Em termos de estrutura, segue quase sempre aquela progressão clichê I-IV-V, a novidade aqui reside no uso da sétimas dominante nos acordes tônicos e dominante pra dar aquele ar de grandeza, de algo quente e explosivo. Sim, adicionar uma sétima ao acorde I e V dá mais peso ao encadeamento harmônico, deixa o som mais cheio e mais rico.

Na metade dos anos 1970, e já indo para os anos 1980, surge o punk rock. A ideia do punk é algo como transmitir raiva, revolta, insatisfação com as injustiças do mundo, enfim. O som é pesado, letras pesadas, letras de protesto, etc. Exemplares desse gênero são The Clash, Sex Pistols, Bad Brains. Em termos de estrutura harmônica, diria que é um tanto pobre, pois tende a utilizar aquele outro clichê do tipo V-II-IV-I com Power chords, e solos curtos.

Ainda nesse entremeio dos anos 1970 a 1980, tem também o new wave, que tem como gênero análogo o synth-pop. Grosso modo, não muda nada em termos de harmonia. A novidade aqui é o uso do teclado sintetizador (um tipo de teclado que tu pode manipular a forma de onda do jeito que quiser, pra criar o som que quiser) como elemento principal, e mesmo substituto da guitarra elétrica. Quando não é isso, surgem na cena os keytars, que são aquelas guitarras com teclas. Bandas que entram aqui tem aos montes: Blondie, A-ha, Pet Shop Boys, Eurythmics, Deepeche Mode, Duran Duran, Erasure, INSX, Tears For Fears, The Human League, entre tantas outras.

Indo para os anos 1990, basicamente surgem trocentos subgêneros que são variações do que já foi feito nos anos 1980 e 1970 com o heavy metal e o hard rock: death metal (com letras que falam de morte), Black metal, metal sinfônico (que dão a parecer uma sinfonia), rock gótico (com letras que falam de noite, escuridão, anjos, demônios), metal alternativo, metal progressivo, entre tantos outros. Em termos de estrutura não muda muita coisa, no máximo aparecem umas experimentações interessantes com acordes de 6ª ou 4ª. Novamente, explicando rapidinho: acordes de 6ª utilizam a sexta nota da escala pra acrescentar dissonâncias, ao invés da sétima. Partindo de dó, como exemplo, vou ter dó-mi-sol-lá.

Dois subgêneros que merecem maiores comentários nos anos 1990 são o alternativo e o grunge. O alternativo nasce, na verdade, lá nos anos 1980, mas ganha popularidade só na década seguinte. O termo se refere a duas coisas: primeiro o fato de as composições serem lançadas por bandas e mesmo selos e gravadoras independentes, menores, e desconhecidas das grandes gravadoras mundiais; segundo, porque o tipo de som produzido era alternativo: ao invés dos usos tradicionais de instrumentos, mesmo de sintetizadores eletrônicos, começa-se a compor utilizando-se sons de outras fontes, como caixinhas de fósforo batendo, rodinhas de skate girando, motor de carro ligando, entre outros. A estrutura harmônica segue a mesma dos anos anteriores com o hard rock. Aqui dá pra citar Dinossaur Jr, The Pixies, R.E.M, Sonic Youth, Jane’s Addiction e até Muse.

O grunge, por sua vez, é algo bem interessante: tem muita influência do heavy metal, não só em termos de timbre (uso exaustivo de guitarras distorcidas, vários pedais), mas também em termos de sonoridade e complexidade harmônica. Não bastassem os powers chords, os trítonos e os modos gregos, a novidade agora reside nas notas justapostas (exemplo: dó-ré) tocadas simultaneamente seguidas de inversões de acordes com 9ª bemol e 11ª sustenida. Inversão de acorde bem resumidamente, é tocar o acorde em posição de notas diferentes. Exemplo: dó-mi-sol é o acorde de dó, certo? Mas tanto faz se eu tocar mi-sol-dó ou sol-dó-mi, que continuará sendo o acorde de dó, só que com outra nuance. Isso dá outras possibilidades ao arranjo, já que muda a altimetria das notas.

Os maiores representantes desse gênero nos anos 1990 são Nirvana, Pearl Jam, e Alice in Chains. Quanto às letras, seguem temas de protesto, com ironia e sarcasmo, liberdade, necessidade de se desprender das pressões sociais, entre outros. Dá pra dizer que é uma variação do punk, mas com outra pegada. No final dos anos 1990 e começo dos anos 2000 ainda há uma espécie de revival do gênero, chamado post-grunge, cujos representantes são Foo Fighters, Creed, Matchbox Twenty, 3 doors down, Audioslavie, Three days Grace, Incubus e Nickelback. Sim, pra quem não sabe, Nickelback antes de ficar famoso com aquelas baladas românticas chicletes dos idos de 2003, tocava um som um tanto mais pesado.

Na tentativa de finalizar esse texto, dá pra comentar rapidinho sobre as tendências contemporâneas a partir dos anos 2000: de um lado há o nu metal (já comentei anteriormente, então…), de outro o indie rock, o emocore e o rock industrial. O indie, basicamente, é diminutivo de “independent”, e tem sua origem também lá nos anos 1980 e auge nos anos 1990. É outro nome, a bem dizer, pra alternativo, com o mesmo esquema de fugir das grandes gravadoras mundiais, mantendo apenas sua produção independente. Aqui entram bandas como Pixiels, Artic Monkeys, 4 non Blondies, The Strokes, Arcade Fire, The Killers, entre outros. Nada de novidade em termos de estrutura harmônica, no máximo há experimentações de timbres de guitarras, mas começa, lentamente a deixar para trás aquele monte de guitarras distorcidas com som pesado, dando prioridade a um som mais limpo e bem trabalhado com a melodia e letra. Por vezes, o indie rock se confunde com o indie pop, basta ver por aí as letras de Lilly Allen, Florence + the Machine e Belle and Sebastian.

O rock industrial vem diretamente da música industrial, que é um conceito artístico que vem lá das vanguardas do século XX, particularmente do concretismo e do minimalismo. Tem forte influência da música eletrônica, repetição incessante de uma gravação (loop), cruzamento de várias gravações de modo mais lento ou acelerado, invertido, em alturas diferentes, tonalidades diferentes, enfim. Junte a essas técnicas o som pesado das guitarras e tu tens o rock industrial. Bandas como Rammstein, Godflesh, Oomph!, Nine Inch Nails entram aqui. A coisa também comaça lá nos anos 1980, e nos anos 2000 parece ter um revival leve.

O emocore teve seu auge aqui no Brasil nos idos de 2005 por aí, e que tem como representantes Simple Plan, Paramore, My Chemical Romance, Good Charlotte, e essas bandinhas por aí, e seu nome significa “emotional” rock. A característica principal aqui são as letras, que são bem emocionais, depressivas até, e por vezes com tom confessional e triste. Junte-se a isso um arranjo com o uso exaustivo de guitarras barulhentas, pedais de distorção, com riffs bem cadenciados (progressão clichê I-IV-V ou longas progressões usando a base I-IV-V-VII), e o uso de notas justapostas além de brincadeiras com a tônica no contratempo, ou ritmo e andamento com compasso quebradiço aqui e ali e… está feito!

Bem, é isso, eu certamente devo ter extrapolado o limite de páginas, e certamente também devo ter pulado algum subgênero ou outro, mas, por outro lado, o objetivo não foi contar uma história detalhada do gênero, apenas explicá-lo resumidamente.

Por: Ge

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Comments (8)

  • (…) nos EUA o subgênero que dominava era o surf music. Mesma estrutura harmônica do rock clássico, a diferença reside mesmo no timbre de guitarra utilizado no arranjo: abusava-se do efeito de “reverb”, que consiste em alongar o som da nota por mais tempo reverberando no ar, daí dava-se um efeito de imitar o som das ondas do mar com aquele “wuon wuon wuon” produzido pela oscilação harmônica das cordas da guitarra. “

    Perdoe-me se estiver falando besteira, mas isso teria a ver com o uso constante da alavanca na ponte das guitarras tipo Stratocaster? Olha o vídeo deste senhor solando “Crying”, do Roy Orbison pra ficar mais fácil de entender o que eu quero dizer. Ele palheta as cordas com a mão direita na alavanca o tempo todo. Confriam: https://www.youtube.com/watch?v=ILrXoL3Bkw4

    • Em partes. No caso ali do vídeo ele está usando a alavanca pra dar um leve tremolo nas notas, sem alterar significativamente os tons (frequência). Lembremos que existem duas alavancas, ou antes, dois parâmetros para a alavanca, uma pra dar tremolo e vibrato, e outra pra alterar a frequência.

      E, em relação ao surf rock, o que eles usavam mesmo pra valer era o pedal de reveerb e não a alavanca, e punham um reveerb bem longo (filtro passa alta com modulação fx de sinal senoidal da onda) pra dar aquele som de wuoon. Dá pra fazer mais ou menos a mesma coisa só com o captador da ponte, mas dá mais trabalho.

  • E o A.O.R. (Adult Oriented Rock), também chamado por alguns de Rock de Arena? Acho que aí entrariam Journey, Toto, Kansas, Survivor, Foreigner, Asia, Boston, REO Speedwagon… Tenho pra mim que esse subgênero é o típico das trilhas sonoras dos comerciais do cigarro Hollywood nos anos 80. Acertei? E Bruce Springsteen? Se encaixa onde?

    • Arena rock eu diria que está mais para um conceito relacionado a algum evento do que um subgênero propriamente dito (como é o caso do pagode no samba). E, nesse caso, entram aí um pouco de hard rock, soft rock, metal e tudo mais.

      No caso de Bruce Springteen, diria que ele transita entre o soft rock, o folk rock e um pouco de country.

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