Lei de Murphy

“Lei de Murphy” é uma premissa pela qual se afirma que o universo está sempre a favor do erro: se algo pode dar errado, dará. É algo que vem sendo observado e registrado pela humanidade faz tempo, há relatos desta lei universal desde o século XIX. Certamente você já sentiu os efeitos da Lei de Murphy na própria pele: no único dia em que você sai sem guarda-chuva chove, a fila na qual você entrou é a que anda mais devagar, seu pão cai sempre com a manteiga voltada para baixo. Nada mais justo do que começar esta semana temática explicando um pouco mais sobre o assunto: Desfavor Explica Lei de Murphy.

O nome “Lei de Murphy” foi escolhido em homenagem ao capitão da Aeronáutica dos EUA, Edward A. Murphy Jr., que, muito bravo após uma série de contratempos em experimentos, afirmou que se existe mais de uma maneira de se executar uma tarefa, e alguma dessas maneiras resultasse em um desastre, certamente esta seria a maneira escolhida por alguém para executá-la. Daí derivaram centenas de premissas pessimistas conhecidas como “Lei de Murphy”, você pode conferir algumas delas aqui.

A fúria do capitão Murphy era totalmente justificada. Tudo começou quando engenheiros aeronáuticos decidiram testar um novo e perigoso sistema para medir a resistência do corpo humano à força da gravidade. Um voluntário ficava amarrado a uma cadeira que era acelerada num trilho a 320 km/h. Quando a cadeira atingia sua velocidade máxima, os engenheiros apertavam um botão e ela freava em menos de um segundo.

Essa desaceleração violenta tinha como objetivo reproduzir os efeitos da gravidade sobre o organismo, mas obviamente não fez muito bem para as cobaias. No primeiro teste, o voluntário (um físico da Aeronáutica) saiu muito machucado, com vários ossos quebrados e vasos sanguíneos rompidos. Nos meses seguintes, o teste foi repetido várias vezes, sempre com o voluntário se arrebentando. Um sacrifício que todos toparam em nome da ciência.

Um dia, com os estudos já em estágio avançado, o capitão Edward Murphy Jr., percebeu que os técnicos haviam cometido um erro terrível: os 16 sensores haviam sido ligados todos da forma errada. Todos. Por isso não funcionaram e não foi possível medir a força da gravidade em nenhum dos testes. Todo o sofrimento do voluntário havia sido em vão. Foi então que Murphy soltou a célebre frase, que acabou dando nome a uma espécie de lei universal profana.

Só que ele estava falando do ser humano, não do universo. Basicamente ele estava dizendo que o ser humano é tão burro, tosco, incompetente, falho e auto sabotador que se existe mais de uma maneira de se executar uma tarefa, e alguma dessas maneiras resultar num desastre, certamente será a maneira escolhida por alguém para executá-la. Basicamente ele estava chamando o a todos (inclusive a ele, pois falhou na fiscalização) de imbecis.

Mas, o tempo e o ego humano se encarregaram de ir modificando esta premissa, até a culpa parar no universo, como um ente mágico que atrapalha a vida de nós, pobres e inocentes humanos, vítimas desta maldade. Hoje, quando algo dá errado e culpamos a Lei de Murphy, é quase como dar um ar de inevitabilidade, como se o universo conspirasse sempre para o erro e para a falha e nós, pobres humanos, tivéssemos que lutar contra isso o tempo todo.

É mais agradável acreditar que o universo te sacaneou do que pensar que você foi incompetente de alguma forma. Nunca somos nós que não escolhermos direito, que não fiscalizamos direito, que não pensamos direito na situação. Melhor convencionar que a culpa é externa, vinda de uma força maior que não podemos compreender ou controlar. Não tem problema, afinal, a culpa é minha, eu a coloco em quem eu quiser.

Além disso, tem um componente de arrogância humana aí. O conceito de “dar certo” e dar “errado” é bem subjetivo. Tendemos a pensar que o “certo” é o que nós queremos que aconteça, quando inúmeras vezes fazemos escolhas muito erradas e nos arrependemos amargamente de ver nossos pedidos atendidos. Então, nem sempre o que nós consideramos como “dar certo” é efetivamente bom para nós, assim como nem sempre o que consideramos “dar errado” é necessariamente ruim.

Então, acreditar que, porque não aconteceu o que eu queria, as coisas deram errado, pode ser uma tremenda mentira. O mundo não conspira para satisfazer as suas vontades, é óbvio que por muitas vezes elas não serão atendidas, e nem sempre isso significa que as coisas deram errado, por mais que, às vezes, demoremos semanas, meses ou até anos para perceber isso.

Também tem um componente biológico: nosso cérebro tende a nos lembrar dos momentos em que tudo dá errado, seja como forma de fixar um aprendizado, seja como forma de proteção, para não repetir o erro. Por isso fica claramente registrado na nossa mente quando a Lei de Murphy se cumpre, mas deletamos as ocasiões onde tudo deu certo, reforçando a crença nessa lei dos azarados, pois o cérebro joga um holofote nela.

Ainda assim, alguns experimentos científicos, por mais risíveis que sejam, corroboram para a existência da Lei de Murphy. Não que o universo queira nos sacanear, provavelmente o universo tem mais o que fazer, você não é tão importante… Mas alguns resultados apontam que sim, muitas vezes as leis que regem este planeta tendem a gerar resultados que nós consideramos desfavoráveis. Então, se olharmos dentro da ótica da dualidade, do certo e errado, sim, pode ser que em algum nível a Lei de Murphy de fato exista.

Um exemplo bobo é a crença que o pão sempre cai com a manteiga voltada para baixo. Em tese, essa probabilidade seria de 50%, as chances de um pão cair com manteiga para baixo ou para cima seriam as mesmas, certo? Errado. Segundo um estudo publicado pelo físico britânico Robert Matthews, (“A Torrada em Queda – A Lei de Murphy e as Constantes Fundamentais”), o pão tende a cair com a manteiga para baixo mesmo. Ele comprovou isso através de cálculos matemáticos e experimentos científicos. Em seus experimentos, ele verificou que, em 9.821 quedas, 6.101 foram com a manteiga para baixo.

Os motivos? Há quem diga (simplificando muito) que o lado com manteiga pesa mais do que o outro, tornando mais provável que ele vá para a parte de baixo durante a queda. Há quem diga que a altura média das mesas humanas é a responsável, pois não são altas o suficiente para permitir um giro completo da torrada na queda. Há uma série de fatores ligados à física que podem explicar este evento desgraçado.

Mas há quem diga que se temos uma crença estabelecida de que a manteiga vai cair para baixo, criamos essa realidade diante dos nossos olhos, tal qual “transformamos” elétrons em ondas no experimento da Fenda Dupla. Não importa por qual motivo seja, pela física, pela matemática, pelas crenças que estão na nossa mente, por uma percepção seletiva nossa ou por qualquer outro motivo, há indícios da existência da Lei de Murphy nesse aspecto: quando falamos de pão com manteiga, a tendência é que tudo dê “errado” se ele cair, pois são maiores as chances dele cair com a manteiga para baixo.

Outro exemplo é a maravilhosa premissa de que as meias sempre entram na máquina de lavar de duas em duas e saem de uma em uma. Quando perdemos meias dentro da máquina nunca são as duas do mesmo par, é uma de cada par, para desfalcar nosso guarda-roupas. Assim, ficamos com meias únicas, que não tem par, e com a sensação de que o universo nos odeia.

Esta desgraça de perder meias dentro da máquina de lavar pode ser explicada pela teoria da probabilidade: se você coloca na máquina de lavar 20 meias (10 pares diferentes), depois de perder a primeira meia, as possibilidades da segunda meia perdida pertencer a outro par são de 18 em 19, contra 1 em 19 de que seja uma meia do mesmo par.

Então, pelas leis da matemática, as chances de você perder um pé de cada par são infinitamente maiores. Sem contar que se você perder as duas meias do mesmo par periga nem se dar conta disso, pois não terá uma meia sozinha para sinalizar o problema. Você só vai perceber se tiver contado quantos pares de meia colocou na máquina de lavar… quem faz isso?

Até o renomado físico Robert Oppenheimer, diretor do Projeto Manhattan para o desenvolvimento da bomba atômica, foi abalado pela Lei de Murphy. Seus colegas diziam que quando estava presente com as outras pessoas no laboratório, a chance de alguém derrubar um muffin e o bolinho cair virado para baixo eram significativamente maior. Durante muito tempo ele teve que escutar reclamações sobre esse “efeito” da sua presença.

Parece piada, mas aquilo começou a incomodar Robert, que dedicou um bom tempo a estudar a Lei de Murphy e chegou à conclusão que sim, as coisas, no geral, tendem ao erro e que era muito importante levar isso em conta na hora de tomar decisões. Ele atribuiu boa parte do sucesso do seu trabalho a isso, a ter essa perspectiva de calcular e corrigir os erros antes que eles aconteçam.

Então, a Lei de Murphy existe, mas não como algo pessoal, como o universo sacaneando você. São leis de funcionamento geral que regem este planeta e se aplicam a você a mais oito bilhões de pessoas. Bens materiais se deterioram, então, cedo ou tarde sua geladeira vai quebrar. Atrasos acontecem, então, cedo ou tarde você pode pegar um trânsito fora do comum. Porém, classificar que estas coisas aconteceram no “pior momento possível” é intervenção humana.

Convenhamos, nunca é um bom momento para ser obrigado a gastar muito dinheiro ou para chegar atrasado a um compromisso. Mas, talvez, se você parar para pensar, o momento que você julga como péssimo pode não ser o ideal, mas está longe de ser o pior momento da sua vida para aquilo acontecer. Ou, quem sabe, você tenha ficado preso em um engarrafamento diversas outras vezes, só não registrou isso como um evento grave por, no dia, não ter compromisso.

Colocamos um holofote quando algo ruim acontece em um momento desafortunado e confirmamos em nossos cérebros a existência da Lei de Murphy, mas a verdade é que coisas boas e ruins acontecem todos os dias e provavelmente não são nenhuma providência divina ou lei do universo, são coisa muito mais simples do que isso.

A Lei de Murphy nada mais é do que um reflexo da estupidez humana e de um desejo de controle ilusório que nunca teremos. “O universo me sacaneou” ou “Tem uma força maior que faz tudo convergir para o erro” são premissas mais agradáveis do que “A culpa é minha por ter escolhido um funcionário incompetente” ou “Eu errei por não tomar o devido cuidado”. Lei de Murphy é, em última instância, uma espécie de Deus punitivo para ateus.

Para dizer que eu esqueci de colocar a assinatura e o Somir só percebeu agora que não dá mais tempo: sally@desfavor.com

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