Perigo nuclear.

Para comemorar o Dia do Nerd aqui na República Impopular do Desfavor, dia 10 de julho, inauguramos a Semana Radioativa: contaminação garantida ou seu dinheiro de volta!

E já entrando no tema, Sally e Somir começam discutindo o tamanho do problema do ser humano ter o poder de partir o átomo nas mãos. Os impopulares nos entregam suas cápsulas contaminadas de conhecimento.

Tema de hoje: a humanidade deveria ser proibida de utilizar energia nuclear?

SOMIR

Não. Como quase todas as coisas divertidas nessa vida, a energia nuclear é perigosa, mas isso não quer dizer que estejamos melhores sem poder fazer uso dela. E isso vale tanto por motivos práticos quanto ideológicos: energia nuclear é muito útil para a humanidade, mas também é um campo de estudos fascinante que nos permite conhecer mais sobre a verdadeira construção da nossa realidade.

Apesar de existirem alternativas menos arriscadas para geração de energia, especialmente as baseadas em recursos renováveis como as hidrelétricas, não é todo lugar desse mundo que pode dar conta de suas necessidades energéticas desse jeito. Usinas nucleares são realmente eficientes na produção de energia pelo espaço que ocupam, ajudando imensamente países como o Japão, por exemplo. Claro, no Brasil parece desnecessário, afinal, temos rios gigantescos e espaço de sobra para fazer barragens, mas essa não é a realidade de todos os países.

E apesar de todo o terror que tocam sobre essas usinas nucleares, elas são das mais “limpas” que existem. No dia-a-dia, o único subproduto delas é vapor d’água. Uma usina nuclear funciona utilizando material radioativo para aquecer água (sem encostar diretamente nela) e fazer funcionar turbinas de vapor. O combustível nuclear já utilizado que é o problema: ele precisa ser jogado fora e ainda não temos soluções muito boas para isso. Mas mesmo assim, não são quantidades gigantescas, até pela enorme eficiência energética por peso dos materiais radioativos: não precisa de toneladas disso, alguns barris reforçados já dão conta de todo o lixo radioativo.

E se você está pensando em Chernobyl ou Fukushima, vamos colocar as coisas em perspectiva: a primeira foi resultado de um Estado em processo de falência querendo fazer pose para o ocidente, a segunda foi resultado de um desastre natural gigantesco. Não representam a média. A maioria esmagadora das usinas nucleares está funcionando numa boa há décadas e ninguém sequer lembra delas. Toda usina produtora de energia é um risco para a população quando entra em colapso: se uma barragem de hidrelétrica se rompe, o estrago tende a ser até maior. E apesar do perigo de material radioativo vazando ser grande, não é como se fosse algo global: fica restrito à área, e muito dessa área é demarcada mais por excesso de zelo das autoridades (vulgo medo de processo) do que propriamente risco imediato. O mundo é muito grande…

E aproveitando esse ponto: energia nuclear também pode ser considerada no arsenal atômico presente no mundo. Bombas atômicas são bem mais perigosas, certo? Em tese sim. Na prática, nem tanto. A gripe mata por ano mais gente que morreu depois de todas as bombas já usadas pela humanidade. O que os EUA fizeram no Japão foi horrendo, mas pelo menos fez o resto do mundo perceber o que tinha nas mãos. Se não usamos mais bombas nem na Guerra Fria, é porque elas se provaram uma solução pior do que a maioria dos problemas que nasceram para evitar. Ninguém quer usar uma, porque o risco é enorme e a recompensa é o ódio do resto do planeta. Mas como eu disse, o mundo é muito grande:

Mesmo se todo o arsenal nuclear da humanidade for utilizado, a humanidade sobrevive, sofre, mas sobrevive. E olha que é muito improvável que isso seja possível de acontecer, até por motivos práticos: EUA e Rússia, por exemplo, sabem mais ou menos onde estão as bombas um do outro, e os primeiros ataques seriam justamente na capacidade de disparo do adversário. Não seria esse desastre todo. E muitos países como o Brasil sairiam mais ou menos ilesos disso tudo. O ser humano não tem poder para destruir o mundo, ainda falta muito para começarmos a nos preocupar com isso.

Dito isso, os benefícios compensam os riscos: o estudo necessário para desenvolver energia nuclear avançou nosso conhecimento científico consideravelmente, nos dando uma visão cada vez melhor sobre o mundo das partículas fundamentais. E é isso que está permitindo essa era de avanços tecnológicos exponenciais que vivemos. Quando olhamos para os átomos e seus componentes, as possibilidades aumentaram. Sim, o ser humano tem um ímpeto de autodestruição considerável, mas ele é, de certa forma, o subproduto radioativo da nossa melhor característica: a curiosidade. Fazemos coisas perigosas porque sem esse risco não há a recompensa da inovação.

Controlar esse ímpeto de criação que temos vai contra a natureza do que é ser humano. Sim, estaríamos mais seguros sem várias das tecnologias que criamos, mas não estaríamos realizados sem elas. Eu vou além: argumento que “brincar de Deus” não é só algo aceitável como não deixa de ser o sentido da vida humana. Somos macacos pelados curiosos e criativos, somos – até prova contundente no sentido oposto – a única manifestação consciente e capaz da matéria no universo. Sem essa suposta insanidade de ir lá e partir o átomo para gerar energia, não somos mais do que formigas.

Se a gente não fizer isso, quem vai fazer? Os golfinhos? O ser humano existe para “hackear” o universo, para fuçar em cada pedaço da realidade e descobrir tudo o que é possível. Isso é arriscado, claro, mas sem esse risco, somos só um buraco que consome energia conectado num buraco que excreta os dejetos. Se você acredita que esse propósito vem de fora ou se você acredita que ele só exista porque existimos não importa, ele está aí do mesmo jeito, manifestado a cada invenção, a cada inovação.

Nada deveria estar fora dos nossos limites senão os limites da própria existência. Vamos dividir o átomo sim, doa a quem doer. Porque a alternativa é deixar de ser humano… e não sei vocês, mas eu acho isso terrível.

Para dizer que o ser humano não deveria nada do que faz, para dizer que se não está na Bíblia não pode, ou mesmo para dizer que até fazer robôs sexuais a evolução não vai parar: somir@desfavor.com

SALLY

A utilização de energia nuclear deveria ser proibida à humanidade?

Sim. Mas eu sou suspeita para falar, na minha opinião, quase tudo com poder de destruição em massa deveria ser proibido para o ser humano, um serzinho involuído sem capacidade para lidar com nada que demande pensamento coletivo e sendo de responsabilidade.

Acho que ninguém vai discordar de mim quando digo que, atualmente, os líderes mundiais são, em sua esmagadora maioria, pessoas gananciosas, egoístas e inescrupulosas. Todos os dias temos inúmeras provas disso. O sistema pelo qual o mundo está regido acaba peneirando esse tipo de pessoa no poder: só chega quem segue uma determinada trilha, quase sempre incompatível com o que é ético e verdadeiro.

A pessoa que está no poder costuma focar apenas no que é bom para seu nicho de poder: ela, sua família, seus amigos, sua cidade, seu estado, seu país. Não importa o alcance deste círculo, ele não abarca toda a humanidade, como deveria. O planeta é um só, e para que o ser humano sobreviva nele, é preciso que esteja funcionando com um mínimo de recursos necessários a sua sobrevivência.

Um dos poucos estopins que pode acabar com a vida humana na face da Terra de uma hora para a outra é a energia nuclear. Eu acho que o planeta Terra ficaria melhor sem o ser humano? Sim, com certeza. Mas isso não quer dizer que eu aplauda uma extinção em massa com muita dor, sofrimento e catástrofe.

Se o ser humano extinguir seus recursos naturais, paciência, que seja extinto junto, fizemos todos por merecer e todos pagaremos essa conta quando ela chegar. Mas, dar a um o poder de acabar com 8 bilhões de pessoas me parece algo totalmente diferente e desproporcional. Essa conta não será nossa, e mesmo assim teremos que pagar.

E nem quero dizer que alguém irá fazer isso deliberadamente, acho possível, afinal, as pessoas estão cada vez mais loucas, porém não acredito que vá acontecer. Estou mais focada na incompetência mesmo, outra marca registrada do ser humano. Hoje, qualquer nação pode manipular energia nuclear e isso me parece uma temeridade. Tem usina nuclear no Rio de Janeiro, acho que com isso eu deixo bem claro meu ponto.

Não tem como transigir: ou pode, ou não pode. Estatisticamente, a maior parte de humanidade não está pronta, portanto, a solução lógica é que energia nuclear não deveria ser utilizada e ponto final. Não creio que nenhum ser humano detentor de cargo de poder tenha a sabedoria e responsabilidade necessárias para manejar algo que pode extinguir a vida humana da Terra de um segundo para o outro.

Já vimos acidentes nucleares e só estamos aqui pois tivemos sorte, muita sorte. Por uma questão de horas Chernobyl não explodiu por inteiro, varrendo do mapa metade do planeta. Por uma questão de sorte Fukushima não contaminou oceanos. Década após década, acidentes nos relembram que o ser humano não está pronto para manipular algo de tão grande impacto quanto a energia nuclear.

“Mas Sally, não tem de onde tirar energia”. Não me interessa. Dá-se um jeito. Deixa-se quem não consegue produzir energia sem risco nuclear no escuro. Não acho que o risco de uma catástrofe mundial que afete o planeta inteiro seja justificativa para cruzar essa linha. Não são apenas bombas nucleares o problema, a incompetência humana pode ser um inimigo muito maior do que qualquer guerra. O ser humano não mostrou maturidade, senso de responsabilidade e seriedade o bastante para lidar com energia nuclear.

Lidam com usinas de forma corrupta, mentindo, forjando e dando jeitinho. Constroem usinas na beira do mar, sem a infraestrutura necessária para resistir a um terremoto ou tsunami sem vazamento. Dá um tempo, não tem condições e capacidade para manejar energia nuclear!

Esse papo de “não tem outra solução” dura até a página 2. Se amanhã a energia nuclear não for mais uma possibilidade, rapidamente surgirá uma alternativa. Taí mais uma coisa que você precisa saber sobre o ser humano: ele só aprende a nadar quando a água bate na bunda.

A relação custo-benefício da energia nuclear não compensa. O risco é altíssimo, se levarmos em conta o combo incompetência + ganância. No pé em que está, a humanidade não faz por merecer manipular algo tão poderoso. E acho muito curioso que quem bane canudinho e sacolinha plástica não esteja preocupado com energia nuclear, algo que pode causar um dano muito maior e mais imediato.

O ser humano é falho, portanto, não é inteligente colocar em mãos humanas algo que, em caso de falha, causa uma morte lenta e dolorosa de toda a humanidade. Quando faz mal para as tartarugas fazem um escândalo por um simples canudo, quando pode fazer mal para toda a raça humana, não tem problema algum?

Uma coisa é morrer por uma cagada da coletividade, que não soube gerir recursos naturais e, como escolha coletiva, acabou com seu habitat natural. Outra coisa é morrer pela cagada individual de um imbecilóide que apertou um botão que não tinha que apertar, que não construiu uma estrutura com a segurança que devia construir ou que simplesmente ficou cego pelo poder. Minha conta eu pago de cabeça erguida, mas pagar a conta dos outros é foda.

Abarrotaram o mundo de forma que não são capazes de gerar energia em segurança para todos? Que pena. Dar energia nuclear nas mãos de gente idiota e/ou inescrupulosa não pode ser uma solução. O ser humano é um animal que encontra uma cápsula de chumbo com uma caveira pintada quebrada em um lixão, olha, vê que tem um pó azul fluorescente e, em vez de se afastar, se aproxima, esfrega na cara, bota no bolso e leva para casa. Sinceramente? Sem condições.

Para dizer que nunca tinha pensado nisso e agora está apavorado, para dizer que se for assim o ser humano não poderia usar nem facas ou ainda para reclamar da semana nerd que está por vir: sally@defavor.com

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Comments (5)

  • Eu até entendo a preocupação da Sally, mas fico com o Somir nessa. Entendo, ainda mais em contexto brasileiro. Brasileiro é burro, imbecil, sabe fazer nada direito, com coisa nuclear na mão então, realmente, bem capaz de provocar vários acidentes. Mas em países desenvolvidos diria que não é lá a mesma coisa em termos de comportamento humano, logo, lidar com energia nuclear talvez não seja tão difícil assim.

    E, me lembrando aqui brevemente de um comentário de uma amiga física doutoranda na europa, segundo ela, o mundo ainda tem solução sim, usando a energia nuclear. Mas é preciso investimento e disseminação de conhecimento, ambas coisas difíceis hoje em dia.

  • Tem que proibir não, todo avanço é bem vindo. Não devemos parar porque shitholes como o Merdil estão afundados num circulo vicioso de corrupção e incompetência. É a mesma coisa daquele povo que critica exploração espacial porque tem criança africana passando fome, sendo que não há nenhuma correlação e a culpa mesmo é daqueles ditadores de merda que vivem de torturar o próprio povo e boicotam qualquer ajuda estrangeira.

    • Não é só o Brasil, nações tidas como desenvolvidas como EUA e Japão, já fizeram um péssimo uso de energia nuclear. O ser humano não deve ter tanto poder

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