Contra-racismo.

Nos últimos dias Karol Conká têm sido alvo de críticas na internet por assumir um relacionamento com um homem branco. Sabendo do imbróglio, MC Carol, funkeira que já colaborou com a cantora, falou sobre o assunto e disse que “não assumiria um homem branco”. LINK


A fofoca pouco nos interessa, mas tem uma questão muito mais profunda aqui: o ser humano parece gostar demais de ser racista para aceitar qualquer evolução na área. Desfavor da semana.

SALLY

Não é a primeira vez que uma notícia nesse estilo aparece: uma pessoa negra é hostilizada por outras pessoas negras por se relacionar abertamente com uma pessoa branca.

Já é um absurdo que alguém que não te conhece e não conhece seu parceiro faça qualquer julgamento baseado em aparências para decretar que o casal não deve estar junto, mas é ainda mais ridículo quando um grupo que baseia sua “luta” em não ser discriminado pela cor da pele fundamenta suas críticas… na cor da pele!

Mas isso é chover no molhado, qualquer pessoa minimamente racional consegue ver o absurdo e a contradição. Assim como também é chover no molhado repetir aqui tudo que eu sempre digo sobre a burrice que é reforçar qualquer tipo de separação ou qualquer tipo de característica física ou de personalidade como causa para separação.

Então, para não chover no molhado, meu foco hoje é: o brasileiro é um racista filho da puta, não importa o quanto diga que não, não importa o quanto de campanhas educativas se façam, não importa o quanto racionalmente ele saiba que isso é errado. Está no sangue, é cultural, é a forma de funcionar deste povo. E isso tem consequências. E quando o que vem sendo semeado for colhido, acreditem, não vai ser bonito. E eu estou tão de saco cheio que vou rir dessa colheita maldita. Pronto, daqui pra frente, dificilmente você vai ler qualquer coisa parecida em outro lugar. Hora de carimbar seu passaporte para o inferno!

Brasileiros são racistas sim. Preconceituosos sim. Pode ser o tiozão desmerecendo um adolescente com cabelo colorido ou dread ou o adolescente com cabelo colorido ou dread desmerecendo o rapaz que vai trabalhar de terno. Não importa a tribo, ela sempre tem outras tribos que considera inferiores para se sentir superior.

Esse é o cerne: por ser um vira-lata o brasileiro adota como forma de funcionar se sentir bem ou se sentir superior inferiorizando os outros. Quando você aponta para alguém e diz o quanto uma característica física da pessoa a faz inferior, automaticamente você está se dizendo superior por não ter essa característica. O “coxinha” que está de terno é um babaca, logo, eu que não estou de terno sou malandrão.

O curioso é que pessoas que são assim, que vivem de se sentir melhor inferiorizando os outros, são as mesmas que levantam a bandeira de não fazer isso. Ah, mas a bandeira é seletiva: não façam isso COMIGO, com a minha cor da pele, com o meu grupo. Com o resto, pode sentar o cacete. Esculhambe um argentino no meio da rua e arrancará risadas (sou totalmente a favor). Agora diga as exatas mesmas coisas de um negro e seja conduzido a uma delegacia.

Para piorar, o povo brasileiro não é um exemplo de raciocínio nem de cultura, portanto, a argumentação é sofrida. Tentam justificar espezinhar outros grupos com desculpas patéticas como “dívida histórica”. Está mais para revanche histórica. Não se acaba com um comportamento reprovável reproduzindo-o. Dizem que querem acabar com o preconceito, mas não querem, o sonho do oprimido é ser opressor.

É de uma mediocridade que faz doer o peito. Não há esperanças. É um grau de involução que demorará séculos para chegar a um patamar aceitável para uma convivência saudável. O mais curioso é que estas mesmas pessoas ficam indignadíssimas se você as acusar de preconceito.

Nessa lógica de “defesa” pelo ataque, a sociedade caminha de mal a pior e a parte engraçada é que quem mais se ferra com isso são as “minorias”, que foram imbecis de comprar uma guerra ainda sendo minorias. É bem simples: você não hostiliza abertamente quem tem mais poder do que você se tiver um pouquinho de amor ao seu bem-estar. Mas, é um grupo que se estabeleceu como vítima e agora está perdido, tentando migrar para o papel de algoz. Por favor, existem outras posições muito melhores, não sejam medíocres.

Negra não pode se relacionar com branco? Negros tem que se relacionar entre eles? Então tá. Segrega mesmo, divide bem entre brancos e negros, se isso virar uma guerra, adivinha quem ganha? Adivinha quem ainda detém mais poder, os meios de produção e os cargos mais importantes? Sério, além de preconceituosos, estão sendo burros de doer.

Imagina só se essa notícia fosse o inverso: se uma pessoa branca recebesse críticas, nos mesmos termos, por se relacionar com um negro. Se fossem ditas as exatas mesmas coisas, coisas como “eu não assumiria em público” e coisas assim. Vocês têm ideia do tamanho da merda que seria? Os mesmos que gritariam histericamente são os que estão mostrando uma atitude preconceituosa. O Brasil é um país esquizofrênico.

É lamentável, muito lamentável, que cor da pele ainda seja uma questão para qualquer outro assunto que não o filtro solar que você vai aplicar. É lamentável que se alimente esse tipo de separação. Mas é ainda mais lamentável que o lado que está em desvantagem insista em ser o lado que polariza ainda mais as coisas. Se o caldo entornar, não vão gostar do que vai acontecer, mas, cá entre nós, quem ataca tem que estar preparado para uma resposta.

É de uma falta de noção da realidade, uma falta de bom senso e até mesmo falta de instinto de preservação. Pessoas ressentidas, inseguras, complexadas, que vivem em uma bolha de auto validação pela polaridade e não percebem o que estão desenhando na Big Picture. Queridos, a imagem que começa a se desenhar é muito, muito desfavorável para vocês e essa atitude é tão escrota que pessoa normalmente tolerantes como eu estão começando a achar bem feito o desfecho para o qual isso caminha.

Estão pedindo dualidade, estão pedindo polaridade, estão pedindo segregação. Quando ela realmente chegar, não vão gostar do resultado final. Aí vão falar em opressão, vão fazer discurso vitimista e toda aquela baboseira que a gente está cansado de escutar. NÃO. Quem planta merda colhe bosta. É um grupo que está desenhando essa realidade para si, e se um dia ela de fato se materializar, eu sinceramente vou achar pedagógico.

Ninguém é melhor do que ninguém, ninguém está acima de ninguém. Qualquer pessoa, grupo ou tribo que dedique sua vida a hostilizar o outro deve estar preparado para a resposta, pois sim, ela vem, principalmente quando o outro grupo é mais forte. Não recomendo fazer isso, mas se fizerem, bem, honrem as calças e arquem com as consequências, assumindo que procuraram por isso.

Para dizer que este texto dá cadeia, para dizer que acha bom mesmo que os grupos não se misturem ou ainda para dizer que você também está cansado a ponto de achar que eventuais consequências são fruto do que foi plantado: sally@desfavor.com

SOMIR

Desconfio imediatamente de quem diz que “não vê raça”. Ou a pessoa precisa de uma visita urgente ao oculista, ou está tentando ignorar a realidade. Mesmo que a diferença entre as pessoas seja uma mera concentração de melanina na pele, ela está lá e é catalogada pelo cérebro. Identificação de padrões é a base do funcionamento das nossas mentes, e querendo ou não, a sua tem já tem vários pré-conceitos baseados nessas diferenças evidentes.

O que muda, e muito, é a forma como você lida com essa informação armazenada: tem gente que define um senso de superioridade em alguma das raças, tem gente que desenvolve um ódio generalizado por uma ou várias, tem quem se esforce para continuar sendo justo e respeitoso com outras pessoas apesar desse instinto de generalização… e tem o que parece ser uma grande maioria em completa negação do óbvio, querendo saciar seu desejo primal de ser racista ao mesmo tempo que quer projetar a imagem de uma boa pessoa, sem levantar um dedo para merecer isso.

Aparentemente é tão bom ser racista que assim que o momento cultural permitiu, várias das raças que sofriam com o preconceito antes se jogaram de corpo e alma no comportamento. Eu cresci num tempo onde a virada do comportamento de muito da população branca foi se consolidando: quando era bem pequeno, ainda vivíamos num mundo onde praticamente não existiam consequências para um branco ser racista contra as outras raças, e hoje em dia eu realmente tenho que tomar cuidado com o que falo para evitar consequências legais severas.

E eu vi isso espelhado na maioria das outras pessoas brancas que conheci nessas décadas: por compreensão do erro ou por pura pressão social, até mesmo conversas privadas entre duas pessoas brancas já são muito mais atenciosas à questão do racismo do que já foram. O instinto está lá, mas sob um considerável grau de controle. Posso afirmar que não é algo que faça muita falta, as gerações de brancos depois da minha já tendem a nem dar muita bola para o tema. Era meio que uma questão vencida. A gente falava e fazia muita merda racista, precisava parar com isso mesmo.

Só que o mundo não se move sempre na mesma velocidade. Sem alguma forma de repressão ao comportamento, o instinto primal de julgar o diferente e buscar validação pela homogeneidade toma controle. O racismo branco tomou um golpe forte nas últimas décadas, mas acabou sendo um caso isolado. A ideia não era combater o racismo como um todo, e sim só o que os brancos faziam com outras raças. A ideia geral continuava intacta, e assim que os brancos perderam defesas institucionais para seus comportamentos racistas, criou-se um vácuo de poder.

O ser humano em geral continuava igualzinho, só uma das raças estava se movimentando para erradicar o racismo. E é aí que vemos casos como a da notícia desta coluna: o instinto natural é racista. Se não há combate ou censura ao comportamento, negros e todas as outras raças que sofreram com o racismo dos brancos até hoje vão simplesmente assumir o lugar. Assim como brancos inventaram um motivo estúpido de superioridade para se manterem racistas por séculos, negros inventaram o seu: não existe racismo neles porque racismo depende de uma relação de poder. Se você tem menos poder que outra raça, pode fazer o que quiser contra ela e não ser considerado racista.

No final das contas, só uma racionalização para curtir a sensação de ser racista e fingir que não é uma pessoa merda no processo. Bom, eu escolho não cair nesse truque: quem criticou a funkeira por não estar com alguém da mesma raça é um babaca preconceituoso que faz mal para a sociedade, e a declaração bizarra de que não “assumiria” um relacionamento com alguém de outra raça é de um atraso mental vergonhoso. Negros podem ser e são racistas sim. Orientais são racistas até dizer chega. Indianos, aborígenes, índios… todos são. A única raça que pelo menos tenta evoluir nesse aspecto é a raça branca.

Sim, eu entendo que é um privilégio conseguir chegar nesse estágio primeiro. Brancos continuam sendo racistas em média, mas existe um movimento real e efetivo de controle do comportamento. O branco de hoje é menos racista que o branco de ontem. Pode ter causado todo tipo de reação problemática no caminho, mas na média, a redução do racismo nos brancos é um dos maiores êxitos na mudança de mentalidade social da história. Eu tenho orgulho de me tornar uma pessoa menos merda nas poucas décadas que estou nesse mundo, e não desejo ser arrastado de volta para a mediocridade.

Até por isso, não posso concordar com quem trata racismo como algo positivo, que mistura ódio e ressentimento da raça diferente com orgulho e senso de valor pessoal. Se o cenário cultural continuar avançando nesse caminho, o grupo de brancos que se odeiam o suficiente para bater palma para esse tipo de comportamento horrendo de outras raças vai começar a diminuir. A janela de oportunidade vai acabar junto com os millennials e seus instintos suicidas, porque as gerações de brancos que vem depois deles já nasceram num mundo onde um bando de racistas os criticam pelo racismo de antepassados que nem conheceram, e isso não vai acabar bem.

Querem a verdade cruel? Em nome dos brancos, eu digo obrigado por nos forçarem a ver que estávamos sendo pessoas horríveis. Estamos avançando bastante por causa disso. Mas se as outras raças não perceberem que precisam entrar nesse barco AGORA, os brancos do futuro vão ter um motivo bem real para se sentirem superiores: vão ser a raça menos racista. E se a história nos ensina algo, é que não é saudável para ninguém quando brancos se sentem superiores… esses genes de Neanderthal são um perigo.

Mas quem eu estou enganando. Instinto por instinto, o de vingança é muito mais poderoso que qualquer senso de justiça e igualdade, não? Talvez resolvamos a questão racial em mais uns 500 anos, porque do jeito que vai agora, não parece que vai funcionar. A gratificação instantânea de falar mal de brancos por causa de sua cor de pele sem repercussão é boa demais para ser ignorada…

Para me chamar de racista porque sou branco, para dizer que eu não entendo porque sou branco, ou mesmo para dizer que não tenho direito de comentar o tema por ser branco: somir@desfavor.com

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Comments (15)

  • Dois livros que acho que possam vir a ser comentados em um texto futuro que complemente este:
    – “Casa Grande & Senzala”, de Gilberto Freyre
    – “Raízes do Brasil”, de Sérgio Buarque de Holanda

  • No caso dessa Karol eu não tenho pena NENHUMA. Ela não fez “carreira” alimentando esses monstros? Então aguente as consequências e dance conforme a música deles.

  • “Adivinha quem ainda detém mais poder, os meios de produção e os cargos mais importantes?” Do jeito que o branco moderno é frouxo capaz dele mesmo entregar tudo isso pros negros, se amarrar numa corrente e pedir desculpas.

  • não acho produtivo reclamar de jovens, todo mundo aqui pensou, falou e fez um monte de bosta quando tava nessa faixa etária, só não tinha redes sociais pra postar, e depois de uns anos percebeu o monte de bosta que pensava, falava e fazia, amadureceu e se tornou um adulto perfeitamente normal e funcional

  • Um bando de solteirão e solteirona inseguros e mal-resolvidos com inveja de quem tem alguém pra dar uns beijos. Mentalidade de caranguejo (do inglês crab mentality) em toda sua plenitude.
    Lamentável o rumo que as coisas tomaram, pensava-se que o declínio da religião iria fazer a sociedade melhorar… Passamos do catolicismo pra astrologia, terraplanismo, antivaxxer, influencer de instagram e ideologias com mil e uma vertentes incompatíveis. Que merda, hein. Como faz pra sair dessa simulação?

    • De certa forma, era de se esperar isso. E é ilusão achar que lá fora está muito diferente daqui nesse sentido, sendo que se há alguma diferença, é o nível de importância que se dá pra tais paradas.

  • Já tinha ouvido falar daquele termo escroto “palmitagem” uns anos atrás, mas pensei que isso tinha ficado restrito aos bueiros da internet, lamentável que tenha chegado ao mainstream e esteja sendo proferido por pessoas que, a gente goste ou não, têm grande influência nas gerações mais novas. O pior é que a maioria desses Wakanda Forever são miscigenados. Fico pensando em como os pais ou avós brancos deles iriam se sentir ao ler essas barbaridades.
    O velhinho branco semianalfabeto que, no começo do século 20, se casou com uma negra é mais progressista que sua bisneta parda que nasceu no século 21, fez faculdade e posta sobre “palmitagem” na internet. Medo.

    • O brasileiro que se acha branco NÃO É CONSIDERADO BRANCO em países de pessoas brancas. O brasileiro que se acha negro NÃO É CONSIDERADO NEGRO em países de pessoas negras. Mas vai mexer com essa não pertinência, vai explicar que o brasileiro é um mix infinito inclassificável… isso é levado como ofensa.

      • Ainda bem que existe a opção “raça indefinida”, vulgo vira-lata, pois somente nessa o brasileiro se encaixa. Brasileiro é muito racista, um dos piores. Não vejo futuro para esse país. Quem puder sair, saia logo enquanto é tempo.

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