Forças Armadas Brasileiras

Nestes tempos de ânimos exaltados tem sempre um descompensado que acredita poder contar com as Forças Armadas Brasileiras como última instância: desde o mito ridículo de algum país desenvolvido tentar invadir a Amazônia até um Golpe de Estado, caso a democracia se esvaia. Pois bem, eu tenho uma péssima notícia para dar: não dá para contar com as Forças Armadas Brasileiras para nada. Sua realidade atual é risível, os militares não têm condição de absolutamente nada neste país.

As Forças Armadas Brasileiras, para quem não sabe, são compostas por: exército, marinha e aeronáutica (ou Força Aérea, como preferirem). Mas, antes de te colocar a par da atual situação das Forças Armadas, vamos falar um pouco sobre o Brasil.

O Brasil é um país com mais de 16.000 quilômetros de divisas por terra, fazendo fronteira com 10 países da América do Sul. E tem mais 7.000 quilômetros de litoral. A área total a ser vigiada é de 8,5 milhões de quilômetros quadrados. Faça as contas de quantas pessoas, unidades aéreas e navais precisariam estar estrategicamente posicionadas para cobrir toda esta área, em caso de algum ataque iminente. Pois é, o Brasil não tem nem metade.

Já vi muita gente se vangloriando do efetivo das Forças Armadas Brasileiras. Como o país é grande e adota o serviço militar obrigatório, de fato o efetivo bruto, contando com reservistas, é enorme. Todo jovem que completa 18 anos tem que se alistar obrigatoriamente, mesmo que seja dispensado, e acaba sendo contado como efetivo. Mas desses, quantos estão de fato prontos e treinados para lutar se for preciso?

Provavelmente nenhum, mas, oficialmente, o efetivo atual (na ativa) é de pouco mais de 330 mil pessoas, o que, para um país com esse tamanho de fronteira e território, é muito pouco. Daria cerca de 16 militares para cada 100 mil habitantes. E ainda está previsto um corte a longo prazo de 10% do efetivo. Isso impossibilita que atuem não apenas contra uma eventual invasão estrangeira, mas também que apaziguem qualquer problema interno. 16 militares versus 100 mil habitantes? Sem se todos eles fossem o Wolverine!

Estes números ficam ainda menores quando lembramos que as Forças Armadas não atuam exclusivamente em função do Brasil. Também participam de alguns conflitos ao redor do mundo, conforme sejam designadas, e atuam em ações de paz da ONU, como fizeram, por exemplo, em Angola, Timor-Leste e Haiti. Então, um efetivo que já seria insuficiente, fica insuficiente e meio.

Se o número de pessoas é insuficiente, o de equipamento dá pena. Pouco mais de 400 tanques, 700 aeronaves, 81 helicópteros, 110 navios, 5 submarinos e… zero porta-aviões. Esses são os que existem, mas, os que estão em efetivo funcionamento são muito menos. Não adianta muito dizer que tem 23 caças A-4 Skyhawk se nenhum, absolutamente nenhum está em funcionamento, não é mesmo?

Seja por falta de dinheiro ou até por falta de peças para manutenção por serem obsoletos, tem muita coisa encostada sem funcionar. No caso dos submarinos, por exemplo, apenas dois estão em condições de uso, para 7000 km de litoral. Helicópteros? De 81 apenas 22 funcionam. É uma longa lista de material inservível, que só consta para fazer número em uma lista de itens onde menos da metade está em funcionamento.

Armas nucleares? Não tem, o Brasil prefere arriscar um acidente nuclear fazendo usina no Rio de Janeiro, mesmo sendo uma das maiores potências hídricas e eólicas do mundo. Por sinal, não há armas de longo alcance nem proteção de longo alcance. O Brasil, meus amigos, só não é invadido por falta de interesse das outras nações. Mesmo países da América Latina, como Argentina e Paraguai, teriam poderio militar suficiente para isso.

Ok, tem pouca gente e pouco material, mas… ao menos são tecnologia de ponta? Pausa para rir. Não, não são. São, em sua maioria, tão obsoletos que o Brasil provavelmente teria muita dificuldade para invadir países toscos, como a Venezuela. A Irmã Sem Papel Higiênico tem equipamentos melhores, como por exemplo os tanques T-72 e os caças Sukhoi-30.

Até na defesa também ela bate o Brasil: a bateria antiaérea S-300 impediria facilmente um ataque tupiniquim. Se para republiquetas o Brasil já passa vergonha, quando comparado com verdadeiras potências militares, a vergonha é maior ainda. Os EUA, por exemplo têm 19 vezes mais aviões, 15 vezes mais tanques e 4 vezes mais embarcações de guerra.

Acho que fica bem claro que se um país com poderio bélico real quisesse tomar qualquer coisa do Brasil, já teria tomado. Simplesmente não somos tão importantes, não despertamos tanto interesse e não temos bens cujo valor seja de fato tão alto como imaginamos.

Os números não são o único ponto fraco, o treinamento do efetivo também é risível, bem como a motivação: hoje, vai pro exército quem não quer passar fome, não quem tem alguma vocação para isso. Além disso, o país investe pouco, em torno de 1,5% do seu PIB nas Forças Armadas, muito menos do que outros países com necessidades menores, como Colômbia (3%), Índia (2,8%) ou Equador (2,5%).

A falta de investimento em equipamentos é assustadora. Por exemplo, a maior parte dos fuzis brasileiros são de 1964. A compra de munição também é precária, seja por incompetência no planejamento, seja por desvio de verbas (ou por ambos), estima-se que o Brasil só tenha munição para uma hora de combate, caso seja de fato invadido.

E esta informação vem de dentro, quem fez essa estimativa lastimável sobre munição foi general Maynard Marques de Santa Rosa, ex-secretário de Política, Estratégia e Assuntos Internacionais do Ministério da Defesa. Também vieram à tona documentos que informam que 92% dos meios de comunicação utilizados por militares brasileiros estão obsoletos.

Daí você pode pensar que, por mais precária que esteja a situação, isso pode ser revertido e material pode ser adquirido em caso de necessidade. Não, não pode. Primeiro porque não dá tempo de efetivamente comprar, receber e treinar o uso desses equipamentos (perguntem aos militares argentinos, que atuaram na Guerra das Malvinas, se dá tempo de comprar tudo que se precisa depois que uma guerra começa…), segundo porque não teria dinheiro para isso mesmo que fosse transformado em prioridade número um do país.

Para capacitar pessoas atualmente já está difícil, muitas vezes não se tem nem munição para praticar. E só tende a piorar, o contingenciamento de verba está brabo. 90% do orçamento está comprometido com o pagamento de salários e aposentadorias, portanto, só sobram 10% para investir em caso de eventual necessidade, SE o governo não reduzir o valor (em 2019 foram cortados 5,8 bilhões de reais). E estamos falando de um governo que é amigo dos militares…

O modelo de carreira militar adotado pelo Brasil é um modelo ultrapassado, burro e insustentável. A concentração cada vez maior de despesas com o pessoal inativo suga todos os recursos e a carência de contingentes de reservistas (sargentos e oficiais) com idade apropriada para atender a uma eventual convocação deixa o país sem qualquer defesa, ainda que contra uma rebelião interna.

A razão pela qual o Brasil não foi invadido ou perdeu uma guerra é bem simples: ninguém quer. Ninguém tentou, ninguém tem interesse no mato e água que tem aqui.

A última vez que alguém tentou invadir o Brasil foi há mais de 150 anos, em 1864, quando o ditador paraguaio Solano López entrou no Mato Grosso. E saibam que não estou vazando nenhuma informação confidencial, estas informações são de domínio público, divulgadas não apenas pela imprensa, como pelos próprios militares, ou seja, se alguém queria invadir, tinha total ciência de que não haveria resistência.

Cito as palavras do general Carlos Alberto Pinto Silva, ex-chefe do Comando de Operações Terrestres: “A quantidade de munição que temos sempre foi a mínima. Ela quase não existe, principalmente para pistolas e fuzis. Nossa artilharia, carros de combate e grande parte do armamento foram comprados nas décadas de 70, 80. Existe uma ideia errada de que não há ameaça. Mas se ela surgir, não vai dar tempo de atingir a capacidade para reagir”. Os próprios militares afirmam, publicamente, que 1) não há condições de enfrentar um ataque e 2) não há condições de reverter esse quadro de imediato.

Você deve estar se perguntando por qual motivo os militares expõe a segurança nacional desta maneira, afirmando publicamente que nossas fronteiras estão arrombadas e nosso efetivo está defasado. Desespero. São pessoas trabalhando na mais absoluta precariedade por décadas e que certamente serão cobradas quando/se um dia for preciso defender o país. É mais ou menos como o caso do médico que é culpado por deixar morrer um paciente quando não tinham nem sequer anestésico no hospital.

Então, vamos ter um pouco de consciência antes de ficar repetindo que os militares vão resolver isso, os militares vão resolver aquilo, que se acontecer tal coisa os militares entram em cena. Não entram. Não tem pessoas, não tem equipamentos, não tem verbas. Por mais que jorre dinheiro, serão anos até adquirir equipamentos decentes e treinar a quantidade de pessoas necessária para utilizá-los. Papo de cinco, dez anos, sendo otimista. Então, meus amigos, não contem com os militares para nada, pois vocês vão se decepcionar.

Primeiro que em um Estado Democrático de Direito eles não resolvem nada em matéria de política, segundo que eles não têm qualquer condição sequer de tirar um gato do alto de uma árvore, muito menos de impedir um ataque ou dar suporte a qualquer tipo de golpe de estado. Os militares estão putos, cansados, com material obsoleto e zero vontade de pegar em armas para fazer qualquer coisa por alguém.

Essa opção de militar “resolver” alguma coisa está apenas no imaginário popular, que não gosta de pensar o quão arrombadas e desprotegidas estão nossas fronteiras. Não é mais década de 60, assim como tantas outras instituições, as Forças Armadas faliram por insistir em se manter em um sistema velho que não se adapta à atual realidade.

Parem de passar vergonha pensando que militares são uma espécie de última instância que pode resolver as coisas se os problemas ficarem realmente sérios. Não podem e, principalmente, não querem. Arrumem outro salvador da pátria imaginário, porque esse está falido e desmotivado.

Para dizer que nada funciona no Brasil, para dizer que quer mais é ser invadido e colonizado por um país decente ou ainda para dizer que o Brasil é um grande blefe: sally@desfavor.com

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Comments (30)

  • Estou achando estranho que até agora não tenha aparecido por aqui nenhum milico para rebater a postagem de alguma forma – nem que fosse sem argumentar e só com xingamentos – tentando defender as forças armadas brasileiras…

    • Os milicos não vieram porque eles sabem que isso que está escrito é a mais pura verdade. É aquilo o Brasil tem um gasto enorme com militares mas esse gasto é mais para pagar soldos e pensões, para equipamentos sobra uma miséria irrisória. Não contemos com eles para absolutamente nada!

  • O exército bostileiro não pôde nem com algumas centenas de tiozinhos barrigudos DESARMADOS na greve dos caminhoneiros, imagina dar golpe militar kkkkkk Militar bostileiro só presta pra deixar gordas pensões pras suas filhas e esposas

  • Então, quer dizer que meu projeto de invadir e anexar a Venezuela e nos tornarmos potência mundial em petróleo não vai dar certo?

  • Se vc tivesse a oportunidade de conhecer “in loco” o dia a dia de um quartel constataria que o buraco é ainda um pouco mais fundo. Hoje o Exercito existe para sustentar o próprio exército e muitos dos recursos que poderiam ser utilizados em coisas realmente úteis, são desperdiçados de acordo com o “eu quero” de cada comandante de OM. O grosso do efetivo é composto por cabos e soldados, que são em sua grande maioria garotos que basicamente fazem faxina e tiram serviço, serão úteis por no máximo oito anos e após isso são descartados sem qualquer tipo de formação intelectual uma vez que estudar não é algo estimulado no EB. Voce tem que “vibrar na missão” e só. O restante do quadro é composto por praças e oficiais de carreira que estão absolutamente cagando para a “missão” e na verdade estão mais preocupados em lucrar com as transferências, os cursos e a aposentadoria. Digo e repito, no Brasil o certo seria um reset total da população ou arrenda-lo para algum país desenvolvido que queira explorar esse país.

  • A única coisa gloriosa neste bando de esfarrapados a que se dá o nome de (cof-cof) “exército” bananalândico são os inúmeros privilégios de que essa classe infame desfruta. Ficaram fora da reforma da previdência, contam com pensões polpudas para seus integrantes e penduricalhos inúteis (vulgo “filhas ‘solteironas'”), são intocáveis sob todos os aspectos da lei e rosnam como cachorrinhos aos quais se mexe no pratinho de ração toda vez que rola uma contestação mais ou menos de vulto do porquê de tudo isso. Visitei uma vez a Escola de Cadetes em Campinas e fiquei besta com o luxo daquela tranqueira. Mas besta mesmo eu fico com o “efetivo” dessas “forças armadas”,composto por (como bem disse a Sally) cabocos pobres coitados que vêem em exército, marinha e aeronáutica uma chance de, por pelo menos a quantidade mínima de tempo em que servem, saírem da miséria da roça, do sertão, da favela ou de qualquer outra condição degradante similar. Conheço uma cidade do sul da bananalândia, estratégica por sua localização e altitude, onde há quartéis da aeronáutica; todos os “filhos da terra”, na tentativa de fugirem da roça que seus pais tentavam impôr (naquele eterno ciclo vicioso), fugiam pra essa “aeronáutica” mas, por serem apenas jovens peões ignorantes, sem estudo (e sem vontade de estudar, já que seus pais nunca deram importância pra isso!), contando apenas com o físico, eram sugados durante três ou quatro anos como massa para trabalhos pesados de guarda e ronda das instalações milicosas, sendo depois defenestrados (mas, nesse meio tempo, pagavam de fodões e comiam muita menininha imbecil, fascinadas todas pela “farda”! O mesmo acontecia na Escola de Cadetes). Com “efetivos” assim, como se há de participar com sucesso de qualquer evento grave como uma “guerra”? Isso sem falar na pagação de pau dos “historiadores de facebook”, que veneram todas as participações militares de brazucóides em conflitos internacionais passados (não sou versado nesse assunto – nem quero ser! – mas, me parece que só fizeram cagada ou tiveram muita sorte… não merecia uma dissecação completa esse assunto numa postagem especial, Sally?).
    Por fim, digo que a bananalândia não precisa ser invadida por um aparato de guerra ostensivo pois todas as suas riquezas já são entregues aos gringos por baixo dos panos pelos políticos. Esses sim seriam uma boa para o “exército” tupiniquim, servindo de alvo para tiros de canhão (daqueles usados no século XVIII pelos piratas ingleses).

    • Praça fica achando que vai ter mordomia de oficial, mas continua como praça e é sugado como praça.
      Os oficiais na alta patente é que são os cabeças da porta toda lá dentro, tendo networking pra comprar armamento bom no exterior pra desviar pra atividades de milícia. E com o efetivo, bem, se deixa o bagaço da laranja.
      Claro, o grosso é oficial da reserva, que salvo quando general, é reformado em uma patente acima quando passa a reserva. Bolsonaro só passou a Capitão com base na patente de Tenente reformada.

      • Antigamente o sujeito subia de patente por ter simplesmente participado da Força Expedicionária Brasileira. Aliás, recomenda-se a leitura de As Duas Faces da Glória, do William Waack. Trata-se de uma preciosa desmistificação da FEB.

  • eu acho que eles tbm nem se preocupam de comprar pq os traficantes vao roubar tudo mesmo, na cara dura. se estourar uma guerra fuck invasão é so pegar o armamento dos traficantes do hell de janeiro, com certeza tem mais munição que as forças armadas. ¬¬

  • Pra ajudar, o grosso do efetivo do exército é lotado no Rio de Janeiro e isso explica grande parte do armamento pesado desviado prp crime organizado.

    • Traficante carioca que usa arma do exército é Zé Ruela. Traficante bom manda vir fuzil melhor, de fora, não essas armas obsoletas.

  • O Brasil tem que se dividir para ficar governável. Eu dividiria em regiões, criando algo semelhante a um mercado comum, com acordos de cooperação tecnológica, energética, etc. Brasília que ficasse pro Centro-oeste. E mais: cada Estado que decidisse se teria administração centralizada ou descentralizada. Eu preferiria prosseguir no sul, mas com descentralização administrativa.

      • E eu colocaria na fronteira duas placas, com uma dizendo: “Aqui Acaba A Civilização” e a outra com um aviso: “Terra de Ninguém. Entre Por Sua Conta E Risco. Mas Depois Não Venha Dizer Que Não Avisamos”.

  • Os traficantes do Rio já mostraram que são muito superiores as forças armadas. Poderiam liberar a profissão deles e evitar confronto onde sempre sobra pra inocentes.

  • Que merda, hein? As “gloriosas” forças armadas – com minúscula mesmo – do Brasil são como o próprio país: pobres, atrasadas, ineficientes, toscas, mal-administradas, sem preparo, paradas no tempo, precárias e risíveis nas suas infrutíferas tentativas de ainda impor algum respeito. E o mais triste disso tudo é que, mesmo sendo completamente indefeso, este paisete onde temos o azar de estar vivendo é desimportante demais para sequer ser invadido. Somos um sub-nitrato de pó de nada no contexto internacional MESMO! Por fim, deixo uma frase que pode se aplicar tanto a pessoas quanto a países: “Se você não tem nenhum inimigo, alguma coisa está errada.”

    • Sim, a situação é precária e os Chefes de Estado sempre exaltam a soberania nacional. Só tem soberania por mais ninguém querer esta República das Bananas!

  • O modus operandi do país é esse aí: deixar tudo com as reservas no mínimo enquanto político come lagosta, quando acontece uma merda tentam remendar de última hora. É mais provável a Venezuela invadir o Brasil e adjacências e fundar a URSAL, ou a Europa se juntar com os EUA e fazer uma Partilha da África 2.0 por aqui, do que reformarem as Forças Armadas.

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