Discussão continental.

Sally e Somir concordam que na América do Sul está puxado. Mas quando consideram as alternativas, tem um oceano de desavenças. Os impopulares descobrem novos mundos.

Tema de hoje: qual o melhor continente para se morar?

SOMIR

A América do Sul tinha a ideia certa, mas pecou na execução. Que ideia? Buscar uma nova fronteira para o desenvolvimento da humanidade com espaço e recursos naturais abundantes. Só que portugueses e espanhóis não são dos colonizadores mais caprichosos… diferentemente dos ingleses. Por isso, se pensarmos no melhor continente disponível hoje em dia para o ser humano, mantenho o foco nas Américas, mas vou para o norte.

Muito embora várias das nossas noções sobre civilizações de sucesso venham de exemplos europeus, temos que entender o que gerou essa ideia e como ela conseguiu se manter com o passar dos anos. A geografia europeia tinha algumas vantagens essenciais para seus desenvolvimento, mas no final das contas, suas riquezas são resultado de sucessivas expansões agressivas para o resto do planeta. O problema deles é o espaço limitado e os recursos muito disputados. Foi excelente para deixá-los muito mais avançados na arte da guerra em relação ao resto da humanidade, mas de forma alguma seria suficiente para criar o padrão de vida que estabeleceram.

O mundo “acabou” lá pelo século 18, praticamente não restando nada de novo para ser descoberto, os mapas mais ou menos definidos como conhecemos hoje. Por isso, a lógica deixou de ser da descoberta e passou a ser da dominação de territórios. Porém, até essa segunda fase colonizadora terminou logo depois da Segunda Guerra Mundial, beneficiando países que tinham tamanho suficiente para manter essa lógica de expansão contínua dentro das próprias fronteiras, Estados Unidos e China que não me deixam mentir. Então, o que eu procuro nesse melhor continente para morar é um misto de ideias europeias de civilização com espaço e recursos suficientes para sustentar esse estilo de vida.

E quando olhamos para o mundo, a América do Norte tem todos esses predicados. O continente formado por México, Estados Unidos e Canadá só tem os mexicanos para se preocupar. Mas eu vou fazer meu argumento inclusive com eles, para provar como compensa no quadro geral. Os três países têm muita área disponível para desenvolver, e sim, eu estou falando dos EUA também: boa parte do país é composta de áreas de preservação federais, as megalópoles se concentram nas costas, deixando milhões de quilômetros quadrados poucos explorados no centro.

Basicamente tudo o que a sociedade moderna precisa tem em abundância no continente: comida, água, minerais, petróleo… a terra americana é rica e variada de norte a sul, mas o Sul tem um problema humano muito mais sério. Os norte americanos têm o mesmo que os sulistas, mas uma concentração muito menor de gente colonizada pelos desleixados espanhóis e portugueses. Ingleses e franceses capricharam bem mais nas suas colônias, e isso fica evidente na comparação de qualidade de vida entre Estados Unidos e Canadá com o resto. E mesmo o México, com todos seus problemas, ainda é um dos países latinos mais fortes e ricos junto com o Brasil.

No aspecto cultural e de costumes, a América do Norte oferece uma possibilidade única: escolha. Se você quer o sonho americano, com seus pontos fortes e fracos, não fica melhor que nos Estados Unidos. Cultura consumista, espetaculosa e com uma arrogância merecida por liderar o mundo em quase todos os aspectos clássicos de poder. Quer comer as comidas mais gordurosas do mundo e comprar tecnologia e armas baratas num supermercado gigante logo depois? Está tudo lá. Goste ou não, lá você tem essa escolha. Se quiser ser comunista de boutique, tem várias cidades que permitem isso. Se quer ser caipira preconceituoso, tem lugar também. O dinheiro do mundo gira por lá.

Agora, se você prefere uma identidade mais europeia mesmo, suba para o Canadá. Pronto: você vai ter o clima, a mentalidade e até mesmo os serviços públicos europeus. Cruze a fronteira e os tiroteios acabam. E com uma vantagem que é impossível no velho continente: espaço e gente jovem para desenvolver seus sonhos. No Canadá você tem a nova fronteira da experiência europeia, com milhares de quilômetros livres para expandir. E não venha me dizer que é muito frio: frio é a Europa. As regiões mais quentes do continente não são o que dão a riqueza ao continente, qualquer europeu honesto vai te dizer que sul da Itália é África do Norte. Serviu durante o império romano, mas claramente não era o caminho do desenvolvimento pós-industrial.

E, vamos ser realistas? A Europa é muito certinha. Não pra mim, mas para muita gente nesse mundo. Não tem pra onde escapar: todo mundo na zona do Euro e vigilância constante dos líderes do bloco. Na América do Norte tem um lugar para você aprontar se quiser: o México. Imagine se a América do Sul toda fosse um lugar decente e deixássemos toda a bandalheira acontecer só na parte norte do continente? Quem quisesse fazer merda iria pra lá e não nos atrapalharia. Na América do Norte, essa opção está sempre na mesa: quer fazer coisa errada, não precisa fazer na própria casa, basta descer para o México.

Então, temos opções para várias formas de tocar a vida: se você quer aprontar, o México é esquema Brasil. Se quer estabilidade consumista numa sociedade fascinante e maluca, fique nos EUA. Se quer algo mais clássico e parecido com as grandes nações europeias, basta ir para o Canadá. O novo mundo é a terra das oportunidades, e em nenhum outro lugar isso fica mais claro. Na América do Sul temos índios e africanos que foram forçados somados com europeus preguiçosos que só queriam ganhar dinheiro e cair fora. Na América do Norte temos índios e africanos que foram forçados somados com europeus que queriam desenvolver uma sociedade funcional. Não à toa, é melhor até mesmo ser descendente de índio ou africano por lá do que aqui no Sul.

Tudo isso com o que falta na Europa: espaço e recursos. O mundo não é do jeito que é à toa: as Américas eram a melhor aposta, e isso se materializou nos EUA. Se falhamos aqui no Sul, a culpa é do Cabral, não do Colombo.

Para dizer que o melhor é a Oceania por ser longe de tudo, para dizer que eu sou um porco sem cultura, ou mesmo para dizer que daqui a pouco toda a América do Norte vai ser México: somir@desfavor.com

SALLY

Qual é o melhor continente para se morar?

Europa. Mais ninguém reúne todos os seus benefícios. Tem alguns pontos ruins? Sim, tem. Mas todo lugar tem. No saldo geral e para o meu projeto de vida, me parece a melhor opção.

Vamos começar pela mãe natureza. O clima tende a ser ameno, salvo uma ou duas semanas por ano de revertério climático com calor extremo (e nem acontece em todos os países). Além disso, não é comum ter terremotos arrasadores (costumam ser leves), maremotos tenebrosos, tsunamis, furacões e cia. Tem lá suas desgracinhas, mas nem se compara com o pessoal do Círculo de Fogo do Pacífico, que a qualquer momento quebra ao meio a América do Norte.

As pessoas têm um nível mínimo de cultura e educação. Nem tudo são flores, mas, na média, é possível ter alguma expectativa. E esse ponto pega muito para mim, jamais conseguiria morar em um lugar com povo infantilizado como EUA ou Japão, cheio de Mickey, de coisinhas coloridas, de culto a bens materiais. Prefiro lugar com muito museu do que lugar com muito parque temático.

Normalmente a Europa tenta se manter fora das tretas. Nem sempre consegue, mas se eu tivesse que apostar na eclosão de uma guerra, acharia muito mais provável que seja via Trump e sua diplomacia de Twitter. A Europa é um continente velho, já passou por muita merda para saber o que vale e o que não vale a pena. Além disso é um bloco de países unidos, a União Europeia, fica mais difícil nascer um problema sério quanto tem várias pessoas que tem que topar tretar.

A comida na Europa me é mais agradável. Fast food, coisas excessivamente adocicadas e outras iguarias da América do Norte não me enchem os olhos. Eu gosto de comida, comida mesmo, de preferência pouco processada. Além disso acredito que a variedade gastronômica da Europa seja maior, há mais disponibilidade de “comida de verdade”.

Um ponto importantíssimo que, para algumas pessoas pode ser uma desvantagem, mas que para mim pesa muito: taxa de natalidade baixíssima. Não se faz muito filho na Europa, ou seja, meu convívio forçado com crianças seria drasticamente reduzido. E lá criança pode chegar a ter status inferior a cachorro, há restaurantes que aceitam cães e não aceitam crianças. Difícil não me apaixonar por um lugar desses.

Também acho a economia mais estável. Novamente: um bloco de países. Se um vai mal, tem outros para compensar. Se um surta, tem outros para impedir uma catástrofe. Claro, para quem quer empreender, nem se discute, a América do Norte é a melhor opção, mas eu não quero empreender, eu quero paz. Eu quero estabilidade. Eu não quero trabalhar feito uma louca para construir uma fortuna.

E paz é na Europa. Muito menos provável de ter gente transtornando seu bem-estar com música alta, gritaria e confusão. São pessoas mais comedidas, mais adultinhas, que já passaram por coisa demais em outras gerações para ter um comportamento imbecilóide como regra. Não saem atirando na escola ou em seus vizinhos como tradição nacional, não batem recorde de medicação psiquiátrica ou de doença mental. Isso para mim vale mais.

Outro ponto crucial para mim: saúde pública. Já que é para sair dessa pocilga chamada Brasil, o mínimo que eu espero é um lugar com saúde pública boa. Trocar seis por meia dúzia precisando pagar uma fortuna para ter atendimento médico mais ou menos? Não obrigada, não vale o desgaste de uma mudança. Europa possuí saúde pública de qualidade em boa parte de seus países.

Ainda tem o plus do idioma/cultura: é possível ir para a Europa e não precisar aprender um idioma novo, ser acolhido no país que te colonizou com um pouco menos de indignidade que o normal. Pode haver um mínimo de identificação.

Nos EUA, não se engane, mesmo com o maior triunfo profissional, você sempre será um chicano. No Canadá nem tanto, mas, ainda assim, é passar a vida falando um idioma que não é o seu idioma materno. Eu sei bem o sacrifício que é pensar em um idioma e ter o delay de traduzir em outro para escrever ou se expressar. Não parece, mas é um pesinho a mais na vida.

Na Europa ainda é possível se aposentar com um tempo razoável de contribuição. Dá para chegar lá na casa dos 40 anos, trabalhar 20 e poucos anos e viver bem com a sua aposentadoria. Na América do Norte pode ser bem mais complicado. Além disso, o ritmo de trabalho europeu não costuma ser tão alucinante como o dos países empreendedores por natureza. Vale mais minha qualidade de vida.

Na Europa também se tem mais de um Plano B. Uma vez lá dentro, uma vez com cidadania europeia, se você não se adapta a um país, existem outros, com uma diversidade cultural muito grande que podem ser tentados. Alguns preferem uma vida na Itália, outros na Suíça, outro em Portugal. Tem país para todos os gostos. Diferente de um país onde ou você se adapta, ou você se adapta.

Minha escolha de vida é por paz, tranquilidade, sem filhos, almejando baixa densidade demográfica e um pouco de sofisticação e cultura. Não vejo um cenário favorável para essas escolhas de vida na América do Norte nem em qualquer outro continente que não seja o europeu. Talvez para seu projeto de vida outro continente seja melhor, vai saber…

Para dizer que bom mesmo é viver na Antártida onde não tem seres humanos, para dizer que na Europa tem Mohamed (nos EUA também!) ou ainda para dizer que para quem sai do Rio de Janeiro qualquer coisa é lucro: sally@desfavor.com

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Comments (20)

  • Gimmegimmegimme

    Os EUA é um grande engodo, é um país que ”funciona”, mas o Brejil escravocrata ”funcionou” também por séculos, e aí* Sabemos que lá quase tudo é privatizado, as pessoas trabalham muito, as cidades são quase todas iguais, industrialmente feias, a população está, em média, longe de ser composta por intelectuais, cientistas e idealistas sensíveis, se estes correspondem à uma minoria. A meca do capitalismo funciona, mas bem do jeito capitalista de ser. O meio ambiente é pesadamente condenado, com aquele padrão de vida tosco: família com 5 carros bebedores de gasolina..

  • A Europa vai colapsar, cheia de muçulmanos chatos fazendo xiitismo, não dá. Como faz para fazer com que essa gente volte para as suas casas?

    • Será que vai colapsar? Eu acho que a Europa tem um jeito passivo-agressivo de rejeitá-los: não os insere na sociedade, eles vivem em guetos.

    • Pelo que sei, esses refugiados tem um tempo limite para permanecer na Europa, não é tão simples. Se neguinho não conseguir emprego ou uma forma de sobreviver, eles mandam de volta. É exatamente como a sally disse, essas pessoas não são inseridas na sociedade.

    • É por esse motivo que eu pensaria umas mil vezes antes de colocar os pés na Europa.

      Atualmente, eu não gostaria de estar lá nem mesmo a passeio.

  • Europa? Não se esqueça que Portugal é quase Brasil, que Suécia e França tão um lixo, por causa dos monhamed. Bom mesmo é Canadá!

  • Se fosse pra escolher, já sendo brasileira, fico com o Canadá. Ponto negativo: 1- sistema de saúde, que para estrangeiro é uma merda. 2- os trabalhos que são oferecidos. 3 – a diversidade de raças e culturas que me dão uma sensação suicida. 4- os BR que estão indo pra lá e povoando o local, e claro, se achando muito espertos para conseguir a permanência fazendo isso. Aí a paz já está comprometida. Ponto positivo: 1- a população é educada, meio que cagam para estrangeiros. Até agora nunca ouvi relatos de bulliyng (talvez as pessoas estejam mentido né, vai saber). 2- o clima é frio. 3- pouca densidade populacional. 4- a meu ver, idioma fácil.

      • Sim, para estrangeiros. Para você ter uma ideia, pra fazer um exame simples fica na fila de espera por 6 meses (se conseguir). Já ouvi relatos de médicos que destrataram na hora do atendimento, fazendo chacota ou sendo indiferentes. O Canadá é um país excelente, porém não é um mar de rosas como costumam propagar. Sabe, as vezes no desespero de sair do Brasil as pessoas costumam ignorar e fingir que não estão vendo como são destratadas no exterior. Podem cuspir na sua cara, mas estarão agradecidos por conseguir asilo (compreensível). Vai de cada um, não existe escolha fácil nessa vida.

  • Minha experiencia: se voce quer ter uma vida tipo Rio (sol e mar), va pra Australia, nao espere muito em termos de sofisticacao e cultura.
    Agora, se voce quer viver em um pais ainda pouco povoado, va pra Nova Zelandia, e meio tedioso mas tem gente que gosta!!

  • Fico com a Sally nessa, acho os EUA um país muito superestimado, o Canadá tá pior que a Europa em matéria de lacração, então nem adianta falar dos Mohammeds, México? Nem preciso comentar, além do mais, os europeus são mais civilizados e não vão te apedrejar se você errar uma palavrinha da língua deles. Dizem que nos EUA, o povo chega a te ignorar se falar uma palavrinha errado. E sendo uma fã da história, arte e maneiras européias, eu me adaptaria bem mais facilmente em Luxemburgo do que em qualquer país da América do norte.

  • pra ser estrangeiro qualquer lugar é uma merda, você nunca se adapta 100% e não raro volta pro seu país depois de um tempo, se a pergunta fosse o melhor lugar pra se nascer, aí seria com certeza a europa (fora das grandes cidades que viraram puxadinhos da áfrica e da ásia, é claro)

      • Sally, já ouviu falar em “banzo”? Essa palavra, de origem africana, se refere à terrível saudade da terra natal que os escravos tinham. Com o tempo, esse vocábulo acabou, por extensão, sendo usado para descrever essa mesma “dor na alma” sentida por brasileiros em geral quando longe de seu país. E essa “doença de patriotismo que acha ruim tudo que é diferente”, que parece estar eternamente entranhada no DNA verde-amarelo, também pode ser entendida como o tal “banzo”, numa conotação depreciativa do termo.

    • Nem sempre volta, mas sempre tem uns que voltam. Porém eu vou morrer de velho e nunca vou entender o que faz voltar uma pessoa que já abandonou o Brasil por ter desistido desse shithole.

      Eu, se tivesse a chance de dar o fora daqui, apenas viria pra visitar a família uns dias, e voltava pra fora. Uma vez fora daqui, nunca mais moraria nesse país

  • Sendo mulher, solteira e com o documento escrito “nacionalidade: brasileira”, sem chance de eu ir pra qualquer um desses lugares de forma permanente. Tenho a impressão de que, apesar da forçação pró-multiculturalismo promovida pelo governo e a minoria lacrante, no fundo europeus são uma população fechada que quer mais é que qualquer pessoa mais escuro que um copo de leite se exploda. Estados Unidos nem fodendo, qualquer caipira brasileiro é mais saudável que um americano classe média que vive à base de McDonalds, KitKat e antidepressivos. Japão… sem comentários. O único mais ou menos atraente é o Canadá, mas como eu disse, não penso em sair do Brasil. Pretendo só manter a minha vida relativamente digna por aqui e já basta. Emigrar não é brincadeira.

    • EUA trata brasileiros como sub-humanos, é humilhante. Europeus são sim meio preconceituosos com quem não tem aparência de europeu, mas os acho mais civilizados…

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