Inconsciente Coletivo.

Tudo que somos e que sentimos foi aprendido através de estímulos externos ou existe algo que vem de fábrica, que todos temos, apenas pelo fato de sermos humanos? O ser humano nasce uma folha em branco que será preenchida com conhecimento, ensinamento e interações sociais? Ou será que temos uma programação básica inerente a todos? Desfavor Explica: Inconsciente Coletivo.

A primeira coisa a ser dita é que a ideia de um Inconsciente Coletivo é discutível. Não há provas ou certezas, apenas eventuais indícios, que algumas pessoas interpretam e explicam como sendo fruto do Inconsciente Coletivo, mas nem de longe é a única explicação possível.

Para quem defende sua existência, o Inconsciente Coletivo seria algo inato do ser humano, um “aplicativo que vem instalado de fábrica”. É como se fosse uma biblioteca universal à qual todos temos acesso, ainda que de forma inconsciente. Informações, sentimentos e conceitos básicos que estariam alojados em algum lugar da nossa mente e que podem eventualmente ser acessados por qualquer ser humano.

Seria o que todos os seres humanos, apenas por serem humanos, teriam em comum. Como se fosse uma grande biblioteca de conhecimento, que, ainda que não seja percebida pelo consciente, influencia muitas das nossas ações, pensamentos e escolhas. Uma informação que funciona como um programa secundário, que fica rodando sem sequer ser percebido.

Quem cunhou o termo “Inconsciente Coletivo” foi Carl Jung, psiquiatra e psicoterapeuta suíço. Segundo sua teoria, na nossa mente existem alguns conceitos básicos, que já viriam conosco de fábrica, algo que ele chamou de “arquétipos”. São dimensões básicas da humanidade, coisas como sensações, memórias, rituais e mitos, que afetam nosso comportamento e nossas emoções, mesmo que de forma imperceptível.

O Inconsciente Coletivo seria formado por esses “Arquétipos”, unidades de conhecimento, de imagens e de pensamentos que emergem de forma instintiva, e não racional. O Arquétipo nada mais é do que uma alegoria para materializar o pensamento ou sentimento abstrato que guardamos no Inconsciente Coletivo, uma forma de traduzir ou expressar imagens primordiais, originadas de uma repetição progressiva de uma mesma experiência durante muitas gerações.

Essa ideia do Inconsciente Coletivo implica em reconhecer que todos temos algum grau de conexão e que, em determinados aspectos, é possível que a mente coletiva se comporte como uma única mente, quando acessa esse lugar que todos temos em comum. Se a gente tiver um pouco de fé e forçar um pouco a barra, dá até para especular se não seria possível aprender a acessar esse lugar e, se feito de forma coletiva, explicar algumas conexões mentais inexplicáveis que alguns convencionaram chamar de “telepatia”.

É um conceito difícil de se engolir, sobretudo na civilização ocidental, criada em um meio muito individualista. Se a ideia te desagrada, bem, você não está sozinho. Muita gente famosa, como Freud, refutou com força e com ódio a existência do Inconsciente Coletivo. Porém, se a ideia sobreviveu até hoje, vale a pena conhecê-la melhor, para formar sua opinião.

Em qualquer cultura, em qualquer tempo, em qualquer contexto, a imagem dos heróis, por exemplo, está vinculada a certas características, bem como a do vilão. A figura da mãe é outro exemplo que também encontra muitas características básicas comuns a todas as culturas. É como essas ideias fossem programadas de fábrica e sua base estivesse em nossa mente desde o dia do nascimento.

Isso não fica só no campo abstrato. Muita coisa que é inerente a todos os seres humanos, uma série de informações que parecem vir de fábrica com todos nós, independente de época, local ou cultura, podem ser explicadas pelo Inconsciente Coletivo. Por exemplo, todos os seres humanos nascem fazendo instintivamente o gesto afirmativo com a cabeça quando dizem “sim”, inclusive aqueles que nascem cegos e nunca viram ninguém fazendo esse gesto.

Outro evento que pode ser entendido como Inconsciente Coletivo é o sonho, ou alguns tipos determinados de sonhos. Não importa onde você nasceu ou quando, alguns tipos de sonhos são comuns a toda a humanidade, há relatos deles desde sempre, nas mais diferentes épocas ou culturas, provavelmente causado por algo pode vir gravado no nosso DNA.

Por ser algo extremamente subjetivo, dificilmente seja possível “provar” a existência do Inconsciente Coletivo. Cabe a cada um observar e concluir se consegue perceber sua existência ou não. Mas uma coisa é fato: se você não for apresentado ao conceito, compreendê-lo e aprender a se observar, nunca vai poder perceber se ele existe ou não, nunca terá as ferramentas para chegar a essa conclusão sozinho.

No que diz respeito à comprovação prática, como foi dito, é subjetivo demais para que se possa dar qualquer certeza. Porém, há alguns experimentos e eventos pelo mundo que podem apontar em direção à existência dessa “mente única”. Não é a única explicação possível para os resultados, mas é uma das possibilidades.

Talvez um dos casos mais famosos seja o caso do Centésimo Macaco. Cientistas observavam um determinado macaco japonês e perceberam que eles adoravam batata doce. Passaram a jogar batatas doces cruas, mas elas caíam no chão e ficavam cheias de areia, o que incomodava os macacos, que tentavam remover a areia com os dedos em um longo e demorado processo.

Um dia, um desses macacos percebeu que podia lavar a batata em um rio, assim tirava a areia de forma mais eficiente e rápida. Assim passou a fazê-lo. Esse macaco ensinou o truque para outros macacos. Alguns do bando que observavam perceberam e aprenderam, mesmo sem ser ensinados.

Lavar as batatas acabou sendo assimilado por vários macacos daquele ambiente. O número de macacos que lavavam as batatas aumentava com o tempo, entretanto, ainda havia aqueles que não o faziam, mesmo estando dentro daquele bando. Ninguém soube explicar por qual motivo alguns faziam e outros não.

Um dia, quando mais um macaco (que seria o “centésimo macaco”) foi ensinado a lavar as batatas, algo aconteceu. De forma muito repentina, todos os macacos do bando passaram a lavar as batatas e todos os macacos de outras partes do mundo também passaram a lavar as batatas, como uma regra. Não havia mais macacos daquela espécie tirando areia com as mãos.

O mais curioso é que mesmo macacos de outras ilhas e outros continentes, simultaneamente, passaram a lavar seus alimentos, mesmo sem nunca ter qualquer contato com o bando que iniciou o ritual. Algo espalhou essa informação. Instinto? Telepatia? Coincidência?

Para os adeptos do Inconsciente Coletivo, o número de macacos que aprenderam o truque foi suficiente para fixá-lo nessa “mente única” e a informação se tornou inerente a todos. Quando uma informação, sabe-se lá por quais critérios, passa a ser considerada vital ou muito importante, ela seria incorporada ao Inconsciente Coletivo e estaria acessível a todos.

A especulação de que depois que um certo número de indivíduos assimilarem algo importante, haveria uma espécie se strike na mente coletiva deles, um download na nuvem, a informação se democratiza e todos passariam a ter acesso a essa informação intuitivamente.

Há quem diga que isso acontece em diversas ocasiões com humanos: quando um certo número de pessoas atinge um certo grau de consciência ou conhecimento, isso ganha força suficiente para ser incorporado no Inconsciente Coletivo e a informação é “liberada” para todos.

Esta informação passa a poder ser acessada por todos, através da intuição. É claro que conseguir acessar essa informação são outros quinhentos. Não são todos que conseguem ter a sutileza, percepção e consciência para escutar seu inconsciente, sua intuição ou até mesmo sua mente. Silenciar a mente para que informações venham requer muito, muito treino. E poucas pessoas estão dispostas a dedicar tempo da sua vida para treinar e aprimorar sua mente.

Então, poder ser acessada não quer dizer que essa informação necessariamente será acessada. Dependendo do grau de consciência de cada pessoa, há maior ou menor conexão com seu inconsciente (ou intuição, como preferirem). Pessoas com a cabeça muito fechada, que tem medo de perder o controle, que tem preconceito com aquilo que não lhes é apresentado como racional ou passível de prova científica, muito materialistas ou em estado de muito medo tem baixíssima conexão com sua intuição. Nada que não possa ser trabalhado, mas, enquanto permanecerem nesse lugar da mente, não vão acessar informação alguma.

Então, é preciso ter muito cuidado com a premissa falsa do “eu nunca senti isso, então, não existe”. Pode até ser que não exista, mas não com base no seu umbigo. Se, depois de treinar sua mente, se dedicar a isso, desenvolver todas as ferramentas necessárias para acessar essa informação você não conseguir, aí sim pode bater o martelo e dizer que é lenda. Pretender que sua mente em estado bruto, sem qualquer trabalho, consiga acessar algo assim, é um devaneio.

Tem também os que conseguem acessar, mas não conseguem decodificar. O Inconsciente Coletivo não manda cartinhas escritas de forma clara e prática, ele se manifesta na forma de sensações internas que precisam ser muito bem observadas e sonhos que precisam ser muito bem interpretados.

Se não forem observados com muito cuidado, passam despercebidos ou podem ser atribuídos a coincidências ou imaginação. Um sonho que talvez para você pareça uma loucura poderia fazer sentido se estivesse mais conectado com sua intuição. Não é o racional a melhor ferramenta para analisar os sonhos. E nós estamos muito condicionados a só explicar ou validar algo pelo racional.

A forma como se dá essa migração da informação do consciente individual de várias pessoas para o Inconsciente Coletivo é desconhecida. Qual é o momento do strike? Como essa informação vai para a “nuvem”?

Há quem defenda que o grande momento do download, quando a informação se massifica de tal forma que migra do inconsciente individual para o coletivo é durante o sonho. Ninguém explica com detalhes como se dá essa dinâmica na mente, mas muitos acreditam que ao dormir e deixar nosso inconsciente no controle, ele se conecta com os demais de alguma forma encarrega de passar adiante o aprendizado para a mente coletiva, essa parcela da mente que seria compartilhada em uma espécie de “rede” com todos.

Obviamente, aos olhos da ciência que estuda os seres humanos, a mente coletiva é muito controversa. Não há qualquer prova de que todos estamos conectados nem de que exista em algum lugar uma mente única. Porém, há indícios.

Um exemplo que deu o que falar foi um experimento feito com geradores de números randômicos mostrou que quando algo de grande relevância acontece no planeta e todas as mentes acabam focadas em um determinado evento que sincroniza essas mentes no mesmo pensamento, há uma mudança bastante improvável acontecendo no padrão de geração desses números. Poderia o ser humano ser um Megazord mental? Todos juntos teríamos o poder de mover matéria? De criação? De modificação da realidade? Não sabemos. Só sabemos que quando todas as mentes estão focadas em um único lugar, compartilhando o mesmo sentimento, há uma alteração comprovada da matéria.

Para Jung, as religiões eram explicáveis através do inconsciente coletivo. Não apenas a semelhança entre todas as religiões do mundo indica a própria religião como manifestação do inconsciente coletivo, mas ela também seria uma forma mais simples, concreta e aceitável de explicar o fenômeno. É muito mais fácil engolir que um amigo imaginário te enviou uma informação do que aceitar que você e aquele Zé Cu do Twitter tem alguma conexão em uma mente única.

Há pessoas que dizem claramente vivenciar sentimentos e sensações de coisas pelas quais nunca passaram. Obviamente não há uma única explicação para isso, a coisa vai desde mediunidade até esquizofrenia, mas, aqueles que defendem a existência do Inconsciente Coletivo se diferenciam de todas as teorias por acreditar que todos temos essa capacidade, que é inata, basta começar a prestar atenção a você mesmo e perceber os “downloads” que recebe.

No que eu acredito? Pouco importa. Acredito que vale a pena observar e perceber se isso se aplica a você. Se sim, usufrua. Se não, descarte. Este texto é apenas para te trazer a informação, a conclusão é só sua.

Para dizer que não acredita sem sequer tentar acessar essa informação, para dizer que acredita sem sequer tentar acessar essa informação ou ainda para dizer que simplesmente não se importa: sally@desfavor.com

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Comments (12)

  • Geraldo Renato da Silva

    Tudo indica que já nascemos com certos componentes já instalados em nossa mente (a grosso modo, o sistema operacional de um computador) e com o passar dos anos vamos acrescentando (ou retirando) alguns “programas”, de acordo com nossas experiências e estímulos.
    Isto pode até nos levar a ter alguma esperança na Humanidade, pois com os incentivos corretos (alimentação e moradia) e uma educação razoável, a ignorância pode até ser diminuída. Mas, sempre existirão aqueles e aquelas que irão preferir Anitta à Chopin, Paulo Coelho à Machado de Assis.

  • Boma dia!
    Não sou físico, mas quando li no seu texto sobre a experiência do centésimo macaco me veio à mente um conceito da física chamado “Ação Fantasmagórica à Distância.”

    • Entende se qua ação fantasmagórica já não é físico e sim espiritual a qual o. ALBERT EINSTEIN negava a qualquer custo . Sou aluno de MECANICA Quantica e sabemos que há um conceito entre os físicos para que isso não seja divulgado para a população entrelinha apenas para estudos militares.

  • Um livro interessante sobre a transmissão de características adquiridas (nem Darwin, nem Lamarck, no caso) é “A presença do passado”, do biólogo Rupert Sheldrake. Ele vai falar sobre Ressonância Morfogenética, um conceito muito doido, mas bem interessante. Vale a leitura.

  • Jung sabia q não teria como provar cientificamente ou nem mesmo pela lógica suas teses , acho q Freud ficou puto com ele por isso pq ele queria algo científico e Jung começou a analizar tarô ou algo do gênero. Tbm tem uma história de q quem foi apresentar a psicanálise nos eua foi jung e ele pra se adequar à cultura americana adaptou a parte sobre sexualidade q era o pensamento central de Freud. Foi um sucesso e Freud ficou putaço.
    Eu particularmente gosto muito das observações relacionadas a psicóticos , a desestruturação do ego e a questão dos delírios ou alucinações serem parecidos com histórias de mitos antigos. O tratamento q se desenvolveu usando a arte , fazendo mandalas para analizar as condições dos pacientes psiquiátricos acho fascinante, Tbm acho legal para análises de filmes e tal. De resto eu fico muito confusa sobre o inconsciente coletivo.

  • Até se falasse que as pessoas nascem com experiências dos antepassados gravadas ainda vai, mas do coletivo em geral não rola!

  • Gosto bastante do Jung, já li bastante obras dele, e algumas (ou mais especificamente, algumas ideias) são bastante difíceis de entender, como a do processo alquímico, por exemplo.

    Aliás, já fiz análise de linha junguiana e achei bem bacana. Mas, ainda assim, prefiro Lacan.

    Acredito que exista sim um inconsciente coletivo, mas provar por A+B como se dá essa conexão geral é que são elas. Até hoje nunca vi alguém tentando provar isso de maneira mais dura, utilizando a ciência, a memória genética, por exemplo.

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