ProjektMelody

Uma modelo virtual está ganhando dinheiro cobrando de homens para ficar nua e se masturbar ao vivo na webcam. Virtual como em feita de polígonos. ProjektMelody, ou apenas Melody para os íntimos, é o tipo da coisa que parece impensável até você… pensar sobre isso.

Acredito que ainda temos almas puras visitando o desfavor, então vamos estabelecer alguns elementos dessa história: é muito comum hoje em dia que mulheres (transexuais e homens em menor escala) liguem uma webcam, entrem em sites que as conectam com milhares de outras pessoas e cobrem para fazer shows eróticos ao vivo. O mercado já tem inúmeras variações e modelos de remuneração diferentes, dada a enorme demanda de pessoas (praticamente só homens) que estão dispostas a dar seu dinheiro para essas modelos.

Gostando ou não, é um modelo de negócios sólido. Algumas dessas modelos trabalham em “fazendas” de pornografia, casas adaptadas para abrigar várias ao mesmo tempo, cada uma num quarto mostrando até o útero para quem quer que esteja pagando no momento. Outras fazem shows de sexo com parceiros fixos ou eventuais em suas próprias casas. Já algumas tem um modelo mais impressionante ainda: nem peladas ficam. Vão para sites de streams não pornográficos como o Twitch (conhecido por pessoas que jogam videogames ao vivo) e ficam tentando seduzir um público mais jovem (como em crianças e pré-adolescentes) para comprar material mais “ousado” por fora da plataforma.

Mulheres atraentes simulando uma relação à distância com estranhos na internet é uma indústria milionária, quiçá bilionária. Esse já é o mundo no qual vivemos. É o tipo de coisa que é normalizada a cada dia, e com a velocidade média da rede aumentando ao redor do globo a cada dia para permitir streams de vídeo de alta qualidade, não é razoável esperar que isso seja apenas uma moda, é uma profissão válida no século XXI.

ProjektMelody entra nesse lucrativo mercado sem ter um corpo. Através de um sistema já nem tão inovador de captação de movimentos e renderização em tempo real de um modelo 3D, uma pessoa qualquer pode servir de base para essa boneca virtual fazer todo tipo de safadeza ao vivo para milhares de pessoas. Modelos virtuais já existem em outras plataformas, a tecnologia se provou sólida em aventuras menos… adultas, o que acontece agora é o tipo de coisa que depois de vermos acontecer uma vez, parece óbvia.

Uma modelo erótica virtual não tem a maioria dos problemas que as de carne e osso enfrentam diariamente: não precisam lidar com gente escrota nos chats, não tem que fingir emoções ou se controlar diante de dificuldades, não cansa, não se machuca depois de peripécias sexuais extremas, não pode ser perseguida fora do seu ambiente de trabalho… e se o dinheiro não estiver entrando, não é uma boca a mais para alimentar. Na verdade, a única coisa que não consegue fazer melhor que uma modelo real é ser atraente de verdade. Ou… será que nem isso?

Já escrevi sobre isso antes, vou reforçar mais para as mulheres que estão lendo: nunca duvide do poder do estímulo visual para um homem. Não é o fato de ser uma foto, um vídeo ou mesmo um desenho que vai impedir um deles de sentir alguma atração. A diferença é como esse homem lida com isso. Pode ser só um “brinquedo” sem consequência para a vida dele, pode ser uma obsessão doentia. Depende do homem. Sim, mulheres também podem (porque sempre vem alguém me encher o saco por isso), mas a proporção de gastos no mercado é claramente desequilibrada para o lado deles.

Muito embora eu possa argumentar sem medo que a maioria dos homens ainda vai preferir a imagem de uma mulher real do que um modelo 3D, não é mais uma maioria tão absoluta: se você observa a vanguarda da baixaria humana nas últimas décadas, vai perceber que mesmo num mundo onde a oferta de mulheres de carne e osso para todo tipo de depravação é gigantesca, o mercado de pornografia e erotismo em quadrinhos, desenhos e jogos não para de crescer. E muito por causa da influência gigantesca da cultura japonesa nas gerações mais recentes.

O estilo japonês criou símbolos visuais de beleza feminina que não só são suficientemente únicos para não concorrer diretamente com mulheres reais como também definiu estilos de personalidade igualmente fantasiosos. ProjektMelody não só assume um formato de personagem de anime, o que já a torna única diante das concorrentes diretas nos sites de câmeras ao vivo, como também importa esse estilo de personalidade submissa e por muitas vezes infantil tão comum no gênero. O que era algo estranho para o homem ocidental até algumas décadas atrás agora é cultura compartilhada pelas novas gerações. A boneca anime nesse estado nebuloso entre vulgaridade e inocência já parece mais natural para muita gente.

Estabeleço todos esses pontos para tentar colocar todo mundo na mesma página antes de entrar na questão de várias dessas modelos, reais, terem começado a reclamar da ProjektMelody. Afinal, é um modelo 3D competindo contra elas no mercado da exposição online. Ninguém parece imune à ameaça da mecanização… segundo as que vieram a público para reclamar, é concorrência desleal, afinal, a boneca virtual não tem a maioria dos problemas que elas têm, como já mencionei anteriormente no texto. Sem contar que deve doer no ego ser preterida por um Zé Ruela fingindo ser uma menina virtual. Ninguém gosta de perder clientes para uma opção que percebe como inferior, não?

Lacradores de plantão entraram na discussão para malhar os homens que estão dando dinheiro para Melody, efetivamente criticando-os por não pagar pelas “trabalhadoras sexuais” que tanto se esforçam pela sua atenção. É um tema delicado na lacrosfera: por um lado, a prostituta real ou virtual é vítima da opressão masculina, por outro, é uma empreendedora empoderada que tira dinheiro de otários. E essas duas versões precisam conviver no discurso calculado dessas pessoas. Quando os negócios vão bem, são poderosas, quando vão mal, são oprimidas.

E ninguém parece conseguir enxergar a questão primordial aqui: ProjektMelody é apelativa sim, embora para um público mais limitado, mas é apenas uma nova atualização de todo esse modelo de sexo virtual. A mulher que se exibe numa câmera já tem muitas vantagens sobre uma que faz shows ao vivo numa boate, por exemplo. E a stripper sofre menos que a prostituta que está nas ruas. Cada etapa desse mecanismo tira um dos problemas práticos da vida de trabalhadoras do sexo, mas precisa ser compensada de alguma forma.

A prostituta da rua não precisa ser muito atraente ou habilidosa para conseguir clientes, sexo real tem suas compensações naturais. A stripper já precisa ser mais ajeitada e pelo menos tentar se mover de forma sensual. A modelo de internet precisa de um diferencial bem maior: ou é muito mais bonita que qualquer mulher que você encontraria nas ruas ou boates, ou precisa gerar interesse sexual pelas suas performances. Não tem o fator do corpo disponível para compensar.

Por essa lógica, a modelo virtual parece o próximo passo lógico: impossivelmente atraente, consistente, personalizável e com tempo para todo mundo ao mesmo tempo. E assim como em cada etapa dessa “desencarnação” da sexualidade humana, a modelo virtual também elimina mais riscos do seu trabalho. E assim como em todas as outras etapas, muitas mulheres vão ficar pelo caminho por não conseguir se adaptar à nova etapa. Boa parte das prostitutas da vida real não tem a beleza, dedicação ou a personalidade necessárias para fazer a vida se masturbando diante de uma webcam. Os mercados avançam, e sempre deixam gente para trás.

ProjektMelody por si só não é uma mudança de paradigma, é só mais uma etapa. Com o passar dos anos e gerações cada vez mais acostumadas à sexualidade virtual, especialmente sob a influência da cultura japonesa nesse aspecto, podemos esperar sim que modelos virtuais comecem a tomar conta do mercado. E aí, vamos concordar que uma mulher que ganha a vida colocando objetos em seus buracos provavelmente não vai conseguir competir em criatividade e diferenciação com um nerd que entende perfeitamente o que o outro nerd quer? Pode ser engraçado pensar nisso, mas eu apostaria sim que o mercado de mulheres se exibindo na webcam vai ser tomado por homens que não fazem sexo, só que dos dois lados da câmera.

Mas, talvez seja uma oportunidade de ouro para as mulheres muito criativas que não tem o rostinho bonito (e por rostinho eu quero dizer… bom, você sabe) para entrar nesse mercado competirem, finalmente, com as mulheres mais abonadas nos quesitos genéticos ou financeiros. Eu já adianto que você muito se engana de achar que homem vai rejeitar a ideia de ter outro homem simulando a modelo virtual, mas a vantagem do mundo virtual é que todo mundo tem uma chance de ser uma mulher virtual atraente, até mesmo… as mulheres. Pode ser até uma solução brilhante para quem sente que nasceu no corpo errado.

A questão sobre a virtualização da sexualidade humana não é se vai acontecer, é quando vai acontecer. Você ainda pode estar imune, mas seus netos e bisnetos provavelmente não vão estar… não é um texto tentando salvar o mundo, pra mim esse trem já partiu.

É só um texto te avisando para investir nas ações das primeiras empresas que focarem exclusivamente nisso.

Para dizer que eu já desisti de tudo, para dizer é a profissão mais antiga por um motivo, ou mesmo para dizer que detesta a ideia de eu estar certo: somir@desfavor.com

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Comments (15)

  • Pra mim, já acostumada com Vocaloids/UTAUloids, e que escreve sci-fi e consumiu yaoi por muitos anos, Melody chega a ser um avanço “natural” e até esperado. Como também tenho MUITA ansiedade social, introversão e algumas experiências muito ruins quanto a pessoas, posso afirmar que um dos principais motivos pelos quais companhias virtuais/robóticas serão cada vez mais preferidas é o medo/perigo de interagir com pessoas reais. É ter se ferrado, e ainda por cima o mundo ter “se tornado” tão louco e hostil que é preferível não procurar mais encrenca e optar pelo personalizável. Soa bem zona de conforto, mas é o que será mais viável, ou seja, o/a cliente nesses casos também têm seus pontos seguros.

    Quanto as mulheres que podem entrar nesse esquema como consumidoras, não será muito diferente do que é como com os fandoms de yaois, cantores famosos, e romances comuns: quando os caras não tão se pegando, são alfas excessivamente carinhosos mas paradoxalmente durões que orbitam em torno da mocinha mequetrefe, sem falar nas hordas de fãs histéricas com direito a fanfics bizarras de sexo animalesco não raramente envolvendo porradaria.

  • penso muito nisso. acho que a virtualização do sexo vai dar uma guinada interessante nos problemas de gênero que temos e tô mt curiosa p ver como vai ser no futuro

  • Meu palpite é que isso (ainda) não faz tanto sucesso entre as mulheres porque no geral elas inconscientemente buscam um provedor pra sustentá-las e garantir estabilidade pra criar uma potencial prole. E tirar foto pra internet ver como ela é bem sucedida e sexualmente ativa (isso parece ser importante pra mulher atual que vive de likes).
    De qualquer forma, vocês estão preparados pra viver num mundo em que a reposição populacional será feita por africanos e indianos semialfabetizados, extremamente religiosos e que cagam no chão?

    • Vício em pornografia e fuga da realidade do “mercado sexual” pode acontecer com mulher também, mas como em todas diferenças entre grupos grandes, na média não chama tanta atenção, mas nos extremos que elas ficam muito claras.

  • Incrível como mulheres ficam nervosinhas quando homens investem tempo e dinheiro em qualquer coisa que não seja idolatrar buceta (3D). Não é a toa que passam a vida inteira se metendo em hobbies majoritariamente masculinos, percebam que tudo que mulher toca ela nao demonstra um interesse genuíno, simplesmente reduz tudo em algo sobre ela e tenta render um protestinho contra o “machismo”.

    Filmes? Ai porque esse filme tem pouca fala pra muié. Esportes? Precisa dar visibilidade pras muié. Joguinho? Muito abusivo contra as muié. Desenho japones? Objetifica a muié. TUDO tem que girar em torno de mulher, TUDO tem que agradar mulher.

    • Algumas mulheres barulhentas. São elas que queremos combater aqui. Elas e todas as outras combinações de gênero que agem de forma histérica e irracional diante da realidade.

      Se a diferença não ficar clara, vamos fazer a mesma coisa com as mulheres que os lacradores fizeram com todos os moderados: demonizar e afastar.

  • pior que essa coisa de e-girl vendendo foto pelada e água de banho parece um dos sintomas do capitalismo se devorando. você olha ao redor e ve a contradiçao de ter trabalho a ser feito e ao mesmo tempo desemprego latente, onde a demanda por um vício social paga mais do que serviço básico.
    e isso gera mais uma contradição, a de vender vício pagar mais mas ao mesmo tempo ser praticado por muié branca de classe média pra cima que já pode ter tudo o que quer, o papai dá. enquanto isso mais abaixo da pirâmide social tem outras mulheres coagidas a vender o corpo por troco de pão

    • Interessante… a partir dessa ideia dá até para considerar que a cultura de uma sociedade onde robôs fazem todo o trabalho começou muito antes dos robôs estarem fazendo todo o trabalho. Uma espécie de capitalismo virtual, onde trocamos valores inventados… será que estamos queimando a largada?

  • Esse negócio de “sexo virtual” nunca vai deixar de ser muito esquisito pra mim. Mas, mesmo não deixando de achar estranho – e até doentio – o que você expôs nesta postagem, Somir, eu ainda consigo compreender. Creio que o que está acontecendo pode ser resumido com uma equação até que bem simples: a velhíssima lei natural da oferta e da procura + todo um mundo de possibilidades antes impensáveis hoje tornado possível graças à evolução da tecnologia. E também não custa lembrar que, por mais bizarro que seja o que as pessoas queiram, sempre haverá alguém disposto a atender a essa demanda enquanto, é claro, também ganha bastante dinheiro no processo.

    • A economia virtualizou, a comunicação virtualizou, muitas relações virtualizaram… sexo estava na alça de mira faz tempo. E eu não duvido que todas nossas funções biológicas serão eventualmente virtualizadas também.

      Podemos apontar para os caras pagando para ver uma boneca 3D pelada e rir, mas eu tenho a impressão que seremos uma das últimas gerações que vão achar graça disso…

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