FAQ: Coronavírus – Fucked Asked Questions – 3

– xupa argentina fdp brasil q foi o escolido p testa vacina

Não sei dizer se você está xingando ao país ou a mim, mas, em qualquer dos casos, não acho bacana rivalizar com o outro (pessoa ou país) em meio a uma pandemia. Estamos passando por algo sério, estão morrendo pessoas não é uma competição de futebol. Seria melhor para todos se estivéssemos unidos, nos ajudando.

Mas, admitindo que as pessoas têm o sagrado direito de serem babacas, gostaria de te informar que você escolheu tirar onda com a coisa errada. Ser escolhido para o teste de uma vacina quer dizer apenas que o seu país tem muitos casos de coronavírus.

Atualmente, é proibido infectar a pessoa com a doença para a qual se testa a vacina, então, é preciso esperar que as pessoas que são vacinadas peguem a doença naturalmente. Se elas estiverem em um país com baixa incidência da doença, isso pode demorar muito para acontecer ou nunca acontecer, o que atrasaria em muito os resultados do estudo: saber se a vacina foi ou não capaz de produzir anticorpos e se esses anticorpos são protetivos.

Portanto, o ideal é que as vacinas sejam testadas em pessoas que morem um país onde seja muito fácil pegar coronavírus, assim os resultados podem ser avaliados rapidamente, o que acelera o processo para colocar a vacina no mercado. Não acho que seja motivo de orgulho viver em um país onde seja muito fácil pegar coronavírus, mas, cada um tira onda com o que pode.

Não que a Argentina seja a oitava maravilha do mundo. Em matéria de coronavírus, apesar do país ter erradicado o vírus em 98% do seu território, ainda existe uma enorme dificuldade em Buenos Aires, que tentou reabrir e, como tantos outros, teve um aumento de número de casos que a colocou novamente em lockdown. Tanto é que uma vacina também será na Argentina, a do laboratório Pfizer.

Mas, achar que está melhor do que a Argentina quando falamos sobre pandemia, sob qualquer aspecto que se olhe, é devaneio. Não está e nunca esteve.

Poderíamos perder tempo falando de muitos números, mas prefiro citar apenas um deles, o mais grave: mortes. Quando falamos no número de mortes por habitantes, atualmente (segunda semana de julho de 2020) o Brasil tem 329 mortes a cada um milhão de habitantes, enquanto que a Argentina tem 38 mortes a cada milhão de habitantes. Deixo o gráfico abaixo, que é mais didático.

 

Sobre as vacinas, o Brasil não é o único floquinho de neve especial “escolhido” para testar a vacina. Elas serão testadas simultaneamente em vários países. Além disso, vacinas são possibilidades, não certezas. Meio arriscado tirar onda com possibilidades: teste não é garantia de sucesso. Pode dar certo, como pode não dar certo. Grandes merda testar, comemora o país onde a vacina der certo.

É perfeitamente possível que uma vacina apresente ótimos resultados em todas as fases de teste mas, quando testadas em humanos, se percebe que não promovem imunidade. Por sina, essa é a regra, a exceção é imunizarem. Segura tua onda na hora de comemorar, guarda os rojões (brasileiro médio comemora fazendo barulho) para quando comprovarem que uma das duas vacinas testadas no Brasil de fato são capazes de imunizar contra a doença, ok? E torce muito, pois o Brasil ficou de fora da ação mundial pela vacina, então, se aquelas testadas no país não forem as de sucesso, vocês vão pro fim da fila.


– brasileiro vamo tudu morre somo cobaia de vacina deconhecida

Não são cobaias. Não são vacinas desconhecidas. Salvo que estejam fazendo alguma barbeiragem escondida, por ambição ou para apressar a chegada da vacina ao mercado, não há motivos para se preocupar. Nós não temos como saber o que se passa nos bastidores, portanto, se você não confia, não tome enquanto estiver em fase de teste, é voluntário e não obrigatório. Mas antes, leia os esclarecimentos abaixo.

Os testes de segurança da vacina, onde se infectam pessoas para ver as reações colaterais que a vacina pode provocar em seres humanos, já foram feitos e as duas vacinas testadas no Brasil foram aprovadas como sendo seguras. O que se está testando agora não é a segurança da vacina (se ela faz mal ou causa dano) e sim se ela tem capacidade de imunizar uma pessoa contra a doença. Pior dos mundos, a vacina não imuniza, ou seja, nada muda.

São fases de teste diferentes: você tem que ter medo da fase anterior, quando se estudam os riscos que aquela vacina gera para a saúde das pessoas, se ela provoca efeitos colaterais, se ela causa algum dano ao organismo. Essa fase já passou e os laboratórios garantem que essas duas vacinas não causam nenhum dano. Agora, o que se vai testar no Brasil é se as vacinas realmente são capazes de proteger o organismo do coronavírus.

Além disso, o risco é ainda menor no Brasil, pois nenhuma das vacinas testadas no país é com o vírus atenuado (um vírus enfraquecido, mas, que em certos casos, por acabar gerando a doença). As vacinas são com vírus inativado, ou seja, se injeta um pedaço de um vírus morto, sem qualquer chance de contaminar a pessoa ou causar a doença. Então, a menos que algo nunca antes visto na história de medicina aconteça, algo como um vírus que ressuscita, não precisa ter medo nem de pegar a própria doença tomando a vacina.

E, para terminar, só toma a vacina quem aceita ser voluntário para isso e provavelmente darão prioridade a profissionais de saúde, que são os mais expostos ao vírus. Ninguém vai entrar na sua casa e te obrigar a testar a vacina. Se não confia, não se ofereça para fazer o teste e pronto. Não tem necessidade de ficar espalhando o medo e minando algo que pode vir a ser muito bom para a humanidade. Não projete o seu medo, o medo que tem dentro de você, como se fosse uma realidade. Não espalhe o medo sem necessidade, não jogue contra a sociedade.


– coronga começou no brasil no esgoto de floripa

Não, não, por favor, nunca mais repita isso.

Eu acharia engraçadíssimo ver todos esses infelizes que ficam berrando sobre teoria da conspiração chinesa e cagando as chances do brasileiro tomar uma vacina que venha da China, terem que engolir que o vírus não é chinês, é brasileiro. Juro, eu ia rir muito alto. Adoraria. Mas divulgar essa história de acharam partículas de coronavírus em amostras do esgoto de Florianópolis em novembro do ano passado como uma verdade é uma baita irresponsabilidade.

Vamos lembrar do que falamos lá na primeira coluna? O excesso de informação é nocivo não apenas por espalhar notícias falsas, mas também por bombardear a pessoa com muito conteúdo, algo que é capaz de provocar um grande estresse no ser humano, além de uma grande perda de tempo.

Se você não é um completo desocupado obcecado pelo coronavírus, deve filtrar o que lê, para não perder tempo com milhões de achismos e teorias. E esse filtro se faz lendo apenas estudos científicos revisados por seus pares (feitos por um cientista com credibilidade e revisado por outros cientistas com credibilidade) e publicado em um meio sério, igualmente com credibilidade. O problema é: essas publicações nem sempre trazem o que a pessoa quer ler. Tem quem abra mão de credibilidade para ler e divulgar o que mais lhe agrada, a esse tipo de pessoa chamamos “idiota”.

Nem sequer leia algo que não tenha os requisitos do parágrafo anteior. O professor da universidade não sei de onde tem uma teoria sobre não sei o que, que ele testou? FODA-SE, assim como em qualquer meio, a ciência é cheia de idiotas e aventureiros. Tese qualquer um joga no ar, quero ver pesquisar e provar, passar pelo crivo de colegas com um nome a zelar e receber o aval de uma instituição que tem um nome a zelar e publique. Essa deve ser sua peneira na hora de escolher o que ler. Não se bombardeie de merda, por mais que seja uma merda que te agrade.

Esse estudo (que é da universidade não sei de onde) sobre corona no esgoto de Florianópolis é um estudo preliminar, não foi revisado pelo pares e não foi publicado em nenhum meio sério. É basicamente uma criança depois de cagar, gritando no vase “mãe! Vem ver o que eu fiz!”. Chegou ao público por um motivo simples: a mídia vai repercutir qualquer coisa que ter cliques, então, quem tem que fazer o grande filtro do que consumir é você.

Para começo de conversa, não foram encontradas partículas de coronavírus, essa informação está errada, foi encontrado um suposto material genético que poderia, em meio a um leque de opções, ser de algum coronavírus (lembrando que o SarsCov2 não é o único coronavírus que existe).

A precisão desse teste que fizeram no material colhido no esgoto depende da sonda utilizada para fazer a reação e muitas vezes se optam por sondas com grande capacidade, mas sem refinamento, capazes de detectar muitas coisas, mas sem muita precisão. Não dá, apenas por esse teste, para bater o martelo que o que foi encontrado é o corona, do covid-19.

Sem fazer um exame certo e preciso (papo técnico: sequenciamento do genoma), não dá para dizer que o que encontraram é o SarsCov2. Pode ser que tenham encontrado algum coronavírus ou algo que se pareça com um coronavírus. É bem possível que existam outros circulando por aí, mas, que como não causam problema algum, sequer são investigados ou conhecidos. Só para citar um exemplo, animais domésticos podem ter coronavírus (específicos deles) que, em exames sem muita precisão podem ser confundidos com outros tipos de corona.

Pode ser que tenham detectado outra coisa parecida, mas a coisa decente a fazer é sequenciar o genoma, para ter certeza de qual coronavírus é ou se ao menos é um coronavírus, e só depois jogar essa bomba ao público. É como sair para caçar, ver um arbusto se mexendo e atirar, com a certeza de que é um javali. Pode ser um javali, mas pode ser qualquer outra coisa. O certo é primeiro ver o que está atrás do arbusto e só depois atirar.

Para piorar, não há nenhum indício de internações hospitalares por covid-19 em novembro do ano passado, portanto, as chances são ridículas. É como sair para caçar em um local onde nunca houve javalis, apenas coelhos e cervos, ver um arbusto se mexendo e atirar presumindo ser um javali.

É graças a esse tipo de notícia que o povo desacredita cada vez mais da ciência: hoje se diz algo, se afirma como uma certeza, amanhã, ao estudar de forma mais aprofundada, se percebe que não é bem assim e se desmente. O povo que não está acostumado com método científico fica puto e presume que a ciência não sabe o que fala, que muda de ideia o tempo todo, que não é confiável.

Por isso, repito: não percam seu tempo com nada que não seja um estudo revisado e publicado em um meio prestigiado, fazer algo diferente disso é ficar caçando teoria da conspiração, caçando o que valide seu achismo ou sua necessidade de se sentir especial e saber o que mais ninguém sabe.

Em tempos de excesso de informação, filtre o que tem mais chances de ser verdadeiro e não o que converge mais para os seus desejos e pensamentos.


Para dizer que não quer que achem a vacina e que a humanidade seja extinta, para dizer que não entendeu nada mas vai usar frases soltas em conversas para impressionar ou ainda para dizer que com a sorte que o Brasil tem, a vacina vai ser descoberta na Argentina: sally@desfavor.com

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Comments (20)

    • Fico feliz pelo país.
      Precisava fazer tanto escândalo, se recusar a entrar, falar mal, para no final das contas ceder? Que governantes bostas.

    • É sério isso?

      Quanto mais doentes, mais recuperados um país tem. É óbvio que um país com um milhão de casos vai ter mais gente recuperada do que um país com cem mil casos. Sua afirmação é como dizer que “A Alemanha nazista foi o país onde mais judeus se salvaram do Holocausto”

      Desculpa, mas isso aqui não vai virar um circo de competição, não vou mais aprovar esse tipo de comentário, o que só beneficia pessoas como você, pois as poupa do vexame.

  • Eu li ontem que a vacina que tá mais avançada é a da Rússia. Não se esqueçam que os russos são os HueBR estrangeiros então: XUPA, MUNDO!

  • Pelo visto, vamos ficar assim até o Natal…
    (mas vai ter manifestação, ano novo e carnaval 2021, porque a putaria não pode acabar)

    • Se quiserem levar a sério a pandemia, vão ficar assim até 2022, pelo menos. Mas, concordo com você, quando começar a chegar o verão-putaria, ninguém vai querer suspender o carnaval.

    • Sim. E a letalidade é de 1% QUANDO o país se encarrega que a população pegue a doença de forma fracionada. Quando muita gente pega ao mesmo tempo, a letalidade sobre muito, pois colapsa o sistema de saúde e muitos que poderiam ser salvos acabam morrendo por falta de atendimento.

  • Inacreditável, Sally! xupa argentina fdp brasil q foi o escolido p testa vacina. Eu não consigo acreditar que alguém realmente tenha dito isso! Não me é concebível que quem perpetrou essa bobagem seja mesmo um ser humano… Quem foi capaz de proferir uma asnice desse tamanho deve tê-lo feito de quatro, aos coices e relinchos. E quem eventualmente concordou com esse estupidez de “xupa argentina (sic)” deve tê-lo feito também de quatro, com os mesmos coices e os mesmos relinchos.

    • Olha, pela questão humanitária, eu nem vejo problema: a pessoa não tem poder algum, o fato dela desejar algo ou comemorar algo só faz mal a ela mesma. O que me espanta é que a pessoa perca tempo e foque energia com o que acontece em outro país quando o seu está tão fodido e precisando tanto de ideias, iniciativas que ajudem. É como estar em um iate que está afundando e apontar o dedo e ridicularizar um botezinho de merda que, por pior que seja, está firme e forte.

  • A curva de casos acumulados é maior sempre nos países mais populosos. O mais honesto seria exibir o percentual populacional atingido. Não dá pra comparar os casos acumulados de um local com dois milhões de habitantes com o de outro com cinco mil. O gráfico de casos acumulados dá sempre essa impressão de crescimento vertiginoso, o que distorce a percepção de quem não domina ferramentas estatísticas.

    • O gráfico é a proporção casos x habitantes e não é de casos acumulados, é de mortes.

      Se tiver um milhão de casos e zero mortes, não acho tão grave. O que me parece grave nessa história toda, acima de qualquer outro dado, são as vidas perdidas.

      Mas, como eu disse, sob qualquer aspecto que se olhe (se souber fazer contas, claro), o Brasil está em uma condição pior.

      • Não é o que diz o título/ subtítulo do gráfico. pode ser que você tenha ilustrado com o gráfico errado. Dê uma conferida, pode ter se equivocado.

        • Tem toda a razão, o gráfico estava errado mesmo. Já atualizei para o gráfico certo, muito obrigada pela correção!

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