Em apenas cinco dias, as três principais séries do Campeonato Brasileiro somam ao menos 52 jogadores infectados pelo novo coronavírus e três partidas adiadas pelo risco de um surto ainda maior. LINK


O que poderia dar errado, não? A volta do futebol brasileiro vem para provar que a gente não acerta nem com o que se importa… Desfavor da semana.

SALLY

A realidade não está nem aí para o seu discurso. Você pode distorcer, relativizar, negar, mas a realidade segue seu curso e te desmente sem pudores. É o que estamos vendo acontecer com futebol no Brasil. Estão tomando uma surra violenta de realidade.

Dezenas de jogadores infectados, testes errados, liminar para jogador infectado entrar em campo… tem de tudo. Estamos falando de uma doença que pode deixar sequelas graves, principalmente pulmonares, que podem incapacitar um atleta para sempre. Onde eu quero chegar? Muito simples: torço para que o Higuaín seja contratado por um time brasileiro.

Em quatro dias foram contabilizados 40 casos de covid-19 (número que já subiu) no Campeonato Brasileiro. Quem poderia imaginar que um esporte de contato, onde se grita, onde há proximidade, onde se tem hábito cuspir, poderia desencadear uma onda de contágios, não é mesmo? Talvez seja o universo promovendo a total erradicação do futebol. Nature is healing!

A CBF já declarou que o balanço da primeira rodada foi positivo. Foi sim, principalmente nos testes para covid-19. E aquele discurso de fazer as coisas “tomando todas as medidas de segurança” continua caindo por terra. Não existe medida de segurança que impeça o contágio em uma partida de futebol. Talvez a CBF esteja tentando filtrar tanto jogador merda que atua no Brasil: se matar ou incapacitar boa parte deles, abre espaço para que alguns mais habilidosos conquistem seu lugar ao sol.

Não adianta tomar “todas as medidas de segurança” em país incompetente, onde o suposto melhor hospital do Brasil erra o teste de 26 jogadores de uma única vez. Ainda assim, o que mais me espantou nesse caso foi o nome do time sobre o qual recaiu o erro: Red Bull Bragantino. Não pude evitar de pensar na expansão dessa onda patrocinada para algo nacional, como o Dolly Guaraná Corinthians. Tomara que a moda pegue.

Até quem trabalha com isso está chocado. Até mesmo quem trabalha com isso e levou uma vida de pouco discernimento está chocado. Quando alguém com a história de vida do Casagrande, o Rafael Pilha do futebol, te diz para não fazer algo pois é arriscado demais, eu recomendo seriamente escutar. Casão acha arriscado? Melhor não fazer.

Repetem muito que os clubes precisam de dinheiro. Bem, nesse ritmo de dez contaminados por dia, vai sobrar dinheiro, pois não vão ter a quem pagar salário. Vão ter que colocar os meninos de categoria de base para jogar, ou então começar a recrutar porteiros e peões em jogos de campinho de bairro. O salário vai reduzir, o saldo dos clubes fica no azul.

Somir deve estar reclamando no texto dele, mas eu fico aqui me perguntando se a extinção do futebol no Brasil não é uma coisa bacana. Os bons estão todos indo embora, com medo da desgraça que é o Brasil, como aconteceu com Jorge Jesus, por exemplo, que depois de perder um grande amigo para o corona, fez as malas e se mandou. Só vai sobrar o tosco do tosco. Em 2021 estarão jogando chutando cocos (para os otimistas, a fruta, para os pessimistas, fezes).

Talvez você já tenha percebido que, assim como o texto do sábado passado, este também não vai a lugar nenhum. Não vou aprofundar nada. Não tem pano de fundo. Tudo que tinha que ser dito sobre o descaso do Brasil envolvendo coronavírus já foi dito. Se o brasileiro insiste em se comportar de uma forma louca e desconectada com a realidade, não serei eu a levar a sério.

Ao menos esse descaso no futebol está dentro de uma linha de coerência: o Brasil não se preocupa em evitar o contágio de profissionais do mais alto gabarito, como médicos intensivistas, acho coerente que trate como merda a vida de jogador de futebol. Atende o pessoal da direita, que acha que não tem que se precaver do corona e atende o pessoal da esquerda que acha que futebol é ópio do povo e tem que acabar. Todo mundo vai ficar feliz!

Tem muito dinheiro e interesses envolvidos, suponho que não vão suspender o futebol. Vocês precisam se adaptar. Empreendedorismo, minha gente! Tem quem chora e tem quem vende lenço. Trago uma sugestão que pode te deixar rico: um aplicativo chamado Corona Futebol Clube.

Vou jogar para o universo, se chegar em alguém que o coloque em prática, depois a pessoa me paga uma paçoca em gratidão: seria um aplicativo estilo “Cartola” ou qualquer porcaria dessas de apostas de futebol, só que em vez de se preocupar com escalação ou com o placar, foca as apostas em quem se contamina, em quem morre, em quem fica com sequelas, quantas pessoas o infectado vai contaminar, etc. Fala sério, eu sou ou não sou um gênio?

Ao que tudo indica, não vai ter imunidade de rebanho. Uma pessoa contaminada pode ser recontaminada pelo vírus, o que permite um ciclo eterno de jogadores, técnicos e staff doentes. Daí eu pergunto, não seria mais inteligente e honesto aceitar que vai ter contágio pra caralho e dividir em dois campeonatos? Campeonato Brasileiro e Campeonato Corona Brasileiro.

Cada time brasileiro teria seu time regular e seu time corongado, que terá o nome “Corona” inserido, ex: Clube de Regatas Corona Flamengo. Quando um jogador adoece ele vai pro time corônico e quando ele está recuperado ele volta pro regular. Imagina a emoção! Dois campeonatos paralelos! Faz taça em formato de coronavírus, coloca símbolo do corona no uniforme e em vez da bola coloca uma esfera cheia de protuberâncias pro jogador chutar. Depois é só torcer para os piores jogadores do seu time adoecerem e irem para o time versão corongada.

Ok, eu admito: parte de mim ficou triste ao ver o massacre que será o futebol brasileiro. Como é um evento que envolve jogadores conhecidos em todo o território nacional, isso pode me dar um trabalho do cacete para computar o bolão deste ano. Tem muito nome de jogador nas apostas, vai ser um saco fazer a apuração de mortos. Força, Guerreira!

E a Libertadores vem aí! Preparem-se para novas cepas internacionais do vírus, em breve! Futebol nunca foi tão contagiante.

Para dizer torce pela extinção do futebol, para dizer que torce pela extinção do Brasil ou ainda para dizer que vai colocar em prática o Corona Futebol Clube: sally@desfavor.com

SOMIR

Eu sei que é pedir demais levar a sério uma pandemia que mata mais de 1.000 pessoas por dia todo dia há meses, que é exagero se importar com profissionais de saúde e gastar verba disponível para comprar remédios essenciais para a sobrevivência dos contaminados… mas estou realmente surpreso como nem no futebol o Brasil conseguiu lidar com a pandemia.

Instauraram um protocolo “cruze os dedos e torça” para todos os times participando do campeonato brasileiro e seguiram em frente. Domingo passado um jogo foi cancelado no campo ainda, porque estavam em dúvida se um time que estava praticamente todo contaminado poderia jogar com outro que não estava. Sim, ficaram em dúvida sobre o protocolo num caso desses. Já imaginei o juiz avisando os capitães dos dois times: “Se for tossir, tosse pro lado. E se começar a ficar com muita falta de ar, pode tomar cloroquina na beira do campo, ok?”

E não é surpresa que os casos começaram a se espalhar. São 20 times com realidades completamente diferentes de capacidade de organização, em regiões onde a pandemia está em fases muito diferentes. Acharam que era como recomeçar um campeonato europeu, com países menores que alguns estados brasileiros. No velho continente, não só a realidade da doença é muito mais homogênea ao redor dos países como a maioria já conseguiu exercer algum controle sobre a contaminação.

No Brasil, cada estado está num estágio e o país em geral seguiu uma estratégia “não temos estratégia” para lidar com o vírus. Estava claro que não tinha condição alguma de começar o campeonato. Mas, como quase todos os clubes vendem o almoço para comprar o jantar e a CBF só está nessa para ganhar dinheiro, resolvemos voltar como quase se nada. Quase, porque os estádios ainda estão vazios. Mas algo me diz que assim que algum país europeu reabrir os portões para o público, o Brasil vai querer imitar. Mesmo que nesse país europeu as coisas já estejam muito sob controle e o Brasil continue no mesmo estágio que está agora…

Falando em Europa, assim que eles perceberam que a Copa dos Campeões – um torneio com times de todo o continente – teria o óbvio problema de exigir muitas viagens longas entre países com realidades bem diferentes de controle da pandemia, resolveram seguir um modelo de “bolha”: levaram todos os times para Portugal e os prenderam por lá até acabar o campeonato. Ninguém viaja, os jogadores ficam isolados do mundo até a final. Era o único jeito racional de continuar um dos campeonatos mais lucrativos do mundo sem criar riscos exagerados.

Nos EUA futebol é coisa de mulher, mas seus outros esportes também tinham a preocupação de voltar a fazer dinheiro. A liga de basquete, a NBA, decidiu-se por um modelo parecido: mandou todo mundo para a Disney, fechou os atletas em hotéis e todo mundo joga na mesma quadra até o fim do campeonato. Inclusive tem um monte de regras para evitar que gente estranha (vulgo vadias) entre em contato com os jogadores. Basquete tem dessas vantagens por ter elencos pequenos (no máximo vinte jogadores e comissão técnica), mas os outros esportes queridos pelos americanos têm outras dificuldades.

O futebol americano, por exemplo, tem elencos gigantes de dezenas e dezenas de jogadores com uma tonelada de técnicos e aspones para cada minúscula função. Além disso, jogam em estádios gigantes que exigem muita estrutura. Como sindicato de jogadores por lá não é uma piada como no Brasil, muitos já disseram que não vão voltar a jogar enquanto a doença não estiver sob controle, e o campeonato está travado até terem alguma solução para isso. Lembrando que pior que o Brasil, só os EUA em número de casos e mortes (e considerando que lá não tem saúde pública, nem sei se é mais por isso do que por incompetência das autoridades).

Então, não é como se o Brasil tivesse que descobrir sozinho como fazer as coisas na volta dos esportes coletivos, temos exemplos ao redor do mundo de como fazer se quiser fazer, e também do que ainda não dá para fazer. Os argentinos ainda não voltaram o seu futebol, e poucos povos podem se dizer tão doidos pelo esporte como o brasileiro além deles. Quando voltarem, em setembro, vai ser um formato diferente, muito mais curto. Os europeus também estão segurando a volta de seus campeonatos nacionais, deixando para até depois da Copa dos Campeões para saber como vão fazer. Mas é claro, o Brasil tomou uma cloroquina e achou que podia voltar como se nada.

Agora, vemos o que vemos: recurso na CBF para permitir que jogadores contaminados possam jogar com os saudáveis, jogo sendo cancelado no campo, casos se espalhando pelas equipes… como eu já disse, não me espanta que o brasileiro cague e ande para saúde pública ou o bem estar da coletividade, os governantes também não ligam. Mas, é uma surpresa que nem no futebol resolvemos levar isso a sério. Nada mais é sagrado.

Para dizer que torce para todos os times acabarem, para dizer que vai continuar torcendo no Coronão 2020, ou mesmo para dizer que desde que seu time esteja ganhando não importa quem morra: somir@desfavor.com

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