Ig Nobel 2020

É hora de celebrar o Prêmio IgNobel 2020 e parabenizar esses fantásticos seres humanos que perderam seu tempo e recursos para pesquisar ou experimentar imbecilidades. Apesar de ser oficialmente classificada como uma premiação para “pesquisas inusitadas”, a palavra é essa: imbecilidade.

Como estes seres humanos prestaram um imenso desfavor, desperdiçando tempo, recursos e cagando ainda mais a credibilidade da ciência, nada mais justo que falemos deles aqui. Está se sentindo um inútil? Está com a autoestima baixa achando que só faz merda? Calma, você vai se sentir melhor ao final deste texto, ao saber como estas pessoas gastaram seu tempo.

A edição de 2020, distribuiu 10 prêmios nas áreas de ciência, materiais, medicina, psicologia, física e outros. O evento, que geralmente é realizado em um teatro da Universidade de Harvard, foi transmitido on-line devido à pandemia. Conheçam os vencedores do IgNobel 2020.

IgNobel na categoria Acústica

Nada como perder tempo em grupo. O prêmio foi para uma equipe da Áustria, Suécia, Japão, Estados Unidos e Suíça, países que aparentemente devem estar sem qualquer problema para gastar tempo e dinheiro com esse tipo de pesquisa. Essa equipe induziu o grito de um crocodilo fêmea chinês após colocar o bicho em uma câmara hermética cheia gás hélio. Aparentemente, estavam tentando entender quais informações o jacaré tenta passar com suas vocalizações. A conclusão é que eles provavelmente passam informações sobre o tamanho de seus corpos, entre outras coisas, que podem ser úteis em períodos de acasalamento. Não, não tem áudio do crocodilo gritando fino, mas tem o estudo, publicado no Journal of Experimental Biology.


IgNobel da Psicologia

Sabe aquele papo de não julgar um livro pela capa? De que as aparências enganam? Esqueça. Os pesquisadores vencedores desta categoria resolveram mapear os traços que pessoas narcisistas tinham em comum e chegaram à conclusão de que a melhor forma de detectar um narcisista é pelas sobrancelhas. Os vencedores, os pesquisadores Miranda Giacomin e Nicholas Rule, juram que é possível identificar pessoas narcisistas analisando o formato de suas sobrancelhas. Mesmo que fosse verdade, não teria muita utilidade, já que hoje poucas pessoas conservam seu formato original. Lombroso mandou lembranças. A pesquisa foi divulgada no Journal of Personality.


IgNobel da Paz

Também poderia ser da Infantilidade, mas vamos lá. Os vencedores foram os governos da Índia e do Paquistão, por autorizarem/consentirem que seus diplomatas a toquem secretamente a campainha dos diplomatas do outro país no meio da noite e depois fujam antes que alguém tivesse a chance de atender. O clássico “toquei a campainha e corri”, mas institucionalizado. Quem dera o oposto de paz fosse encher o saco do coleguinha com brincadeiras da primeira série. Injusto. Muita gente fez mais babaquices para merecer este prêmio.


IgNobel da Física

Novamente, um conjunto de países onde deve estar tudo muito bem: devem ter a cura para o câncer, pois só isso explica gastar tempo e dinheiro avaliando o que acontece quando você pega o corpo de uma minhoca e o faz vibrar em alta frequência. Pesquisadores da Austrália, Ucrânia, França, Itália, Alemanha, Reino Unido e África do Sul perderam seu tempo colocando uma minhoca para pular e observando como seu corpo reverbera. O estudo foi publicado na Scientific Reports mas infelizmente não temos imagens da minhoquinha sacudindo.


IgNobel da Economia

Olha só! Tem representante brasileiro no que há de pior sobre economia, quem poderia imaginar? Os vencedores desta categoria foram cientistas de Brasil, Escócia, Polônia, França, Chile, Colômbia, Austrália e Itália que tentaram quantificar a relação entre a desigualdade de renda nacional dos diferentes países e a quantidade média de beijos na boca. A conclusão do estudo foi que casais que vivem em países com maior desigualdade de renda tendem a trocar mais beijos entre si. Faz sentido, é de graça. Provavelmente todos nós beijaríamos menos se tivéssemos um Playstation 5. O nome do brasileiro agraciado é Marco Antônio Corrêa Varella e o estudo foi publicado na Scientific Reports.


IgNobel de Gestão

Os vencedores foram cinco assassinos chineses que delegaram a tarefa de matar uma pessoa um para o outro, cada um recebendo uma pequena porcentagem do pagamento, mas nenhum deles conseguiu cometer o crime. Incompetência x5. Um assassino contratou outro assassino, que contratou outro assassino… cinco vezes. Foram terceirizando a missão e, mesmo assim, não conseguiram cumpri-la. Fica a pergunta: se não queria ou não podia cumprir sua missão, por qual motivo cinco idiotas aceitaram a tarefa?


IgNobel de Entomologia (estudo dos insetos)

Um cientista chamado Richard Vetter percebeu que muitos entomologistas (pessoas que lidam regularmente com insetos) têm medo de aranhas (que não são insetos, mas se parecem muito com eles). Daí ele ficou curioso para entender os motivos e, após estudar esta fascinante questão, escreveu um
artigo chamado “Entomologistas aracnofóbicos: Por que duas pernas fazem toda a diferença”, para tentar determinar o que torna as aranhas mais apavorantes que os insetos. Esta belezura foi publicado na revista American Entomologist.


IgNobel de Medicina

Os cientistas Nienke Vulink, Damiaan Denys e Arnoud van Loon, da Bélgica e da Holanda, diagnosticaram uma nova condição psiquiátrica: a misofonia, que seria a angústia de ouvir outra pessoa mastigando. Sinceramente, não me parece uma condição psiquiátrica, quem aqui não se incomoda com outro ser humano mastigando em alto e bom som? Ano que vem vão descobrir o que? Que pessoas se incomodam com unhas roçando um quadro-negro? O estudo foi divulgado no Journal of Affective Disorders.


IgNobel Educação Médica

Nove líderes políticos ganharam este prêmio por “usar a pandemia de Covid-19 para ensinar ao mundo que os políticos podem ter um efeito mais imediato sobre a vida e a morte do que os cientistas e médicos”. Segundo os organizadores do evento “São todos indivíduos que perceberam que seu julgamento é melhor do que o julgamento de pessoas que estudaram isso durante toda a vida e foram mais insistentes a respeito”. Os ganhadores são Jair Bolsonaro (Brasil), Boris Johnson (Reino Unido), Donald Trump (Estados Unidos), Vladimir Putin (Rússia), Narendra Modi (Índia), Andrés Manuel López Obrador (México), Alexander Lukashenko (Bielorrússia), Recep Tayyip Erdogan (Turquia ) e Gurbanguly Berdimuhamedow (Turcomenistão), ou seja, todos os que fizeram caquinha na condução da pandemia. Parabéns, Brasil, mais um!


IgNobel de Materiais

Pesquisadores dos Estados Unidos e Reino Unido criaram uma faca feita de fezes humanas. A ideia foi do antropólogo Metin Eren, fascinado por uma história que havia estudado, de um esquimó que fez uma faca com seu próprio cocô congelado. Só que o experimento mostrou que as facas de cocô não funcionam, quem poderia imaginar que não era uma boa ideia fazer um artefato de cozinha com fezes? “As facas falharam terrivelmente”, disse ele, em nota.


É fascinante que essas pessoas tenham conseguido verbas, fundos apoio ou até um laboratório emprestado para fazer esse tipo de coisa. E é mais fascinante ainda que tenham conseguido publicar alguma coisa e que alguém tenha lido. Fica aqui o nosso mais sincero parabéns a todos os envolvidos neste maravilhoso compilado de inutilidades e um apelo: comecem a filmar esse tipo de experimento. A humanidade precisa ver coisas como um crocodilo gritando com gás hélio.

Para dizer que o crocodilo com gás hélio deve soar como a Inês Brasil, para dizer que agora vai analisar a sobrancelhas das pessoas ou ainda para dizer que isso é um grande Ei, Você científico: sally@desfavor.com

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Comments (10)

  • Quando a minhoca vibra em alta frequência, ela cospe. Não precisava gastar dinheiro com o que qualquer pessoa de treze anos sabe.

  • A cada dia q passa eu acredito mais e mais nas coisas q o Jordan Peterson fala sobre níveis de inteligência. Ele diz q todo ser humano não possui a mesma capacidade de desenvolvimento intelectual, não adianta estudar e nem ler quando a capacidade de raciocínio ñ está lá.

    • O que muitos estudos comprovam é que o crucial para a sua inteligência adulta é desenvolvido na infância. Filhos de pais amorosos, atenciosos, que fornecem estímulo intelectual, conversação, ensinam a pensar e questionar se tornam adultos muito mais inteligentes do que filhos de pais ausentes, relapsos, abusivos ou que simplesmente não colocam com prioridade o desenvolvimento mental do filho.

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