Pai presente?

Criar uma criança de forma decente nesse mundo não é fácil, mas alguns elementos tornam isso ainda mais complicado. A presença de um pai problemático é um deles. Sally e Somir discutem se estar só é melhor que estar mal acompanhado nesse caso. Os impopulares opinam.

Tema de hoje: o que é melhor para uma criança, nunca conhecer o pai ou conhecer um de bom coração, porém disfuncional?

SOMIR

O melhor para a criança é viver na realidade, o que nesse caso significa conhecer o pai, mesmo ele tendo problemas. E sim, é importante ressaltar que não estamos falando de um problema momentâneo, mas algo como um vício destrutivo (álcool ou drogas pesadas) ou uma doença mental severa. Eu já começo esse texto sabendo que não vai dar para proteger a criança de algum trauma com um pai desses, mas mesmo assim mantenho que na média me parece melhor conhecer o pai do que não conhecer.

E a parte do “bom coração” é essencial aqui: isso presume que o pai, mesmo com todos os problemas que têm, tem boas intenções e amor para oferecer para essa criança. Não estamos falando de alguém que rejeita a criança ou é propositalmente cruel e/ou violento com ela. Nesses casos, evidente que o melhor é ficar muito longe.

Entendendo o contexto, podemos partir para o cerne dessa questão: crianças devem ser protegidas do pior da vida, mas não isoladas da realidade. A primeira permite que elas cresçam mais confiantes e seguras, a segunda cria adultos neuróticos que não sabem lidar com dificuldades. Não estou advogando deixar a criança seis meses por ano com um pai drogado, evidente, mas sim permitir que ele tenha algum acesso aos filhos num ambiente mais controlado. É impossível garantir que um pai disfuncional não vá causar sofrimento à criança ou deixar algumas marcas doloridas, mas para falar a verdade, nem mesmo pais funcionais conseguem evitar isso. Convivência é inimiga natural de situações ideais.

E aqui, uma questão maior: nas últimas décadas, a humanidade parece ter mudado muito o seu padrão do que é aceitável para a vida de uma criança. Nem estou falando de crianças do começo do século passado, que efetivamente eram jogadas no mundo dos adultos sem rede de segurança logo antes da adolescência e que trabalhavam em fábricas poluídas assim que desenvolviam coordenação motora básica, estou falando mesmo é dos anos 80 e 90, onde já havia uma proteção maior com crianças e adolescentes, mas ainda com uma dose considerável de realidade adulta ao redor das crianças.

Não estou dizendo que Robocop seja um filme ideal para crianças como se achava naquele tempo, não é sobre exemplos específicos. É sobre uma mentalidade que foi se perdendo: crianças precisam exercitar aos poucos sua capacidade de tolerância a temas mais traumáticos e pesados enquanto crescem. Uma das piores coisas que você pode fazer com alguém é colocar a pessoa numa bolha de paz, tolerância e inocência e depois soltar ela num mundo completamente diferente sem aviso nenhum.

Eu não acredito que seja coincidência que o grosso dos millenials seja neurótico desse jeito. Foram criados sob essa nova diretiva de proteção “politicamente correta” e soltos num mundo que simplesmente não podia sustentar essa ilusão. O choque foi violento, e uma geração inteira tomou como missão de vida adequar a realidade ao ideal de mundo que formaram em suas cabeças durante a criação. Como estamos vendo atualmente, não é uma missão simples e o resultado são recordes e mais recordes de problemas mentais e medicação entre jovens adultos.

E é aí que as coisas se conectam: não conhecer o pai é análogo a essa criação protegida demais. Não sofrem com a realidade e vão formando um senso de mundo idealizado que fatalmente vai ser confrontado na vida adulta. E é um efeito bola de neve: por idealizar, perde a capacidade de tolerar as pancadas que vai tomar por achar que o mundo é como idealiza. Isso se repete, se repete… e cidadão ou cidadã acaba achando que a solução dos seus problemas é trocar de sexo ou lutar numa guerra imaginária contra nazistas. O choque do mundo não ser algo ideal é severo e a pessoa não sabe como lidar com isso.

Agora, no caso de conhecer esse pai problemático, provavelmente sofrer com os problemas dele mas conhecer também o lado amoroso da pessoa é a ideia de que crianças precisam aprender a ser adultas, mesmo que seja aos poucos. É uma noção essencial para lidar com a realidade: pessoas fazem coisas boas e ruins, tem momentos lindos e horrorosos. Adultos falham, e não há amadurecimento para uma criança enquanto ela não percebe isso. Se não houver essa transição de confiar cegamente nos pais para aprender que tem que saber se virar também, a bolha estoura na rua diante de estranhos e não em casa com gente que pelo menos gosta de você.

O meu ponto de vista não está considerando que a criança pode ser protegida de pelo menos alguns traumas ao lidar com esse pai problemático, e tudo bem com isso: criança também tem que ficar triste, decepcionada ou mesmo assustada. A humanidade fazia isso no automático por milênios, colocando seus filhos no mundo o mais rápido possível. Com a melhora absurda em qualidade de vida geral pós século XX, pudemos fazer os primeiros testes em larga escala com crianças muito protegidas dos terrores da vida adulta. Estamos vendo os resultados agora.

A ideia não era ruim, mas ainda não encontramos o equilíbrio. Protegemos essas crianças além da conta, enfraquecendo sua capacidade de lidar com o mundo pra lá de imperfeito que deixamos para elas. Sim, não dá mais para jogar uma menina de 11 anos num casamento ou um garoto de 8 numa fábrica com obrigação de fazer dinheiro para a família, mas também não dá mais para continuar fingindo que não tem nada de errado com jovens adultos entrando em depressão por não conseguirem lidar com a pressão de uma vida adulta.

Ter o contato com esse pai disfuncional é um jeito de colocar os pés dessa criança no chão. Ela vai aprender que é querida, afinal, estamos falando de um adulto com bom coração, mas vai aprender também que as coisas dão errado na vida e que mesmo quem você ama pode te fazer mal. Imagino que a maioria dos pais quer ver o filho vivendo uma vida perfeita sem sofrimento, mas na prática isso só leva a mais sofrimento. É melhor saber a verdade da vida, não para a criança naquele momento, mas para o adulto que ela vai se tornar.

Para dizer que o trauma não te fez bem (nenhum trauma faz), para dizer que Robocop é sim um filme perfeito para crianças, ou mesmo para dizer que 99% dos problemas sociais atuais são causados por pais ausentes: somir@desfavor.com

SALLY

O que é melhor para uma criança: nunca conhecer o pai ou conhecer um pai de bom coração, porém disfuncional?

Dois pontos a serem esclarecidos antes de começar o texto:

1) Não estamos aqui falando em arrancar um bebê dos braços de um pai em prantos, estamos falando de uma situação hipotética onde o destino se encarrega de que a criança nunca chegue a conhecer o pai.

2) Quando falamos em “disfuncional”, não falamos em uma pessoa desorganizada, desempregada ou que esteja passando por uma fase ruim na vida. Isso qualquer um de nós já passou ou vai passar. Estamos falando de condições crônicas, que são eternas e que trazem problemas muito mais graves. Coisas como um pai alcoólatra, um pai viciado em drogas e por aí vai.

Aqui eu traço uma linha de corte muito sutil: depende da origem da disfuncionalidade. Se foi algo para o qual a pessoa concorreu, se isso aconteceu graças a uma personalidade autodestrutiva, a um comportamento questionável, a uma incapacidade de gestão da própria vida, eu acho melhor para a criança não conhecer o pai.

Se for uma situação para a qual a pessoa não concorreu, como por exemplo ter um surto de esquizofrenia, nesse caso eu ainda acho que é mais benéfico conviver com o pai, pois é possível que a pessoa tenha força de vontade e garra suficientes para se tratar e fazer o que tem que ser feito para ter alguma qualidade de vida sem criar uma espiral de merda e arrastar todos os que estão à sua volta para dentro do seu problema.

Por qual motivo faço essa distinção? Por critérios racionais de quem tem condições de criar um ser humano mentalmente saudável. Se a personalidade é desestruturada ou comprometida a ponto da pessoa se deixar cair em uma espiral de autodestruição, sinto muito, ela não tem a menor condição de se fazer responsável por outro ser humano. Quem não consegue cuidar nem de si, apenas causar danos a si mesmo, vai repetir o processo com um filho, não por maldade, mas por falta de estrutura mesmo. Vai deixar sequelas na criança. Vai causar muita dor e sofrimento, por mais amor que possa dar.

Sim, eu sei, pessoas autodestrutivas podem ter um ótimo coração e dar muito amor ao filho. Mas infelizmente isso não basta para criar uma criança saudável. Pessoas autodestrutivas não parecem compreender que quando elas praticam atos contra si mesmas, é como se atentassem contra todos os que estão à sua volta. E uma criança não tem estrutura emocional para, já na primeira infância, ser exposta a isso. E nem deveria. É muita sacanagem botar uma criança para começar a vida em um mundo como este, complicado e competitivo, já partindo de traumas e desvantagens.

Todo o amor do mundo não apaga os traumas que um pai nessas condições causa a um filho, mesmo sem querer, mesmo tentando esconder o problema. Crianças são crianças, não são idiotas. Crianças percebem. Crianças não tem ferramentas para lidar com situações tão complexas, por mais que recebam toneladas de amor. Amor não compensa tudo. Criar um filho é algo que exige muito mais do que boas intenções. Sem maturidade, autorresponsabilidade e controle emocional em dia, se faz mais mal do que bem a uma criança.

Sim, a ausência de um pai deve ser muito dolorosa, mas às vezes a presença é mais. A presença traumatiza, empurra o filho a ir pelo mesmo caminho do pai pois aquilo é o que ele se acostuma a entender como normalidade. Diálogo, explicação, é tudo muito bonito, mas filho se cria pelo exemplo. Não adianta fazer algo e depois discursar horas contra aquilo. A vivência é muito mais forte do que palavras abstratas para uma mente que ainda não está totalmente desenvolvida e racional.

“Mas Sally, a pessoa pode nunca mais recair”. Filho é para sempre. Esperar que a pessoa não tenha uma recaída para sempre é ser muito inocente. Não é “um problema como outro qualquer”, é algo que a pessoa não teve forças para evitar. Ninguém te obriga a tomar o primeiro gole ou a usar a primeira droga, é uma escolha. Além disso, mesmo que ela não recaia, se chegou nesse ponto de vício, é por ter uma série de traços de personalidade que podem ser extremamente prejudiciais para uma criança. Criança precisa, além de amor, de estabilidade, segurança e autoestima- e nada disso se consegue apenas com palavras.

Se a pessoa se tornou uma viciada, ela esteve imersa em uma arrogância de que era foda, tinha controle e podia parar na hora em que ela quisesse. Uma pessoa com essa mentalidade, com esse julgamento turvado e com esse impulso autodestrutivo não tem condições de fornecer um ambiente saudável para uma criança.

O combo de falta de autorresponsabilidade, com autodestruição com necessidade de fuga da realidade me faz pensar que, independente de qualquer coisa, não tem o que se precisa para criar um filho em um ambiente saudável. “Fiz mas não faço mais”. 1) Duvido, até o fim da vida tem grandes chances de recair em fases difíceis e 2) Se fez, sua personalidade não é adequada para tamanha responsabilidade.

Estou dizendo que temos que arrancar os filhos desses pais e promover um trauma de separação? Não. Se tem mulher idiota o suficiente para fazer filho com alcoólatra ou viciado em drogas, que sinta o peso enorme que será essa jornada. Estou dizendo que, em um mundo hipotético, se acontecesse alguma coisa que impedisse esses pais de conhecer os filhos, antes de criado qualquer vínculo, seria melhor para os filhos.

O mundo, por si só já é complicado o bastante para que crianças sejam expostas a esse obstáculo bônus, só pelo fato de o homem querer criar um filho. Em matéria de filho, foda-se o que você quer, se você tiver vergonha na cara, faz o que é melhor para o seu filho – inclusive não tê-lo. Mas não… brazuca adora achar que “apesar de tudo” seu saldo é sempre positivo. Não é. Todo medíocre acha que no final seu saldo é positivo, é a dádiva do autoperdão, da autoenganação. Pena que a realidade não pactua com o que você acha.

Os floquinhos de neve especiais, os alecrins dourados, acham (nas fases eufóricas) que sua presença tão maravilhosa na vida de uma criança compensa qualquer coisa e que eventuais situações às quais essas crianças sejam submetidas podem ser resolvidas. Não, não podem. Às vezes você estraga a vida de uma criança. Não adianta dizer que “todo pai erra”, estamos falando de algo muito mais profundo e traumático que erros comuns cometidos durante a paternidade. E quando a fase da euforia passa… ah, aí fica ainda pior para quem está à sua volta.

Mas, pega mal levantar a voz e dizer que se for para ter um pai que arruíne a vida do filho, que lhe imponha traumas que vão atrapalhar sua vida adulta, que gere sofrimento para toda a família, é melhor não tê-lo por perto. Não, não. As sagradas instituições da maternidade e da paternidade são intocáveis. Se você der muito amor, tudo vai ficar bem e ai de quem não acreditar nisso, uma pessoa insensível que não acredita no poder do amor! O mainstream te bate com força quando você tenta bater nele.

A vida é feita de escolhas. Não dá para querer vida loka e ter um filho ao mesmo tempo. Não dá para ter uma personalidade autodestrutiva e achar que vai criar uma criança de boa, sem respingar nela. Infelizmente nem todas as pessoas estão aptas a serem pais ou mães, nem todo mundo tem o que precisa.

Eu sei que eu vou tomar muita pedrada por isso que estou dizendo, mas é a mais pura verdade: nem todo mundo tem condições de criar um filho, pena que a maioria das pessoas só se dá conta disso quando a criança vira adolescente e as consequências do que foi feito na infância afloram.

Para simplesmente me xingar, para concordar comigo em silencio de modo a não levar pedrada junto ou para insistir que muito amor compensa tudo: sally@desfavor.com

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Comments (32)

  • “Em matéria de filho, foda-se o que você quer, se você tiver vergonha na cara, faz o que é melhor para o seu filho – inclusive não tê-lo. ”
    É exatamente por isso que eu optei por não ter filhos. Eu tenho total noção de que não tenho estrutura psicológica, emocional e financeira para criar um ser humano então, por mais que em algumas fases eu tenha tido muita vontade, optei por não colocar uma criança no mundo. Pra mim é o maior ato de amor que eu poderia dar a um filho, ainda que inexistente haha.
    Mas é insano o choque que isso ainda causa nos outros, e o quanto o discurso do “maior amor do mundo” e do “você vai envelhecer sozinha” é usado pra tentar me convencer do contrário e de que eu vou me arrepender no futuro…

    • É insano o quanto dói nas pessoas que se diga que elas não estão aptas a criar um filho. Gente, está tudo bem… não é todo mundo que tem o equilíbrio emocional, o autocuidado e demais requisitos para isso. Não é ofensa não.

  • Tema pesado esse! Concordo com a opinião geral de que se o cara é disfuncional, tem mais é que mantê-lo longe mesmo da criança. Uma figura paterna é apenas uma figura, uma projeção, que pode ser desempenhada por qualquer outro homem que não seja o próprio pai biológico. Ainda assim, mesmo que a criança não conheça o pai, sempre fica aquela sequela de mágoa ou ressentimento, já que tende a pesar a ligação pelo lado biológico da coisa.

    • Hora de acabar com esse tabu da importância de um pai biológico. Qualquer pessoa que dê amor, dê um bom exemplo e seja emocionalmente centrada supre isso facilmente. Geralmente são os namorados da mãe, às quais as crianças acabam se apegando e nutrindo um amor semelhante ao de pai, mas pode ser qualquer pessoa bacana que esteja por perto. Genética não dá o direito de sair fazendo qualquer merda com a sua vida e ainda reclamar posição de pai.

    • NEGATIVO. Já faz um tempo que ninguém é expulso. Explico aqui o atual mecanismo, pois acho importante que todos saibam que se não conseguirem postar, tem algo acontecendo com o computador/celular de vocês. Vou explicar de forma leiga, me perdoem se tiver algum erro técnico.

      Os números de IPs dos computadores (os números usados como referência para banimento) não são fixos, de tempos em tempos eles mudam. Quando éramos apenas meia dúzia, não tinha problema, mas à medida que os leitores foram aumentando, acontecia da gente banir uma pessoa (a maioria era SPAM) e depois, por um azar da vida, esse numero ser designado a um leitor. Muita gente querida foi “banida” como efeito colateral desta forma, pegando um IP que já estava previamente expulso, como a Lilith e o Maradona.

      Ao percebermos isso, decidimos que não dá para banir mais ninguém. Então, temos um esquema tipo “caixa de SPAM”, onde as mensagens vindas de pessoas que não nos interessam vão diretamente para a lixeira, sem passar pela caixa de comentários. Se você ou qualquer pessoa começar a postar e o comentário não aparecer, ai sim pode ter acontecido de ser jogado na lixeira automaticamente. Mas não conseguir postar não é por ação nossa, não estamos mais banindo.

      Se qualquer um de vocês tiverem comentários que não são aprovados, é só me avisar que eu passo para o Somir e ele revisa se você está indo para a lixeira automaticamente.

  • Melhor um pai ausente/desconhecido. Se for pra ter um pai que num (dos) rampante de raiva, quebra a casa inteira ou quase mete o carro num poste e arruma como te culpar por um dos surtos dele, melhor você só ficar na fantasia de como é ter um pai. Aliás, um tio, um vô, sogro, namorado/marido mais velho, até mesmo seu fucking médico pode te dar uma noção simpática do que seria uma figura paterna.
    O máximo de prejuízo que você tem é se perguntar como seria ter um pai, e não porquê seus coleguinhas têm pais aparentemente normais enquanto você lida com uma pessoa que volta e meia, dependendo da entidade que apita na cabeça dela, pode reagir muito mal a coisas incrivelmente pequenas (tipo, comeu um doce na hora errada ou falou palavra feia na frente da visita? Pode ser suficiente pro adulto se emputecer a ponto de ficar até ofegante enquanto te faz de sparring, berrando o quanto você tira a liberdade dele, e como as coisas eram muito melhores antes de você ter nascido e “estragado tudo”).
    Pai disfuncional é conviver com um demônio pessoal, que te ama quando tá de bom humor, e que “pelo menos tá aqui”. Parece até casamento abusivo, “pelo menos não tô solteira”. Até você crescer, aprender que autoconfiança e autocontrole é uma coisa que depende exclusivamente de você e que existe a escolha de cair fora, conviver com uma figura paterna disfuncional pode até te conduzir ao suicídio, a ideologias de ódio (Oi, radfems!) e a reprodução desse mesmo comportamento nocivo pra cima de outras pessoas, de tanto que sua autoestima e sanidade é minada… Fora que você ganha uns boooons pesadelos na vida adulta, mesmo depois de se afastar o máximo possível dessa pessoa ou mesmo depois da morte dela.

    • Exatamente. Que apego é esse ao DNA? Se é um pai que não é capaz de cuidar nem dele mesmo, deixa que outro homem assuma a figura paterna e dê estabilidade emocional para a criança. Como você falou, sempre tem um homem equilibrado por perto: um avô, um tio, um amigo da família… Mas não, a sociedade insiste que se é pai biológico tem que estar por perto não importa o resto…

      Essa conta chega na adolescência do filho.

      • Frases clichês, mas nem por isso menos verdadeiras:
        1 –“Qualquer um ‘faz um filho’, mas somente um homem de verdade pode ser pai.”
        2 – “Pai é quem cria”

        • Eu nem jogo para esse lado de ser “homem de verdade”. A pessoa pode ser “homem de verdade” mas não ter o que é necessário para criar um filho saudável.

    • Ana94, me sinto até mal de tocar nesse assunto, seja falando ou ouvindo, mas, quando criança, eu testemunhei muitos e muitos casos de pais – e de mães também – na minha vizinhança que repetiam diariamente por anos esse discurso para os filhos de que “as coisas eram muito melhores antes de você ter nascido e ‘estragado tudo'” acompanhados de bofetadas, claro. Mesmo pequeno, já me causava incômodo ver esse tipo de coisa acontecendo, embora eu ainda não soubesse muito bem porquê. E acho que eu nem preciso falar que a maioria desses filhos insultados e agredidos é hoje gente tão disfuncional quanto eram os próprios pais, né?

    • KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
      Tá pra surgir uma feminista que não tenha problema com o pai! O curioso é que apesar de serem completamente danificadas por não terem pai, não militam pela importância da família, mas pela destruição dela. Cambada de invejosas!

  • Se o pai não for um criminoso, se não houver risco pra criança, acho que deve conhecer. Isso se a criança quiser, sem ser forçada. Conhecer e saber as origens é uma coisa, conviver é outra. Pais disfuncionais não deveriam criar filhos, deveriam entregar pra adoção.

    É mais saudável ter outro modelo, diferente dos pais biológicos, do que ter como referências influencias distorcidas que compartilham o mesmo dna. Alguém avisa os conselhos tutelares que família biológica nem sempre é ideal e, a convivência com genitores desequilibrados é tortura, deforma o caráter, desumaniza.

    Muito mais do que amor, crianças precisam de recursos, educação, socialização adequada, alimentação correta, proteção, segurança, atenção e mais um monte de coisas que pais disfuncionais não podem prover.

    • Concordo plenamente com você: pais disfuncionais não deveriam ter filhos, e se tivessem, como você bem disse, deveriam entregar para adoção. O problema é: uma pessoa disfuncional nunca se acha disfuncional. Ou, caso se ache, acredita que com amor e diálogo ela limpa qualquer bosta traumática à qual sujeite o filho.

      • Sem falar que prover “recursos, educação, socialização adequada, alimentação correta, proteção, segurança, atenção “ é a verdadeira – e melhor! – forma de encher uma criança de amor.

  • Pessoalmente, pior que alcóolatra e drogado, é o pai estelionatário, daqueles que dão golpe na praça, sujando o nome dos parentes por um tempo e dos filhos até hoje abrindo empresas com seus RGs e CPFs.

    Porque o drogado e o alcóolatra ainda têm o benefício da dúvida de terem sido pessoas boas um dia que sucumbiram às suas fraquezas.

    Agora o que dizer de quem faz da manipulação um modo de vida?

    Tenho um parente assim. Depois de levar minha família à falência, abandonou a própria família (mulher e seis filhos) em uma comunidade na baixada fluminense e se escafedeu para morar com a segunda família que mantinha. A gente foi resgatá-los lá. Vendo gente morta em tiroteio com a polícia ao redor.

    O triste é que, ainda assim, o traste ainda faz estragos gerações afora: volta e meia manda os filhos da sua segunda família (pobres manipulados com nome sujo na praça pelo pai!) sondarem a gente e os filhos da primeira família para “saber dos netos” e tentar tirar uma ajudinha.

  • Tenho um caso desse na família, uma sobrinha que tem o pai tão problemático que seria mil vezes melhor ela ter crescido sem ele. Além de vários traumas com ela, ele sempre deu problema pra todos da família. Com toda certeza do mundo, a vida dela seria muito mais leve sem ter o pai por perto.

    • Pois é, pessoas problemáticas espalham problemas por onde passam. Criança não tem ferramentas para lidar com isso, criança precisa de proteção, estabilidade e equilíbrio. Amor nenhum no mundo compensa a falta disso.

      Por qual motivo será que a sociedade é tão apegada à genética? Só por ter o mesmo DNA da criança, acham um absurdo a minha opinião. Sempre tem alguém por perto capaz de desempenhar bem o papel de figura paterna (padrasto, avô, tio, amigo da família…). Um pai problemático é totalmente prescindível, por mais ache que não.

  • Capitão Impressionante

    Pequenos seres humanos em fase de desenvolvimento precisam de uma figura paterna. Mas se o cara for um descompensado, é melhor poupar a criança.

  • Sei que não tem muito a ver com a parte de “pais disfuncionais”, mas toda a minha vida eu fiquei pensando em como era meu pai, mas minha mãe nunca me contava nada além de que ele abandonou ela grávida, eles eram muito novos. Essa curiosidade sempre me remoeu e cheguei a sentir raiva da minha mãe por esconder isso. Meu pai voltou quando eu tinha uns 15 anos e decidiu começar a agir feito um pai e até hoje nossa relação vai bem.

  • Por experiência própria, melhor conhecer do que ficar na ilusão de como as coisas poderiam ter sido.

    Se tem uma coisa que eu aprendi é que nossos pais também foram filhos, também foram vítimas de uma história e cada um oferece aquilo que tem, mesmo que o que eles ofereçam seja pouco ou nada eles fizeram o melhor que puderam com o pouco que tinham. Claro que cada caso é um caso, mas é sempre bom tentar entender o que aconteceu e que não é você o problema.

    Meu pai teve vários problemas com meus avós e nunca foi do tipo carinhoso, sempre tentou compensar me enchendo de bens materiais e eu entendi que é a forma dele dizer que me ama. Tenho duas opções: cortar qualquer contato e viver amargurada que nem minha mãe ou tentar manter uma convivência decente. Escolhi a segunda, a vida é muito curta pra ser ressentido, aproveitem as oportunidades antes que seja tarde demais e sua mãe/seu pai esteja num caixão.

    • Falta de carinho nem de longe faz do seu pais disfuncional. Estamos falando de pais que chegam drogados ou bêbados dentro de casa e fazem coisas que poderiam colocá-los na cadeia.

  • Não conhecer o pai e, se possível, ter uma figura paterna de referência (um tio, um primo mais velho, um avô, um padrasto, um amigo da família, um professor, etc.)

    • Exato. Se houver uma figura masculina equilibrada, centrada, saudável, é muito melhor do que uma pessoa como mesmo DNA mas totalmente disfuncional.

    • Isso aconteceu com o meu melhor amigo de infância, que morava bem pertinho de mim e estudou comigo na mesma escola. Nunca soube-se muito do pai dele e nem os motivos que o fizeram ir embora, mas esse menino teve um tio que o criou super bem e aquele garoto de cabelo tigelinha com quem eu jogava bola décadas atrás hoje é um grande homem, maduro, responsável, bem-resolvido e dono do próprio nariz.

      • Pois é, sempre tem alguém apto para ser uma boa referência e dar a estabilidade emocional que a criança precisa. Não sei que tara é essa pela genética que faz a sociedade defender a “sagrada figura do pai” não importa as merdas que ele faça.

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