Filho escondido.

Existem muitas pessoas que se recusam a começar um relacionamento com quem já tem filhos. Isso é um direito sagrado com o qual Sally e Somir concordam. Mas, quando falamos do ônus de avisar logo de cara que já tem sua própria cria, a coisa muda de figura. Os impopulares pegam sua opinião para criar.

Tema de hoje: é desonesto não avisar sobre filhos no primeiro encontro?

SOMIR

Não. Desonestidade é fazer uma ação intencional para enganar a outra pessoa. É muito fácil moldar o conceito de mentira para cobrir as coisas que te incomodam pessoalmente, mas a vida é mais complexa do que isso. Precisamos entender que as outras pessoas não vivem em nossa função, e o que importa muito para você pode não importar muito para os outros.

Como pessoa sem interesse em começar um relacionamento com quem já tem filhos, ou ter filhos em geral, eu poderia estar reclamando aqui também sobre quem não anuncia isso com todas as letras logo no primeiro contato; seria mais cômodo para mim. Mas eu já descobri que a melhor forma de evitar estresse e sofrimento na relação com outros humanos é tentar sempre se colocar na cabeça da pessoa.

O que parece óbvio para você muitas vezes é nebuloso na mente alheia. Ou simplesmente não tem o mesmo peso. Alguém que tem filhos provavelmente não compartilha do mesmo incômodo que eu com o fato, por motivos óbvios. Será que é a mesma coisa para a pessoa não falar sobre os filhos num perfil de site/aplicativo de encontros do que é para você? Será que ela faz com o único motivo de enganar um(a) otário(a)? Ou você tem certeza que todas as pessoas que não mencionam seus filhos o fazem com o explícito motivo de passar a perna em desavisados, ou você começa a entender que pessoas são diferentes e tem prioridades diferentes.

Você sabe por que a pessoa não avisou isso logo de cara? Talvez ela não ache compatível com o clima de flerte e sedução, talvez ela não esteja interessada em um namoro de longo prazo com alguém que não conhece (precisa avisar que tem filho só para transar uma vez?), talvez ela esteja preocupada com pessoas que buscam parceiros que já tenham filhos por motivos nefastos… ou mesmo talvez seja alguém que acha que é excesso de intimidade para um contato tão superficial. Eu posso até não concordar pessoalmente que são motivos válidos para não alardear essa informação, mas daí a presumir que a intenção é sempre querer me enganar para empurrar os piolhentos para cima de mim? Eu sou arrogante, mas nem tanto.

Nunca se sabe ao certo o que a outra pessoa está vivendo ou suas prioridades. E até por isso, a verdade é uma via de mão dupla: se você exige que a outra pessoa informe sobre ter filhos antes de marcar um encontro, onde está a sua proatividade em avisar que não tolera isso num possível parceiro? Quando se é muito jovem vá lá presumir que a outra pessoa não tenha filhos, mas depois de uma certa idade o número de balas na câmara dessa roleta-russa aumenta consideravelmente. A chance de você encontrar uma pessoa de mais de 30 anos com filhos é enorme, por exemplo. Se você está nesse mercado e não quer lidar com gente que já tenha filhos, é bom avisar com todas as letras também.

É jogar o ônus todo nas costas dos outros e ficar reclamando que não saiu do seu jeito. Ué, quem não quer nenhum tipo de relacionamento amoroso com quem já tem filhos pergunta sobre isso antes do primeiro encontro. Se você perguntou e a pessoa mentiu dizendo que não tinha filhos, aí sim ela é desonesta. Se você não perguntou e isso não veio à tona, você deixou uma presunção te guiar já nos primeiros atos dessa relação, e… spoiler: isso é receita de fracasso.

Percebam que não estamos discutindo sobre esconder os filhos mesmo depois de explicitamente perguntado(a) sobre isso, porque aí nem teria tema: quem mente está sendo desonesto e ponto. Quem não dá uma informação que não lhe foi pedida pode ter muitos outros defeitos, mas não esse. Se você quer saber alguma coisa sobre outra pessoa, pergunte. Não adianta esperar que todo mundo pense como você ou sequer tenha prioridades parecidas. Se não tiver proatividade nessas horas, está jogando dados.

Eu não gosto desse meu papel de relativizar o que configura mentira ou não aqui no Desfavor, me dá a presunção de pessoa que quer enganar os outros, mas não vou me render à absolutismos morais em detrimento do que considero mais lógico: o mundo é maior que o seu senso pessoal do que é certo ou errado, os outros tem um monte de problemas para resolver e nem sempre vão agir da forma que te facilita mais a vida. Na verdade, raramente vão. Você pode ficar se sentindo um injustiçado ou você pode fazer o esforço de tentar entender a mente alheia.

Eu estou tentando entender o que se passa na cabeça de quem não avisa que tem filhos antes de um primeiro encontro, ou mesmo durante esse primeiro encontro. Me parece óbvio mencionar isso, mas vai saber que experiência a pessoa teve com isso antes? Será que a cidadã recebeu um pedido de fotos da filha antes disso? Não se sabe antes de perguntar. E tem outra: será que o clima desse contato permitiu uma conversa sobre filhos? Algumas dessas relações começam com um clima bem sexual logo de cara. Eu até posso entender não ter clima para falar de filho se a coisa está quente desse jeito, aliás, eu até concordo que em encontro só para transar ninguém tem que falar de filho.

Não dá para achar que toda pessoa que aceita ir a um encontro com você está planejando uma vida em conjunto. Talvez até te queira ver mais de uma vez, mas não como alguém que vai entrar na casa dela para ajudar na criação dos rebentos… precisa saber sobre as notas do Joãozinho na escola para transar com sua mãe? As coisas nunca são tão simples ao ponto de só existir uma presunção do significado daquele encontro.

Por isso, aprendam comigo uma lição que já me custou muito caro na vida, especialmente na amorosa: não presumam, perguntem. É problema seu também. Desonesto é quem te leva ao engano propositalmente, não quem pensa diferente.

Para dizer que pai é quem cria, para dizer que é só sumir quando descobrir os filhos, ou mesmo para dizer que mente o peso e as coisas se cancelam: somir@desfavor.com

SALLY

É desonestidade não avisar no primeiro encontro (ou em aplicativos de encontro) que a pessoa tem filho se isso não lhe for perguntado?

Sim. É um raciocínio muito simples: se afeta o outro, deve ser comunicado de cara. “Ah, mas pode não afetar em um primeiro momento”. Certo, então, se a pessoa for HIV positivo mas não estiver planejando fazer sexo nos primeiros encontros, tá tudo bem em só revelar isso depois?

“Ain, mas você está comparando uma doença a uma criança?”. Sim, é injusto, eu sei. Dá para viver com bastante qualidade de vida sendo HIV positivo. Mas, se te incomoda, qualquer exemplo serve: se vai impactar o outro, deve ser esclarecido o quanto antes.

Filho não impacta só quem decide ter um relacionamento sério. Filho, principalmente filho pequeno, é (ou deveria ser) a prioridade da vida da pessoa. Isso significa restrições de horário, de atividades (como por exemplo viagens), de local (nem sempre será possível ir à casa da pessoa) e muitas outras que podem sim afetar até um relacionamento casual.

Pior ainda se for via aplicativo de encontro. Nesse caso eu usaria como filtro mesmo, para medir o grau de maturidade e adequação: uma pessoa que tem um filho e se coloca nessa roleta-russa de gente eu não quero nem pra ser minha amiga. Se você coloca um filho que depende e precisa de você como prioridade, jamais se arrisca dessa forma em troca de sexo ou relacionamento.

E não se trata de confessar algo “ruim” ao outro, pode ser que a outra pessoa ache maravilhoso que exista um filho, nunca se sabe. É uma questão de transparência, de não fazer ninguém perder tempo. Se filho é um deal breaker para o outro (spoiler: a maior parte dos homens não quer uma mãe como parceira), quanto antes isso vier à tona, menos se perde o tempo de ambos.

Mas as pessoas acham que elas são tão fascinantes que, uma vez que o outro a conhecer melhor, vai ficar perdidamente apaixonado e passar por cima do que quer que seja. NOT. A pessoa tem o sagrado direito de não querer as limitações de uma criança em sua vida. Se eu não tive filho para não sofrer essas limitações, imagina se eu vou tolerá-las pela prole alheia!

Você pode achar seu filho lindo, fofo, o bebê mais belo da face da Terra, mas os outros podem achá-lo uma inconveniência. A vida é feita de escolhas, tenho certeza de que muitas mães terão felicidades e alegrias que eu nunca vou conhecer, mas tudo tem seu ônus, e um dos ônus de ter filho é que limita a vida amorosa. Quanto antes as pessoas aceitarem isso, menos tempo vão perder.

Nem todo mundo quer começar a se relacionar (ainda que de forma casual) com uma pessoa que já vem com limitações bastantes significativas para a vida amorosa. Sei que quem tem filhos adora negar estas limitações, mas, o problema da negação é que ela só convence o negador. Limita sim a vida alheia e por isso deve ser comunicado logo.

Aliás, quem mais esconde filho em date é quem mais diz ter orgulho dos filhotes. Se é algo que é um motivo de orgulho para você, por qual motivo não falar? No fundo a pessoa sabe que é um problema para a vida amorosa, caso contrário isso nem seria uma questão, ela enviaria trocentas fotos do bebê fazendo bolha de baba para o date e falaria dele sem parar, assim como faz com os amigos e parentes.

A partir do momento em que a pessoa fala do filho para todo mundo (sim, isso é chato pra caralho), mas todo mundo mesmo, não teria motivos para não citar uma parte tão importante da sua vida no primeiro encontro, não é mesmo?

Coisas básicas importantes da vida de cada um dos envolvidos são ditas no primeiro encontro: profissão, bairro onde mora, etc. Filho tem esse patamar de importância, senão mais. É, no mínimo, estranho e de má fé não citar algo dessa relevância no primeiro encontro.

Eu diria que o ideal seria citar até antes, assim quem não quer restrições ou limitações nem vai. Mas, tudo bem, vamos dar um desconto, a pessoa sempre pode achar que ela é tão legal que quando conversar com o outro vai conquistá-lo, fazendo com que se passe por cima de todas as limitações que um filho gera.

Obviamente, quando isso não acontece, o outro vira um fútil, superficial, babaca e escroto que não chamou para sair novamente “só porque” a pessoa tem um filho. Não é “só” não, é uma das maiores bagagens, das maiores restrições que pode haver em um relacionamento. Mesmo que seja só um encontro casual, um filho pode impactar a disponibilidade da pessoa. O outro tem o direito de saber eventuais restrições, mesmo que seja apenas sexo casual. É grande, é importante e é restritivo, logo, deve ser dito independente de ser perguntado.

Filho implica em contato eterno com ex (a menos que a pessoa seja viúva), em muitas despesas que impedirão alguns luxos e confortos conjuntos, em restrições ao frequentar lugares, fazer viagens, em boas noites de sono, em fazer sexo quando e onde quiser… eu posso ficar até amanhã citando os potenciais esforços que a pessoa vai ter que fazer em nome do filho alheio.

Vai ter quem tope? Claro que vai. Tem de tudo neste mundo. Mas vai ter quem não tope, e quem não topar está no seu sagrado direito. Justamente por isso, é desonesto não avisar de cara, parece que a pessoa quer te “conquistar” para jogar a bomba quando você já está gostando um pouco mais dela, assim fica mais difícil de pular fora. Desculpa, mas isso, para mim, é, além de uma manipulação barata e egoísta, muita desonestidade. Aí sim eu pularia forma, mesmo que amasse crianças, por essa atitude indigna de confiança.

Cartas na mesa: deixe bem claro quem você é, questões essenciais que podem impactar o outro, não apenas filhos, mas todas. O combinado não sai caro. Informe exatamente o que você pode entregar e cumpra sua parte. Se as pessoas fossem mais claras e verdadeiras, existiriam menos atritos estressantes em relacionamentos, até mesmo nos casuais.

Goste você ou não, concorde você ou não, um filho implica em restrições até para a mais causal das relações. E se afeta o outro, deve ser dito com clareza, de cara.

Para dizer que prefere que já venha com filho feito assim se separar não tem que pagar pensão, para dizer que o pior castigo do mundo é fazer programa com criança ou ainda para dizer que se realmente cuida do filho não vai se arriscar a bundear no Tinder: sally@desfavor.com

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Comments (8)

  • Capitão Impressionante

    Sou por ter tudo às claras desde o começo. Sempre. E, se uma pessoa que quer se envolver comigo já me omite uma informação importante dessas logo de cara, sabe-se lá de que outras desonestidades alguém assim é capaz.

  • Sacanagem, pura desonestidade.
    Sou mulher, ouço os papos da mulherada insana, perfeitas dementes.
    Homens, usem camisinha.
    O q tem de mulher querendo macho p ajudar a criar seus filhos feitos em parceria com vagabundo não ta no gibi, não só um filho, muitas tem até 3 filhos de pais diferentes.
    Outro objetivo eh o de receber pensão alimentícia.
    Eh 30% de um pai, mais 30%/do outro pai e assim a vida segue.
    Trabalho no RH.
    Vejo pai burro sair com o holerite sofrido, as pensões levaram todo o saldo de salário.
    USEM CAMISINHA!!!!!!!!!!!!!

  • “A pessoa tem o sagrado direito de não querer as limitações de uma criança em sua vida. Se eu não tive filho para não sofrer essas limitações, imagina se eu vou tolerá-las pela prole alheia!” Você falou tudo…

  • Também não vejo por que falar sobre filho em um encontro casual. Mas se a pessoa está buscando um relacionamento sério, é melhor mencionar sim. Não precisa mostrar foto e dados particulares, não precisa nem dizer o nome, quanto menos informação melhor, por razões de segurança. Apenas mencionar que o filho existe pra facilitar o planejamento dos próximos encontros, ou pra filtrar logo quem não está disposto a se envolver com alguém com filhos e evitar dor de cabeça.

    Para dizer que prefere que já venha com filho feito assim se separar não tem que pagar pensão
    E aquela coisa de pensão socioafetiva?

  • “spoiler: a maior parte dos homens não quer uma mãe como parceira” Isso é equilibrado, já ouvi muita mulher falando que não pretende cuidar de ninguém que não tenha saído dela. Por isso que pessoas com filhos tendem a se relacionar mais com outras pessoas com filhos.

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