Castigo brasileiro.

O Brasil deixou a pandemia chegar onde chegou, e estamos pagando o preço imediato. Mas tem outro preço, o de longa duração. Quais vão ser exatamente ainda não sabemos, mas podemos discutir qual deles seria o castigo mais dolorido. Os impopulares sofrem junto.

Tema de hoje: qual seria o pior castigo para o Brasil, diante de tantos erros dos governantes e passividade do povo no combate à pandemia?

SOMIR

Um desastre econômico ainda maior. O povo brasileiro é pobre em sua grande maioria, isso não podemos negar. Mas existem níveis de pobreza ainda piores. A grande dificuldade nacional é a desigualdade: o país tem riquezas, mas elas são muito mal distribuídas. Nem é conversa comunista: até mesmo para ter um sistema capitalista decente, é necessário poder de compra para girar a economia.

A desigualdade nos atrapalha imensamente, reduzindo muito as oportunidades de gerar valor dentro do país. Pouco estudo, pouca inovação e pouca capacidade de investimento formam uma corrente que prende o desenvolvimento econômico brasileiro. Mas, tenham em mente que o Brasil ainda tem de onde tirar alguns recursos.

Por mais que acabe concentrado nos lugares errados, esse dinheiro existe sim. Alguns setores da nossa economia são grandiosos, especialmente os de extração de matéria prima básica e agronegócio em geral. Essa economia disfuncional permite, mesmo que num volume pequeno, que algumas pessoas consigam escapar da pobreza total de tempos em tempos.

E permite também que o país arrecade valores exorbitantes em impostos, o suficiente para “colar com cuspe” a infraestrutura e os serviços básicos para o povo. Como já disse várias vezes, o Brasil merece muitas críticas sim, mas poucos países do mundo têm tanto de onde tirar como ele. Somos um tipo um pouco diferente de terceiro-mundistas: um que se der uma organizada na casa, tem força-bruta o suficiente para se tornar um país desenvolvido.

Não tem a capacidade ainda, mas tem de onde tirar os recursos. Já tem muita coisa construída aqui. Já tem gente o suficiente para tocar uma economia grande e um grau mínimo de aderência ao paradigma social do mundo moderno para manter as coisas funcionando. Incompetência e corrupção nos puxam para baixo constantemente, mas se precisar pagar o preço para se tornar uma nação realmente desenvolvida, o Brasil teria os recursos básicos.

Em vários dos outros países pobres desse mundo, essa não é verdadeiramente uma opção. Locais desérticos, isolados, destruídos por guerras… o que não falta nesse mundo são projetos complicados demais para tocar para frente. E nesses lugares, não há muita esperança. As pessoas continuam vivendo suas vidas porque é tudo o que sabem fazer, mas sem prospectos claros de crescimento.

O brasileiro vive há séculos com a sensação que “agora vai”, porque até mesmo o mais simplório de nós consegue enxergar que falta de potencial não é o nosso problema. O material humano atrapalha, mas o natural mantém a esperança viva. O problema é que mesmo assim, tem pra onde cair. Tem um lugar abaixo de onde estamos, especialmente no campo econômico.

E não é um lugar com o qual estamos acostumados. Quando a economia colapsa de verdade, não é só o dinheiro que some dos bolsos, é a perspectiva de futuro também. É uma redução brusca de oportunidades que vai complicando o funcionamento do país como um todo. As pessoas não podem mais consumir, e toda indústria acima do estritamente essencial começa a perder sua capacidade de manutenção.

Não é só que pessoas do esporte, entretenimento e afins comecem a perder suas fontes de renda, é todo um sistema de crenças que fica sem uma divindade. Se o jogador de futebol e/ou a funkeira não tem mais a oportunidade de ostentar, muita gente deixa de sonhar com essa vida. Por mais bregas que sejam esses sonhos, são eles que mantém o barril de pólvora da desigualdade social com menos risco de explosão.

Ser o “país do futuro” é uma indústria por si só no Brasil. As pessoas acreditam que tem muito dinheiro para ser captado por aí, basta dar um pouco de sorte. Isso mantém muita gente trabalhando por salários baixos, isso dá a coragem para muitos empreendedores, isso até controla um pouco a criminalidade. Faz parte da identidade brasileira acreditar que a fartura e a riqueza são possíveis.

Mas se essa noção se quebra, estamos num país absurdamente desigual, atrasado em quase tudo e sem perspectivas de melhoria. A foto sai sem filtro e o povo vê pela primeira vez como a coisa está feia. Colapsos econômicos são terríveis até mesmo em países que não tinham muita esperança para começo de conversa, mas no Brasil teria um toque de crueldade todo especial: mexeria com a alma tupiniquim.

E é por isso que eu acho o castigo mais dolorido pós-pandemia. A realização de que empurrar com a barriga e torcer para dar sorte no futuro não funcionou, e pior do que isso: causou ainda mais problemas. O brasileiro médio mal sabe falar português, quiçá outras línguas. Mal perceberia uma mudança de tratamento internacional. Mas ver seu país do futuro atolado num presente sem perspectivas poderia ser um choque de realidade valioso.

Esqueçam o Tiririca, pois pior que está… fica. Quando a economia brasileira ficar fraca até mesmo para os padrões do brasileiro médio, a alegria desse povo vai desaparecer rapidinho. Infelizmente, acho que desaparece culpando quem tentou salvar o país do desastre, por ser mais fácil. Mas que vai ser dolorido, ah, vai…

Para dizer que o pior castigo é ficar no Brasil, para dizer que logo melhora 1% e fica todo mundo feliz de novo, ou mesmo para dizer que pensou logo em umas bombas atômicas: somir@desfavor.com

SALLY

Qual seria o pior castigo para o Brasil, diante de tantos erros dos governantes e passividade do povo no combate à covid?

Perder a imagem que acha que tem de “país gente boa do mundo”.

O brasileiro, por algum motivo que eu desconheço, acreditava, até então, que o Brasil era visto no exterior como um país alegre, cheio de belezas naturais, habitado por um povo bonito, simpático e alegre. Praticamente um paraíso admirado pelo mundo todo, com apenas um algumas pequenas ressalvas no estilo “problemas todo mundo tem”.

O brasileiro, por algum motivo que eu desconheço, não sabia que o país era visto como uma latrina do terceiro mundo, sem higiene e precário, habitado por um povo desonesto, burro, onde mulheres são vistas como prostitutas vulgares e homens como malandros estelionatários. Mas isso está prestes a mudar, já se escutam algumas vozes muito putas pelo mundo soltando a opinião real.

Apesar de ter uma falsa autoimagem de como é visto no exterior, o brasileiro se apega a ela, depende dela para ter autoestima e a cultiva com todo amor e carinho. Seria engraçado de verdade se a imagem real que os outros países fazem do Brasil fosse massivamente divulgada e soterrasse essa ilusão de ser bem-quisto que o brasileiro tem.

Melhor ainda se a imagem piorasse ele fosse tratado pelos próximos cem anos como o idiota da vila, como leproso do mundo, como símio que atira fezes. Quem sabe assim baixava um pouco a bolinha desse povo arrogante que se acha no direito de prejudicar os vizinhos, todos com um povo muito mais agradável, bonito, culto, honesto e higiênico que o Brasil. Basicamente, o que eu gostaria de ver é um choque de realidade.

O Brasil parece aquele homem feio que, para compensar uma baixa autoestima fica dizendo para todo mundo que um monte de mulher dá em cima dele o tempo todo. Acho que todos vocês conhecem um tipinho assim. Levar um sarrafo público da opinião internacional seria como se uma mulher chegasse para esse homem feio e falasse o quanto ele é barango e como ninguém dá em cima dele, só na cabeça dele.

Eu sei que para muitos quando eu exponho esse tipo de pensamento, parece algo pessoal, parece uma raivinha, parece sentimento de vingança. Não é. A pessoa (ou o país) só pode melhorar quando toma consciência dos seus defeitos e passa a observá-los e trabalhá-los. Parece que se você ama algo não pode criticá-lo, pois isso é sinônimo de desgostar. Para gostar ou querer o bem de alguém você tem que passar a mão na cabeça 24h por dia.

O brasileiro não lida bem com o sentimento de rejeição. E, na cabeça desse povo, crítica é rejeição (ou bullying, ou preconceito). Não conseguem ver uma crítica como oportunidade para rever e melhorar. Portanto, a única forma de fazê-lo olhar para si mesmo e, quem sabe, se mexer para melhorar, é se o mundo todo apontar seus defeitos, de forma massiva, obrigando o povo a fazer alguma coisa por não conseguir lidar com tanta “rejeição”. Seria o pior castigo, pois o povo tem autoestima frágil e mede seu valor pelo olhar de terceiros, mas também seria a melhor lição.

Ao não suportar o sentimento de rejeição, o brasileiro correria atrás de algum tipo de mudança, seja para parecer bem aos olhos dos outros países, seja para poder ir para a Disney. O sentimento de ficar para trás é um ótimo motivador. A arrogância, a certeza de se achar o alecrim dourado da América Latina e a negação acabariam rapidinho.

O brasileiro teria que se perguntar quem ele quer ser. Não dá mais para posar de bonitão alegre quando a máscara caiu e o mundo te vê como um imbecil subdesenvolvido e mal-educado. Não dá mais para fingir que é. Ou melhoram, ou continuam como pária do mundo. Acabou o jeitinho, acabou a maquiagem, acabou o “posar de” sem ser. Ou viram um povo melhor, ou serão rejeitados.

E aí, meus amigos, aconteceria o que o brasileiro tem mais medo: o de arregaçar a manga e ter que efetivamente fazer alguma coisa. Teriam que trabalhar para evoluir, teriam que melhorar, teriam que deixar de ser o povo que suborna o guarda, que fura a fila, que mete atestado para ir em um show no dia de trabalho, que paga por fora uma ligação clandestina de TV a cabo enquanto pedem mais ênfase no combate ao crime. Não existe povo mais ou menos correto. Ou é correto ou não é. Ou é ético ou não é.

Daí teríamos dois cenários: o brasileiro descobre que é incapaz de melhorar pois simplesmente não sabe ser um povo correto, ético e responsável e se recolhe ao buraco de onde veio com plena consciência do que é, o que seria ótimo, pois ao menos se recolheriam e não encheriam o saco, ou o brasileiro dá um jeito de melhorar e, ao melhorar, para se comportar como um símio alcoolizado, o que também seria ótimo.

Francamente, eu não acho que pobreza afete o brasileiro. Se tiver o pagodinho, se tiver as baixarias, a amante, a cervejinha, o futebol… olha, o povo se vira. Parcela o que quer comprar em um milhão de vezes, ou compra no cartão, não paga e cinco anos depois tá com o nome limpo novamente. Malandro sempre tem um jeito, um golpe, para burlar as privações por falta de dinheiro. O que dói de verdade é ser confrontado sobre a verdade do que a pessoa é, uma verdade que a pessoa fugiu por uma vida dando uma série de desculpas.

As privações egóicas e cotidianas de ser um cidadão de terceira categoria, um pária do mundo, vão doer mais no brasileiro do que ficar devendo aluguel. E serão mais eficientes para esse povo repensar o comportamento bosta que vem adotando nas últimas décadas.

Para dizer que está ofendido com meu texto, para dizer que acha que eu estou certa mas ainda assim doeu ou ainda para dizer que o problema é que o brasileiro acha que todo brasileiro se enquadra no meu texto menos ele: sally@desfavor.com

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Comments (58)

  • “ain eles mentem por educação eu trabalhei com gringos”
    evidência anedótica, desde quando essas pessoas são representantes do pensamento de milhões?

    já parou pra pensar que as pessoas são diferentes, tem gostos diferentes e existem algumas que genuinamente gostam do país e apreciaram o tempo que passaram viajando ou morando nele? por que isso te incomoda e te faz entrar em negação?

  • “Imagem internacional” não faz tanta diferença. Tem gente de países piores que o Brasil que continua viajando por aí e não dá a mínima, tem países que cometem violações de direitos humanos piores que o Brasil e continuam com vários parceiros econômicos. Eu mesma passei um ano de intercâmbio na França e foi bem tranquilo, os franceses e pessoas de outros países com quem convivi eram pessoas legais, todo mundo era educado com todo mundo, conversava, respondia dúvidas sobre seus países, davam dicas, saímos juntos… O pior de preconceito que sofri foi um ou outro balconista que não teve muita paciência com o meu francês iniciante, quando eu tinha acabado de chegar e falava pouco.

    O nível de alguns comentários deste post me assustou, fico pensando em como vocês devem tratar estrangeiros que vêm pro Brasil e cujo único crime é querer uma vida melhor, assim como vocês que querem tanto sair. Não existe um visto especial pra quem se acha melhor que os outros.
    Eu não penso que todo imigrante haitiano ou boliviano no Brasil é um bandido e nunca destratei ninguém que chegou perto de mim com um sotaque estrangeiro. Se vocês fazem isso, não fiquem projetando o próprio ódio e os próprios preconceitos nos outros. Gente civilizada não julga os outros com base em linhas imaginárias, mas com base nas ações e no caráter.

    PS.: Eu não sou patriota, passo longe, acho o Brasil uma bosta em vários aspectos. Pra mim nacionalismo é uma bobagem que devia ter morrido no final da Segunda Guerra.

  • o problema é que o brasileiro acha que todo brasileiro se enquadra no meu texto menos ele
    A ironia é que isso pode ser claramente observado nos leitores do Desfavor.
    A não ser que todos vocês morem fora ou sejam muito ricos, todas essas sanções que vocês torcem pro Brasil levar também vai afetar vocês. Imagina se daqui a alguns anos vocês estiverem na rua revirando lata de lixo pra comer junto com os outros brasileiros, e todas as portas trancadas estilo Coreia do Norte. Eu não torço pra nenhuma sanção enorme justamente pra poder sair!

    • Depende do foco. A curto prazo, todo mundo sabe que vai ser ruim para o Brasil. Mas nós gostamos de olhar para o longo prazo, quando acreditamos que passar por uma situação extrema como essa vai fazer ruir uma base podre e obrigar a reconstruir algo melhor. É um remédio amargo, mas que vai fazer o país melhorar.

    • Acho que quem está torcendo por sanções e lições no geral, está torcendo por um bem maior, a longo prazo. Sim, vai afetar a todos os brasileiros, mas se finalmente a malandragem, a desonestidade e a mediocridade começar a ser punida, o país tende a melhorar em um futuro. Suponho que seja isso que todos nós queremos, ainda que seja preciso pagar um preço a curto prazo para isso.

  • “noffa como esse blog eh brasileirofóbicoh ain que negatividade nesses corassõeszinhos, chessus!!!”

    Pra mim castigo vai ser embargo absoluto do mundo todo, plus não poder entrar em nenhum país a não ser que responda um extenso questionário sobre caráter, pois se usar só escolaridade ou dinheiro como critérios pra imigrar, brasileiro ainda vai ser dar bem. Brasileiro foi criado na base da cola, decoreba e ostentação, sem falar na pose de moralista “pró-vida”. O castigo tem que ser prova aplicada por uma equipe de profissionais das mais variadas áreas da sociedade, sobre caráter e civilidade, se brasileiro quiser comprar, vender, acessar e usar sites estrangeiros e principalmente se quer por as patinhas no país alheio.

    • Questionário de caráter não resolve não, pois brasileiro sabe mentir, sabe ser bem “cristão” e empático quando precisa. O que sim eu acredito que vá acontecer é algum mecanismo automático de varredura de redes sociais, analisando fotos e o que foi escrito. Aí sim o brasileiro está fodido: nunca mais consegue um emprego nem entra em país nenhum. Quando suas falas escrotas, agressivas, racistas, desnecessárias e egoístas forem captáveis por um algoritmo, o castigo vai vir a cavalo.

  • Stefan Zweigh, que popularizou a expressão “ Brasil, um país do futuro”, morreu de angústia, se suicidou depois de perder a esperança. O sonho desgastado de futuro não sobreviveu e a imagem do brasileiro bom selvagem desintegrou diante de todos. Acredito que o brasileiro nunca desejou o futuro, brasileiro quer ser como o filho preferido, quer ser melhor que todo mundo e empinar o nariz. Brasileiro quer ser invejado por todos,quer desigualdade alheia pra se sentir privilegiado e vale tudo pra atingir esse objetivo: lesar clientes, explorar funcionários, prejudicar o colega, dar calote, desrespeitar. Nem o melhor plano econômico resiste a essa cultura predatória que acaba com qualquer poder de compra. O castigo é a própria ruína, que vai além da esfera financeira.

    • Eu concordo totalmente com você. E quando a gente fala “castigo”, não é algo bíblico como uma punição por ser malvado. É o resultado, as consequências, por seus atos. Ninguém está desejando por crueldade que o brasileiro se ferre, o que vem é um aprendizado, fruto das escolhas que as pessoas fizeram. E, por mais doloroso que seja esse castigo/aprendizado, eu acredito de coração que vai trazer melhoras, vai conscientizar as pessoas sobre ação e reação, sobre consequências de suas escolhas e ensiná-las a fazer escolhas melhores, ter mais empatia, ter mais noção do coletivo.

  • Acho que o pior castigo seria se jogassem uma bomba mesmo. Os brasileiros acham que suas atitudes nunca vão ter nenhuma consequência e assim levam a vida. Seria o famoso: “não aprende na educação, aprende na porrada.” Mas também tem a questão de que nenhuma vida tem valor por aqui, então provavelmente ninguém ligaria pois todo mundo se detesta em algum grau. Além disso, o repovoamento do local afetado pela bomba seria rápido, visto que esse povo tem formiga no cu!
    Obs: fui no Japão e por lá não temos uma imagem boa, inclusive me chamaram de butajiru (uma junção da palavra porco + brasil). E teve também um japinha que disse que pensava que os brasileiros eram alegres e felizes, mas que estava muito enganado. Assisti uma palestra numa universidade (detalhe: 2019) e falaram isso para um público gigantesco, com estudantes internacionais e tudo. Foi uma baita vergonha!!

    • Será que com uma bomba viria aprendizado? Temo que não. Temo que o brasileiro viraria vítima dessa brutalidade e continuaria se beneficiando disso. Acho que o melhor aprendizado é que se sintam as consequências diretas de seus atos.

      Não só no Japão o brasileiro é mal visto. Eu já rodei boa parte do mundo (a trabalho, falando pelo Brasil) e é muito comum ver pessoas com uma imagem negativa do Brasil, que só me falavam isso por não ser brasileira. Sempre me diziam que não falavam essas coisas para brasileiros por questão de educação e que tentavam falar coisas boas sobre o país para eles, mas quando conversavam comigo como não-brasileira, falavam coisas muito humilhantes que gerariam vergonha a qualquer povo.

  • É difícil dizer qual dos dois está mais correto, mas apenas quero apontar uma premissa que não é 100% verdadeira no texto da Sally: essa de que o Brasil teria uma imagem positiva no resto do mundo. Na minha experiência, de quando vivi nos EUA e na Inglaterra, o que posso dizer é que essa imagem não existe, por que o Brasil não existe. Ninguém liga pro que acontece aqui, no mundo “civilizado”. Claro, só se não for dar uma merda muito grande. Como agora.

    • O brasileiro pensa que tem uma imagem positiva no resto do mundo, mas não tem não.
      Meus amigos que moram nos EUA dizem que a América do Sul é vista como um grande mato cheio de jacaré, procede?

      • Quando eu morava na Alemanha nunca tive problemas ao dizer que sou brasileiro. Faziam bastante referências a praia e futebol, alguns falavam sobre viagens ou intercâmbios que fizeram no Brasil, não muito além disso. Nas raras ocasiões que alguém perguntava algo sobre o Brasil eu respondia tranquilamente, não ficava vira-latando “Ain o Brasil é um lixo, tudo é lixo, por favor gringo coma meu cu!!!”. Isso é ridículo e você não vai ganhar nada fazendo isso, você não vai ganhar um prêmio ou um passe pra um clubinho especial. Aliás, secretamente eles devem até rir desses imigrantes com síndrome de exceção. Pra eles você é só mais um imigrante, mesmo que você se ache mais educado e mais inteligente que os outros imigrantes.

        • Isso se chama EDUCAÇÃO, que é algo tão raro que você não reconhece quando vê. É educado não falar mal do país da pessoa.

          Eu não pretendo ganhar nada falando o que penso do Brasil, a não ser diversão de ver brasileiro doído como você. Obrigada.

          • Não fiquei doído não, Sally. Apenas prefiro evitar extremos, não dá pra dizer que é tudo uma maravilha, mas também não dá pra dizer que é tudo ruim.
            Com base na minha experiência não apenas sendo estrangeiro mas também trabalhando com estrangeiros no Brasil, acredito que o comportamento individual pesa mais do que a imagem coletiva, pelo menos no cotidiano. Caso contrário, nenhum país receberia estrangeiros e refugiados de países pobres, já que “todo mundo” nesses lugares é criminoso e estuprador.
            Sim, existem casos de preconceito, mas no geral a pessoa média não é muito ligada no que acontece no âmbito internacional, o estrangeiro pode ter vindo até de Marte que ela não vai se importar.

            • Sinceramente, se eu soubesse que meu vizinho veio de um país que tem 300 mil mortos pela pandemia e de lá saiu uma nova variante que pode inutilizar vacinas, eu ficaria bem preocupada.
              O cidadão médio do resto do mundo não é bitolado na sua própria bolha como o Brasil, salvo países com ditaduras ou extremamente pobres. Aliás, o mundo tanto “não se importa com sua origem” que agora brasileiro só pode entrar em uns 5 países, no resto… Dê meia volta. Pra mim isso definitivamente é estar ben ligado com o que vem acontecendo…

              • “O cidadão médio do resto do mundo não é bitolado na sua própria bolha como o Brasil”
                Você já saiu do Brasil? A proporção de alienados pode ser menor, mas gente interessada em política internacional passa longe de ser maioria. É só ver os outros relatos aqui nos comentários, ninguém liga pro país de origem de ninguém, ainda mais numa realidade cada vez mais globalizada e migrações são mais comuns. Xenofobia vêm de uma minoria, e às vezes o que é simplesmente um típico comportamento introvertido é mal interpretado como “xenofobia”.

                “agora brasileiro só pode entrar em uns 5 países”
                Uma coisa é a ação de autoridades, que precisam ser especializadas por obrigação, outra coisa é a mente do cidadão comum. Como já foi dito, ninguém liga. Não sei que obsessão é essa de vocês quererem ser perseguidos no exterior, mas não, o europeu médio não vai sair apedrejando a porta do vizinho brasileiro por causa da pandemia, assim como ele não sai apedrejando a porta do vizinho árabe por causa de alguns árabes que cometem crimes.

                • Ninguém liga vírgula.
                  As pessoas não dão importância a ponto de perder seu tempo falando do Brasil, mas salvo uma meia dúzia mais alienada (como os EUA), pessoas dos outros países tem sim opinião formada sobre o brasileiro. Não é pq não saem berrando a opinião que não a tem.

                  • Vocês meio que estão concordando sem perceberem…
                    O melhor é ser pragmático. Podem pensar o que quiserem do Bananil, contanto que me deixem viver e trabalhar no país deles e cada um na sua.

                    • “O melhor é ser pragmático. Podem pensar o que quiserem do Bananil, contanto que me deixem viver e trabalhar no país deles e cada um na sua.”

                      Concordo, Gabs.

                • “ninguém liga pro país de origem” Será? as pessoas ligam sim e tem opinião formada, independente de ser cidadão médio ou não. Aliás, você nem precisa dizer que é brasileiro, basta eles perceberem que você é de fora (sua aparência, seu sotaque) que eles vão fazer algum comentário ou reagir de alguma forma. Poderia escrever aqui relatos graves de colegas que moram fora (agressões, xingamentos, golpes etc.) só pelo fato de saberem que é imigrante. Tem que ter um emocional/psicológico muito forte (tacar o foda-se) pra poder ignorar tudo isso e viver normalmente.

                • “Não sei que obsessão é essa de vocês quererem ser perseguidos no exterior” não é uma questão de ser perseguido, é uma questão de passar por coisas bem constrangedoras. Se nada de ruim/estranho nunca aconteceu com vc no exterior, ou vc é muito lindo, rico, ou vc tem muita sorte!

                  • Essa discussão me fez lembrar de um vídeo no youtube, do canal apure guria, onde ela relata os trancos e barrancos que passou na Alemanha e Inglaterra, especificamente nas questões sobre aluguel de imóvel – burocracias, donos do imóvel querendo passar a perna, vizinhos nada receptivos – e sobre trabalho – chefe abusivo, preconceituoso, colegas de trabalho ofensivos etc.

                    Realmente, não da pra generalizar ou minimamente fazer vistas grossas, problemas lá fora acontecem sim, de qualquer maneira.

                    • Verdade Ge, não podemos generalizar. Mas fingir que não acontece aí já é viajar no mundo da ilusão. Eu acharia bem interessante se as pessoas, antes de fazer intercâmbio ou morassem fora, fossem alertadas das coisas que podem acontecer com elas, pro choque ser menor. Meio que um preparo psicólogico mesmo. Antes de eu sair do país, minha universidade fez uma reunião com pessoas que passaram por situações de preconceito etc. para poder conscientizar os estudantes do que poderia acontecer. Foi bem útil.

                    • a real é que viver como estrangeiro em outro país é uma experiência única pra cada um, não dá pra generalizar que vai ser tudo flores mas também não dá pra generalizar que vai ser tudo ódio e preconceito. quem espera qualquer um desses dois no fundo é um carente de atenção, mesmo que negativa.

                      e respondendo as reflexões do texto: economia prejudicada afeta mais o cotidiano do que a imagem internacional. porque com a economia ruim, a comida e os tratamentos médicos ficam escassos, a pobreza afeta a liberdade de escolha do indivíduo, que vai acabar se submetendo a qualquer coisa em troca de uma porção de arroz, a criminalidade aumenta, é um efeito dominó. eu vou lá me importar se estrangeiro acha que a gente mora na selva, fala espanhol e usa lhamas como transporte?

      • Procede. Isso para os que sabem que a América do Sul existe, claro. Não confundir a opinião de pessoas com grande conhecimento e estudo do saber geral. No geral, atualmente para o norte americano médio são mais importantes: Cuba, México, Colômbia, Venezuela. O que tem razões óbvias. No plano geral o Brasil não é muito relevante. E tem gente que acha que o Brasil fica na África. Eu morei na Trumplândia (EUA raiz) e não faz diferença ser brasileiro, nem para o bem nem para o mal.

    • Quando fiz intercâmbio na Inglaterra, a filha da minha host mom perguntou pra ela onde era o Brasil rs

      Pra mim, com 15 anos na época, foi um puta choque de realidade…

      • Badalhocas Perdidas

        Maya, mais de 30 anos atrás, o meu professor de inglês recebeu dois amigos americanos na casa dele. Eu tive chance de conversar brevemente com eles, que se mostravam surpresos em saber que havia ruas asfaltadas no Brasil e uma cidade tão grande como São Paulo. Eu também fiquei chocado e percebi ali que era verdade uma coisa que até então achava que fosse só exagero: que a maioria dos estrangeiros mal sabe onde o Brasil fica e pensa que aqui é só mato.

        • Badalhocas, o choque é grande, viu?

          Isso do meu intercâmbio foi há uns 10 anos, eu jurava que com o mundo globalizado, internet, as coisas estavam super diferentes, que o Brasil era visto como essa potência… Doce ilusão!

        • Mas se o estrangeiro for dos EUA é comum não saberem, são o BR com dólar, o nível de conhecimentos geográficos chega a ser tão ruim qto aqui (até pior)…

          Na Europa, porém, a coisa é bem diferente com relação a isso.

          • não nego que o sistema educacional nos países desenvolvidos é mil vezes melhor que o brasileiro, mas vocês superestimam muito a inteligência e educação do cidadão médio desses países. tem gente que recebe boa educação e não aproveita…
            é só ver a discussão daqui, só as pessoas que nunca viajaram ou moraram no exterior estão falando que todo mundo lá fora é super inteligente e super bem informado sobre tudo. daqui a pouco vão falar que os genes deles são melhores e defender genocídio de não-europeus.

  • A real é que nenhum castigo vai “pegar” nesse povo pelo simples fato da patológica incapacidade de pensamento de longo prazo. Cultura da macaquice que usa pobreza como justificativa pra tudo, falta de educação, maus modos, agressividade, incompetência, caráter duvidoso… É até bizarro ver como tantos países mais fodidos possuem projetos e metas pra daqui a 20, 30 anos.

    • Sempre tem alguma coisa que dói. Talvez não seja nem a hipótese do Somir, nem a minha, mas sempre tem algo que dói.

    • “É até bizarro ver como tantos países mais fodidos possuem projetos e metas pra daqui a 20, 30 anos”. Verdade, Anônimo. E essa é para fazer a gente desanimar mesmo…

        • Verdade: Prova disto é q o povo BR não aceita lockdown (a maioria não aceita de jeito algum), mesmo q insistam em mostrar os benefícios a médio (e até a curto!) prazo. Prazo mais longo do q o curtíssimo é impensável pro povo daqui, o BR é um país muito imediatista, pensar a longo prazo é luxo por aqui, e os nossos políticos sao reflexo deste tipo de cultura.

          • Repetindo um comentário meu recente aqui mesmo no Desfavor: “Quando a pandemia começou, um ano atrás, quem era contra o isolamento social e a adoção de um lockdown dizia que não era viável fechar tudo “só por causa de uma gripezinha” porque o mais importante era “salvar a economia”. Mas essa postura não apenas NÃO SALVOU a economia – que continua capenga – como também piorou uma situação – enfrentamento da doença – que, por si só, já é bem difícil.”.

  • Vou concordar com os dois.
    Quanto ao texto do Somir: dezulivre esse castigo de uma crise econômica ainda maior. Já não chega a merda que tá, e vir a piorar ainda mais? Pelo amor! Se bem que também não duvido que aconteça de fato.
    Um ponto que concordo com o Somir é quando ele diz que, se mexer no bolso do povo, daí sim começam a reclamar e quem sabe agir. E, acho que aqui, toca no ponto do que a Sally disse em seu texto: enquanto houver baixaria, pagodinho, cerveja e futebol, e enquanto tiver dinheiro pra manter tudo isso, tá tudo bem.

    Quanto ao texto da Sally: a imagem de que o brasileiro não é lá essas coisas não é de hoje Pra quem já viajou pra fora, sabe bem como é, e não se trata de preconceito ou xenofobia alheia. É difícil, realmente, olhar pra certos defeitos em si próprio, admiti-los, e tentar melhorar. E agora, com essa pandemia, bem como com essa condução terrível e incompetente da situação, essa imagem certamente começou a aparecer mais por aí. Nesse sentido, acredito que nem seja tanto um castigo pós-pandemia, já que já está acontecendo, em processo.

    • O próximo já está escrito, explico no seguinte, que, pela quantidade de coisa acontecendo, vai ser ainda esta semana, na quinta.

  • Se grande parte dos brasileiros não sabe apontar outros países, ou mesmo outros estados do próprio Brasil, no mapa, imagina se iriam ter noção do conceito de “imagem internacional”…

    Mas se tem uma lição que espero que finalmente alguns brasileiros aprendam é que os Estados Unidos sempre cagaram pro Brasil, mesmo com o Trump os “conservadores” brasileiros quebraram a cara, e agora com o Biden quem vai quebrar a cara serão os “progressistas” brasileiros que acham que ele vai fazer algo além de um ou outro discurso vazio contra o Bolsogado.

  • Isso de imagem na gringalhada é balela, eles só conhecem Floresta Amazônica e Cristo Redentor, acham que aqui se fala espanhol e que macaquinhos amazônicos andam pelas ruas. A questão da pobreza aumentar descontroladamente é fato. Os assaltos também vão bombar. Se antigamente era fica em casa pra não pegar virose, vai ser fica em casa pra sempre pra não perder até as cuecas.

  • Fico com o Somir nessa. Concordo especialmente com esta frase: “Somos um tipo um pouco diferente de terceiro-mundistas: um que se der uma organizada na casa, tem força-bruta o suficiente para se tornar um país desenvolvido.”. O problema – e bota “problema” nisso! – é justamente conseguir “dar uma organizada na casa”. Com o tipo de gente que predomina por aqui – do qual surge os políticos que temos – , vai ser muito difícil de um dia esta pocilga deixar de ser um país com infraestrutura “colada com cuspe” e eternamente à espera de um futuro que nuca chega porque conta mais com sorte e malandragem do que com conhecimento e trabalho. E eu também tenho minhas dúvidas se, para o brasileiro médio, “ver seu país do futuro atolado num presente sem perspectivas poderia ser um choque de realidade valioso”.

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