FAQ: Coronavírus – 28

Tem como fazer Olimpíadas no Japão em segurança se for sem público e todo mundo usando máscara?

Não. Como falamos no texto de ontem, mesmo que só deixem entrar atletas vacinados, o risco é enorme. E não tem como todo mundo usar máscara, seja pelo rendimento dos atletas, seja por existirem várias competições aquáticas.

Além de atletas confinados em vilas olímpicas, tem muito mais gente envolvida: jornalistas, staff do evento e até turistas, pois tem gente comprando pacote olímpico para ir ao país, mesmo que não possa assistir às competições nos estádios. A circulação de pessoas vai aumentar, portanto, o risco de contágio vai aumentar.

No meio desse povo todo, é quase certo que teremos alguns contaminados, ainda que assintomáticos. Como eles virão de todas as partes do mundo, teremos uma reunião mundial de variantes em um único país. Isso pode gerar um problema enorme, criando inclusive uma nova super-variante. E essa não é uma opinião minha, é dos médicos, inclusive dos médicos japoneses, que já criaram até um nome para uma possível nova variante que deve surgir por lá: a “Cepa Olímpica de Tóquio”. Imagina esse povo todo voltando para casa, levando variantes novas para o seu país, a merda que vai ser.

Para o próprio país não é um bom negócio. O Japão não está com a pandemia controlada, muito pelo contrário. Além disso é um país com muitos idosos, tudo que eles não precisam é de variantes mais contagiosas ou mais letais circulando pelo país, uma vez que o organismo de idosos tende a formar menos anticorpos com a vacina. A população não quer, os médicos não querem, mas o governo insiste em fazer contra a vontade de todo mundo.

“Ain mas os atletas estão todos vacinados”. Sim, isso quer dizer que quando eles adoecerem, provavelmente ficarão assintomáticos. Não quer dizer que eles não podem pegar a doença. Podem pegar sim e isso significa levar diferentes variantes de diferentes partes do mundo ao Japão, um país que já está com a pandemia fora de controle e que tem muitos idosos. Também significa levar diferentes variantes de diferentes partes do mundo de volta para seus países, onde nem todos estão vacinados. Faça as contas e veja como isso pode acabar.

Para piorar a situação, estudos indicam que a variante indiana escapa, ainda que parcialmente, de algumas vacinas (como a da Pfizer, por exemplo). O país está se colocando em risco de deixar entrar uma variante mais contagiosa, para a qual não se tem uma vacina tão eficiente. Parece momento de fazer uma coisa dessas?

Entendam uma coisa: quando falamos de pandemia, basta UM contaminado para a situação desandar. Então, quando você reúne pessoas do mundo todo no seu país, está majorando muito as chances de surgir ao menos uma pessoa que pode desgraçar tudo.

Entendam outra coisa sobre pandemia: “todos os protocolos de segurança” que existem não são capazes de impedir o contágio. Podem reduzir bastantes as chances de um contágio acontecer, mas não o impedem 100%. Se impedissem, profissionais de saúde que trabalham em CTI não se contaminavam.

E tudo que eu disse aqui vale para o Brasil sediando a Copa América. É um risco sim, mesmo com vacinas, só que para o Brasil é um risco ainda pior, já que ele não tem nem 10% da população vacinada com segunda dose. É uma verdadeira loucura, tanto é até o governo argentino, que não é conhecido por sua seriedade, se recusou a sediar a Copa América dentro dos termos que foram propostos pela Conmebol, só o Brasil aceitou o esquema insano que foi imposto. Se bobear, o Japão acaba passando as Olimpíadas para o Brasil… hahahahaha (desculpa)


Todo mundo fala que essa não vai ser a única pandemia dos nossos tempos e que vem outras por aí. Dá para saber de onde ela vem?

Não, não dá. Existem pessoas monitorando isso mundo todo, tentando pegar essa porcaria logo no começo, para evitar que se espalhe pelo mundo. Vou citar quatro das principais apostas, mas saibam que existem outras possibilidades.

Especula-se que pode existir um novo coronavírus transmitido de cães para pessoas, o que geraria um enorme problema para o ser humano, pois eu imagino que quem ama seus cãezinhos não estaria disposto a se livrar deles e, ao mesmo tempo, se a coisa se espalhar e sair do controle sem vacina, a tendência sanitária é sacrificar os animais que colocam humanos em risco. Como tutora de um cão, não gosto nem de pensar nessa hipótese. Vamos para a próxima antes que eu comece a chorar.

Tem uma boa chance de vir um novo vírus transmitido por mosquitos, que seriam um prato cheio para o Brasil, uma vez que o país parece ter prazer em cultivar o Aedes e não consegue adotar as medidas básicas para que ele pare de se reproduzir. Também seria dramático e muito difícil de controlar entre fronteiras, uma vez que é mais fácil barrar uma pessoa do que um mosquito de entrar no seu país.

Há quem aposte em vírus respiratórios de morcegos que teriam total condição de pular para humanos (esse é um alerta antigo, inclusive). Os vírus que estão sendo monitorados por essa preocupação são bem piores do que o atual coronavírus, então, esperemos que não aconteça. O contágio pode se dar diretamente morcego-homem (expectativa: virar o Batman, realidade: pandemia) ou morcego-animal intermediário-homem (como pode ter acontecido com o covid, com o Pangolim de intermediário). Em sendo o caso de existir um animal intermediário, a grande aposta são os porcos, o que é uma porcaria, sem trocadilhos, pois eles possuem um sistema respiratório muito parecido com o nosso, o que deixaria o vírus adaptadinho, pronto para infectar com eficiência, quando chegar nos humanos.

Por fim, existe uma preocupação que um vírus de um bicho totalmente improvável e não estudado pule para humanos: como o ser humano está destruindo o habitat animal, muitos bichos selvagens que nunca tiveram contato com humanos (portanto, não eram estudados por não serem considerados uma ameaça) estão começando a ter. Não sabemos se algum deles está infectado com um vírus que pode passar para pessoas. O tráfico de animais agrava a situação, pois coloca animais que dificilmente conviveriam entre si muito próximos em gaiolas. Isso pode fazer que o vírus de um pule pro outro, sofra mutações e acabe pulando para um humano.

E, por fim, os deixo com um chute meu, pessoal, que não deve ser lido com muita seriedade pois eu sou leiga no assunto: de uns tempos pra cá o ser humano resolveu descongelar fósseis e outras coisas que encontra congeladas na neve. Vírus tem a capacidade de ficarem “encasulados” em temperaturas extremas e “reviver” quando a temperatura fica favorável. Eu acho que numa dessas de descongelar mamute ou descongelar qualquer coisa, um vírus antigo para o qual não temos anticorpos pode voltar. Veremos.

Vale lembrar que pode ser qualquer outra situação imprevisível também, o ser humano tem informações muito limitadas. Se soubesse claramente onde está o perigo, não estaríamos no meio de uma pandemia.


O que é esse “fungo preto” que a pessoa pega junto com o coronavírus?

Quando o organismo está enfraquecido por outra doença, ele pode ficar mais suscetível a infecções secundárias, permitindo a entrada de vírus e fungos oportunistas. Esse é o caso, estamos falando de uma infecção fúngica chamada “mucormicose”, popularmente conhecido como “fungo preto”.

Aconteceu bastante na Índia, segundo dados oficiais, mais de 9 mil pacientes foram infectados com mucormicose no país. É um problema grave que mata mais de 50% das pessoas contaminadas e, quando não mata, pode exigir cirurgias mutilantes para remover partes do corpo afetadas. Há fotos aterrorizantes de pacientes indianos que contraíram o fungo.

O fungo não vem com o coronavírus, não é como se eles trabalhassem em dupla. O corona debilita o corpo e aí quem está por perto consegue entrar sem muita resistência. Portanto, não se deve presumir que quem tiver coronavírus terá também o fungo preto. Muito pelo contrário, até aqui ele vem se mostrando bastante raro.

Existe a suspeita de um caso de mucormicose em Santa Catarina e existe um caso confirmado no Uruguai, onde uma pessoa já curada contraiu a infecção fúngica. Outros países civilizados também reportaram casos: Reino Unido, EUA, França, Áustria e outros. O que era uma doença de terceiro mundo, de desnutridos, está virando uma das sequelas de covid.

A conclusão, até aqui, é a de que essa infecção não era muito comum pois um sistema imune funcional dá conta de neutralizá-la, mas, com o desgaste imunológico que o coronavírus causa, o corpo estaria mais sujeito a esse e outros tipos de infecção. Mesmo que a pessoa se “cure” do coronavírus, o organismo fica debilitado e vulnerável por um bom tempo e essa e outras infecções podem atacar. Está se falando muito nessa por sua letalidade e pelas sequelas que pode deixar, mas outras doenças oportunistas também foram reportadas.

O fungo causador dessa doença é relativamente comum e pode ser encontrado no solo, em plantas e até em frutas e vegetais. Normalmente nosso corpo dá conta dele, mas depois do baque de enfrentar o coronavírus, ele pode não conseguir barrar. Um fator que eleva o risco de contrair essa infecção fúngica é a diabetes, portanto, diabéticos devem ter cuidado redobrado.

Também se especula que alguns medicamentos usados para tentar tratar o corona (como por exemplo esteroides) contribuam para essa vulnerabilidade do organismo. Como já falamos em outros textos, o grande problema do coronavírus é que ele faz com que o corpo ataque o próprio corpo, então, para fazer com que o corpo pare de atacar o próprio corpo, é preciso atacar o sistema imune. Uma das consequências disso é deixar o corpo muito mais vulnerável, mesmo depois de “curado” do corona.

Em resumo, o grande problema não é o fungo e sim o fato da pessoa estar com o sistema imune tão detonado que nem sequer esse fungo consegue combater. Não é questão de combater o fungo e sim de tentar fortalecer o organismo para que ele possa combater as ameaças externas mais banais.

Então, fica a dica para quem teve coronavírus: estar sem o vírus no organismo é o primeiro passo para estar curado. Seu sistema imunológico não volta ao normal de um dia para o outro, saiba que você está debilitado e vulnerável a infecções, por isso, cuide-se mais. Depois de estar curado é preciso fazer alguns exames para avaliar se ficaram sequelas e se cuidar muito para não pegar nenhuma infecção enquanto o sistema imunológico não volta ao normal – e isso pode demorar meses.

Os principais sintomas de mucormicose dependem da zona que ele vai afetar: ela pode ser rinocerebral, pulmonar, cutânea ou gastrointestinal. Geralmente afeta o trato respiratório, gerando dor de cabeça, nariz entupido, dor no rosto, secreção nasal, tosse, dor no peito, dificuldade para respirar. Bastante parecido com covid, não? Sentiram o drama para identificar e tratar? Eventualmente podem aparecer lesões avermelhadas e doloridas na pele. Essas lesões podem progredir e virar lesões, bolhas ou feridas abertas com aspecto preto, daí o nome “fungo preto”.

O recado que fica é: mesmo depois de curados, aqueles que tiveram covid tem que saber que seu sistema imunológico ainda está convalescente, se recuperando, sem funcionar 100%, portanto, a pessoa deve procurar um médico para avaliar a atual situação do seu organismo, viver com um pouco mais de cuidado e fazer o que estiver ao seu alcance para ajudar o corpo a se recuperar (boa alimentação, sono de qualidade e em tempo suficiente, reduzir estresse etc.).


Como se dá nome às variantes? O que significam essas letras e números?

Basicamente, por ordem cronológica de identificação das variantes. Logo no começo, foram detectados dois coronavírus diferentes na China: o A e o B. Foram nomeadas A e B por serem as duas primeiras letras do alfabeto. A versão que ganhou o mundo foi a B, a A foi extinta pela B.

Quando a B ganhou o mundo, começou a sofrer mutações e gerar subtipos. Quando a linhagem B mutou, se dividiu em B.1 e B.2 e assim por diante. Foi uma opção muito infeliz de nomenclatura, nem os próprios cientistas acabam lembrando os números de todas as variantes. A da Índia, por exemplo, tem cinco dígitos para lembrar: B1.617.2. Sabemos que o coronavírus não vai embora tão cedo, então, em breve teríamos que citar variantes com 6, 7, 8 dígitos.

Como ninguém vai decorar nem reconhecer um bando de número, as variantes acabam sendo chamadas pelo nome do país no qual elas surgiram ou do país que primeiro a detectou, o que também é problemático. Justamente para evitar esses problemas, a terminologia está prestes a mudar.

Como explicamos em outra postagem, além de gerar injustiças (como aconteceu com a Gripe Espanhola, que não surgiu na Espanha), vincular a variante a um lugar também pode ser uma temeridade: os países podem detectar novas variantes, mas não reportar isso, com medo de um estigma negativo. Além disso, se percebeu que pessoas de nacionalidades de países de onde surgiram variantes começaram a sofrer ataques e discriminação em diversos pontos do mundo.

Então, para acabar com a hostilidade a civis que não tem culpa alguma da pandemia e incentivar os países a procurar por variantes e divulgá-las, encontraram uma forma mais prática de denominá-las: passarão a usar letras gregas. A escolha foi estratégica: são de conhecimento mundial, fáceis de pronunciar e fáceis de lembrar. Assim, se espera que parem de vincular variantes a países.

A variante B117 (conhecida como Variante do Reino Unido) passa a ser chamada como “Alpha”, a variante B1.351 (conhecida como Variante da África do Sul) passa a ser chamada de “Beta”, a variante P1 (conhecida como Variante do Brasil ou de Manaus) passa a ser chamada de “Gamma”, a variante B1.617.2 (conhecida como Variante da Índia) passa a ser chamada de Delta e a variante B.1.617.1 (uma variante da Variante da Índia) passa a ser chamada de Kappa.

Vai demorar até a nova nomenclatura pegar, principalmente nas variantes que já chamávamos por nome de lugares, mas à medida que novas variantes forem surgindo e forem chamadas pelo nome de letras gregas no berço, é provável que o novo nome pegue. Por hora, vamos continuar colocando o nome em letra grega com o local da variante entre parênteses, pois ninguém é obrigado a gastar sua memória decorando quem é de onde.

O alfabeto grego tem 24 letras, portanto, podemos depreender que se esperam, no máximo, 24 variantes. Vale lembrar que só recebem nome as chamadas “variantes preocupantes”, ou seja, aquelas com mutações em locais que podem interferir no contágio, na letalidade ou em qualquer setor que afete nossa vida. Se passarem de 24, não tenho ideia do que vão fazer. Eu sugiro que recebam o nome de novelas famosas: “variante Maria do Bairro”, variante “Roque Santeiro” e coisas do tipo. Vai ficar mais fácil do povo decorar. Oremos.

Para dizer que vai ter que nomear variantes com os nomes dos filhos do Catra de tantas que vão surgir, para dizer que tem que renomear o nome do fungo preto para fungo afrodescendente pois é preconceituoso ou ainda para dizer que deveriam renomear o vírus para coronga por se um nome muito mais simpático: sally@desfavor.com

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Comments (6)

  • Eu sinto muito pelo povo Japones, gosto muito deles pela educacao, limpeza e falarem baixo…..justamente o contrario dos Xings.

  • Tem como fazer Olimpíadas no Japão em segurança se for sem público e todo mundo usando máscara?
    Sério que ainda tem gente que pergunta isso.

  • Paulista de Macaé

    Uma vez eu li sobre o derretimento do permafrost e as consequências, como o reaparecimento de doenças.

  • Dessa do fungo preto eu confesso que não sabia. E eu ainda não me conformo com o Japão insistir em realizar uma Olimpíada e com o Brasil tencionando sediar uma Copa América em plena pandemia de Coronavírus. Sei que é utópico, mas quero dizer mesmo assim: neste momento todos os esforços da Humanidade deveriam ser apenas e tão-somente para erradicar essa maldita doença da Face da Terra o quanto antes. E só depois, com a praga finalmente debelada, é que se poderia pensar em qualquer outra coisa.

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