Putez generalizada!

A gente não sabia no que se concentrar essa semana, são tantos desfavores que precisamos de um texto generalista para atender o Desfavor da Semana.

SALLY

Se este blog tivesse seu canal no YouTube, como chegamos a cogitar, estaríamos ambos usando um nariz de palhaço no vídeo de hoje, pois é assim que estamos nos sentindo: de saco cheio e chovendo no molhado.

Nunca foi tão fácil encontrar desfavores e nunca foi tão difícil decidir um tema: as mesmas merdas acontecem sucessivamente, semana após semana, ainda que com algumas alegorias diferentes. Na essência, a humanidade parece perdida em um loop de erros iguais.

Então, hoje vamos parar de tentar dar conselhos, ajudar ou melhorar as coisas. Hoje nós queremos é que se foda.

Vamos começar pelo Afeganistão: todo tipo de barbaridade estava acontecendo e os EUA mantinham a postura de “é isso aí, minha gente, estamos de saída”. Mas aí veio um atendado terrorista onde um infeliz se explodiu no aeroporto e matou alguns americanos no meio do caminho.

Rapidamente o discurso mudou para “Não perdoaremos, não esqueceremos, vamos caçar e fazê-los pagar”. E aí a gente entra e diz: pau no cu de todo mundo. Fez acordo com Taliban, conhecido por repetidas vezes não cumprir acordo? Toma aí uma bombinha nos cornos e toma várias outras dentro dos EUA também, para aprender a ser espertinho. Saiu sem cumprir o que prometeu no país? Que voe braço e perna de americano para tudo quanto é lado, para entender que atos tem consequências.

Covid. Rio de Janeiro, epicentro do país no que diz respeito à variante Delta, (aquela que está arrombando o cu do mundo todo), resolveu abrir (mais). Além de falar em carnaval e réveillon, teve praia lotada com direito a pancadaria no final do dia. E pensam que vão resolver/controlar exigindo das pessoas um passaporte de vacinação que pode ser impresso em papel.

Segunda-feira já está disponível para vender na Uruguaiana (rua de comércio… digamos… irregular, conhecida por todos os cariocas). Tem idoso sem vacina, tem gente com 5 doses. Tá uma zona, tudo aberto, tudo aglomerado. Já tem hospital sem vaga na UTI. E aí a gente diz, de um jeito que sabemos que os cariocas vão entender: TIROTEIO DE PIROCA E TEU CU FOI SEM COLETE, IRMÃO.

Teve também a crise hídrica, em um país repleto de recursos para ter energia, desde hídricos, eólicos, solares e outros. Nesse país, cheio de recursos, vai faltar energia, pois, apesar dos recursos, nenhum filho da puta investiu em infraestrutura para aproveitar esses recursos.

Bolsonaro mandando o povo economizar luz em um país onde no inverno, a temperatura chegou a 40° esta semana e o Guedes perguntando qual é o problema de ter mais um aumento na conta de luz. Inflação chegando aos 10%. 70% dos brasileiros endividados. Aqueles que você acha mais coitadinhos, tão todos com gato, deixando ar-condicionado ligado 24h por dia, 12 meses ao ano. Quem vai pagar a conta deles é você. Miau.

A cereja no sundae foi Bolsonaro dizendo que a solução seria usina nuclear NO RIO DE JANEIRO. Desculpa, mas colocar usina nuclear para ser construída e administrada por carioca só é solução se o problema que você tem é não conseguir uma explosão que extermine a humanidade. Dá urânio para carioca brincar sim. Boa sorte. As crianças brasileiras vão todas nascer com cauda do ano que vem em diante.

Ainda no tema Brasil, começou novamente o mesmo factóide requentado de estarem armando um “suposto golpe de estado” para o dia 7 de setembro. Francamente, estou exausta de desmentir essas merdas, o próprio tempo já se encarregou de fazê-lo. Não vai ter golpe, ninguém quer essa bosta de país, nem os EUA, nem os militares, acho que até Cuba recusa essa bosta.

E mesmo que os militares quisessem, vão tomar como? Com um tanque-fumacê e bala para 2h de combate? O único jeito de um militar brasileiro matar alguém é de tétano, depois de disparar uma bala enferrujada de um 38 velho. Não vai ter golpe, não vai ter porra nenhuma, como sempre, mas vai ter um monte de idiota acreditando, alarmado e desviando o foco do que realmente importa.

O brasileiro parece ou estar histérico pelos factóides velhos, reciclados e delirantes do Bolsonaro ou estrar completamente alienado polemizando o que Ana Maria Braga falou sobre mandioca, passando a seguir um sujeito que falou sobre beijo grego ou soltando balão e queimando a porra toda à sua volta. Está com a cabeça em tudo, menos no que deveria estar.

Fora os que passam o dia todo pensando em si mesmos e em seus pequeninos e insignificantes planinhos egóicos: minha festa de aniversário, meu casamento, meu réveillon, minha viagem. EU, EU, EU. MEU, MEU, MEU. Esquece da coletividade sim, vai dar super certo. Foca na SUA terceira dose, nas SUAS férias, nos SEUS desejos pessoais. Isso termina com a Estátua da Liberdade enterrada numa praia!

Vai lá, vai no “seu não sei o quê” com a Delta comendo solta sim. Mata outra pessoa, consegue aí um bad karma e volta como besouro de esterco na próxima encarnação. Ou então adoece e fica um ano tendo que fazer fisioterapia para conseguir respirar novamente, filho da puta.

Depois do holocausto que brasileiro promoveu na Argentina, Uruguai, Paraguai e Chile, bundeando até criar a Gamma e levando essa merda para os vizinhos, causando milhões de mortes de gente que estava contando com a honestidade dos exames de PCR apresentados, não acredito que mais nada do que aconteça aí possa me comover. Parabéns, me mataram por dentro.

Continuem falando de Cloroquina, continuem insistindo em Ivermectina, quando o próprio FDA disse que se você não é um cavalo, não tem que tomar. Talvez aí esteja a confusão: se cavalo toma, talvez burros, jegues, mulas e jumentos também devam. Tá explicado o motivo do brasileiro achar que tem que tomar.

Tá tudo uma merda, mas não fruto do acaso ou do azar. É fruto da escolha bosta de cada um dos envolvidos. Por isso, desistimos de ter pena, de sensibilizar-nos, de tentar trazer ideias para ajudar. Se fode aí, malandro, para ver se assim aprende! Se fode bonito, se fode gostoso, se fode cinematograficamente, para que ao menos a gente possa se divertir. Agora que eu estou aprendendo a mexer no Photoshop, façam merdas bem gráficas, para que eu transforme isso em ilustração de coluna depois. No aguardo, com a pipoca na mão.

Parece que agosto é de fato o mês do desgosto. E não bastasse tudo isso, eu ainda tenho que escrever um texto atendendo às exigências do C.U. terça-feira. E não bastasse isso, ao anotar na minha agenda para lembrar, escrevi “texto CU Agosto” e depois esqueci a agenda aberta. Viram e agora acham que eu escrevo sobre ânus como ganha-pão. Foi uma semana lamentável…

Para dizer que agora que acabaram os textos nerds você voltou, para dizer que todo mundo tem que se foder menos você ou ainda para dizer que quem nasce no Brasil ou no Afeganistão já nasce fodido: sally@desfavor.com

SOMIR

Sally descreveu bem o que nos fez decidir uma coluna sobre vários temas ao mesmo tempo, então acredito que possa seguir por outro caminho.

Eu começo a temer um processo de radicalização. Não da sociedade em geral, porque isso eu não controlo, então bobagem temer; mas radicalização pessoal mesmo. É tanta merda acontecendo ao mesmo tempo pelos mesmos motivos de sempre que é tentador seguir a via do exagero.

Mas não um exagero de forçar demais sua posição política à direita ou à esquerda, estamos há anos vendo como isso não dá em nada e só deixa o outro lado mais e mais furioso. E como eu acredito não ter merda na cabeça, sinto-me incapaz de defender quase todos os excessos do espectro político atual.

O único foco que realmente me anima é do progresso científico e tecnológico como respostas aos problemas da humanidade. Pode me chamar de transhumanista: meu sonho é misturar o orgânico com o artificial e fazer o ser humano virar uma máquina o mais rápido possível. Mas não é exatamente uma posição política prática nos dias atuais. Falta desenvolvimento para considerarmos essa via.

E isso me faria cair no centro, onde alguns pobres coitados tentam aplacar os ânimos dos exagerados de ambos os lados, especialmente aqueles que tentam empurrar ideias autoritárias (fascista tem que morrer enforcado nas tripas de comunista). Se você me perguntar agora, a minha posição política mais aplicável ao mundo real é centrista humanista.

Entendendo que a humanidade ainda precisa de muitos avanços em questões de tolerância e igualdade, mas que as pessoas precisam de tempo para entender e aplicar essas medidas. Além disso, que se todo o esforço for para trocar um grupo opressor por outro, eu não tenho obrigação nenhuma de ajudar. Equilíbrio pelo bem do ser humano.

Pois bem, mas mesmo assim o risco de radicalização existe. Existe centrista radical? Talvez algumas pessoas percam a mão no ódio pelos dois lados do espectro político, mas na média não é uma posição que exibe sua radicalização através de violência e repressão social: é meio complicado forçar outro a ser centrista se nem os centristas concordam sobre qual posição defender. Tudo é muito variável.

O verdadeiro risco do centrista é se radicalizar no sentido de desistir da humanidade. Você sabe que as coisas são complicadas e exigem muito esforço e coordenação de todos para funcionar, e ao mesmo tempo você vê lacração de rede social e regressão religiosa por todos os lados. Começa a parecer impossível ter um sonho de equilíbrio mínimo entre forças progressistas e conservadoras.

E aí, você começa a torcer pela briga. Talvez, se eles se matarem logo a gente consiga dar mais alguns passos à frente! Eu não vou negar que por muitas vezes fico esperando que ambos os lados se aniquilem, mas tem uma voz interna me dizendo que nem isso resolve a situação. Lutas sempre terminam com um vencedor. E para o verdadeiro centrista, talvez seja melhor que os dois lados troquem turnos como vencedores, assim ninguém consegue realmente assumir o poder e descobrir na prática porque suas teorias malucas não funcionam.

O meu medo de radicalização é baseado no fato de abandonar a situação, sendo radicalmente contra a imensa estupidez que se percebe no mundo. Você começa a pensar em tirar a maior vantagem possível da situação e deixar todo mundo se explodir se querem isso com tanta vontade…

Que o Afeganistão se exploda se ninguém se importa com os humanos que moram lá! Que o povo morra de baciada com o coronavírus se ir para o barzinho é tão importante assim! Que o país entre numa crise horrenda e as pessoas aprendam na prática que a responsabilidade é delas!

E aí, eu posso dizer que avisei. O problema é que não muda nada na prática. Estar certo num mundo destruído é melhor como? E aí, lembramos quais as consequências da radicalização: o resultado é sempre terrível. Radicalize para a direita, esquerda, centro ou qualquer outra combinação e você só vai correr mais rápido para o fracasso.

E isso deveria ser evidente: radicalizar é se isolar numa visão de mundo limitada, é enxergar soluções ridiculamente simples para problemas ridiculamente complexos. A realidade discorda veementemente dessa noção. Quando ficamos radicais, perdemos a capacidade de conversar com outras pessoas que não sejam tão radicais quanto nós. E aí, começa a faltar braço para construir uma sociedade.

Vou enxergar o lado positivo disso tudo: uma semana com tanta coisa absurda acontecendo, onde temos certeza que qualquer tema vai ser uma repetição, é uma semana onde podemos fazer uma pausa para pensar. A minha conclusão é que a radicalização pode me pegar, mesmo tentando ser um centrista consistente. Ela funciona te isolando, e ultimamente eu percebo que tenho menos e menos vontade de falar sobre política e sociedade com gente que não tenha a mente sintonizada numa frequência parecida com a minha.

O que é péssimo: pra mim e para o mundo. Eu vou perdendo a conexão com a humanidade e a perspectiva necessária para entender os problemas que vivemos, e outras pessoas perdem a capacidade moderadora de um centrista. Numa briga de internet é impossível achar um meio termo, mas quando você conversa com pessoas reais em situações reais, um centrista consegue baixar a temperatura de qualquer conversa e encontrar pontos comuns entre pessoas. E esse é o segredo.

Somos todos muito parecidos, mas fazemos e pensamos coisas muito diferentes, o suficiente para esquecermos que estamos todos no mesmo barco. Que os radicais só servem para chacoalhar a embarcação e aumentar o risco de naufrágio. Eu não pretendo colaborar para essa situação.

Estou puto com tudo o que está acontecendo, mas não vou me tornar radical. Talvez esse texto te ajude a baixar seu ponto de fervura também, tomara. Mas se não der, eu continuarei tentando no futuro. Melhor do que ficar puto por não tem nada o que fazer…

Creio eu.

Para dizer que batemos e assopramos, para dizer que finalmente entendeu um texto essa semana, ou mesmo para dizer que esse texto vai ficar velho rápido: somir@desfavor.com

Se você encontrou algum erro na postagem, selecione o pedaço e digite Ctrl+Enter para nos avisar.

Etiquetas: , , ,

Comments (12)

  • Boa parte da humanidade está perdendo tempo com o que não tem importância nenhuma enquanto chafurda na merda sem perceber, em vez de se unir para tentar solucionar os problemas que talvez ainda nem desconfie que tem. Realmente, é caso para a gente ficar mesmo muito puto da cara e desgraçado da cabeça! Até porque, por mais que tentemos ficar longe do olho do furacão e assistir de camarote ao circo pegar fogo, essa situação filha da puta acaba, de uma forma de outra, nos afetando também…

    • Sim. E eu acho perfeitamente possível ficar muito puta com o que está acontecendo, sem estragar meu dia ou ficar mal com isso.
      Agora eu apenas olhos e penso: “morreu? olha só, bem-feito”. É quase que uma putez construtiva.

      • Chega um momento em que se percebe que, se formos ficar reparando em tudo o que está errado e sempre nos estressando por causa disso, não só não fazemos mais nada como a própria vida acaba ficando insuportável. Quem está enfim chegando à “idade da razão” começa a ter consciência de que precisa saber escolher suas batalhas, gastar seu finito tempo neste planeta só com o que realmente importa e se estressar apenas com aquilo que de fato o afeta e com o que realmente pode mudar.

  • A verdade é que todo radical, de esquerda ou direita ou centro ou cima ou embaixo, é um frouxo que só tem coragem de falar bosta na internet porque sabe que na vida real ia levar tapa na orelha e ser excluído.

  • (…) Radicalizar é se isolar numa visão de mundo limitada, é enxergar soluções ridiculamente simples para problemas ridiculamente complexos.” Aí você foi certeiro, Somir. E é justamente porque procuro ter em mente idéias como essa que eu, apesar de frequentemente desanimar lendo o noticiário, ainda não cheguei ao ponto de – usando outra frase sua – “radicalizar no sentido de desistir da humanidade”.

  • Sobre a agenda aberta é só dizer que vc tá estudando pra ser proctologista. A minha faxineira mora na favela e há tempos me diz que deixa o ar ligado do dia todo no gato pra quando chegar em casa tá geladinho. Inverno 40 graus tá rolando arrastão direto nas praias. Bolsonaro é pior que o Lula, Lula pelo menos era só ladrão. E terrorista tem que matar, senão eles matam as pessoas.

  • Desculpa quebrar a regra de não fazer um comentário maior que o próprio texto, mas acho que é importante:

    Pessoas influenciáveis, maioria jovens, estão absorvendo muita informação ao mesmo tempo em um momento extremamente confuso. Isso faz um puta mal para saúde mental e faz a pessoa perder bastante coisa e prejudicar a própria vida. Eu digo isso como alguém que se fodeu na vida e hoje tem que correr atrás do prejuízo porque não soube filtrar o que via na internet quando era mais novo e se deixou levar por qualquer besteira que leu por aí. Fiquei meio bitolado e acabei perdendo um tempo precioso em que eu podia estar me desenvolvendo e fazendo outras coisas.
    Se vocês não souberem filtrar o conteúdo que acessam e dosar com cautela o que consomem na internet então correm um sério risco de ficarem doentes e se foderem seriamente. Tenham cuidado pois na internet tem muita besteira ideológica e política com o objetivo de influenciar gente de mente fraca ou em estado fragilizado.
    Uma coisa que a maioria das pessoas parece não entender sobre cultos (sejam os tradicionais como as religiões, ou modernos como política, redpill, incels, radfem e afins): cultos não procuram pessoas estúpidas, ou pessoas malvadas, eles procuram PESSOAS SOLITÁRIAS. Sim, tem geração nem-nem que quer tudo na mão por magia, mas não são todos. Uma sociedade onde você é livre pra tudo, o que é positivo, mas tem o efeito colateral de que você pode fazer tudo certo e mesmo assim perder, pois fracasso não é sinal de falta de esforço. Não vivemos num mundo justo. Pessoas ruins, abusivas e até criminosas se dão bem na vida, conseguem dinheiro, namorado(a), poder, vivem até a velhice tranquilamente.
    Aí a pessoa solitária percebe isso e vira presa fácil do radicalismo.

    • Temos tantos textos sobre isso que você narrou… inclusive Desfavores da Semana
      Fica tranquilo que ninguém aqui fala de um lugar de estresse não, a gente só resolveu tirar um dia para falar mal dos outros

    • Felizmente estou com minha saúde mental ótima. Tanto que tem um desfavor no Cu tomando e sim… A pessoa que tá em treta com esse desfavor faz por merecer nosso apoio.

  • “Começa a parecer impossível ter um sonho de equilíbrio mínimo entre forças progressistas e conservadoras.”

    Sempre foi.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Relatório de erros de ortografia

O texto a seguir será enviado para nossos editores: