Ig Nobel 2021

Chegou a hora de homenagear quem conseguiu a proeza de abraçar a ciência e, ainda assim, fazer uma péssima escolha: saíram os vencedores do Prêmio Ig Nobel 2021!

Para quem não sabe, o Prêmio Ig Nobel foi criado para ser um contraponto ao Prêmio Nobel. Enquanto o Nobel premia descobertas notáveis para a humanidade, o Ig Nobel premiar autores de experimentos, descobertas e estudos, digamos… inusitados, para não dizer completamente inúteis. Seu lema é “fazer primeiro as pessoas rirem e depois pensarem”.

Normalmente, a cerimônia de premiação é realizada na Universidade de Harvard em Cambridge, nos Estados Unidos, mas, em função da pandemia, este ano ela foi virtual. Sem mais delongas, vamos dar o devido reconhecimento a estas pessoas maravilhosas, que pensaram “A cura do câncer pode esperar, vou focar em outra coisa” e garimparam estas maravilhosas contribuições. Com vocês, os vencedores do 31º Ig Nobels.


Ig Nobel de Biologia
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Este ano, quem levou o prêmio foi uma pesquisadora da Universidade de Lund, na Suécia. Propriedades medicinais inovadores de alguma planta? Nova espécie animal descoberta? Não, não. Um estudo da “comunicação entre gatos e humanos”, ou, em bom português, pessoas passando vergonha tentando falar com seus gatos.

Ela analisou as diversas formas de “comunicação” entre gatos e humanos, isso quer dizer que eles observaram, tanto gatos, como humanos, fazendo uma série de ruídos uns com os outros e suas respectivas reações. Interações como ronronandos, gemidos, murmúrios, rosnados e até uivos foram catalogados e, digamos, interpretados. Deve ter sido basicamente pessoas fazendo o papel de idiotas e gatos com cara de indiferença.


Ig Nobel de Ecologia
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Os vencedores foram pesquisadores da Universidade de Valência, na Espanha, com um sensacional estudo sobre… chicletes mastigados. Foram realizadas análises genéticas para identificar as diferentes espécies de bactérias que vivem em chicletes grudados em calçadas de cinco países: França, Grécia, Cingapura, Espanha e Turquia.

Parece inútil? Os envolvidos discordam: “Nossas descobertas têm implicações para uma ampla gama de disciplinas, incluindo ciência forense, controle de doenças contagiosas ou biorremediação de resíduos de goma de mascar desperdiçada”. Então, fica a dica: se for cometer um assassinato, não cole um chiclete na parede da cena do crime, estes notáveis cientistas podem te achar!


Ig Nobel de Entomologia
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Para quem não sabe, a Entomologia é o estudo os insetos. Quem será que venceu? Cientistas que conseguiram modificar mosquitos geneticamente para que eles apliquem vacinas nas pessoas ao picá-las? Não, a pandemia pode esperar, havia algo mais urgente a ser olhado.

Cientistas do Centro de Ecologia e Controle de Vetores de Doenças da Marinha dos Estados venceram, ao descobrir uma maneira mais barata e eficaz de controlar baratas em submarinos. Sim, você leu certo: controlar baratas em submarinos. Esse até eu poderia vencer: basta não deixá-las entrar antes de partir. Talvez ano que vem eu tente.

O estudo descobriu que os métodos tradicionais, como a fumigação de carboxídeos e o uso do pesticida malatião, não eram bons o suficiente. Ao que tudo indica, o uso do pesticida diclorvos é menos caro e mais eficaz. Fica aí a valiosa dica para você dedetizar seu submarino, mas… cá entre nós, eu ainda prefiro o meu método.


Ig Nobel de Química
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Pesquisadores de diversos países (Alemanha, Reino Unido, Nova Zelândia, Grécia, Chipre e Áustria) venceram o prêmio graças ao trabalho em que analisaram quimicamente o ar dentro de cinemas, comparando sua composição de acordo com o tipo de filme que estava sendo projetado.

Vejamos… 2020 foi todinho da Covid-19, portanto, não deveriam ter feito porra de estudo algum nos cinemas. Se o fizeram em 2019, por qual motivo não o publicaram em 2020? Se o fizeram em 2020, por qual motivo foram premiados por fazer a coisa errada?

De qualquer forma, o estudo avaliou os odores produzidos pela audiência e se eles poderiam indicar quais eram os níveis de violência, sexo, comportamento antissocial ou uso de drogas no filme que estava a ser visto. O resultado foi inconclusivo. Brilhante.


Ig Nobel de Economia
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Um professor de economia na Montpellier Business School, na França, foi o vencedor da categoria. Ele conseguiu pensar em um modelo econômico mais igualitário? Descobriu formas de economizar bilhões? Óbvio que não.

Ele fez um estudo tentando relacionar a obesidade de políticos pode aos seus níveis de corrupção: quanto mais gordos os políticos de um país, mais corrupto ele seria. Não faz o menor sentido, mas… feliz ele, que pode relacionar gordura corporal a algo pejorativo sem aparecerem militantes acusando-o de gordofobia.


Ig Nobel de Medicina
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Cientistas da Alemanha, do Reino Unido e da Turquia venceram por provar que sexo com orgasmo é tão eficaz quanto descongestionantes nasais para melhorar a respiração de quem está com o nariz entupido.

Não consegue respirar? É bem simples, em vez de pingar umas gotinhas no nariz e resolver o problema em dez segundos, faça vários minutos de atividade física intensa. Genial!

A pesquisa demonstrou uma melhora na respiração por até 60 minutos após o orgasmo, então, se você está resfriado, basta fazer sexo de hora em hora, o dia inteiro, para respirar melhor. Muito prático e viável.


Ig Nobel da Paz
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Os vencedores foram cientistas da Universidade de Utah, nos Estados Unidos, que tentaram encontrar uma relação com barba e proteção contra socos no rosto.

Segundo a tese destes notáveis cientistas, os humanos desenvolveram os pelos no rosto para evitar os prejuízos que um ataque em regiões faciais pode causar. Talvez funcione… com a barba do Wolverine.

Para provar essa tese, eles usaram um composto de fibra epóxi simulando os ossos humanos e pele de carneiro simulando a pele humana. Depois, jogaram pesos por cima e concluíram que a amostra com a lã absorveu mais energia do que as amostras aparadas.

Segundo os cientistas, “se o mesmo se aplica aos pelos faciais humanos, ter uma barba cheia pode ajudar a proteger as regiões vulneráveis do esqueleto facial de golpes prejudiciais, como a mandíbula”. “Presumivelmente, barbas inteiras também reduzem lesões, lacerações e contusões na pele e nos músculos do rosto.” Então, já sabe: está jurado de morte ou vai brigar na rua? Deixe crescer a barba antes de sair.


Ig Nobel da Física
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O Prêmio foi para pesquisadores de diversos países (Holanda, Itália, Taiwan e Estados Unidos) que realizaram experimentos para entender por que pedestres não colidem constantemente uns com os outros. Nem precisava, era só me ligar que eu desvendava o mistério: por terem fuckin´olhos e enxergarem por onde andam!

A conclusão é a que todos conhecemos: quando caminham os pedestres adaptam constantemente sua rota e sua velocidade de modo a tentar preservar seu espaço pessoal e evitar colisões. Dãããããã! Faz o estudo sobre a torrada cair com o lado da manteiga virado para baixo parecer física quântica!


Ig Nobel da Cinética
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Vocês não vão acreditar, mas este também é sobre o mesmo tema: pedestres. Desta vez, Pesquisadores de Universidade de Tóquio, no Japão, buscavam explicar justamente o oposto: por que algumas vezes os pedestres de fato colidem uns com os outros. Considerando de onde vem a pesquisa, eu mesma respondo: Pokémon Go.


Ig Nobel de Transporte
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Deveria ser uma categoria? Não. Mas a pesquisa é muito maravilhosa para ser deixada de fora, então, eu entendo que tenham forçado essa barra. Os premiados foram pesquisadores de diversos países (EUA, Reino Unido, Tanzânia, Namíbia, África do Sul, Zimbábue e também do Brasil!), que se dedicaram a determinar experimentalmente a melhor forma de transportar rinocerontes.

Tentar levar a raça humana para outro planeta? Fazer funcionar um teletransporte? Não! Vamos transladar um paquiderme com a bunda para o alto e ver o que acontece! Fica a dica para você, pessoa de bem: se um dia for transportar seu Rinoceronte, estes bravos guerreiros cientistas descobriram que é melhor fazê-lo como o animal de cabeça para baixo. O rinoceronte discorda.


É isso, meus amigos, os deixo com estes maravilhosos estudos que explicam por qual motivo ainda não podemos fabricar órgãos customizados para transplantes, não descobrimos cura para doenças em meio às milhões de plantas que existem nas florestas e não temos carros voadores. Na próxima vez em que estiver em um transporte público lotado, lembre-se: em vez se preocupar em viabilizar teletransporte, estão transladando rinoceronte de cabeça para baixo!

Para dizer que Idiocracy já está acontecendo, para perguntar quantos desses foram com dinheiro público ou ainda para dizer que se fossem contados com a devida alegoria, cada um desses poderia ser um Siago Tomir: sally@desfavor.com

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Comments (14)

  • Bom… depois que eu vi que a pobre coitada dona do número impresso no cartão do Squid Game teve que trocar de número pela imensa quantidade de acéfalos ligando querendo participar do jogo e (mais antigamente) houve uma enxurrada de e-mails enviados pro endereço do cartão Elite Hunting d’O Albergue, eu concluí que o 99.95% do que se chama Ser Humano foi um erro da Natureza.

  • O criterio de “utilidade” usado cegamente é o melhor jeito de matar a prática científica. Nem Einstein passaria por esse crivo. O prêmio é engraçado, mas a leitura dele por leigos consegue ser pior que os trabalhos. Metade dessas pesquisas me pareceram bem relevantes.

    A das baratas em submarinos é bem importante. Um dos maiores problemas no controle de vetores é o intercâmbio de espécies e de linhagens entre os países. Isso está bem resolvido apenas no transporte aéreo de passageiros. Nos outros tipos é uma festa, especialmente em transporte de cargas.

    O Brasil é um excelente exemplo disso. O país já conseguiu erradicar o mosquito da dengue duas vezes, acreditem, mas ele voltou pela fronteira com os outros países da America do Sul. Eu podia fazer a defesa apaixonada dos outros também, afinal sou do ramo, mas enfim, acho que deu pra pegar a idéia. O IgNobel é uma piada interna, entre cientistas. E na verdade nem a gente acha tão engraçado assim. Envelheceu mal.

    • Para que um submarino tenha baratas, elas tem que entrar no submarino de alguma forma, certo?
      Não é mais fácil impedir que entrem do que passar anos estudando como matá-las?

      • Infelizmente não. Eu sei que a lógica é impedir a entrada, mas é simplesmente impossível. Baratas voam, podem ter o tamanho de um grão de arroz. São carregadas nas roupas, cargas, todo tipo de material. Aguentam meses sem comida e sem água. Em lugares fechados, se tiverem comida, reproduzem-se MUITO rápido. E elas comem qualquer coisa. Um dos maiores problemas com cargas, por exemplo, são os pallets. A quantidade de insetos que viaja nisso deixaria você surpresa. Uma preocupação grande é com o trânsito de insetos resistentes a inseticidas, ou sem predadores naturais. Viram pragas indestrutíveis. É um tema muito bonito, mas não vou elaborar mais.

        • Eu não deveria ter perguntado. Eu vivia em paz de espírito achando que tinha a capacidade de impedir baratas de entrarem na minha casa… e agora sei que não impeço.

          • Impedir é impossível, mas tornar muito improvável sim. E manter um ambiente completamente desfavorável a elas também. Como eu imagino que você acredite (ha!) em probabilidades, eu acho que você pode ficar tranquila em relação a isso sim.

            Por exemplo, veja você: eu moro no Rio de Janeiro, a MOSQUITOLÂNDIA, há mais de 15 anos e ninguém da minha família nunca teve Dengue, Zika ou Chikungunya. Passamos por uma pandemia na CORONALÂNDIA e ninguém pegou covid. SCIENCE RULES!

              • Isso vai depender muito de onde você mora. O ideal é adequar a estratégia ao ambiente. Você já viu alguma barata na sua casa? Mora em andar baixo ou alto? Dependendo do contexto, isso que você faz já é suficiente. Me escreve se precisar de algo mais específico (ou seja, se aparecer uma barata na sua casa).

  • É.
    A maioria das pesquisas são em países que consideraríamos sérios.
    Aí, eu penso.
    Se por aquelas bandas, pesquisadores e cientistas se ocupam com essas coisas, o que pensar das pesquisas aqui, em terras tupiniquins?
    Só consigo lembrar das notícias recentes em cortes das verbas para pesquisas.
    Se Bolsonaro for leitor do Desfavor, ele pode intuir que tem razão em cortar verbas…

    • E que nesses países acontecem todo tipo de pesquisa. Justamente por ter “pesquisas sérias” acontecendo é que tem margem para essas pessoas se darem ao luxo dessas excentricidades.

  • Essa pesquisa que ganhou o “prêmio” de Química foi de lascar! Como se já não bastasse uma premissa cretina, o momento para fazê-la/publicá-la também foi o pior possível. E ainda por cima, no final de tudo, o resultado foi… “INCONCLUSIVO”! Quanto desperdício de tempo e de recursos!

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