Não vem comigo?

Véspera de feriado, ninguém está com cabeça pra pensar muito. Então, vamos fazer o seguinte: você vai ser enviado para uma ilha deserta sem data para ser resgatado(a). Como o universo gosta de pregar peças, você vai ser obrigado a escolher entre Sally e Somir para te acompanhar nessa jornada. Vamos pesar os prós e os contras de cada opção. E é claro, os impopulares vão se vender (ou não) para tomar o lugar de um dos dois (agradecemos).

Tema de hoje: numa ilha deserta, você preferiria estar acompanhado de Sally ou de Somir?

SOMIR

Sally. Muita gente acha que para sobreviver numa situação de perrengue, músculos são tudo. Não são. Basta olhar para a história humana: o homem saía para caçar e protegia a família/tribo de outros homens, mas quem fazia a casa funcionar era a mulher. Sobreviver é muito mais sobre experiência e conhecimento específico do que sobre potencial físico.

Sim, evidente que eu seria mais útil na hora de carregar coisas e fazer força em geral, mas não existem tantas tarefas dependentes da força máxima de um homem assim. Numa situação dessas você precisa se abrigar do Sol, evitar perigos naturais óbvios como insetos e animais peçonhentos, e acima de tudo, ter uma fonte de água e comida. É uma ilha deserta. Ao contrário do que séries como Lost nos ensinaram, nada muito maior que rato costuma viver num lugar desses.

Biogeografia básica: se uma ilha é isolada o suficiente para um ser humano não ter prospecto de ser resgatado, é isolada o suficiente para nenhum outro animal de grande porte ter se estabelecido por lá. Sem barcos, basicamente só pássaros conseguem habitar ilhas isoladas. Não tem nenhum bicho nessas ilhas que precise de um homem para enfrentar.

Abrigo? Oras, você está numa ilha deserta! Se existem árvores nela, é quase certeza que você nunca vai passar frio o suficiente para precisar de uma cabana de troncos ou algo do tipo. Basta uma cobertura feita de galhos e folhas para evitar ser cozinhado pelo Sol. Cérebro vale mais que músculos nessa situação.

Você não vai ter que tirar um tubarão da água para encontrar comida. A maioria dos animais aquáticos disponíveis são pequenos e não precisam de força maior do que a de uma criança para serem pegos. Água? Mulheres carregam água de cima pra baixo desde tempos imemoriais. Está totalmente dentro da capacidade física de uma.

Eu digo tudo isso porque quero desmontar o mito que só força resolve numa situação de ilha deserta. É jeito, é conhecimento. Não estou me vendendo barato não: se a gente for falar de conhecimento geral, eu e Sally provavelmente temos um nível muito parecido, mas enquanto o meu pende para o lado mais tecnológico das coisas, o dela pende para o lado mais… humano. E isso faz toda a diferença aqui.

Sally ganha a vida pesquisando e escrevendo sobre diversos temas, além de ter isso como hobby aqui no Desfavor. Eu só tenho o hobby. Ela já escreveu diversas vezes sobre como sobreviver às mais diversas situações, informações que eu acumulei junto ao ler os textos, mas… ela escreveu. Então eu tenho certeza que tem muito mais informação nela do que coube nos textos.

Você prefere alguém que sabe reconfigurar seu roteador ou alguém que sabe o que fazer em caso de uma ferida? Porque aqui entra o argumento principal da escolha da Sally: o conhecimento em medicina. Na verdade eu só estou enrolando mesmo no texto, esse argumento determina a escolha, e só uma pessoa muito estúpida não escolheria levar junto alguém que conhece bem sobre medicina. Na ordem de preferência, começamos com alguém treinado para sobreviver longe da civilização naquele ambiente, e depois vamos direto para um médico(a) ou enfermeiro(a).

Sally não é médica, enfermeira ou veterinária, mas toda a vantagem que eu tenho sobre ela em tecnologia, ela tem sobre mim em medicina. Logo depois de conhecimento preciso sobre fontes de água e alimento, medicina é sempre a coisa mais importante em qualquer situação do tipo. É aí que você aposta suas fichas nessas situações.

E tem mais um conhecimento específico no qual ela ganha de mim, de lavada: cozinhar. Não que vá ter ingredientes para inventar muito, mas minha experiência com cozinha é lavar a louça que eu sujo depois de pedir comida no iFood. Eu não vou ajudar basicamente em nada nessa área. E alimentação pode ser a diferença não só entre vida e morte, mas entre sanidade e assassinato seguido de suicídio. Alguém que sabe fazer a comida ficar um pouquinho mais tragável já aumenta a qualidade de vida uns 200%.

E por último, os elefantes na sala: como ser dotado de pinto, eu sempre vou ser mais perigoso do que seres que não o tem. E isso pode ser entendido de forma figurativa e literal ao mesmo tempo. Eu sou mais fácil de conviver que a Sally, no longo prazo. Minha linha do foda-se começa muito antes da dela, como aliás, é mais comum entre homens. Diria inclusive que a chance de eu te bater é muito menor do que a chance dela te bater ao vivo. Agora, vamos ser realistas: estamos falando de convivência em sociedade, com mais pessoas ao redor e com polícia.

No meio do nada, as coisas funcionam um pouco diferente. Sally pode até ser mais durona dentro da sociedade, mas quando as coisas estiverem reduzidas ao menor denominador comum, é muito mais fácil se impor sobre uma pessoa de cinquenta quilos do que sobre uma de cem. Se a Sally pirar, você consegue parar ela com um empurrão. Se eu pirar, provavelmente um de nós vai morrer. E sinto te dizer que se você for mulher, 99% de chances que seja você. Eu acredito que manteria meu controle numa boa, mas nesse caso você não sabe disso. É um risco. Pessoas podem ficar agressivas nessas situações, e você sempre vai querer estar do lado de alguém que possa vencer na força se isso acontecer.

E, no sentido literal… eu sei que eu não sou estuprador, mas vocês não sabem. O pinto faz toda diferença aqui. Na dúvida, é melhor ter ao lado alguém que não consegue te estuprar sem nenhum plano mirabolante antes, não? Uma coisa é o que você sabe sobre você, outra completamente diferente é o que você sabe sobre os outros.

Na dúvida, prefira uma mulher. Até porque essa é a estratégia de sobrevivência da humanidade desde os tempos das cavernas. O instinto de proteger mulher não existe à toa…

Para dizer que não me escolheria por ser chato mesmo, para dizer que preferia morrer afogado, ou mesmo para dizer que você seria muito melhor: somir@desfavor.com

SALLY

Se você tivesse que ficar preso por tempo indeterminado em uma ilha deserta com um dos dois, Sally ou Somir, com qual ficaria?

Se você pretende sobreviver, eu sugiro que escolha o Somir. Como não vai ter bebida, nem cigarro, nem o Alicate, ele vai estar no seu melhor comportamento e certamente será mais útil do que eu.

Quando se está preso em uma ilha deserta, se volta a um estado de barbárie onde intelecto não vale tanto e força física passa a ser o grande determinante. Devo adverti-los que minha força física é ridícula, proporcional aos meu pouco mais de um metro e meio de altura.

Na natureza eu só sirvo como isca para grandes carnívoros. E até nesse critério Somir é mais conveniente: eu sou mais veloz do que ele, portanto, se você tiver que fugir de um puma, você vai querer alguém menos ágil do que eu por perto.

Não tem como ignorar a relevância da força física: vai ter que carregar tronco, vai ter que fazer trilha, vai ter que caçar, procurar por água… As chances de quem escolher me levar caem drasticamente: eu não tenho força, não carrego muito peso e tenho pavor de metade dos animais que podem ser encontrados na natureza.

No shopping eu seria sua melhor opção, em um evento diplomático eu seria sua melhor opção, para uma maquiagem eu seria sua melhor opção, mas, em uma ilha deserta? Nem muita carne eu tenho, caso seja necessário apelar para o canibalismo.

“Ah mas eu tenho força física, não preciso da força do Somir”. Você não está entendendo. É uma ilha deserta. Quanto mais força física melhor. Força física nunca é demais. Vai ter muita tarefa de força física para fazer, isso sem contar que, de tempos em tempos, uma das duas pessoas vai ficar inutilizada (machucado, doenças etc.).

Além disso, Somir tem força física e não é um imbecil (não se estiver sóbrio e longe dos amigos), ele é uma pessoa inteligente que detém muito conhecimento. Vale lembrar que tudo que eu escrevo ele revisa, então, tudo que eu sei sobre sobrevivência, ele também sabe.

Se tivessem que escolher entre o Alicate e eu, até poderíamos argumentar, pois o Alicate é estúpido o bastante para não te ajudar e ainda te matar, mas estamos falando do Somir. Por mais críticas que eu possa ter sobre ele, ele é funcional.

Vamos colocar a coisa de forma mais clara: me levando para uma ilha deserta, você está carregando uma pessoa da qual vai ter que cuidar. Levando o Somir você está levando alguém que, se bem orientado, vai cuidar de você ou, no mínimo, dividir as tarefas de igual para igual. Então, mesmo que você não saiba orientá-lo e ele não seja útil, pelo menos não vai te dar trabalho.

“Ah mas conversa, mas convivência…”. Irmão, é sobrevivência. Você quer morrer? Não tem convivência. É cagar no mato, é não escovar os dentes, é entrar em um estado involutivo e não civilizatório. Você só tem uma meta: se manter vivo até que apareça um resgate – se aparecer.

Outra coisa que você precisa saber e meu respeito, e que o Somir pode atestar: eu não sou colaborativa, eu sou péssima de atividades em grupo. Em matéria de trabalho, eu sou um lobo solitário: se você quer o meu melhor, me deixa quieta. Ao me levar para uma ilha deserta, ou você abaixa a cabeça para tudo que eu falar ou eu vou representar um trabalho extra: vai ter DR sobre o que fazer, como fazer e quando fazer. Tem certeza que você quer isso para a sua vida?

Mais um ponto importante: minha saúde não é das melhores. Eu não tenho muita resistência a doenças, provavelmente não duraria uma semana dormindo ao relento sem uma febre. Olha o estorvo para você cuidar. Além disso, eu reclamo. Eu reclamo pra caralho. Você se surpreenderia com a capacidade de reclamação inesgotável que eu tenho.

Sempre bom lembrar: tenho fobia de peixes. Imagina isso em uma ilha, um pedaço de terra cercado por mar. Não apenas não existiria qualquer possibilidade de pesca como de fuga: nem fodendo eu subo em uma balsa ou qualquer outra porcaria improvisada no mar, muito menos ajudo alguém com isso. Quando eu digo que eu sou seu pior pesadelo em uma ilha deserta, não estou de brincadeira.

Vale ressaltar o fato de que sem café minha produtividade cai 200% e eu viro um saco de carne que se arrasta pelo ambiente. Toda a perspicácia que você possa imaginar que eu teria para te ajudar a sair da ilha ficou retida dentro de uma máquina de Nespresso, em terra firme.

Eu sou fresca, quero dizer, eu não sei lidar com vômito, com fezes, com essas coisas de cheiro forte. Eu vomito junto. Eu saio de perto. Eu odeio a natureza, eu sou alérgica a picada de insetos. Eu tenho o equilíbrio do bambi aprendendo a andar. Eu não como frutas. Percebe onde eu quero chegar?

Para piorar, eu sou branca feito um coelho albino, 2h de sol já criariam bolhas e ao final do dia, uma insolação. Parabéns, você vai levar uma pessoa que não pode sair de uma caverna de dia e que tem medo de sair de noite, uma pessoa que não vai entrar no mar, não tem força e reclama pra cacete.

Não estamos te perguntando com quem você prefere conviver, pois a Sally que vocês conhecem aqui, abastecida com café, limpinha, de banho tomado, com oito horas de sono e de barriga cheia não é a Sally que vocês ganhariam lá. De fato, sem café, com privação de sono e com fome, tudo junto, talvez eu até atentasse contra a sua vida se você me irritasse – o que não seria difícil.

Sério mesmo, se você quer sobreviver, vai com o Somir.

Para dizer que prefere um estorvo menor do que um estorvo maior, para dizer que no caso prefere ir sozinho mesmo ou ainda para dizer que levaria ambos: sally@desfavor.com

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Comments (32)

  • Quem sobreviveria seria quem foi com o Somir, afinal na ilha deserta não tem covid, então a Sally não ajudaria muito.

  • Innen Wahrheit

    Eu levaria a Sally.

    Em que outra situação seria possível ter a oportunidade de estar cara a cara com ela, com todo o tempo do mundo, sem se preocupar em escolher um assunto pra conversar?

    Quanto ao Somir, eu levaria ele se pudesse levar um videogame junto (e houvesse uma tomada pra ligá-lo)…

  • Também tenho fobia a peixe, ainda mais quando vi um cachorro sendo devorado por piranhas na minha frente quando era criança

    Seria mais o contrário, nenhum dos dois mereceria estar comigo na ilha…hahaha

  • Depois de ler os textos, acho que prefiro ir sozinho mesmo! Se tiver que escolher, vou com a Sally. A chance dela morrer primeiro é maior.

  • O papo é sério, mas não levando a sério, e erotizando a coisa, preferia levar o Somir se ele fosse gostoso e pirocudo!
    Fico até imaginando ele nu andando pela ilha deserta, subindo os coqueiros, caçando frutinhas, pegando os peixes e a gente fodendo gostoso de ladinho no antro do amor coberto por folhas de bananeira e mariposas voando em campos esverdejantes e gazelas saltitantes… Digo… Rs

      • Sally, conta aqui pra gente, momento programa da Marcia haha

        O Somir faz a linha macho ogro peludao que nunca se depilou? Ou ele dá uma “aparadinha”?

        Ele também faz a linha ogro daqueles que não liga pra higiene e usa qualquer desodorante axé mesmo, ou é daqueles todo enjoado que só usa perfume importado e produto específico porque tem alergias?

        E ele é daqueles que só come carne mal passada, ou desses enjoados geração whey protein + peito de frango e batata doce?

  • Osmar Weber Junior

    Estou muito preocupado com o Somir depois de ler a parte dele no texto, anda feministo demais, o que será do Desfavor se o próximo texto dele vier cheio de “elus” , “companheires”, Sally faça alguma coisa!?!?!?

  • Diante dos argumentos citados, escolheria Somir e andaria sempre com um punhado de urtiga. Se ele não se comportasse como um cavalheiro, esfregaria no pinto dele.

    (Aguardando os impopulares que preferem levar o C.U.)

  • “Sim, evidente que eu seria mais útil na hora de carregar coisas e fazer força em geral, mas não existem tantas tarefas dependentes da força máxima de um homem assim.”

    Ler isso aqui depois de ter lido algum Siago Tomir sobre o Somir ter passado mal na academia ao tentar acompanhar a Sally não causa credibilidade.

    “Sally não é médica, enfermeira ou veterinária”. A primeira graduação da Sally não foi medicina veterinária?

    Fiquei com a sensação de que o texto do Somir não defende tanto assim a Sally. A Sally me parece ter um senso maior de auto avacalhação. E mesmo com todos os contras do texto da Sally sobre ela mesma, eu ainda escolheria ela.

  • Calma, Sally não come frutas ?

    Bom, fui convencido pelo texto da Sally, escolheria Somir. Não sou tão forte quanto ele certamente, mas tenho conhecimento de sobrevivência. Se ele começar a ficar estranho jogo um coco na cabeça dele enquanto dorme.

    • Também fiquei chocado com essa informação sobre não comer frutas. E verduras e legumes, também não? De onde tira nutrientes como frutose e vitaminas?

        • Eu também não sou muito de comer frutas, porque elas não me satisfazem. Tem umas pessoas da galera fit que comem uma maçã ou uma salada de frutas como lanche, tentei fazer isso por uns tempos. Cinco minutos depois que eu comia já estava com fome de novo.

          Frutas pra mim, só batidas com leite e aveia pra vitamina.

        • Taí um lado da Sally que eu não conhecia. E eu também não sou exatamente o maior fã de frutas, verduras e legumes – tanto que consumo poucas variedades -, mas não chego a ter que “fazer um esforço” para comê-los.

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