Kaaa... Meeee... Haaa...Antes de mais nada quero começar me desculpando com todos os budistas que lerão esta postagem pelo grau de síntese e superficialidade. Falar em Budismo em quatro páginas é como pretender conhecer bem uma pessoa em quatro dias. Impossível. É uma mera pincelada, uma apresentação sem qualquer pretensão maior do que isso.

Nos ensinam que Budismo é uma religião. Me parece mais uma filosofia de vida, mas como eu não entendo nada de religião, deixo a critério de vocês a classificação. A primeira coisa que você tem que saber sobre o budismo é que não existe um Deus. Exatamente, aquela figura divina, sobrenatural, que nos conduz ou nos julga não existe. Também não há um sistema de crenças, no sentido de que não existem dogmas a serem seguidos, proibições às quais corresponde uma punição e crenças baseadas em fé cega. Muito pelo contrário, os mestres budistas até aconselham que sejamos céticos em relação aos ensinamentos ouvidos e que apliquemos apenas aquilo que faz sentido para nossas vidas, que nos faça bem. Não há um pacote fechado ao qual você tem que aderir, você não deve aceitar passivamente tudo que lê, deve questionar e adotar apenas aquilo que achar que se aplica a você.

Frase atribuída a Buda: “Não aceite nada do que eu fale como verdade, simplesmente porque eu o disse. Em vez disso, analise para ter certeza se o que prego é genuíno ou não. Se, após examinar meus ensinamentos, descobrir que eles são verdadeiros, coloque-os em prática. Mas não faça isso simplesmente por respeito a mim”. A intenção é que a pessoa reflita e só adote se concordar, porque só operará uma mudança na vida da pessoa se for uma aceitação consciente, com convicção.

Falemos de Buda. O Budismo é fundado nos ensinamentos transmitidos por Buda, há aproximadamente 2.500 anos. Ele nasceu Sidarta e depois passou a ser chamado de Shakyamuni Buda. Calma, não é uma história fantasiosa sobre uma esposa que engravidou virgem e um homem-zumbi que morre e volta numa vibe Thriller. É uma história simples que vou resumir para vocês. Sidarta era o filho de um rei superprotetor que buscava poupar seu filho dos sofrimentos da vida. Foi criado trancado em um palácio, sem a noção de como era o mundo lá fora, uma espécie de playboyzinho de condomínio dos dias de hoje. Um dia, já adulto, ele quis conhecer o que havia além dos muros. O rei achou que estava na hora dele sair e ver o povo que ele iria governar.

Sidarta saiu do castelo e teve um choque de realidade nas ruas da cidade. Entrou em contato com morte, doença, velhice. Ficou apavorado. Viu que de nada valia sua fortuna porque dali para frente viveria angustiado com medo que seus ele ou seus entes queridos sofram uma dessas desgraças. Então ele abandonou o palácio. Foi embora e vagou buscando uma forma de se livrar do medo, do sofrimento. Tentou várias formas e no final das contas sentou a bunda debaixo de uma árvore e finalmente, depois de anos buscando a resposta, conseguiu ver as coisas com clareza, o que se chama de “iluminação” (vulgo “cair a ficha”). Percebeu que a merda toda vem de um sentimento chamado APEGO, o apego é a fonte do sofrimento e é fundado na ignorância. Percebeu que tudo é impermanente, que não podemos achar que as coisas são imutáveis ou eternas porque tudo está em constante mudança. Também percebeu que todos somos uma coisa maior, que a individualidade é uma ficção. Sim, você não é tão importante, você é apenas uma fração de um todo, de uma energia que circula. Decidiu compartilhar com os outros o que havia descoberto.

Uma coisa bacana do Budismo é que Buda era uma pessoa qualquer, que não fez nada de extraordinário nem de inalcançável. Apenas sentou e refletiu, usou seu cérebro. Ele mesmo disse diversas vezes que todas as pessoas do mundo tem o mesmo potencial que ele e qualquer um pode alcançar esse estado “desperto” (despertar para uma nova visão das coisas). Então, ele não é o rei da cocada preta porque teve seu momento de iluminação, ele não é mágico, superior ou melhor que nós. Você, eu e até mesmo o Somir podemos chegar a esse patamar. Basta saber pensar, refletir. E para te guiar na direção certa, o Budismo passou adiante por gerações o que eles consideram ser o melhor caminho para alcançar essa iluminação. Siga-o se quiser, é uma faculdade, não uma obrigação. A iluminação está dentro de você, alcance-a da melhor forma possível.

É preciso entender que a nossa visão do mundo é alterada por uma série de fatores que fogem ao nosso alcance. Temos que ter a consciência que a realidade que nós vemos não é a realidade que de fato existe. Não precisa arrancar os cabelos tentando ver A realidade, basta ter sempre em mente que nem sempre o que a gente vê corresponde ao que realmente é. Em resumo, basta ter a humildade de reconhecer que você não é dono da verdade e que sua visão das coisas pode estar ofuscada ou distorcida por alguns “véus” que não te permitem ver com clareza. Ciente disso, você tem a opção de tentar tirar esses “véus” e procurar viver de uma forma melhor, com menos sofrimento, menos dor e menos sentimentos negativos que paunocuzam sua vida, como insegurança, ciúmes, inveja, medo, ódio, obsessão e tantos outros.

A orientação budista básica para alcançar esse patamar de se livrar do sofrimento consiste em praticar um comportamento ético, praticar meditação e cultivar a compaixão por todos que te cercam. Para o Budismo, todos somos parte de uma grande massa indissolúvel. É como se todos fossemos uma energia que ao final da vida retorna para um único lugar. Somos energia em trânsito. Eles acreditam em reencarnação, mas não nos moldes do espiritismo, e sim de forma mais abstrata. Somos energia que circula. Além disso, eles são extremamente humildes e abertos, dizem com todas as letras que acreditam em reencarnação sim, mas que se um dia a ciência comprovar que ela não existe, abandonarão essa crença.

Quando se fala em “compaixão”, pode ter gente que imagine aquela coisa politicamente correta pau no cu de bondade a qualquer preço. Não é nada disso. A compaixão significa tentar ser tolerante, cultivar o amor, porém dentro dos limites da justiça. Assisti uma palestra de um Lama que respondeu de forma brilhante a uma pergunta de uma jornalista que lhe fez uma indagação pessoal. A jornalista contava que estava se divorciando e que o marido estava dificultando ao máximo sua vida, brigando na justiça pelos bens e fazendo aquelas baixarias de gente rejeitada mal resolvida. Ela disse que era budista e não sabia o que fazer, pois o Budismo prega o amor, a compaixão e o desapego, então ela achava que talvez a mensagem fosse abandonar todos os bens e virar as costas para o marido, seguindo sua vida.

O Lama disse que de jeito nenhum ela deveria fazer isso, pois ela tinha direito a aqueles bens e deixando-os todos nas mãos do marido ela não estaria praticando nem amor nem compaixão e sim fomentando e recompensando um comportamento egoísta, injusto e desonesto. Ele sugeriu que ela tente resolver as coisas com diálogo e que se isso não fosse possível, aplicasse a LEI. Quase pulei da cadeira para abraçar o homem. Ele ainda disse que ela aplique a lei mas que procure não cultivar sentimentos negativos ou, se cultivasse, que procure trabalhar para modificar esse tipo de sentimento. Esta é a compaixão da qual se fala.

O Budismo te permite ficar irritado, ficar puto da vida e peitar injustiças. O Budismo incentiva que você se defenda quando estiver sendo sacaneando ou injustiçado. Eles apenas recomendam que você não seja motivado por ódio e outros sentimentos negativos. Se possível, o faça com compaixão e sabedoria. Compaixão não é deixar que os outros pisem em você. Compaixão é se defender na medida do necessário, sem cultivar o ódio e o rancor, desejando que a pessoa que te fez um mal deixe de ser tão bostinha e babaca e um dia, quem sabe, vire gente.

No Budismo não tem pecado. Não tem contraprestação de pecador: fez sexo antes do casamento? Reza tantas vezes tal coisa. Não. A compaixão que eles pregam você deve aplicar inclusive a você mesmo. Nada de se punir ou ser punido. Errou? Se ame, seja compreensivo com você mesmo e use o erro para refletir e aprender o que fazer para não voltar a errar e ser uma pessoa melhor, em vez de ficar se remoendo em raiva por ter errado. E sempre, SEMPRE questione qualquer ensinamento que ouvir e só aplique aqueles que fizerem sentido para você. O Budismo não serve para violentar ninguém, apenas para ajudar. Se te faz mal, deixe de lado.

O Budismo sugere, não manda. Nada de ruim, mortal ou terrível vai te acontecer se você não seguir o caminho sugerido. Aliás, o caminho sugerido é apenas UM caminho, nada impede que você chegue por outros. Eles não tem a pretensão de serem os únicos donos da verdade. O importante é cultivar a sabedoria, porque para o Budismo a ignorância é a raiz de todo o sofrimento. A forma pela qual você vai fazê-lo compete apenas a você. A experiência milenar que eles tem indica que o caminho deles deve ser o mais eficiente, e ele o compartilham com os interessados, pois para viver em harmonia, o ideal é que todos estejam em harmonia. É a parte deles para um mundo melhor. Mas você pode traçar seu próprio caminho se quiser.

O Budismo ressalta como nossa mente é poderosa. Como criamos armadilhas para nós mesmos o tempo todo e cultivamos sentimentos equivocados. Sugerem que ampliemos nossa mente através de meditação, que é a prática central do Budismo. Meditação é um processo de relaxamento e concentração cujo objetivo é alcançar um pensamento profundo e refletir. Não, meditação não é sinônimo de manter sua cabeça vazia. Isso é ignorância. Meditação busca transformar sua visão da realidade, te colocar em contato com uma parte de você mesmo que você desconhecia. Impossível fazer isso com a cabeça vazia. Meditar é conversar com você mesmo, é se tornar amigo de você mesmo. É se ouvir, se conhecer melhor e refletir sobre você, olhar para dentro e avaliar o que vê, o que agrada, o que prejudica. Faz falta nos dias de hoje olhar um pouco para dentro, todo mundo parece se preocupar demais com o exterior e preterir o interior. Infelizmente nós ocidentais temos tanta dificuldade em olhar para dentro que muitos sequer entendem o conceito.

Meditação não é lavagem mental, não é sentar, fechar os olhos e se “programar” através de frases repetidas para fazer ou deixar de fazer tal coisa. Meditação serve para refletir e tentar ter uma nova visão, para se “desprogramar” de jeitos nocivos de funcionar, de condicionamentos que te fazem mal. Para o Budismos nosso maior inimigo é a nossa mente. Uma vez que a compreendemos e a dominamos vivemos melhor. O processo de meditação é algo muito complexo, daria um novo Desfavor Explica. Para quem quer começar, sugiro que se posicione em um ambiente calmo, em uma posição confortável e foque toda sua atenção e concentração na sua respiração. Deixe sua mente vagar em pensamentos mas não se deixe dominar por eles. É bem mais difícil do que parece. É como musculação, na primeira semana você não consegue fazer porra nenhuma, mas como tempo vai evoluindo. Com dedicação, é possível chegar a um estágio de total concentração full time na sua vida, quase que um viver em estado de meditação consciente, que pode te beneficiar muito em diversas áreas, até mesmo no seu trabalho.

A meditação parece ser a forma mais eficaz de se conscientizar e adquirir a sabedoria necessária para passar a ver o mundo sob um novo ponto de vista e, consequentemente, passar a funcionar de forma diferente. É difícil romper com um padrão de anos funcionando de uma forma para passar a pensar e funcionar de outra. Mas é possível, caso você se sinta infeliz e ache que irá se beneficiar com isso. Sabe aquilo que te incomoda que você tenta mudar e não consegue? O Budismo é um dos caminhos. Os budistas relatam paz de espírito, tranqüilidade e calma após modificar a forma como reagem ao meio, aos outros e a si mesmos. Mais: eles dizem que se você estudar, se informar e tentar por um período de tempo razoável e não notar nenhuma mudança ou melhora na qualidade de vida, deve abandonar o budismo. Palavras de Dalai Lama: “Você não tem a obrigação de seguir os ensinamentos de Buda. Apenas tente ser uma boa pessoa, é o suficiente”.

Curiosamente pesquisei muito e não encontrei uma única pessoa que tenha colocado em prática as técnicas budistas com seriedade e estudo e que tenha abandonado. Todas relatam que se beneficiaram. Reparem que o Dalai Lama diz que basta TENTAR ser uma boa pessoa, quer dizer, você nem ao menos precisa SER uma boa pessoa, basta que tenha essa intenção e trabalhe para isso. Quer coisa mais democrática? O Budismo não te obriga a meditar, ele recomenda porque depois de muito tempo de experiência, concluíram que é a forma mais efetiva. Mas se você quiser traçar outro caminho, está livre. E mesmo não obrigando, todo mundo faz. Deve funcionar. Estudos médicos com mapeamento cerebral que só foi possível recentemente com a evolução dos aparelhos médicos comprovam alterações no cérebro de pessoas que meditam. Alterações que ocorrem durante a meditação e surpreenderam. A meditação pode operar fenômenos que até pouco tempo se pensava serem impossíveis, como retardar o envelhecimento cerebral, afetar a percepção visual e uma infinidade de outras coisas que deixaram a comunidade médica de queixo caído.

Graças a essa descoberta, concluiu-se que a meditação, cientificamente falando, é uma forma de expandir a atividade cerebral. Sabe aquele papo que a gente usa apenas 10% do cérebro? Pois é, a meditação nos permite fazer um uso maior e melhor do cérebro que até pouco tempo nem ao menos se julgava possível. Uma espécie de “super-poderes” meritocráticos que surgem depois de muito estudo e dedicação e podem te garantir uma série de vantagens nos mais diversos campos da sua vida.

Independente dos benefícios científicos, a filosofia Budista pode beneficiar em muito nossas cabecinhas pequenas, mesquinhas, materialistas e apegadas do ocidente. Destaque especial para a forma como o Budismo nos ensina a lidar com nossa morte ou com a morte de entes queridos. Não, eles não mandam você não se importar. O Budismo considera essa dor que sentimos como algo normal e compreensível e a recebe com compaixão. Mas seus conceitos sobre impermanência, ausência, sobre o “eu”, sobre vazio e tantos outros ajudam, por incrível que pareça, a diminuir o sofrimento e amenizar a dor da perda. O sofrimento vem da ignorância, lembra? Independente da sua reação à morte, o Budismo prega que você seja compassivo com você mesmo e vivencie a dor de forma mais saudável, em vez de procurar evitá-la.

Uma coisa bonita do Budismo é que ele prega o amor próprio o tempo todo. Ele te relembra que você deve ser compassivo com você mesmo ao mesmo tempo que também te estimula a melhorar, evoluir. Se ame, se aceite e se perdoe como você é, e se possível, tente melhorar. Queira melhorar. E se não conseguir, não fique irritado ou frustrado com você mesmo, seja compassivo, e, novamente, se aceite, se perdoe e se ame. Alguém me explica porque caralhos o catolicismo é a religião mais praticada do mundo? Qual é o problema das pessoas? Neguinho GOSTA de sofrer, só pode! Enquanto o catolicismo glorifica o sofrimento e o trata com Green Card para uma vida melhor, o Budismo busca justamente o oposto: propõe uma nova forma de pensar, de funcionar, de ver o mundo onde, através de conhecimento e sabedoria, buscamos mitigar o apego, ignorância e o sofrimento.

O Budismo trabalha com a idéia do karma. Uma versão antiga da Lei do Retorno. Comportamentos destrutivos acabarão por se voltar contra você no futuro. Não por uma vingança punitiva de um ser supremo, mas por mera conseqüência dos seus atos, o clássico “quem planta merda colhe bosta”. Karma é basicamente causa e efeito, porém, para o Budismo as INTENÇÕES das ações são mais importantes que as ações em si. Isso quebra com aquela coisa hipócrita de fazer o bem por medo de punição ou almejando um benefício futuro. A pessoa que faz o bem com esse tipo de pensamento interesseiro cheio de segundas intenções vai se foder.

Outra coisa bacana: o karma não opera com julgamento de valor. Você não é bom se fizer tal coisa ou mau se fizer tal coisa. É só causa e conseqüência, você colhe aquilo que planta. Gente, karma é um assunto tão interessante mas tão extenso… Um dia eu faço um Desfavor Explica só sobre karma. Tem até forma de purificar seu karma negativo! Não é como no espiritismo, que você tem que sofrer para resgatar tudo aquilo e não pode fazer nada a não ser passar por isso. No Budismo, o karma não é um destino fixo e imutável, está nas suas mãos e muda constantemente dependendo da sua postura e das suas escolhas. Karma não tem nada a ver com Deus ou destino, e sim com suas escolhas. A responsabilidade é sua, só sua.

Não tem como falar em Budismo sem falar em Nirvana. Nirvana (ou “iluminação”) é um estado de clareza mental, de compreensão e de paz que você pode alcançar quando se liberta das causas do sofrimento. Na verdade, todos nós temos este estado dentro de nós, mas está abafado por nossa ignorância, por idéias distorcidas e padrões de funcionamento nocivos que acabamos adotando ao longo da vida. O Nirvana está lá o tempo todo, em todo mundo, o Budismo te dá apenas orientações e ferramentas para interromper e quebrar esse ciclo de sofrimentos no qual acabamos nos enfiando, alcançando esse estado de paz e clareza mental, que não será garantia de felicidade mas te fará viver melhor.

Para terminar, é um erro pensar que apenas os budistas podem praticar o Budismo. O Budismo pode ser praticado por qualquer pessoa, inclusive por adeptos de outras religiões. Você não precisa ostentar o estigma ou o título para ser um praticante. Pelo contrário, mestres budistas frequentemente estimulam seus seguidores a não abandonar a religião na qual foram criados, por respeito às tradições daquela cultura. Todos podem seguir os ensinamentos budistas.

Basicamente, o Budismo nos ajuda a aceitar e ver as coisas sobre um novo ponto de vista que acaba por nos beneficiar, pois acarreta menos sofrimento e nos permite conduzir melhor nossas vidas e nossas escolhas. Aprendemos a eliminar gradativamente a ignorância que nos leva ao sofrimento, a aceitar a impermanência de tudo, o que faz com que não nos desestruturemos quando aquilo que acreditávamos ser permanente muda de um momento para o outro e interiorizamos de coração a idéia que não existe eu, você ou fulaninho, somos todos uma coisa só, uma grande energia que circula. Como isso ajuda? Bom, para começo de conversa se aprende a não criar expectativas incorretas (“tal coisa vai me fazer feliz!”), depois, aprendemos a aceitar algumas mudanças com mais dignidade e estrutura, pois sabemos que tudo é impermanente (“não acredito que meu casamento acabou, casamento é para sempre!”). Também ajuda a analisar e compreender atos sob a ótica da compaixão, o que consequentemente ajuda a controlar sentimentos negativos como raiva, ira e vingança. Também aprendemos que as coisas só tem a importância que a gente dá a elas, e em um segundo passo, a dar importância apenas ao que realmente tem importância.

Só para deixar claro, eu não sou budista. O que faz com que o Budismo tenha ainda mais mérito por receber um elogio meu, coisa que acontece raramente no Desfavor. Acredito que a prática de alguns ou todos os ensinamentos possam beneficiar a qualquer pessoa. O único inconveniente do Budismo é que sua compreensão requer INTELIGÊNCIA, isso excluí a grande massa do seu alcance. Se você tem cérebro e sabe usá-lo, gaste um tempinho conhecendo melhor o Budismo. Não precisa aderir, praticar nem virar budista. Apenas estude e tire suas conclusões.

Fuck. Sete páginas…

Para dizer que tem budismo em quase tudo que eu falo no Desfavor, para dizer que Somir deve estar tentando se suicidar abrindo a boca com as mãos estilo Didi Mocó ou ainda para dizer que Desfavor continua sendo uma cruza de caixinha de surpresas com balaio de gatos: sally@desfavor.com

Ser humano é ser porco.Aproveitando o súbito interesse causado pelo meu nariz escorrendo, decidi que era hora de buscar a verdade sobre a gripe. Isso e o fato que eu esqueci o que diabos tinha planejado como tema para a postagem de hoje.

Praticamente tudo o que você sabe sobre a gripe está errado.

Dramático, não? Todo mundo já teve, tem ou terá uma gripe em sua vida. É algo tão banal no dia-a-dia da humanidade que quase ninguém se dá ao trabalho de checar se a sabedoria popular realmente sabe sobre o que está falando. Com duração média de pouco mais de uma semana, é de se esperar que pouca gente esquente a cabeça com isso. Bom, desconsiderando a febre, é claro…

GRIPADO OU RESFRIADO?

Confesso que nunca pensei sobre isso, tanto que foi uma surpresa perceber que gripe e resfriado não são sinônimos. O que a maioria de nós desenvolvemos com frequência são os resfriados. Apesar de ter praticamente os mesmos sintomas da gripe, sua intensidade é bem menor.

Se você está com dor-de-garganta, nariz entupido e/ou escorrendo, tosse, febre e aquela porra de dor-de-cabeça que te dá a impressão que estão tentando inflar uma balão dentro do seu crânio, você provavelmente está só resfriado. O resfriado é causado principalmente pelo rinovirus e pelo coronavirus, dois espertalhões que resolveram se especializar nessa raça de macacos bípedes tão numerosos no mundo.

Mas se além disso o seu corpo fica dolorido, bate uma canseira daqueeelas, começa a sentir calafrios e os seus olhos começam a virar motivo de avisos que você “está dando bandeira” (conjuntivite), estamos provavelmente lidando com uma gripe. Gripe é o reino do Influenza, o vírus que já matou centenas de milhões de pessoas na história da humanidade. (Bota o safado no topo da cadeia alimentar…)

Mas como você deve se lembrar por experiência própria, gripes comuns não costumam corroborar com esse suposto poder mortal do Influenza. O segredo do sucesso desse vírus está na quantidade, e não qualidade. Ele infecta TANTA gente TODOS os anos que no final das contas acaba conquistando até meio milhão de casos fatais por ano. (Mas não vai para o topo do quadro, já que morre junto com a vítima… KD Ratio sempre no 1, noob!)

A diferença entre aquela gripe mala que você pega todo ano e as que já dizimaram populações inteiras há algumas décadas (gripe espanhola, por exemplo, que supostamente matou mais gente que a Primeira Guerra Mundial DURANTE a Primeira Guerra Mundial) só pode ser notada num microscópio bem poderoso. Por sorte, a seleção natural está ao nosso lado nessa: Não é muito esperto matar a maioria dos seus hospedeiros. Por isso as variedades mais brandas da gripe que são as mais comuns. Infectando de leve para infectar sempre!

Vírus como o Influenza estão em constante mutação, por isso que nossos sistemas imunológicos caem no mesmo golpe ano após ano. E mesmo as menores alterações já são capazes de tapear nosso organismo. É quase como se o Influenza colocasse um bigode postiço e conseguisse entrar de novo num prédio do qual foi expulso há pouco tempo atrás.

A “gripe da moda” não é apenas uma expressão. O Influenza vem com uma coleção nova toda estação. Típico: Muda um botão e as antas aqui já querem comprar tudo de novo.

E nesse lance de ficar mudando, as vacinas contra a gripe tem que ser renovadas pelo menos uma vez por ano. A vacina do ano passado já não te protege direito da variedade atual. Se você por um acaso é mulherzinha e toma vacinas para gripe (prefiro morrer com a dignidade de não ter tomado vacininha pra gripe, mas eu não sou referencial para nada…), não adianta disfarçar sua preguiça dizendo que a do ano passado vai servir. Se vai fazer, faz direito!

FRIAGEM

Os vírus do resfriado e da gripe passam de uma pessoa para outra através do ar. Eles pegam caronas em gotículas de melecas que expulsamos do corpo frequentemente e caem em alguma “porta aberta” em outra pessoa.

Bacana imaginar que essa merda toda ainda tem o bônus de significar que um pouco de cuspe e/ou meleca alheia entrou em contato direto com o seu nariz ou boca. E já que estamos no assunto: Não se esqueça que invariavelmente minúsculos aracnídeos, os ácaros, estão andando pela sua cara neste exato momento. Não tem nada a ver com o assunto, mas achei de bom tom te relembrar.

É mais fácil pegar um resfriado ou gripe em locais fechados onde se tem contato com muita gente. A chance de um vírus alheio te achar é bem maior se você estiver bem perto. Os vírus até aguentam esperar entre uma infestação ou outra, mas é questão de probabilidade: Você dificilmente vai topar com um que viajou quilômetros até te encontrar.

Quando faz frio, a tendência das pessoas se juntarem em ambientes fechados aumenta bastante. Por isso criou-se o falso positivo de que frio tem alguma conexão íntima com essas doenças. Nenhum estudo conseguiu provar relação, e faz sentido que não consiga. Como esses vírus pegam carona em gotículas, é até melhor que faça calor e a água evapore mais fácil.

Você dificilmente pegou uma gripe ou resfriado só porque saiu de casa com uma blusa a menos. Frio não gripa pessoas, pessoas gripam pessoas.

IH, MANO, LÓGICO!

Meu senso de humor também está doente. De qualquer forma, uma das informações mais valiosas sobre a gripe ou o resfriado é que eles por si só não causam nenhum dos sintomas típicos.

Não tem nada nos vírus que faça seu nariz escorrer, quem cria os problemas é o seu sistema imunológico. Numa analogia simples, é o Rambo, armado até os dentes, caçando uma mosca dentro do seu corpo. Depois que seu organismo percebe que caiu MAIS UMA VEZ no truque do bigode falso do Influenza, dispara tudo o que pode para cima do que está infectado.

Essa reação desmedida da sua linha de defesa interna que desencadeia os sintomas. E ironicamente, são as pessoas mais saudáveis que mais sofrem com isso. Um sistema imunológico forte cria uma daquelas cenas de tiroteio de filme americano: Os safados destroem metade da cidade e matam dezenas de inocentes para pegar um vilão.

O perigo da gripe e do resfriado em pessoas fortes e saudáveis está nos danos colaterais. Não que seja melhor ter sistema imunológico de Gianechinni, mas desse mal ele não morre. Algumas variações mais escrotas de Influenza acabam matando gente que ninguém sonharia que morreria de gripe, justamente pela reação descabida do sistema imunológico bem equipado.

E se você não tiver muitas defesas naturais, a coisa não fica mais bonita: Até mesmo um resfriado pode virar uma pneumonia se o seu organismo for um banana, feito o de idosos e crianças.

CANJA DE GALINHA

E então, qual o melhor tratamento para gripe ou resfriado? Nenhum. Se você está sentindo os sintomas, o trabalho já está sendo feito (Vai Rambo!). O que dá para fazer é buscar um pouco de alívio e esperar o ciclo natural de recuperação. Em média, uma semana ou um pouco mais já o suficiente para a situação voltar ao normal no caso do resfriado, demora um pouco mais se for gripe.

Ao contrário do que muitas empresas querem te convencer, Vitamina C é basicamente um placebo nessa situação. Seu corpo já tem um belo estoque natural, e a não ser que você seja um pirata há meses no mar, não precisa de reposição urgente. E como a Vitamina C é uma das ferramentas do sistema imunológico, talvez não seja uma grande ideia querer fortalecer quem está gerando os sintomas.

Não deixe de se alimentar, mesmo que tudo só tenha gosto salgado, doce, amargo ou azedo. Como o nariz fica tapado, acabamos apenas com os poucos sabores que a língua é capaz de reconhecer sozinha. Ajuda de verdade dar uma boa “fungada” na comida antes de colocar na boca, só tome cuidado para não deixar pingar nada… Se bem que se a comida tiver pouco sal, pode até ajudar.

No caso de gripe, é bom se hidratar. Quando seu nariz começa a soltar mais líquido que todos seus poros juntos, é bom não se arriscar a secar e deixar a febre correr ainda mais solta. Banho não vai te hidratar muito, mas puta-que-pariu, deixe de ser porco(a). Você não está com ebola!

Em alguns casos mais sérios de gripe, existem antivirais que dão uma mãozinha para o corpo, a maioria das pessoas não vai precisar disso, e com certeza ninguém precisa de antibiótico para tratar vírus. Antibiótico mata bactéria, vírus não é bactéria, portanto…

Dificilmente um resfriado ou gripe é o suficiente para te obrigar a ficar numa cama o dia todo (seu chefe finge que acredita), mas é aconselhável que você se mantenha “de molho”. Para não passar para outras pessoas, mas principalmente para não ser uma porra de um mau-educado(a) que fica tossindo, espirrando e assoando o nariz em público.

Sério, deviam listar falta de noção como sintoma das doenças. Já que o hábito de botar a mão na frente da boca ou do nariz enquanto expele violentamente sua infecção parece ter caído em desuso, que pelo menos se afaste do resto das pessoas.

Ah sim, chupem, hippies: Nenhum tratamento alternativo jamais se provou útil para resfriados ou gripes.

INVENCÍVEL

Não existe nenhuma previsão para a erradicação dos vírus do resfriado ou o da gripe, nem mesmo num futuro muito distante. Inúmeras variações virais tornam o controle do resfriados e gripes impraticável. Não pense que está derrubado por causa de uma porcariazinha qualquer, os vírus que causam essas doenças foram capazes de transformar a humanidade na sua vadia.

Aparecem sem aviso, nos fodem, saem como se nada. E nem adianta trocar a fechadura, eles vão achar a chave eventualmente. Que outro ser pode dizer o mesmo nesse mundo? Com gripe e resfriado, podemos ganhar batalhas, mas nunca a guerra.

Se bem que isso não é muito alentador. Vou assoar meu nariz que eu ganho mais…

Para dizer que está espirrando e andando para o assunto, para dizer que depois de perceber minha motivação vai torcer para que eu faça um sobre varíola, ou mesmo para reclamar que podia ter vivido sem a noção que é uma vadia viral: somir@desfavor.com

comofaz?Recentemente saiu mais um daquelas pesquisas mequetrefes com a “surpreendente” informação que a maioria dos jovens prefere ficar sem namorar do que ficar sem internet. Aposto que não se tocaram que namorar não é sinônimo de sexo para o público pesquisado, mas vá lá…

A popularização da internet anda de mãos dadas com a popularização dos computadores. Afinal, grande parte da população mundial nem saberia o que fazer com um deles sem a grande rede para alimentá-lo com vídeos e fotos de gatos engraçados. Só para não perder a chance, aqui vai um.

Perguntar para um jovem se ele acha bacana ficar sem internet é a mesma coisa que perguntar se ele acha bacana ficar sem água encanada. E mesmo nós, os que já passaram alguma porção da vida totalmente offline, não gostaríamos de ficar sem a web. Porcarias como o desfavor TEM que chegar até você, e a humanidade gastou muitos recursos para conseguir os resultados atuais.

Desde mega-centrais de redirecionamento até mesmo cabos atravessando oceanos, não poupamos esforços para assegurar o funcionamento da rede mundial de computadores. O problema é quando toda essa turma bate na sua porta.

O seu provedor é um monte de merda gananciosa, isso não se discute. Mas boa parte das dificuldades enfrentadas na conexão com a internet podem ser resolvidas configurando um pouco melhor a peça que está encarando seu monitor agora mesmo. Hoje falamos sobre os equipamentos que cuidam da internet na sua casa/escritório/porão escuro cheio de restos humanos.

Novamente: O que eu pretendo explicar aqui é funcionamento básico, cagando para termos técnicos e abusando de analogias. Se não entender nem assim, tem gente especializada em tratar de casos como o seu.

PERSONAL CORPORATION

A nossa querida empresa 100% feminina continua sua rotina extenuante. Presidente, secretária e arquivista tem que resolver todos os negócios fechados pelo setor comercial. Uma empresa não fica de portas abertas sem fazer compras e vendas.

MODEM

 

O modem é a tradutora da empresa. De uma forma simples, é o modem que efetivamente faz o seu computador entender a internet e vice-versa. Sem modem, sem internet.

O grande problema desse trabalho é que o pessoal de dentro da empresa é incapaz de conversar com quem está fora. Até ofereceram curso de inglês gratuito, mas era sábado de manhã e ninguém teve saco de ir. Ninguém além da nossa querida modem.

Ela escuta os pedidos malucos que vem da empresa e tem que achar quem possa oferecer o serviço. Ela traduz o pedido e manda para quem for necessário. Muitas vezes do outro lado do mundo.

MODEM: “Você quer um vídeo de uma mulher fazendo sexo com um polvo?”
PC: “Isso! Pede lá! Estou esperando”
MODEM: *pegando o telefone* “É… é… por favor… eu… p-preciso de um vídeo…”

E depois de tantos pedidos, é também ela que tem que receber. Ela não pode passar direto, tem que traduzir tudo de novo para a língua que os mimados da empresa consigam entender.

MODEM:
“Chegou o seu vídeo!”
PC: “Sem legenda! Traduz aí…”
MODEM: *suspirando* “E-ela… disse que o… o polvo… é muito… sexy… argh…”

Como vocês podem ver, é um trabalho estressante. Algumas vezes a nossa tradutora pode ficar completamente embananada com tanta coisa passando por seu escritório. Para nossa sorte, ela tenta ser didática explicando sua condição atual através de luzinhas piscantes. Quase todos os modems modernos tem indicadores luminosos na frente.

Você nem precisa saber para que serve cada um, basta saber que quanto mais luzes ligadas, melhor. Os sinais mais típicos que a tradutora manda quando está com problemas são: Luzes apagadas (desmaiou) ou todas as luzes piscando ao mesmo tempo (assistindo o Datena, o que é um problema!).

Em ambos os casos a sua melhor atitude é tirá-la da tomada, esperar pelo menos um minuto e ligá-la novamente. Tente não fuçar em mais nada. O motivo?

Moça reservada, a tradutora percebeu faz tempo que o ambiente da Personal Corporation não é nem um pouco saudável e resolveu virar terceirizada. Um modem atual não fica dentro do computador. Normalmente é provido pela empresa que está te mandando a conta da internet. Se a vendedora/compradora der chilique, você não pode “bulir” muito com ela se não quiser pagar mais ainda. Modem é, em último caso, problema da NET, Telefônica, GVT e afins.

Mas antes de ligar descascando para cima da verdadeira patroa da nossa tradutora, é bom lembrar que tem mais coisa nesse caminho. Se não for problema no modem (ou nos cabos deles), eles podem te cobrar pela visita.

ROTEADOR

 

Nem todo mundo tem, mas quando tem, é basicamente uma telefonista das antigas na frente de um daqueles painéis cheios de plugues. A telefonista também trabalha fora da empresa, e muitas vezes para mais de uma. Se a sua casa tem mais que um computador ligado na internet, você provavelmente tem um roteador.

E é fácil saber quem é quem. O modem (tradutora) recebe o cabo que vem da parede, o roteador (telefonista) recebe o cabo que vem do modem. O roteador fica entre o modem e o computador. Se estiver ligado em ordem diferente, não vai funcionar porra nenhuma.

A telefonista fica em contato com a tradutora o tempo todo, e assim que a tradutora termina o seu trabalho, manda tudo para a telefonista, que por sua vez faz a ligação com a pessoa certa. Se você tem um computador na mesa e um laptop, você tem duas empresas em casa. É a telefonista que resolve quais pedidos são de quem.

Mas a mesa da telefonista é CHEIA de botões. Um roteador aceita inúmeras configurações, algumas capazes de foder de vez a sua conexão com a internet. A sorte de quem não está interessado(a) em ficar aprendendo nerdices é que eles já vem de fábrica configurados para resolver conexões padrão. A telefonista tem um treinamento básico que funciona na maioria das vezes.

O treinamento básico da telefonista responde por “firmware” em nerdês. Quando ouvir essa palavra, não se assuste. O treinamento básico é uma coisa boa na maioria das vezes. A telefonista até vem de fábrica com algumas manhas de segurança. Um roteador não evita que você seja uma besta e abra aquele powerpoint recebido por e-mail, mas pode bloquear conversas suspeitas entre computador e modem.

E ela faz isso através de algo que você já deve ter escutado o nome: “Firewall”. A mesa da telefonista está cheia de plugues, mas para deixar as coisas mais organizadas, ela escolhe alguns deles e só deixa passar conversas por lá (no computador, o plugue se chama “porta”). Se alguém quiser usar outro plugue, ela bate o telefone na cara. Nada de fofoca no trabalho.

Uma telefonista é tão eficiente quanto sua mesa é organizada. Assim como a tradutora, ela também pode se enroscar toda e pedir socorro por sinais luminosos parecidos. Toda vez que ligar e desligar o modem, faça o mesmo com o roteador. Não adianta que só uma das duas esteja em condições de trabalhar. Tire da tomada, espere um minuto e ligue de novo. Costuma ajudar fechar a empresa (desligar e ligar o PC) nesse meio tempo.

A telefonista trabalha fora da empresa, mas costuma ser contratada. Se o seu roteador é seu mesmo, você tem uma outra solução (emergencial) para salvar a internet em frangalhos: Forçar a telefonista a lembrar do seu treinamento básico. Ou, resetar o firmware. Modems e roteadores costumam ter um botão minúsculo escondido na parte traseira, acessível só com uma ponta de caneta ou chave de fenda fina. Se você apertar esse botão E DEIXAR APERTADO, TEM QUE DEIXAR APERTADO por um minuto, pelo menos, a telefonista vai ter amnésia e se lembrar apenas do que sabia no momento em que foi contratada. Pode resolver uma emergência. Se você não entende chongas de computador, só faça isso em último caso.

O modem também tem o botão, mas mantenha suas patas longe dele. A tradutora é de família e não curte gente cutucando seu botão, e existe uma boa chance de não conseguir mais trabalhar até aparecer o técnico do provedor para te cobrar por isso.

Informações (in)úteis: Provedor é quem leva a internet até sua casa. A NET é uma provedora. Servidor é quem hospeda site. Confundir os dois te faz parecer um(a) panaca. Não pareça um panaca.

Extra: Você NÃO precisa de um roteador para acessar a internet em um computador por vez. Você PRECISA para usar a mesma internet em dois ou mais computadores. A telefonista não precisa trabalhar se a tradutora já souber com quem deixar cada coisa.

PLACA DE REDE

 

A placa de rede é a recepcionista da empresa. Você precisa de uma recepcionista para passar tudo o que chega da tradutora e/ou telefonista para quem realmente vá fazer algum uso dela. Se a informação chega por fio ou pelo ar, tanto faz. A função dela é simplesmente fazer essa ponte com o mundo exterior. Nem o namorado dela liga pra ela, pode esquecer que ela existe numa boa. Raríssimo o problema ser nessa parte.

A maioria dessas placas vem integrada no computador hoje em dia. Mas se precisar comprar uma daquelas sem-fio (com a anteninha), lembre-se que o barato sai caro. Você vai ter uma úlcera com a configuração de placas de rede wireless muito baratas. Tira o escorpião do bolso e gasta uns déi reáu a mais, ok?

EXTRAS

– Internet é baseada em pacotes (e nem é analogia, é o termo certo mesmo) de dados. As coisas nunca passam inteiras pela rede. Todos os arquivos são quebrados em minúsculos pedaços e colocados em envelopes endereçados. Eles nem precisam pegar o mesmo caminho, eles só precisam chegar no mesmo lugar. Downloads podem dar pau porque alguns desses pacotes perderam o rumo. Largue de culpar vírus por tudo.

– A conexão que te vendem é medida em bits, TODO o resto é medido em bytes. Bits e bytes são ordens de grandeza diferentes. É um golpe antigo do setor. Para simplificar: Uma conexão de 2 Mega anunciada pelo provedor significa 200kb/s para downloads (é sempre próximo de um décimo do “imaginado”). E sim, aqui na república das bananas é normal que subir arquivos seja MUITO mais lento que baixar.

– COLOQUE SENHA NA PORRA DO SEU ROTEADOR SEM FIO. Neguinho pode fazer uma coleção de pornografia infantil com a sua conexão e sumir praticamente sem deixar rastros. Até provar que focinho de porco não é tomada, você já pode ter tomado muito na cadeia.

Para dizer que dessa vez a conexão não foi tão boa, para pedir o telefone do 190 e denunciar o roubo do seu wireless, ou mesmo para dizer que é recepcionista e ficou ofendida: somir@desfavor.com

comofaz?O mercado nunca falha em seguir alguns padrões. Como muitos outros produtos, o computador pessoal passou por fases como “coisa do capeta”, “novidade interessante”, “necessidade moderna”, “obrigação” e agora começa entrar na fase em que todo mundo já tem/usa. Não é à toa que as grandes fabricantes mudaram a estratégia de alardear que seus computadores são mais poderosos para dizer que eles são mais… bonitos.

Steve Jobs, ex-presidente da Apple e atual acumulador de células, é reconhecido mundialmente por ter revolucionado o mercado de computadores pessoais; mas do ponto de vista deste que lhes escreve, ele não fez nada além de perceber o ciclo do produto antes da concorrência. Se as coisas continuassem sendo vendidas apenas na base de suas vantagens práticas, o mundo seria obrigado a entender como funcionam os computadores. E convenhamos, é muito mais simples escolher o computador mais bonito. Lei do menor esforço.

(Não é Enveja, acho o Steve Jobs um cara muito esperto. Não gosto da viadagem que ele tornou o mercado, mas respeito sua habilidade de ficar bilionário sacando como as coisas funcionam muito antes que o resto…)

A minha previsão é que com o passar dos anos, as pessoas vão acabar entendendo muito bem o que fazer com um computador, mas vão ignorar totalmente como ele funciona. Isso é bom para os negócios, mas não sem consequências para o usuário final. Por mais avançado que tudo pareça hoje em dia, de uma certa forma a tecnologia que alimenta os computadores é basicamente a mesma há décadas.

Aquele primeiro computador que você usou, talvez com uma daquelas telas que só mostravam caracteres verdes num fundo preto, e um computador atual, rodando um jogo 3D de última geração… Sabem qual a diferença? O tamanho. A tecnologia dos computadores avançou na base da miniaturização. O computador de hoje corresponde basicamente a bilhões de computadores dos anos 80 espremidos sobre uma mesa, ou mesmo sobre o seu colo. A ideia é a mesma. Ainda é uma sequência de zeros e uns transformada em pontinhos luminosos na tela.

O que eu pretendo com este texto é destrinchar partes comuns à maioria absoluta dos computadores, sem linguagem técnica e sem presumir que você entende lhufas sobre o assunto. Entender como esse trambolho funciona pode te dar ótimas dicas sobre como comprar o mais indicado a você e principalmente como reagir se defrontado(a) com falhas. Este tipo de conhecimento tende a ficar cada vez mais raro em conversas informais, e aposto que mesmo que não apele a você agora, ainda vai te servir para economizar dinheiro e encheção de saco.

E para não perder a oportunidade de dar aquele ar “desfavor” ao texto, tenho que dizer que sempre enxerguei o interior de um computador como um grupo de mulheres histéricas trabalhando em um escritório. E por que mulheres? Funciona tudo muito bem até o primeiro chilique. Vamos fazer uma visita à sede da Personal Corporation?

PERSONAL CORPORATION

O seu computador (laptop e tablet também contam) é um conjunto de peças que trabalham em conjunto. O grande segredo é ter a maioria das peças em harmonia. Uma precisa da outra para funcionar direito. Uma peça muito vagabunda influi mais no resultado geral do seu computador do que uma caríssima. Isso se chama “gargalo”.

Tem muito computador por aí que já vem de fábrica com gargalo. Colocam uma parte (QUASE SEMPRE memória RAM) exagerada num conjunto tosco e vendem mais caro. Cuidado: Vai ser tosco do mesmo jeito. Nenhuma peça resolve tudo sozinha.

Hoje eu vou falar sobre o trio mais importante de qualquer computador: Processador, HD e Memória RAM. Futuramente tem mais.

PROCESSADOR

 

O processador é a presidente da empresa, além de cuidar praticamente sozinha da casa, do marido, dos filhos e do pouco de vida social restante. Ela passa praticamente todos os minutos de sua vida tomando decisões. É tanta gente dependendo dela que mesmo sendo muito rápida para decidir, ainda forma-se uma fila enorme na porta do seu escritório.

E por incrível que pareça, a fila é o pior problema. Decidir é o que ela mais sabe fazer, a partir do momento em que a pessoa entra no seu escritório, as coisas vão bem rápido. Só que ela só pode tomar uma decisão por vez. Imagine a confusão se todo mundo entrasse junto?

A gentalha se acotovelando na fila na porta de sua sala só pode sair depois de conversar com a Presidente Processador. E sintam a responsabilidade: Se uma dessas pessoas na fila ficar sem resposta, começa um efeito cascata de desencontros e desentendimentos que acaba dobrando o tamanho da fila logo a seguir.

E como já chegamos a um ponto da tecnologia onde é MUITO difícil tornar a tomada de decisões pela presidente mais rápida, a solução é resolver a fila. É por isso que os processadores atuais (os Pentiuns e AMD’s da vida) começaram a trabalhar com clones da presidente. Ao invés de uma sala, várias como cópias idênticas dela para tomar as decisões. O que também ajuda bastante quando uma resolve dar chilique e parar de atender as pessoas. O número de travadas nos computadores modernos diminuiu também por causa disso.

Um computador não funciona sem a presidente. A empresa nem abre as portas se ela não estiver trabalhando. E se por um acaso ela tiver que fazer muito mais trabalho do que pode, começa a ficar de cabeça quente e para tudo numa tacada só. Se o processador esquentar demais, o computador para. E mais do que TODO mundo na empresa, o ar condicionado (Cooler) da sala dela tem que funcionar impecavelmente. Se o cooler parar de funcionar, o processador esquenta rápido, MUITO rápido.

A capacidade da presidente de tomar decisões é medida em “Gigahertz”. Uma presidente que funciona a 2 GHz é mais rápida que uma de 1.8GHz. Isso é sim muito útil, mas não é mais a única coisa a se considerar atualmente.

Cada cópia da presidente numa sala própria é um “Core”. E cada core divide a fila, além de diminuir o stress das presidentes. Na maioria dos casos, é melhor ter um processador com mais cores.

Temos uma questão valiosa aqui: A presidente tem que funcionar, e basicamente só isso. Você não precisa de uma formada em Harvard para cuidar de uma empresa pequena. Se você não joga jogos pesados ou trabalha com vídeo e/ou 3D, não precisa gastar uma fortuna com essa peça.

Dica: A presidente deve ter sobrenome Intel ou AMD. Você vai se arrepender se contratar outras famílias.

HD

 

HD é a arquivista da empresa. Metódica e arredia a decisões rápidas, é ela a única que realmente se lembra das coisas na empresa. Solteirona e mal-amada, a arquivista pode ocupar todo seu tempo organizando um monstruoso arquivo escrito com todas as decisões da presidente. E como sabemos que a presidente não para de tomar decisões, chega uma hora que a sala da arquivista já não comporta mais tanto papel.

E como aumentar a sala não é uma opção, ela tem uma solução: Escreve tudo com lápis e apaga o que não for mais necessário para escrever de novo por cima. Não é o jeito mais bonito de fazer, mas resolve o problema.

E não é só isso. No começo é tudo muito bonito, tem espaço para colocar tudo o que é relacionado perto um do outro. Mas o espaço começa a minguar logo. Eventualmente a arquivista precisa guardar um relatório financeiro no meio do arquivo dos recursos humanos. Está guardado, mas começou a ficar menos intuitivo achar a informação. A arquivista tem que se lembrar de caminhos cada vez mais complexos para chegar na informação que quer. E isso demora.

Num computador, isso se chama fragmentação. Quanto mais tempo você usa um HD sem deixar a arquivista fazer a “desfragmentação” (ou seja, reorganizar a bagunça), mais demorado fica o processo de pesquisa.

Demorar pode ser um problema, mas perder arquivos é ainda pior. A arquivista pode ficar tão maluca com esse trabalho que eventualmente rasga as páginas enquanto apaga o texto para escrever o novo. Ela até dá um jeito colando com fita ou cuspe na hora, mas pode acreditar que aquela página vai dar trabalho extra a partir dali. O certo é parar um pouco a correria e “corrigir erros” nas páginas rasgadas. Se tiver que escrever algo numa página bichada com pressa, pode ferrar todo o processo e perder a decisão da presidente para sempre. Arquivos somem assim.

E como eu já disse, nenhum livro é jogado fora, suas páginas são apagadas e reescritas. Isso quer dizer que a maioria dos arquivos ainda deixa rastros depois de apagados. Pode ser um rastro de grafite ou mesmo a afundada que fica no papel, mas podem confiar que raramente um arquivo se perde logo após ser “jogado na lixeira”. Existem vários especialistas em recuperar o que a arquivista tentou esconder. Não é seguro, se é que vocês me entendem…

O tamanho da sala da arquivista é medido em Gigabytes (GB), e mais recentemente em Terabytes(TB). Um TB equivale a mil GB. Ou seja: Um HD de 1TB é maior que um de 800GB. Quanto maior melhor, mas tenha em mente que pouca gente realmente precisa de tanto espaço.

A velocidade com a qual a arquivista consegue correr pela sala em busca do arquivo é a “RPM” do HD. Um de 7200 é mais rápido que um de 5400. Isso é importante, evidente. Mas tem uma outra coisa no HD, chamada “Buffer”. O buffer é a ante sala do depósito, onde a arquivista pode receber os pedidos de outros funcionários e deixar os arquivos que acabou de separar. Quanto maior o buffer, maior o local. Você também vai querer mais espaço para isso. Um buffer de 32mb é melhor que um de 16mb.

Tente sempre priorizar velocidade (RPM e Buffer) em detrimento de espaço (GB ou TB).

Estão ficando cada vez mais populares os HD’s com a sigla SSD. Eles funcionam de forma diferente, são mais rápidos e bem mais caros. Se você não for entusiasta de tecnologia, ainda não é hora de comprometer orçamento com isso. Ano que vem veremos como a coisa se desenrola.

MEMÓRIA RAM

 

A RAM é a secretária. Ela faz a ligação entre presidente e arquivista. Nossa secretária pensa muito rápido e basicamente faz tudo funcionar. Infelizmente, ela tem um caso sério de memória de passarinho. Se ela olhar para o lado enquanto fala com você, esquece totalmente o assunto. Por isso é muito bom que o trabalho dela seja basicamente correr de um lado para o outro com pastas de arquivos. Pouco espaço para distração.

O que não quer dizer que problemas não aconteçam. E muitas vezes não é culpa dela. Se a fila na sala da presidente estiver criando confusão, ou mesmo se a arquivista não for capaz de trabalhar rápido, ela fica parada, com cara de tacho, esperando alguma coisa acontecer. A memória RAM é tão rápida quanto o sistema permite. Por isso não adianta apenas ter uma secretária rápida feio o Usain Bolt, ela tem que ter espaço para correr e algum lugar para chegar.

Se a secretária ficar presa esperando presidente ou arquivista fazerem alguma coisa, a empresa toda fica esperando. Ou funciona todo mundo, ou não funciona ninguém. Pensando nisso pensou-se numa grande solução que já virou padrão nos computadores recentes: Ao invés de uma secretária correndo muito, duas correndo um pouco menos. É o que se chama de “Dual Channel”. Memória RAM funciona muito melhor em pares (e mais recentemente, em trios, o “Triple Channel”). Se uma ficar enrolada, a outra continua trabalhando. Sem contar a vantagem de que a espera cai pela metade. Ninguém precisa mais esperar uma secretária fazer todo o caminho para ter algo o que fazer. As duas correm sempre em sentidos opostos. Entregou um trabalho, recebe outro.

Você vai querer pelo menos duas secretárias na empresa. A RAM já é medida em Gigabytes (GB), e quanto mais melhor, evidente. Mas lembre-se: Duas de 2GB são melhores que uma de 4GB. Lembra que no mínimo sua empresa tem duas salas da presidência? Faz sentido ter uma secretária para cada.

E sem querer explicar muito, lembrem-se dessa regra: Mais que 4GB de RAM só faz diferença se o sistema operacional (Windows, por exemplo) for 64bits. Essa informação sempre está escrita na hora de comprar. Se você vir um computador ou laptop com mais de 4GB de RAM sem ter “64bits” escrito em algum lugar, corra.

RAM é medida em tamanho do corredor por onde a secretária passa (é bom ter espaço), que são os GB; mas também é medida em frequência, que é a velocidade com a qual ela corre. Como também é questão de número que aumenta de acordo com a velocidade, basta lembrar que o outro número também conta. (Memória RAM é bem mais complexa, e não sei se faz alguma diferença criar analogias para isso…)

Importante: Como HD e RAM costumam ser medidos em GB, lembre-se de uma regra simples para diferenciar a contagem. Se tem três dígitos é HD, se tem um ou dois, é RAM. 500GB só pode ser HD, 12GB só pode ser RAM. (TB SÓ pode ser HD).

Cinco páginas, eu vou levar bronca de mim mesmo.
E sim, vou escrever mais uma coluna, independentemente do interesse gerado. Achei bacana.

Para discutir analogias malucas com informações técnicas malas que está na cara que eu também sei, mas achei que não acrescentariam porra nenhuma ao texto voltado para leigos, ou mesmo para dizer que nemleu: somir@desfavor.com

Raios!

O desfavor teve acesso a um material de valor histórico inestimável: Cópias de cartas datadas da época do descobrimento do Brasil. Várias delas assinadas por um ilustre desconhecido que assina como Tiago de Somir, aparentemente um dos tripulantes da esquadra de Pedro Álvares Cabral. Mas o que realmente chama a atenção é a transcrição de material criado por uma nativa chamada Sallerê. Todos os textos foram atualizados e/ou traduzidos na medida do possível para a divulgação.

SALLERÊ

Desfavorã, 27 de abril de 1500

Cacique PapaPilha,

É a presente para cientificá-lo de que na data de ontem participei de um ritual estranho organizado pelo povo sujo e burro que desembarcou em nossas terras. Contarei desde o começo o ocorrido para sua apreciação.

Tudo começou quando caminhava pela floresta para alimentar nossos papagaios oferecendo-lhes seu prato favorito, a Kumba, mistura de diversas sementes. Foi quando observei uma movimentação estranha no litoral, maior do que a habitual. Os homens sujos estavam desembarcando diversos pertences e pareciam estar preparando algum ritual. Aproximei-me, por curiosidade, antes mesmo de alimentar as aves. Quando me viram, começaram a dizer palavras que, ao que pude entender, eram ordens para realizar trabalhos.

Continuei olhando inerte. Achei ingrato que os tenhamos acolhido em nossas terras e ainda por cima sejamos obrigados a trabalhar para montar a tribo deles. Não movi uma palha e pude sentir o ar de desprezo deles por isso. Gritaram comigo algumas vezes e me mantive imóvel, até que desistiram e continuaram sozinhos. Nós não lhes pedimos ajuda com nossos afazeres, porque eles se sentem neste direito? Bastante preguiçosos, não acha? Além de tudo burros, pois começaram a trabalhar em um momento em que uma grande tempestade estava por vir. Eles só prestam atenção em si mesmos, não percebem nada em seu entorno.

Em um primeiro momento, achei que estavam preparando uma festa ou uma homenagem ao povo de Desfavorã, afinal, permitimos que usem nossas terras com hospitalidade, nada mais justo. Mas posteriormente percebi que se tratava de um ritual particular deles, por sinal muito cansativo e sem propósito. Tudo começou quando cravaram na areia um tronco de árvore esculpido em uma área decorada para o evento (decoração de péssimo gosto, diga-se de passagem) e começaram a se reunir em torno dele. Fizeram sinais para que me junte a eles e eu cometi o erro de aceitar, acreditando que me fariam uma homenagem. Foram as horas mais desinteressantes e sem propósito da minha vida. Alguns companheiros Desfavorãs foram chegando e se juntarando a mim. Observamos o ritual dos homens sujos e burros.

Um deles, que capitaneava a cerimônia, apareceu trajando um roupa estranha, branca, com um objeto nas mãos. O objeto representava um homem coberto de sangue preso a um tronco de árvore pelas mãos. De imediato percebi a falta de veracidade. Nós sabemos muito bem ser impossível afixar alguém pelas mãos em um tronco, pois estas não suportam o peso do corpo, sendo o correto afixar pelos punhos, como fazemos quando assamos os membros das tribos inimigas. A credibilidade do evento já começou a ruir a partir daquela imagem. Outros homens trajando as mesmas vestes brancas se juntaram a ele e começaram as pregações.

Todos se reuniram em torno dos homens de branco, aparentando um interesse inicial. Foi quando o homem de branco começou a falar. Ele usava outro idioma diferente do que era falado pelos homens burros e sujos. Os ouvintes não pareciam entender e muitos deles adormeceram durante o evento. Sinceramente, não entendo o objetivo de um evento onde a platéia não compreende o que está sendo dito. Em determinado momento, todos se levantaram e levantaram as mãos. Acompanhei-os, por questão de educação e todos me olharam maravilhados. Um povo simplório e fácil de agradar, basta reproduzir seus rituais de fácil execução. Quando eles se sentaram, sentei-me novamente.

Curiosamente os aborígenes sujos e burros pareciam ter muito respeito pelo homem que conduzia a cerimônia. Era este mesmo homem que eu presenciei fazendo sexo com o Capitão da embarcação dentro da selva, conforme narrado na última carta. Talvez por isso ele trajasse vestes típicas das mulheres daquela tribo. Sei que são vestes femininas pois vi diversas em reproduções pintadas que me foram mostradas. Eram vestes destinadas exclusivamente a mulheres! Creio eu que na carência de mulheres na embarcação ele desempenha o papel de mulher. Achei versátil. Acho pertinente contar que hoje pela manhã, também presenciei este mesmo homem de saias fazendo sexo com uma capivara às margens de nossa cachoeira. Eles são bem versáteis.

Em determinado momento da cerimônia, todos se ajoelharam no chão. Neste momento achei que aquilo já havia passado dos limites. Eu e três companheiros estávamos ali por horas e não havia sido oferecida nenhuma comida ou bebida e o evento estava monótono a ponto dos próprios colegas dos organizadores dormirem. Nos entreolhamos e começamos a debochar: ajoelhamos, levantamos as mãos, gritamos. Todos olharam maravilhados. Sua inteligência rudimentar não lhes permitiu perceber que estávamos ridicularizando seu ritual.

Quando acreditamos que estaríamos livres para sair, o homem de branco que substitui as mulheres para fins sexuais voltou a falar. O mais curioso era a reação de seus colegas: alguns dormiam, outros faziam trabalhos manuais como afiar facas ou esculpir madeira e outros conversavam entre si. Ora, se evento não despertou curiosidade nem mesmo daqueles que estavam familiarizados com ele, como poderia despertar a nossa curiosidade? Por pouco não tivemos um surto de má educação e saímos no meio daquela palhaçada, afinal, ainda teríamos que alimentar os pássaros e a tempestade parecia cada vez mais próxima.

Para minha surpresa, o ritual terminou sem que ocorra nenhum sacrifício, nenhuma dança, nenhuma votação. Nada. O evento não tinha razão de ser. Ninguém foi nomeado, destituído e não ocorreu nenhum ato significativo que justifique uma festa ou rito de passagem. Aparentemente todos se reúnem para ouvir o nativo que faz sexo com capivaras dizer algo, que nem ao menos interessante parecia, porque boa parte deles não compreendeu e não se manteve atento ao que era dito. Ao final, o homem vestido de mulher que faz sexo com outros homens passou um recipiente de pano, onde todos depositavam metais. Ao que pareceu, aqueles metais eram valiosos para eles. Ou seja, promovem uma cerimônia sem qualquer objetivo ou atrativo e ainda cobram por ela! Um povo bastante estranho.

Também não compreendi porque todos nos olham com espanto, sobretudo para nossos corpos descobertos, se o elemento de adoração deles, fincado naquele tronco, também se encontra praticamente nu. Adoram uma figura nua porém se cobrem e se espantam com a nudez. Não há coerência. Talvez o homem de branco que faz sexo com outros homens estivesse fazendo um discurso para convencer seu povo a se libertar destas vestes e de tanta repressão, afinal, um homem que faz sexo com pessoas e animais no meio da floresta e se veste com roupas femininas deve ter um pensamento livre, ao menos esta seria a linha coerente de raciocínio. Espero que ele consiga convencer seus seguidores a serem mais flexíveis e abertos como ele.

Para piorar, ao final ofereceram a um por um algum tipo de alimento, embebido em um líquido de cor escura. Os homens sujos e burros fizeram fila e o homem de vestes femininas os alimentava, um a um, com aquilo. Em que pese meu desejo de ser educada, recusei-me a comer, pois poucas horas antes, como disse, havia flagrado o homem de vestes brancas fazendo sexo com uma capivara na floresta e introduzindo seu dedo em um orifício nada higiênico da do animal. Não nos sentimos tentados a comer alimentos provenientes daquela mão. Impressionante como eles não tem a menor noção de higiene. Ao perceber que a qualquer momento a tempestade se iniciaria, nos levantamos em direção à floresta.

Quando nos viram saindo, os homens sujos e burros gritaram conosco apontando para todo o material do evento e para as embarcações, como se quisessem ajuda para a transportar seus pertences. Rimos. Somos livres e não fazemos a tarefa dos outros, ainda mais quando havia uma tempestade se aproximando. Cada qual tem a sua tarefa e cada qual que a execute. Um tanto quanto preguiçosos estes visitantes. Sempre que podem tentam nos empurrar suas tarefas! Em nossas festas, nós cuidamos da decoração sem pedir ajuda aos convidados, pois sabemos que isto seria rude. Esses selvagens tem muito a aprender em matéria de educação e higiene.

Olhavam intrigados para o grande prato de grãos que eu carregava. Falavam sobre ele, apontavam com curiosidade. Decidi me explicar, na tentativa de passar um pouco de nossa cultura para eles. Disse o nome do prato, para ver se eles aprendiam: “Kumba”. Todos ficaram olhando. Eu repeti: “KUM-BA!” e coloquei no chão, no local onde habitualmente alimentamos os papagaios. Eles pareciam não entender, então, resolvi apontar para o alto, para o topo de uma árvore onde se encontravam os papagaios e repeti o nome “kumba” apontando para cima diversas vezes, na tentativa de mostrar que era alimento para as aves. Foi quando finalmente começou a cair uma tempestade com raios e trovões.

A cena que se seguiu foi ridícula. Os homens sujos e burros imediatamente associaram a tempestade ao prato de comida, apontavam para o prato, para os céus e gritavam e corriam de medo. Ora, bastava olhar para os céus horas antes para saber que uma tempestade se aproximava. E bastava ser racional para saber que um prato de comida no chão não tem qualquer poder sobrenatural. Mas eles não entendiam nada, e ao não entender, em vez de estudar e buscar conhecimento, divinizavam. Espero que com o tempo estes homens sujos e burros acabem entendendo que uma tigela de comida no chão não pode causar mal a ninguém, apenas um homem pode causar mal a outro homem. É tão difícil perceber isso?

Em menos de uma noite o ocorrido virou mito. Hoje pela manhã vi um grupo deles andando nas proximidades do prato de comida. Quando perceberam que estavam próximos ao prato, começaram a gritar “Uma kumba! Uma kumba!” e desviaram seu caminho, com medo de passar próximos a um inocente prato cheio de sementes. Sinceramente, talvez seja hora de expulsá-los de nossas terras. Sua burrice está tornando o convívio insuportável. Sem contar que cada vez mais deles estão chegando. Devemos agir enquanto somos maioria.

Depois de presenciar tanta covardia e ignorância, desisti dos forasteiros e me dirigi à Tribo dos Carijós para realizar meu relatório diário destinado a orientar nossa invasão. Continuo afirmando que será muito fácil invadi-los, pois são desunidos e despreparados. Seu cacique Ti Xã, como sempre, encontrava-se repousando. Os outros membros discutiam entre si de forma agressiva. Ao que tudo indica, amanhã haverá uma competição importante naquela tribo, que acabará gerando a expulsão de um dos membros. Sinceramente, espero que a mulher seja expulsa da tribo. Ela é quase tão chata quanto a cerimônia que presenciamos hoje.

A fragilidade da tribo é tanta que o seu índio mais jovem, que deveria ser o mais destemido e ousado, se assustou com alguns ruídos da selva e se recusou a apagar sua tocha para dormir. Também se recusou a proteger mulheres da tribo que aparentavam medo, alegando que não era homem. Ele disse “Não tem nenhum homem aqui”. Talvez ele seja convidado para vestir a roupa feminina preta e pregar aos nossos visitantes burros e sujos, pois ele seria uma boa mulher. Observarei se ele faz sexo com capivaras para verificar se atende aos requisitos.

Curioso é que, mesmo depois de ter proferido que não era homem, o mesmo índio se desentendeu com um dos patriarcas da tribo e bateu no próprio peito afirmando que era homem e manifestando seu desejo de embate corporal. Vale lembrar foi este mesmo índio que solicitou a expulsão de uma índia da tribo porque esta o teria agredido. Desculpe, Cacique Papapilha, se meu relato aparenta contradições, mas esta tribo dos Carijós não tem a menor coerência. Fica impossível depreender qualquer padrão de comportamento ou de pensamento. A única certeza é a de que eles estão se matando entre si e isto só irá prejudicá-los.

Apesar da invasão ser fácil, sinto-me no dever de informar que as condições da aldeia são precárias. Em função da incompetência dos índios, a mesma se encontra suja e mal cuidada. Além disto, no caso de invasão, sugiro que os índios sejam destinados à alimentação de nossa aldeia, pois não é possível uma convivência pacífica com os Carijós e estes jamais se adaptariam a nossos costumes. A exceção seria o cacique Ti Xã, que por sua sabedoria poderia ser mantido entre nós. Já presenciei belíssimos rituais de dança e canto comandados por ele e ficaria honrada em participar de um deles.

A inaptidão dos aborígenes Carijós é notória. No trato com um animal de grande porte, uma das índias foi mordida nas costelas. Em matéria de higiene eles também são precários: além de manter as instalações da aldeia imundas, ainda tem o hábito de urinar no mesmo local onde dormem e guardam seus pertences. Não há como adaptar criaturas tão rústicas ao nosso convívio. Além disso brigam entre si todos os dias, se ofendem, fazem ruídos altos. Vivem em um ciclo doentio de ofensas, perdão e mais ofensas. Por isso, sugiro que o cacique Ti Xã seja mantido prisioneiro para nosso aprimoramento musical e os demais sejam servidos em uma refeição.

Acredito que na grande disputa de poder que será realizada amanhã teremos mais indícios para avaliar a melhor estratégia de invasão. Aguarde por mais relatos.

Novamente reitero que estou realizando diversas tarefas sozinha. A situação prossegue a mesma. O índio Urinã Piá continua desaparecido e não me auxilia em nada. A situação beira o insustentável. Solicito com urgência auxílio em minhas tarefas e recomendo que seja traçado plano para retirar os homens sujos e burros de nossas terras. Com todo o respeito que lhe devo, informo que se não forem adotadas providências em breve não será possível prosseguir com meu trabalho.

Sallerê