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O sol acabara de se por em São Paulo, a cidade quieta como nunca. Nas ruas não haviam congestionamentos, as calçadas vazias, lojas fechadas. No horizonte, milhares de janelas escuras. Podia-se ouvir o latido de cachorros irrequietos há quilômetros de distância. Dentro de um centro comunitário, algumas dezenas de pessoas, principalmente idosos e crianças esperavam pelas palavras de um homem posicionado diante do microfone no palanque. O burburinho da sala cede rapidamente quando o homem pigarreia por atenção.

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Foi segredo por mais ou menos uns dois meses… quer dizer, não que tenhamos confirmado, mas já aparecia em fotos de astrônomos amadores e começou a inundar a internet. O pessoal soltou uma versão oficial sobre ser uma tempestade refletindo a luz do Sol, mas apareciam tantas imagens que eventualmente só ficamos quietos e contamos que a conspiração ridícula criada pela parcela mais lunática dos interessados criasse dúvida suficiente na população geral. E, enquanto estávamos nos preparando para mandar uma missão pra lá, funcionou bem. Depois, bom, todos sabem que depois ficou impossível esconder…

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Matias Francisco Neves, 23 – Segurança

Juro que eu não sei de nada… faz mais de três anos que eu trabalho lá e ninguém me dizia porra nenhuma, cara. Dá… dá pra baixar a luz? Meu olho ainda tá mal… o brilho. Isso, melhor… eu… eu só batia os documentos, via se podia entrar. Carro, caminhão… até no meu turno sempre tinha bastante movimento. Pra você ter uma ideia, eu nunca passei da linha azul. Eu tava tentando ir pro time interno. Vou te falar a mesma coisa que falei pro pessoal que chegou lá logo depois… antes de explodir, ficou tudo quieto. Mas quieto mesmo, de escutar o César respirando do outro lado da guarita. Ficou assim uns segundos, e aí… bum! Cara, não tá dando a luz não, cabeça doendo ainda. Posso voltar amanhã?

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Para onde quer que virasse a cabeça, mais e mais pessoas naquele estado. Grunhidos ininteligíveis, lamentos, choros e berros formando uma sinfonia de desespero ao seu redor. O que mais o desesperava, contanto, eram os breves momentos de silêncio absoluto entre as vozes. Nada para incomodar os olhos, finalmente. Nada além da luz. Não se lembrava dela ser tão poderosa. O ar teimando em não preencher os pulmões lançava fagulhas na visão e pontadas de dor pelo corpo, agora inerte.

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FUNCIONÁRIO: Unidade 9BX, iniciar protocolo de comunicação.
UNIDADE 9BX: Saudações, o senhor deseja me dar um nome?
FUNCIONÁRIO: Gabriela.
GABRIELA: Nome registrado, atenderei por Gabriela ou Unidade 9BX a partir de agora. O senhor deseja ser tratado por qual nome?

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