Sally Surtada: Pensando nele.

¡AY QUE RICO!

Agora que Madame está de férias, posso escrever meus textos de mulézinha sem ele me chamando de medíocre para baixo.

O assunto que venho tratar hoje é desagradável. Já passei por situações como essas mais de uma vez na minha vida, evidente, por culpa da minha própria imbecilidade – e não aprendi com os meus erros. Talvez muitas de vocês tenham discernimento e maturidade para não fazer esse tipo de bosta. Nesse caso, passem amanhã, porque vão achar o texto idiota.

Ficar com alguém pensando em outra pessoa. Entendeu? Quando você está completamente apaixonada por uma pessoa com a qual, seja lá por que motivo for, não tem condições de ficar com você naquele momento (não vale nada e só te faz sofrer, tem outra relação, está distante, etc). É aquela situação onde você tem muito claro na sua cabeça quem é a razão do seu afeto, entretanto, sabe que não pode ou que é melhor não tê-lo ao seu lado.

Pessoas racionais procuram manter outros relacionamentos paralelos com parcimônia e maturidade, e, caso não consigam, não se relacionam com ninguém até a poeira abaixar. Pessoas descompensadas da cabeça pagam paixão até a exaustão, até que tem um rompante de “Chega! Isso está me consumindo! Preciso ficar com alguém para parar com esse TOC” e se colocam nesta tenebrosa situação de se forçar a ficar com alguém pensando em outro.

É injusto com todo mundo, inclusive com o Zé Ruela que vai ser usado para tentar esquecer o outro Zé Ruela. Já me aconteceu de ficar com homens que eu achava absurdamente atraentes nestas condições e acabar pegando um nojinho absurdo deles. Mas… porque falar assim, por alto, se eu posso contar detalhes sórdidos da minha danação para vocês?

Quando acontece uma porra dessas comigo, costuma se dar da seguinte forma: Zé Ruela atraente assediando e eu resistindo, porque afinal, gosto de outra pessoa. Um belo dia, por razões que a razão desconhece, me dá um revertério mental e me sinto compelida a tomar uma atitude. Daí fico repetindo frases babacas para as minhas amigas, frases como “Chega! Não agüento mais viver assim! Tá na hora de sair, de conhecer gente, de dar uma chance para mais alguém!” ou ainda “Eu preciso ficar com outra pessoa, para ver se tiro ele da minha cabeça!”.

Eu sei que dá merda. Eu sei que vai ser ruim. Mas eu vou e faço mesmo assim, afinal “vai que dessa vez dá certo?”. Daí, no meio do surto de revolta por estar gostando tanto de alguém que não está comigo, eu começo a retribuir o flerte do Zé Ruela Estepe, assim, de uma hora para outra. Ele, que antes estava apenas Under my Umbrella, vira a bola da vez. Você também faz isso, leitora? Ou eu sou a única demente aqui?

Daí lá vamos nós sair com o Zé Estepe. Como dizem nossos cultos leitores, a LEI DE SMURF (wat) impera. Sempre que você sai com o Zé Estepe, o Zé Oficial liga, manda mensagem ou se faz presente de alguma forma, mesmo que seja através de uma música que toca no rádio do carro. Daí começa a bater aquela depressão, aquela saudade e aquele arrependimento mortal de estar ali. Mas já é tarde, agora você tem que ser educada e sorrir. Você começa a contar o tempo mentalmente para o final daquele encontro, tipo criança em viagem que fica perguntando “falta muito?”.

Eu, que sou particularmente surtada, quando sou beijada pelo Zé Estepe, começo a sentir uma vontade de gritar o nome do Zé Oficial. Mais alguém sente isso? Acho que não. Também sinto uma vontade quase que incontrolável de sair correndo, tipo, abrir a porta do carro e correr, correr, correr, até chegar onde está o Zé Oficial. Tudo isso se passa na minha cabeça e é impressionante como os Zé Estepe nunca percebem. Lá estou eu sorrindo, com uma cara normal, pensando em sair correndo.

Daí você está lá, no meio do encontro, no barzinho, no cinema, no restaurante ou onde for, e enquanto o Zé Estepe fala, tentando te impressionar, e você só pensa no Zé Oficial. Minto. Você também pensa “O que *&¨%$#@! eu estou fazendo aqui!” Daí vem a vontade de chorar. Às vezes meu olho até se enche de lágrimas. Mas você é forte, você sorri e faz sinal afirmativo com a cabeça enquanto o Zé Estepe fala, como se estivesse muito interessada. O Zé Estepe pode estar lá pedindo seu cuzinho que você sorri, meiga, com o pescoço tombado para o ladinho, fazendo sinal afirmativo com a cabeça, com o pensamento sem parar no Zé Oficial.

E quanto mais o Zé Estepe tentar contato físico com você (beijos, amassos, agarrões e cia) maior será o nojinho que começa a bater. E quando o nojinho vem, é como menstruação no dia que você saiu de casa de branco. Você pensa “não, isso não pode estar acontecendo comigo AGORA, é só impressão… não… não… nã… PUTA QUE PARIU, está acontecendo, se eu ficar bem quieta ninguém vai perceber, não posso me mexer” – mas as pessoas acabam percebendo, em ambos os casos.

Quando o nojinho começa a aflorar, depois dessa primeira fase de negação e auto-esculhambação do tipo “Puta merda, o cara é bonito, é legal, é inteligente… qual é o meu problema? COMO PODE eu não estar atraída por esse homem? Eu sou uma mula!”, começa a bater o desespero. Você pensa nas horas que ainda vai ter que passar com o Zé Estepe e começa a mentalizar qual será a desculpa menos vergonhosa para fazer esse encontro acabar mais cedo.

Minhas favoritas são: algum problema de saúde, tipo uma dor ou algum outro sintoma, um telefonema fictício me chamando para alguma emergência ou ainda uma falsa obrigação de acordar cedo no dia seguinte. E nasce toda uma atriz em mim. Procuro dar a maior veracidade possível á minha interpretação, apesar de que, nem precisaria, homem não saber ver o desespero nos olhos de uma mulher, homem não sabe ver sinais claros de rejeição.

Se o Zé Estepe resistir a esta retirada precoce – e geralmente eles resistem, porque vem batalhando faz tempo e tomando um monte de “não” – pode ficar complicado se retirar. É preciso ceder terreno e continuar mais um pouco naquele inferno na terra, sempre sorrindo, com o pescoço de ladinho, fazendo um “uhhumm” de vez em quando, fingindo concordar, torcendo para que neste momento ele não esteja pedindo seu cuzinho. Negar cuzinho depois que concordou em dar é missão impossível.

Quando finalmente você consegue se livrar do Zé Estepe e fazer ele te deixar em casa, vem aquele pior momento de todos: a agarrada final. Seja no carro, a pé, na porta de casa… enfim, depois do programa o Zé Estepe quer sua contraprestação e essa é a hora em que ele cobra. Daí vem as mais diversas desculpas para não fazer nada de cunho sexual, que vão desde um simples “não, acho que ainda é muito cedo” até o risco máximo na tabela Sally: “Eu queria muito, mas estou menstruada”, porque vai que o cara topa? Além de dar para quem não quer, ainda paga de mentirosa se não estiver menstruada. A Treva. Mas tem gente que usa, só para o Zé Estepe não ficar enchendo o saco e insistindo.

Você dá uns amassos no Zé Estepe, só para constar, em um misto de pena e obrigação social, se jurando que nunca mais faz isso na vida. Daí o Zé Estepe vem com aquele papo de deixar marcada a saída para o dia seguinte, ou quer trocar contatos, ou quer fazer alguma coisa que prenda ele a você. Você só consegue pensar em como nunca mais quer sair com ele na vida e passa seu telefone, sorrindo, porque também não quer magoá-lo. Ele anota, todo pimpão, crente crente que você está caidinha por ele. Fazer o que? Eu não tenho sangue frio o bastante para dizer “Olha, te achei muito bacana, mas não vamos sair uma segunda vez não”.

Daí você entra na sua casa louca para ligar para o Zé Oficial e dizer o quanto gosta dele, o quanto sente falta dele e o quanto queria ficar com ele. Mas não faz, porque ta tarde pra caralho e isso seria um atestado de maluca. Não que você não seja, porque se você, como eu, faz essas coisas, você é doida varrida, mas ele não precisa saber disso. Não tão cedo. Se a saudade for muita, é possível uma crise de choro. Normal. Norrrrmaaaal.

Enquanto você amarga sua ressaca moral e pensa que deve se odiar muito para se obrigar a fazer esse tipo de coisa, chega uma mensagem no seu celular. É o Zé Estepe, dizendo que adorou sair com você, mandando um beijo de boa noite ou algo do tipo. Você sente um arrepio. Você queria que fosse uma mensagem do Zé Oficial. Mas não é.

Nessa hora, às vezes surge um dilema. Se o Zé Estepe te tratou muito bem, dá aquele peso na consciência, aquela sensação de “quem sabe se eu der mais uma chance a ele…”. Sabe aquele discurso antigo de que “o amor vem”? Não sei para vocês, mas para mim o amor NÃO VEM quando eu me forço a sair com alguém pensando em outra pessoa. O que vem são o nojinho, a aversão e o desespero. No meu caso, é pior ainda, porque como eu não bebo, tenho que passar pelo encontro todo plenamente consciente e sóbria. Visão do inferno.

O fato é que em algum momento pode dar uma pena em jogar fora uma pessoa legal que está interessada em você. Jogue. Jogue porque é sacanagem sair com alguém estando nessas condições. Dificilmente sai alguma coisa boa de um encontro forçado. Um segundo encontro forçado vai ser ainda mais ruim do que um primeiro.

Além disso, parece que rejeição é afrodisíaco para homem. Quanto mais cagando e andando a gente está internamente, mais eles parecem se interessar e se apaixonar! Sério, acho que mulher deve exalar algum hormônio da rejeição que desperta o interesse de um homem! Se você continuar saindo com o Zé Estepe pensando no Zé Oficial, o Zé Estepe vai acabar perdidamente apaixonado por você.

Dito isto, temos outro problema: como dar um fora no Zé Estepe sem magoar. Dizer a verdade magoaria, além de causar uma certa putez: se estávamos com outro na cabeça, porque merda aceitamos sair com eles? Zé Estepe, a gente aceita porque está tentando esquecer esse outro. A gente aceita porque a gente tem a esperança de que ficar com você seja algo tão maravilhoso, praticamente mágico, que vá diminuir um pouco a dor de não estar do lado da pessoa que gostamos. A gente aceita porque está se sentindo sozinha. A gente aceita porque tem a esperança fantasiosa de conseguir transferir para você todos os sentimentos que tem pelo outro. Não fique com raiva da gente, Zé estepe. Não é por mal.

Na maior parte das vezes, a gente acaba mandando um fora genérico daqueles manjados: “estou confusa” ou “estou num momento ruim” ou pior ainda “não quero me envolver com ninguém agora”. Vergonhoso. Muito vergonhoso. Essa mania que mulher tem de querer ser salva. Cabe a nós lidar com os nossos sentimentos, esquecer o Zé Oficial e só depois começar a pensar em se envolver com alguém. Mas na prática isso é muito difícil. Quem nunca ficou com um pensando em outro em um momento de desespero?

Para pedir que o Somir volte e me faça postar Desfavor Explica ou Flertando com o Desastre, para dizer que você é doida varrida que nem eu e gostou do texto e para dizer que acabou de perceber que já foi Zé Estepe de uma mulher: sally@desfavor.com

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Comments (12)

  • É, li o texto e achei muito interessante, mas confesso, que isso não aconteça somente com mulheres, sou homem e já senti exatamente a mesma sensação… invertido os papéis mas da mesma maneira, o nojinho, a comparação, a sensação de "poha, não vou conseguir me apegar nunca a outra pessoa porque penso nessa loca aindaaa!?!" terrible pessoal… Mas uma hora as coisas vão se resolvendo, só que quando a coisa é muito forte complica a parada… Acho que estou começando a superar… Estou me envolvendo com alguém que "parece" estar me suprindo… Mas fica a dica, nuuuunca force algo que não é de coração… eu fiz isso mais de uma vez no inicio e só me ferrei e magoei gente que não tinha porcaria nenhuma a ver com o pato… então… nao se magoe e não magoe ninguem que não tenha culpa da parada… EM TEORIA É FÁCIL NÃO? Hahahaha… Abraço a todos, e parabéns pelo texto e pelo espaço aqui!!!

  • me identifiquei em algumas coisas com o texto, pensei que estivesse ficando doida, pq isso é perseguição demais mas nao tem como controlar quando penso que já estou bem, me vejo pensando e querendo que o zé estepe seja o zé oficial.

  • Poxa, amiga Sally, sou EXATAMENTE como você.
    E nem preciso estar apaixonada por outro: algumas vezes basta DAR UMA CHANCE para alguém e, logo no início do encontro, me arrepender de estar ali.

    Impressionante como tentamos nos enganar. De cara é possível saber se uma pessoa nos interessa de verdade ou será mais um Zé Estepe. E, ainda assim, insistimos no erro. É mais ou menos como quando saímos com um grande AMIGO e logo nos arrependemos e ficamos num impasse: como chegar pra ele, magoá-lo, dizer que não tem nada a ver juntos e ainda mater a AMIZADE? Cansei de passar por isso.

    Hoje, acredito, aprendi a lição.

  • Esse texto me deixou enojada…comigo mesma, por fazer essas coisas e, por vezes, magoar alguém que não mereceria mesmo passar por isso…

    Suellen

  • Tenho q concordar com a Grazi. Adoro os textos da Sally em geral, pq ela fala como eu falo. Escracha MESMO! hahaah ADORO!

    PS(enorme: Sally, vc tb tem uma tendência a ficar com alguém e no dia seguinte ou atém mesmo no mesmo dia já ter enjoado(MUITO)da pessoa em questão(no caso de não ter nenhum outro em seu pensamento)? Isso acontece direto comigo! Acontecia, acontece e acontecerá! ODIAVA(odeio, odiarei)quando algum marmanjo me ligava (liga, ou ligará haha) no dia seguinte,ou mandava (…) mesg fofa, ou já se declarava (…)todo! Tenho um puta asco disso! A não ser qd estou namorando sério e estou apaixonadinha ai eu gosto MUITO, mas tb não precisa exagerar!
    bel

  • Pensei q eu era a única a sentir nojinho!!!
    Na verdade é mais q nojinho!! Me dá uma aflição loucaaa!! Até a mão inocente no meu ombro/mão/cintura/qqr lugar, eu tiro! Me irrita QUALQUER contato físico nessas horas!!
    Tá.. acho q sou um pouco mais louca! Ou mais chata! Mass… =/
    A diferença é q, na maioria das vezes, eu saio com a pessoa e nem beijo.. então, o cara fica bravo, insiste, etc… mas não encontra abertura pra pressionar mto! Dessa parte eu meeio q me livro!! (ou deixo de conhecer um cara legal!! VAI SABER! Vai q daqueela vez era O cara… hahaha)

  • É ruim que a mulherada de hoje em dia ainda fica nessas babaquices sentimentaloides. Heloow, Sally. Acorda!

  • Puxa a tristeza é grande mesmo.
    A sensação é de vazio, mas as vezes mesmo falando pro Zé estepe, que já gostamos de outro, ele fica ali em cima, achando que vai "fazer esquecer o outro".Saco

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