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Ele disse, ela disse: Esticando as pernas.

| Desfavor | | 19 comentários em Ele disse, ela disse: Esticando as pernas.

O teste funciona... BEEP BEEP BEEP!Todo mundo deve conhecer um mentiroso. Não estamos nos referindo a uma pessoa que minta de vez em quando, estamos tratando aqui daquela famosa figura do mentiroso compulsivo: A pessoa fica famosa por contar histórias improváveis e revirar olhos por onde quer que passe.

Sally e Somir tem métodos distintos de lidar com esses mentirosos, enquanto ela acha melhor não dar trela, ele adora dar corda. Não mintam, leitores, apostamos que vocês também tem uma opinião sobre o assunto.

Tema de hoje: Deve-se desmentir o mentiroso?

SOMIR

Eu leio o tema de hoje como: Deve-se dar murro em ponta de faca? Em ambos os casos, a minha resposta é não. Mentir é muito comum, mas normalmente as pessoas tem motivos pontuais para isso. Elas querem resolver alguma situação, mesmo que de uma forma incorreta.

Acredito que faça sentido confrontar a mentira como “ferramenta”. Se a pessoa quer usar uma mentira para te prejudicar, ou prejudicar uma pessoa com a qual você se importa, vira questão de legítima defesa. Favor não entender que eu estou pregando bananice aqui.

Só que a mentira não precisa apenas ser um meio, ela pode ser o fim para muita gente. Já conheci várias pessoas que mentem para serem definidas pela mentira. Esse tipo de mentiroso não poupa esforços (ou respeito próprio) para contar vantagem e ser reconhecido por coisas que não fez.

Evidente que gente descompensada assim não tem lá muita noção da realidade. As mentiras costumam ser óbvias como as de uma criança. E com tanta experiência, acabam mentindo para si mesmos que os outros acreditam nessas baboseiras. Pode até funcionar nas primeiras vezes, mas até o mais tapado de uma platéia começa a perceber como as coisas não se sustentam.

É possível que aquele tiozão barrigudo do seu trabalho tenha dado uma sorte tremenda e arrastado uma ninfeta gostosa para o motel na noite anterior. Improvável sim, mas improvável não é impossível. Ei, por mais que levantasse suspeitas, eu faria questão de parabenizá-lo. Agora, se ele começasse a contar causos parecidos com frequência, ficaria bem na cara que ele inventa as situações ou utiliza serviços profissionais. É questão de bom-senso, um mínimo que a maioria das pessoas vai ter.

E se quem conta essas histórias não consegue perceber como está se tornando uma piada, não dá para se esperar muito mais compromisso com a lógica. Faz alguma diferença apontar o dedo na cara do cidadão e dizer que ele está claramente inventando tudo isso? Mentiroso compulsivo não sabe a hora de se entregar. Vai dar chilique e virar todo o arsenal contra você. O babaca inofensivo pode virar um desafeto permanente. Você precisa disso? Eu não.

O mentiroso tende a estar tão afastado da realidade que funciona como um kamikaze social. Ele se fode todo para afundar alguém. Pode começar a mentir tanto que alguma delas cola. E eu já escrevi como até coisas improváveis podem parecer verdade se você não conhece bem os envolvidos. O problema de comprar briga com maluco é que ele não tem nada a perder e nem todo mundo tem noção que ele é maluco. Já vi acontecendo, Sally sabe também: Se a pessoa não consegue te empurrar para o fogo, pula nele e tenta te puxar.

Não é ser banana, mas ajuda muito na vida não comprar briga desnecessária.

E mesmo de um ponto de vista mais altruísta, difícil imaginar que isso sirva de lição para um adulto. Criança leva bronca quando mente de forma ridícula, a maioria de nós aprende que não é tão fácil quanto inventar o que bem entender. Se uma pessoa chega na vida adulta sem essa noção de que mentira tem que parecer verdade, improvável que adquira depois.

Pra muita coisa a pessoa precisa perceber sozinha o que está fazendo. Desmentir liga mecanismo de defesa, fingir que acredita torna a mentira cada vez mais trabalhosa. Onde parece ser a falha na armadura? A pessoa tem que se foder SOZINHA para não ter a chance de botar a culpa nos outros. Ou as mentiras são o problema, ou a pessoa que a desmentiu é.

Deixar o mentiroso compulsivo se enforcar com a própria corda é melhor para quem mente e para quem ouve. Mas evidente que tem um extra aqui… Deixar a pessoa livre para mentir é mais engraçado.

Não precisa ter peninha. Por mais que soe patético para quem ouve, para quem conta é um momento de glória. O mentiroso se sente bem enquanto aluga os outros com suas baboseiras e parece imune à vergonha que a maioria das pessoas sente quando começam a duvidar de suas histórias.

Se por alguma necessidade social sou obrigado a presenciar um desses momentos, faço questão de aproveitar. Tudo para evitar a sensação de vergonha alheia, algo que me dói na (inexistente) alma. E, porra, eu não tenho essa imaginação fértil e capacidade de mentir tão apurada para ficar desperdiçando com bom senso…

É uma sensação muito boa conseguir apoiar o mentiroso e carregar o resto da platéia. Não vai fazer muita diferença na vida de ninguém… imaginem como um jogo. A diversão aumenta consideravelmente quando alguém saca o que você está fazendo e começa a jogar junto.

Carpe mentiren (latim de mentira). Derrubar historinhas mal contadas qualquer um faz, quero só ver dar base para elas e deixar o mentiroso ainda mais desesperado. Pode até parecer que é justamente o que ele quer, mas mentiras de alto nível são INFERNAIS de se manter. Uma coisa é dizer que sua família é muito rica, outra é dizer que abandonou toda a herança porque seu avô não permitiu que você se casasse com a filha da empregada. E se você souber COMO dar trela, força o mentiroso a contar uma história completamente diferente do que tinha planejado. É só ir plantando fatos e fornecendo meios para que ele use a sua guia para formular os “acontecimentos”.

Bobagem perguntar como uma pessoa conseguiu vencer três bandidos armados numa briga, melhor sugestionar: “Eles não atiraram porque o lugar era público?” E boa sorte adicionando várias testemunhas na história… Depende de como a coisa aumentar de proporção, o mentiroso não vai te odiar, mas vai ficar com o cu na mão de se enfiar em mais uma mentira complexa falando com você.

Às vezes a criança precisa colocar o dedo no fogo. Nada mais didático que se foder por conta própria.

Para dizer que nunca acreditou em uma palavra que eu disse, para dizer que está rindo do que eu escrevi enquanto toma champanhe com a Gisele Bündchen, ou mesmo para agradecer pela dica de como passar melhor o tempo no escritório: somir@desfavor.com

SALLY

Tem gente que mente muito. Mente que nem sente. Perde a noção e o bom senso quando mente. É sobre esse tipo de pessoa que vamos falar hoje. Qual é a melhor postura quando você se depara com uma dessas pessoas que mente, mente e mente sem parar? Fazer de conta que está acreditando ou desmentir no ato?

Bom, minha vida e meu tempo são muito curtos e valiosos, não me agrada a idéia de ficar batendo palma para maluco dançar. Até porque, por experiência própria eu lhes digo: este tipo de pessoa mentirosa não tem limites. Se ela achar que o interlocutor está acreditando, ela sempre vai subir um degrau a mais na mentira e continuar paunocuzando seus ouvidos, por mais absurda e contraditória que a mentira fique. Não, esse tipo de pessoa não tem noção do ridículo.

Confessor que já fiz isso que o Somir falou, de fingir que acreditava nas mentiras só para não ter o trabalho de confrontar a pessoa e me poupar de uma polêmica materializada na forma de uma pseudo-ofensa com meu descrédito. Ele viu bem a merda que deu. A pessoa não percebeu que estávamos rindo das suas mentiras e surtou total quando finalmente cansei de ser ouvinte de maluco, se voltando contra mim. Eu sei que é tentador ficar rindo de uma pessoa ridícula que não percebe que está sendo ridícula, mas não compensa. Por mais que seja divertido rir da cara de pessoas dodóis da cabeça que inventam mentiras incoerentes, mas isso gera uma dependência do mentiroso em você e quando você quer se livrar dele é um mega-drama e a paunocuzação acaba sendo maior do que desmentir de primeira.

Sem contar que, vai, é um pé no saco ter que ficar ouvindo mentiras incoerentes de forma progressiva. Em um primeiro momento (digamos, os primeiros dez segundos) é engraçado ver a pessoa fazendo papel de palhaça enquanto se acha super espertona por “convencer” terceiros de sua mentira, mas logo depois começa a ficar irritante e ridículo. Não tenho saco para ficar prolongando um festival de mentiras idiotas, geralmente de intuito manipulatório ou de afago a uma baixa auto-estima do autor. Acho que o mais saudável e desmentir.

E quando eu falo em “desmentir”, não me refiro a atitudes drásticas como apontar o dedo e chamar a pessoa de mentirosa. Melhor não, é sempre bom poupar um acesso de raiva de gente mentalmente torta. Existem formas de desmentir sutilmente, de cortar sem confrontar, dando apenas o recado de que você não está se convencendo do que está sendo dito, sem necessariamente chamar o mentiroso de mentiroso ou apenas mostrar que você não vai ser platéia para aquilo.

Por exemplo, um elemento do seu trabalho que frequentemente bravateia que é pegador e pega as mulheres mais bonitas. Você está lá, sendo paunocuzado por uma pessoa que sabe que não pega nem uma gripe, ouvindo as mentiras sobre quem pegou e quem deixou de pegar. Em certo ponto, a pessoa diz que pegou uma atriz famosa de TV. Se você apontar o dedo e chamar de mentiroso, vai comprar uma briga. Mais fácil dizer algo que encerre o assunto e o faça saber que você sabe que é mentira: “É mesmo? Você pegou ela no fim de semana? Que engraçado, eu li no Twitter dela que essa pessoa estava no EUA neste final de semana…” ou então “Que bacana, ela é muito amiga da minha irmã, vou comentar com ela que eu te conheço”. Pronto, o mentiroso calará a boca para não se sujar mais ainda de merda. Se for insistir na mentira, não será com você.

O grande problema de não desmentir o mentiroso é que quanto mais você faz e conta que acredita, mais ele mente. É o mesmo modus operandi do serial killer: vai ousando cada vez mais até ser pego e só para quando é pego. Não tenho saco de aturar diariamente (ou mesmo eventualmente) uma mentira maior do que a outra.

Além das insuportáveis mentiras exaltando atos não cometidos, do tipo possuir bens, conhecer pessoas, ficar com pessoas e etc tem ainda as mentiras envolvem DRAMA da vida pessoal. Porque tem gente que compete para te provar que sofre mais que você e que tem uma vida mais de merda que a sua (por incrível que pareça). O sofrimento dela é sempre maior e mais fuderoso que o seu. Se você não costa essa merda de cara, a pessoa fica mundialmente conhecida como coitadinha. Todo mundo adora acreditar em vítimas.

O problema é que o mentiroso é carente e está sempre à procura de alguém para vampirizar, parasitar com suas histórias. É a única forma que ele tem de elevar sua auto-estima e tocar sua vidinha de merda: repetindo mentiras várias vezes para se satisfazer e para tentar fazer com que os outros acreditem que ele é essa pessoa fictícia e não a bosta de pessoa real que é. Por isso, se você fizer a manutenção dessa neurose e der trela para a mentira, esse tipo de pessoa mentirosa vai GRUDAR em você. Acreditem, para desgrudar essa mala sem alça vai dar um trabalho enorme, me dá preguiça só de pensar em toda a mágoa, acusações de traição e ódio que você vai despertar.

A vida é muito curta. Com certeza todos nós aqui temos mais o que fazer do que ficar escutando mentirinhas bizarras de pessoas sem noção. Muito pé no saco. O ideal é simplesmente se afastar de pessoas assim. Se elas sentirem que você não é audiência para elas, também se afastarão. Aliás, sinceramente, se todo mundo cortasse esses paus no cu, eles teriam que parar de se comportar dessa forma sacal, porque não teriam platéia!

Por isso, em nome da saúde mental de todos nós eu apresento este argumento hoje: é melhor CORTAR o mentiroso. Não precisa ser rude, não precisa apontar a mentira, não precisa ofender. Basta não ser platéia. Se todos fizessem isso, esses pentelhos teriam que arrumar um jeito diferente de funcionar e não encheriam o saco de tanta gente. Só tem circo quando tem platéia. Não alimente os animais.

Além do mais, é preciso lembrar que, por mais pau no cu que sejam, pessoas assim são DOENTES. Não é bacana brincar e debochar de pessoas doentes. Não estou falando de questões éticas e sim de incolumidade física. A gente nunca sabe o que uma pessoa doente pode fazer quando se voltar contra você. Vai viver sua vida e não perca seu tempo dando trela para esses mentirosos compulsivos que só querem isso: sua atenção. Por mais que te divirta ver a pessoa protagonizando um papel ridículo quando pensa que está abafando, lembre-se que ao ouvi-la, por mais deboche que seja, você está dando a ela o que ela quer/precisa: atenção. Gente assim não merece um segundo de atenção.

Para me dizer que você teve um tumor duas vezes maior e mais grave que o meu, para me dizer que você tem o corpo dez vezes mais sarado que o meu ou ainda para me dizer que você viu a Kelly pelada na webcam: sally@desfavor.com


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