Skip to main content

Colunas

Arquivos

Processa Eu!: Dalt Wisney

| Sally | | 59 comentários em Processa Eu!: Dalt Wisney

Vivemos em um mundo onde predominam as pessoas idiotizadas, infantilizadas e carentes. Cada qual lida com elas como pode. Nós as chutamos diariamente na esperança que um dia elas acordem ou ao menos sintam vergonha por se portar assim, mas tem quem lucre com elas. Tem quem alimente esse retardo mental com historias e mundos fantasiosos, com um verniz de romantização que confere um aval social para se portar como um retardado. Nosso homenageado de hoje foi o melhor do mundo nessa categoria, criando um mundinho carente e colorido para adultos debiloides. Processa Eu: Dalt Wisney.

Datl Wisney nasceu em 1901, filho de um pai abusivo que o maltratava e o humilhava. Talvez por isso ele tenha focado toda sua vida em desenhos com estrutura familiar desequilibrada: a maior parte dos seus personagens ou não tem pai, ou não tem mãe, ou não tem ambos ou tem mas são uns escrotos. Sua empresa chegou a produzir um seriado onde uma pré-adolescente se revolta contra sua família, os insulta e diz que eles a fazem “passar vergonha”. Esse é o padrão de normalidade: Nemo sem mãe com pai neurótico, filho do Pateta também não tem mãe, a Bela não tem mãe, Bambi fica sem mãe, Rei Leão fica sem o pai. O caso deve ter sido sério, pois quando seu pai morreu, Dalt não foi ao enterro. Enfim, não vou perder tempo falando da infância nem do começo da carreira, pois tenho muita coisa a dizer.

Dalt estava metido com pessoas duvidosas desde pequeno: começou como DeMolay, um filhote de Maçon e evoluiu para coisa pior. Foi assim que começou a subir na vida: contatos. Puxou os sacos certos e deu as rasteiras certas na hora certa. Começou desenhando, depois já estava abrindo uma empresa na qual explorava o irmão e com o tempo passou a explorar mais gente e colher os louros sozinho, até chegar onde chegou.

Tudo que fazia tinha segundas intenções, geralmente aproveitadoras. Nada do que criou foi ao acaso ou fruto de pura criatividade. Por exemplo, o tão falado personagem inspirado no Brasil, o Zé Carioca. Disse ele ter criado o personagem depois de uma visita ao país por ter ficado “encantado” com o país, mas todo mundo sabia que na verdade foi só mais um dos movimentos feitos pelos EUA para se aproximar do Brasil com a intenção de estabelecer uma política de boa vizinhança em tempos de guerra, para assegurar que seus inimigos não conseguiriam aliados.

Você pode se perguntar o que merdas Wisney tinha a ver com a guerra. Bem, no período da Segunda Guerra Mundial ele efetivamente trabalhou para o FBI (e ganhou muito bem com isso). Fez até desenhos para as Forças Armadas, destinados ao treinamento de soldados. Bacana ver a verdadeira carinha de um hipócrita que sempre repetia aquele discurso infantilóide de que a Wisney era um sonho para ele, era algo feito com amor, sem interesse em lucro e com o coração. Com esse mesmo amor e boas intenções ele fez desenhos nada amorosos dando instruções para treinamento de soldados. Teve até Pato Donald vestido de nazista… uma tristeza.

Vejam vocês, que tipo de mente doentia usaria personagem infantil para defender carnificina, morte e guerra, ou até mesmo para treinar pessoas para fazê-lo? Certamente não alguém com caráter e ideais. Mas Wisney o fez. Além de trabalhar na encolha para o FBI, Wisney ainda fez propaganda de guerra de forma aberta. Era verdadeira propaganda militar utilizando seus personagens infantis. A cereja no sundae foi quando ele ajudou a fundar a “Aliança do Cinema para a Preservação dos Ideais Estadunidenses” com o objetivo de combater o comunismo no meio artístico. Perseguiu e sabotou diversas pessoas a pretexto de serem “comunistas” quando na verdade eram apenas pessoas que poderiam representar concorrência. Quem era bom, quem lhe fazia sombra, virava comunista e desaparecia.

Aliás, diga-se de passagem, se a intenção era criar o Zé Carioca para ficar amiguinho do Brasil, Wisney tripudiou. Brasileiro é tão vira-lata que quando viu que Dalt Wisney havia desenhado um personagem inspirado em seu país, foi só alegria e emoção. Tadinhos, se sentiram tão especiais… mal sabiam eles que o mesmo havia sido feito em países como Argentina e México. Além disso, Zé Carioca não é propriamente um motivo de orgulho: vagabundo, preguiçoso, medíocre, acomodado e malandro. Podemos vê-lo fumando e apresentando a cachaça e o samba ao Pato Donald. Bela homenagem. E todo mundo aplaudiu. Da mesma forma que aplaudem e acham grandes merda esse universo plástico cafona que ele criou na forma de parques temáticos. Lembro até hoje da primeira vez em que fui aos parques da Wisney. Senti muita vergonha alheia por quem estava ali, tinha mais de dez anos e estava gostando. Quase todos brasileiros…

Ler as entrevistas e citações de Dalt Wisney foi uma tarefa irritante. É uma espécie de Xuxa com Prozac comendo chocolate. Versões fantasiosas de seus projetos, de sua vida e dele mesmo. Percebe-se claramente que era daquele tipo de mentiroso que mente tanto que engana a si mesmo, o mesmo tipo ao qual pertencia Jteve Sobs e outros. Já passou vergonha em diversas ocasiões por relatar algo exagerado e fantasioso que posteriormente se descobriu ser banal e ordinário. Como o espaço é pouco, me limito a dar apenas um exemplo: Dalt adorava dizer em entrevistas que tinha criado Mickey, seu personagem principal, após conseguir adestrar camundongos. Contava que ensinou a um rato a ficar sentado na sua mesa enquanto ele o desenhava. Mentiroso idiota é assim, vai aumentando a mentira progressivamente enquanto ninguém o desmente até que a coisa fique ridícula.

Evidente que esta porra não é verdade, mas só para confirmar, biógrafos colheram centenas de informações através de cartas e documentos escritos pelo próprio Dalt onde comprovou-se que quando Mickey foi criado, Wisney já não desenhava mais, na verdade, tinha parado de desenhar quatro anos antes! Sim, ele foi mentor intelectual do personagem, mas o layout não era dele. Dizem até que tentou, mas ficou uma bosta, um rato feio magrelo e comprido. O verdadeiro autor teria sido um funcionário dele chamado Ub Iwerks, mas Dalt não apenas levou os créditos como ainda sambou na cara inventando a história bizarra de que o rato sentava para que ele o desenhe. O funcionário ficou tão puto da vida que pediu demissão algum tempo depois. Melhor que ter potencial é saber roubar o potencial dos outros, né?

Mas Dalt não era apenas um idiota com baixa autoestima por ter sido avacalhado a infância toda pelo papai que precisava compensar mentindo sobre seus feitos. Ele era um filho da puta explorador. Apropriar-se do trabalho alheio era o menor dos seus defeitos. Relatos em diversas biografias contam que era comum ver funcionários desmaiando de fome por falta de tempo e dinheiro para comer, só para citar um exemplo do tamanho da exploração que construiu o “sonho” Wisney. Outro exemplo: quando seus funcionários conseguiram se organizar em um sindicato e começaram a reivindicar alguns direitos básicos, Dalt demitiu os principais mentores do movimento e o resto foi calado através de ameaças e intimidação, chegando a espalhar guardas armados para vigiar seus funcionários. Dá vontade de prestigiar uma pessoa assim? Em determinado momento a coisa chegou a tal ponto que todos ficaram muito revoltados e se uniram em uma greve. Winsley ligou o foda-se e simplesmente viajou, deixando o problema estourar nas mãos e outras pessoas.

Ele era um medíocre em desenho e criação mas era um “bom administrador” . Não é assim que se faz fama? Geralmente quem leva a fama não é o dono da ideia e sim quem é canalha o suficiente para se apropriar da ideia e mentir com veracidade dizendo que a ideia foi sua. Funcionários relatam que ele chegava a desconhecer alguns personagens aos quais lhe era atribuída autoria. Seu dom era tocar funcionário que nem gado e fazê-los trabalhar por 12, 14 e às vezes até 18 horas por dia. Praticamente NADA do que você vê na Wisney tem o dedo dele.

Sim, ele era um mero Senhor Feudal. Porque nem ao menos era bom com finanças, só sabia mesmo explorar pessoas. Quem salvou a Wisney da falência diversas vezes foi o irmão de Dalt, que sempre trabalhou com ele. Dalt gastava mais do que podia e não tinha noção de gerenciamento. Por exemplo, durante a produção de “Branca de Neve”, gastou-se tanto que se todas as dívidas fossem cobradas pelo banco, iriam à falência. Percebendo o risco, o irmão de Dalt mandou para o banco uma cópia do filme, para mostrar que o dinheiro teria sido bem investido e em breve teriam retorno. O banco prorrogou o prazo para pagamento das dívidas. Esta foi uma das muitas vezes que Dalt foi salvo pelo irmão, o que não o impedia de pisar e humilhar seu próprio irmão na frente de outros funcionários.

Fala-se muito mal de Wisney pelos motivos errados. Foram criadas lendas, mitos e histeria em torno de babaquices como “pacto com o demônio”, mensagens subliminares contidas em seus desenhos e divulgação do satanismo. Pura babaquice, Wisney era um filho da puta ladrão e explorador por seu próprio caráter, parem de colocar na conta do diabo! O mérito é de Dalt, não do demo.

Quanto às mensagens subliminares, algumas de fato existem, mas não tem qualquer intenção de lavagem cerebral, são apenas trollagens. Evidente que Wisney não era o culpado, seria o mesmo que culpar o dono do hospital porque o controle remoto de um dos quartos está quebrado. Wisney apenas coordenava, e não podia controlar os mínimos detalhes de tudo. Já vi duas ou três entrevistas com ex-funcionários que narravam os horrores de trabalhar ali e diziam que ficavam tão putos com a exploração que vira e mexe se vingavam inserindo uma imagem de uma mulher pelada em um cantinho qualquer e coisas do tipo. Exemplos: padre de pau duro no filme “A Pequena Sereia”, uma mulher nua na janela no filme Bernardo e Bianca ou as estrelas escrevendo a palavra “sex” no filme Rei Leão. Bem feito.

Na vida privada, Wisney também não era muito exemplar. Apesar de um discurso hipócrita e puritano, há fortes indícios que não era um pai de família exemplar. O tom da revelação varia muito de acordo com as biografias, mas todas apontam para uma homossexualidade permeada por garotos de programa e até mesmo meninos. Algumas pegam mais leve dizendo apenas coisas como “Dalt nunca se interessou muito por mulheres” e outras enfiam o dedo no cu e rasgam, dando inclusive nome e sobrenome de garotos de programa que comiam o rabo de Dalt (só para citar um: Ralph Ferguson) e ainda dão dois endereços de imóveis que de fato se constataram ser de propriedade de Dalt onde ele iria se encontrar com seus garotos de programa regularmente. Nada contra gay, tudo contra pai de família que dá o rabo para garoto de programa e depois volta para casa como se nada e dorme ao lado da esposa.

Também tem um relato de um ator jovem demais para que se admita normal fazer sexo, chamado Bobby Driscoll, alegando que era lanchinho de Wisney e que em troca recebia bons papéis, como por exemplo, a voz do Peter Pan na animação da Wisney. Ele também reclama que quando deixou de ser um “garotinho novo” Dalt passou a ignorá-lo e perdeu o interesse por ele, deixando-o sem trabalhos. De fato, Bobby era realmente um menino, o que faz parecer que Dalt estava mais para pedófilo do que para gay. Aposto que a Wisneylândia foi pensada para ser uma espécie de rancho Neverland: isca para comer cu de criancinha.

Para fechar de vez o caixão, há relatos de familiares dizendo que quando criança Dalt sempre usava os vestidos, maquiagem e sapatos da mãe, só tendo abandonado esse hábito após ter sido severamente repreendido. Isso explica em parte o comportamento violento do seu pai e as razões pelas quais ele sempre foi muito severo com Dalt. Se não é 100% tranquilo hoje em dia, quem diria em 1900 ver seu filho de salto alto passando batom. Dalt apanhou bastante.

Tem também uma pitada de racismo na história da vida de Dalt. Até hoje os executivos da Wisney se desobram para tentar fazer desaparecer uma canção que seria um tanto quanto ofensiva, chamada “A canção do sul”. Além disso, Dalt está vinculado a atos antissemitas (batendo palmas para quem hostilizava judeus) e para completar, ele teria dito que contratar trabalhadores negros comprometeria a magia da Wisneylândia. Sem sacanagem, não sei como uma pessoa negra se presta a visitar um lugar desses. É quase a mesma merda que um negro ou um gay usando camiseta do Che Guevara. Falta só a legenda: “Adoro quem me humilha”.

Wisney morreu em 1966, aos 65 anos, de câncer de pulmão (quem disse que a indústria do tabaco também não faz coisas boas?). Quando soube que estava doente Wisney surtou: ele não queria morrer antes de ver os projetos em andamento contruídos (ou talvez colher os frutos da sua isca), mas os médicos não lhe deram muita esperança. Foi então que começou a peregrinar atrás de soluções para a morte. Como todos pudemos ver, não adiantou porra nenhuma, mas ele chegou a pagar uma fortuna para uns fulanos que prometeram congelar e conservar seu corpo através de criogenia para descongelá-lo e trazê-lo à vida quando já existisse uma cura para o câncer. Claro que isso não existe e nunca foi feito, Wisney foi cremado. Aliás, mesmo que fosse, a incompetência da humanidade é tanta que mesmo que ele estivesse congelado, teria que permanecer assim.

E ainda tem quem reverencie este homem e o ache um gênio. Um mero copiador que se apropriava do trabalho alheio, tratava funcionário feito lixo forçando trabalho em condições desumanas e destilando críticas ofensivas, pregando o racismo e enganando a esposa. Um mentiroso contumaz que deturpava tudo na sua mente a ponto de seus biógrafos dizerem expressamente que se não houvesse fontes escritas do que ele dizia os dados não eram inseridos nos livros pois ele não merecia credibilidade. Um homem que em função do seu cargo de poder se valia desta condição para obter sexo com jovens aspirantes a atores muitas vezes menores de idade. Um racista. Um escroto. Não tinha nada de gênio, era um ladrão, um aproveitador, uma fraude.

Quem tiver vontade de visitar aquele amontoado de plástico cafona que são os parques temáticos da Wisney, que o faça sabendo como aquela bosta foi erguida e quem era o homem que inspirou isso. Chega dessa mania de achar que só porque a pessoa foi bem sucedida ela é um sucesso e é um exemplo a ser seguido. Canalhas também são bem sucedidos. Hora de ter um pouco de critério e parar de endeusar quem consegue dinheiro e fama. Dalt Wisney foi um sujeito desprezível, daqueles que se fosse seu chefe ou seu vizinho te faria falar em pena de morte. Não tem como dissociar condutas graves como pedofilia, racismo e estelionato da obra de uma pessoa. Quem bate palma para a produção de um pedófilo, racista estelionatário ciente disso também tem sérios problemas de caráter.

Para dizer que o nome desta postagem deveria ser SUE ME, para dizer que agora pegou nojinho da obra de Wisney ou ainda para se perguntar porque ninguém conta esse tipo de coisa quando a pessoa é rica e bem sucedida: sally@desfavor.com


Comments (59)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Relatório de erros de ortografia

O texto a seguir será enviado para nossos editores: