Flertando com o desastre: Tribo escondida.

Essa não é a primeira vez que esse tipo de imagem é divulgada, e provavelmente assim como as que foram expostas na mídia nos últimos anos, também não deve ser exatamente a realidade. Eu sei que o mundo é um lugar muito grande e que vastas áreas ainda não foram exploradas com a meticulosidade necessária para se definir que não existem povos escondidos… Mas o histórico recente não corrobora com a “virgindade” da tribo em questão.

Essas notícias costumam ser stunts publicitários de ONGs e pesquisadores autônomos caçando recursos para continuar seu trabalho. Não tenho as informações necessárias para cravar que é um desses casos, mas vamos tirar isso logo do caminho: É provável que seja uma meia-verdade.

E esse nem é o ponto do texto. Vamos considerar a partir de agora, para fins argumentativos, que a tribo em questão realmente nunca foi tocada pela civilização moderna. Agora, pense nos índios que vivem nessa comunidade isolada.

Pergunta: Esses índios são seres humanos?

Parece até pergunta retórica, mas toda vez que a ideia de um povo isolado vem à tona, muita gente parece ignorar completamente a noção de que essas pessoas são humanas e tem todos os direitos inatos que nós temos. A ladainha mais comum é que “devemos deixá-los em paz” e “não temos o direito de interferir em sua cultura e modo de vida”…

Gostaria de contra-argumentar com um documento que você talvez reconheça: A Declaração Universal dos Direitos Humanos. Sério, leia. Não, você não pode continuar lendo este texto até terminar… Desfavor é cultura, mesmo que na marra. Vai que o desfavor vai continuar aqui até você voltar.

Pronto? Pode-se argumentar que uma declaração dessas é quase um sonho no mundo onde vivemos, e que nenhum país está obrigado a seguir cada um desses pontos, mas vamos concordar que faz um imenso sentido como síntese do que deve ser a base de uma sociedade moderna? Não é dogma, é bom-senso e humanismo em uma das formas mais bem aceitas pela coletividade. Dos países modernos, boa parte segue (ou pelo menos meio que segue, como o Brasil) preceitos bem parecidos.

Afinal, são milênios de experiência nessa coisa toda de sociedade. Se você não vive debaixo de uma ditadura ou teocracia, goza (mesmo que em tese) de direitos muito parecidos com os definidos na Declaração Universal dos Direitos Humanos. E fique feliz, você, independentemente da idade, é uma das primeiras gerações que sequer experimentou um mundo assim. Você nasceu e ganhou boa parte desses direitos, sem mexer uma palha.

E falando em palha, voltemos aos índios isolados. Você por algum motivo acha que eles não merecem ter esse mesmo pacote de direitos? Grandes merdas! Esse é o mundo moderno… Basta ser da espécie humana para ter esses direitos, independentemente da opinião alheia. Essa é a rede de segurança: Não é mérito, não se pode escolher quem vale ou não. É isso que protege, inclusive, a turma retardada (processa eu!) dos “direitos humanos para humanos direitos”.

Na posição de ser humano vivenciando as vantagens de não estar inserido numa sociedade bárbara, é no mínimo de um egoísmo impressionante não querer que façamos contato com essas tribos. Eles não tem culpa de terem ficado fora do mapa da civilização moderna até agora, e nunca tiveram a opção de viver de forma diferente. Pois é, não dava para chegar no nível que a gente encontrou quando nasceu apenas com meia dúzia de pessoas numa aldeia no meio do mato.

Sempre aparece um para dizer que não temos o direito de “aparecer” para uma tribo dessas. Sim, temos todo o direito. Se fosse realmente assim, ninguém poderia viajar, não? Nossa sociedade é baseada em contato e troca, evidente que algumas precauções, principalmente com doenças para as quais os índios não tem imunidade, precisam ser tomadas. Evidente que isso tem que ser feito de forma gradual e controlada, mas privá-los desse mundo de coisas que temos aqui nas selvas de pedra é justamente o inverso de respeito pelo ser humano.

Enfiem essa história de que “eles são felizes assim” e “é só o que conseguem compreender” no cu. Esse tipo de mentalidade que aliviou a consciência de exploradores e escravagistas pela nossa história, e se provou terrivelmente equivocada com o passar do tempo. Sem escolha, um ser humano deixa de ser humano.

É bonitinho dizer que seria mais feliz vivendo na natureza sem as preocupações da vida moderna, mas é uma afirmação vazia de gente que só diz as coisas por atenção. O caralho que viver numa sociedade pré-histórica é uma vantagem em relação ao que temos hoje em dia. Viver numa aldeia perdida no meio da selva não é sinônimo de férias relaxantes no campo.

Se temos padrões mínimos com os quais comparamos nossa sociedade para definir se as pessoas estão vivendo de forma digna e decente, faz algum sentido jogar tudo no lixo porque algumas pessoas nunca ouviram falar disso? O babaca enxerga a vida de índios isolados como um filme da Xuxa, com muito respeito pela natureza, paisagens paradisíacas, gente simples e feliz (e possivelmente alguns números musicais). SPOILER: Viver numa sociedade dessas faria a maioria dos mimadinhos da civilização pedir pela mãe em questão de semanas.

Quem se presta a usar o conteúdo do crânio enxerga pessoas sem acesso a educação de qualidade, medicina moderna, segurança e respeito aos direitos humanos. Índio enterra criança viva para melhorar a colheita. Índio mata e come índio rival… São humanos. Um misto de bom e ruim, como todos nós, mas alienados de quase tudo o que convencionamos (com muita lógica, até) como básico para qualquer ser humano.

O que se pensa quando se encontra um grupo de lavradores presos numa fazenda perdida trabalhando em regime de semi-escravidão? Eles trabalham apenas para subsistência, não tem direitos, não tem para onde ir… Não achamos feio quando sabemos que alguém perde a capacidade de escolher os rumos da própria vida? Os índios não poderiam nem saber se a vida deles é uma merda (ou maravilha, para os babacas). Não é humano deixá-los no escuro de propósito.

E a escrotidão do argumento de que não se deve se aproximar dessas tribos isoladas passa muito pela ideia de que diríamos algo muito parecido sobre um grupo de chimpanzés no meio da floresta. No quesito de capacidade de construção intelectual, animais irracionais são fotos e seres humanos são filmes. É razoável acreditar que um macaco não vá realmente ganhar muito sendo trazido para a civilização, mas quando se aponta esse tipo de mentalidade para outros seres humanos, a coisa começa a ficar muito errada.

Principalmente porque vivemos trazendo (voluntaria ou involuntariamente) animais irracionais para o nosso convívio. Porra, a humanidade moderna criou um ambiente de sonho para as baratas (nunca foi tão fácil para elas), mas vai deixar de esticar a mão para pessoas? Pode domesticar cachorro, deixá-los gordos e mimados, mas oferecer ao menos a possibilidade dos confortos da vida moderna para outro ser humano é moralmente errado? Parafraseando Sally: Vão se foderem.

É querer que outro ser humano fique na merda (sociedade pré-histórica é uma merda, se não fosse teríamos nos contentado com ela) só para termos alguém para quem apontar. Me arrisco a dizer que esse tipo de opinião tem muito a ver com a necessidade do ser humano médio acreditar que está sempre mais fodido que os outros, que seus dramas são sempre maiores e seus esforços sempre mais grandiosos. Cidadão acha que ele que está vivendo a vida difícil e que o índio está deitadão na rede comendo uma fruta exótica e beliscando a bunda de uma jovem peladona.

Isso alimenta aquele sonho de que não depende de si mesmo para melhorar de vida, que tudo é destino e que vai se dar bem automaticamente depois que morrer. Deus nos livre das responsabilidades, amém!

E nem comecem com a história da “rica cultura” que pereceria. Cultura de povos isolados assim é basicamente a mesma coisa há séculos, senão milênios. Basta catalogar e tacar num livro, filme ou disco para não perder. Não vai rolar alguma grande mudança se deixarmos os indígenas quietos. Culturas são seres vivos, nascem, vivem e podem muito bem morrer. Se a cultura do povo encontrado bater as botas por causa da nova apresentada pelo homem civilizado, é a natureza em curso. Vamos forçar o índio a continuar se prestando àqueles papéis ridículos (sério, folclore costuma ser queimação de filme pura, as pessoas seguem cada vez menos tradições antigas porque elas são bregas e sem graça mesmo… meritocracia cultural tem que valer para os índios também…) só porque é divertido e curioso de observar? Se eles quiserem atuar para as pessoas, que pelo menos tenham essa escolha.

E nos casos onde a cultura dos povos indígenas apresenta características que ferem o que julgamos como ético? Vale a pena ver uma criança ser mutilada num ritual inútil só para fins de preservação? O padrão ético de um povo que criou a Declaração Universal dos Direitos Humanos é claramente melhor do que a do povo que ainda nem pensou na roda… Não estou pregando atropelamento, estou dizendo que não é presunçoso achar que esses índios podem sim se beneficiar com o contato. E também que deixar de oferecer oportunidades de absorção pela cultura civilizada é negar para eles os direitos que deveríamos todos ter…

Artigo 2°

Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação. Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto político, jurídico ou internacional do país ou do território da naturalidade da pessoa, seja esse país ou território independente, sob tutela, autônomo ou sujeito a alguma limitação de soberania.

Se eles nem sabem que isso existe, é repulsivo não tentar nem expor. São direitos. Se depois de confrontados com as informações relevantes, alguns quiserem tentar a vida longe do mato, que tenham essa possibilidade.

Não confundam, por favor, com a forma impositiva como missões religiosas invadem comunidade indígenas e praticam estelionato espiritual com pessoas sem os subsídios necessários para reagir de forma adequada. A escolha da qual falo hoje não é submissão ou danação eterna. Antigamente era na base “adore Jesus ou resolva direto com ele”, não duvido que ainda existam exemplares dessa mentalidade catequizando pobres coitados por aí.

Claro que a aculturação dos nativos feita por nossos antepassados foi desastrada, claro que podemos ver a presença do europeu como uma invasão injusta… Mas tem um velho ditado indígena que diz: “Agora a merda está feita.”

Sabemos como fazer do jeito certo muito por causa dos absurdos de quem veio buscar ouro e deixar Gezuiz na cabeça dos peladões originais desta terra. Agora, isso não é desculpa para assumir uma postura cretina de desumanização de gente que não se parece com… a gente. Se o padrão de humanismo atual prega que todos temos direitos, TODOS temos direitos. Inclusive de saber quais são eles.

Não estou querendo só pegar no pé de quem faz comentários piegas sobre notícias do tipo que ilustra esta postagem, podemos olhar para dentro da nossa sociedade e perceber como de certa forma, toda favela é uma tribo isolada (à força).

Não tem caminho que preste para a nossa espécie que passe pela desumanização seletiva. Escolher conscientemente manter alguém em estado de subsistência, sem educação e dignidade é tratar gente como bicho. E ninguém tem esse direito.

Para dizer que adoraria que eu fosse para o Peru ensinar índio a usar iPhone e ficasse por lá, para reclamar que não vai mais se achar sábio(a) ao papagaiar essas merdas de que vida simplória que é boa, ou mesmo para dizer que meus textos são programa de índio: somir@desfavor.com

Se você encontrou algum erro na postagem, selecione o pedaço e digite Ctrl+Enter para nos avisar.

Comments (37)

  • Na teoria esse negócio de “respeitar culturas e tradições é lindo, mas será que temos mesmo que aceitar certas coisas só porque “é cultural e faz parte”?

    As pessoas são obrigadas a aceitar a cultura de uma tribo X que mata crianças deficientes (ou até saudáveis, por motivos de ritual)? De tribo Y que costura as partes íntimas das meninas pré puberes (sem anestesia) para não terem relações?

    Eu geralmente não curto argumentação nos moldes “e se fosse com você?”, mas e se essa cultura chegasse a nós ou pessoas próximas a nós? Apenas acataríamos por ser tradição milenar? Imagina se a cultura da tribo X entrasse em choque por aqui, que considera deficientes “anjos de luz”. Enquanto não está por perto, apenas deixa pra lá? Não me parece justo deixá-los isolados e iludidos que o mundo é só aquilo. Não acho que todas as índias curtam parir sozinhas no meio do mato e, em caso de bebê com deficiência, largar ele lá e voltar andando pra aldeia. E se elas soubessem que existem hospitais e lugares especializados em cuidar de deficientes? E se eles soubessem que podem comprar comida num supermercado em vez de arriscar a vida caçando? E que existem moradias mais firmes e protetoras? E que é possível conseguir um agasalho sem arrancar o couro de um bicho?

    Algumas formas de cultura são aproveitáveis, tipo conhecimento sobre plantas e ervas, outras são absurdas (e outras meio inúteis, tipo dancinhas), e integrando essas tribos a sociedade pode ser que eles repensem. Okay, nem sempre dá certo, vide Yamanjus da vida sustentados pela FUNAI. Não sei o que é ser de um lugar onde todo mundo anda pelado e vive do que a natureza dá e de repente chegar alguém e dizer “Ei, venha conosco. Nosso mundo é melhor”. Mas não custa tentar. Mesmo que [alguns] não aceitem, e também não é nada certo forçar, já é bacana pelo menos acrescentar opções, especialmente para os mais jovens que são um terreno fértil para questionamento se forem estimulados.

    PS.: acho meio escroto fazer documentários como se eles fossem animaizinhos.

      • Bem, pelo que li em uma entrevista, avó esta super feliz por poder finalmente realizar o sonho de criar uma menina (ter uma filha) normal.

        • Laísa, é o tipo de coisa que nunca saberemos. Porque ninguém que dá uma entrevista diz para todo mundo ler “puta que pariu, eu, na minha idade, cansada, ainda vou ter que criar outra criança!”.

          Tem gente que nem admite para terceiros que pensa assim, apenas sufoca este pensamento (que eu acho legítimo) por ser socialmente reprovável.

          Conversando “de igual para igual” com mães de crianças com deficiências mentais é que a gente acaba escutando uns desabafos e umas verdades…

  • Um lado meu ( o supostamente bom) concorda com a Sally. É sacanagem deixar esses caras de fora da mamata que é viver atualmente em sociedade. Saúde, educação, comida farta são conquistas que permitem que nossa sociedade de gorduchos floresça. E gordura sempre foi sinônimo de prosperidade…nem precisa ir tão longe, basta dizer que esses povos não sabem trabalhar com o metal, basicamente vivem na idade da pedra…e não são os Flinstones!

    Já meu lado ruim diz que se fodam, já temos problemas demais com os desvalidos que já estão inseridos em nossa sociedade, se um bando de malucos quer deixar os caras isolados….so be it…dane-se, vou voltar pro meu joguinho no Ipad que ganho mais…

    Quem ganha entre os dois lados? O suposto lado bom, mas por outro aspecto bem lembrado pela Sally. Folclore é uma das coisas mais toscas que existem, vamos aculturar os caras e acabar com aquelas dancinhas ridículas, com alguma sorte no embalo o Frevo também vai pro saco…sou um otimista! Não posso evitar…

    • Lembrei de um caso interessante que estudei na faculdade: um tribo não sei de onde que tinha um rito de passagem bastante sádico pelo qual adolescentes tinham que se submeter para serem considerados “homens”. Muitos chegavam a morrer. E se não quisessem se sujeitar a ele eram mortos a pancadas pelos membros da tribo.

      Uma comissão dos direitos humanos foi ao local avaliar a situação e estava sendo discutido o que fazer. No calor da discussão, isso foi questão única de uma prova minha, na qual respondi que ninguém tinha que se meter e me deram uma nota escrotamente baixa que provavelmente me reprovaria. O pessoal dos direitos humanos decidiu da seguinte forma: havia dois bens a serem ponderados, a dignidade da pessoa humana e a cultura da tribo. A dignidade da pessoa humana foi considerada mais importante do que uma cultura local. Decidiram intervir e dizer que a cultura de cada povo encontrava limites na Declaração Universal de Direitos Humanos, proibindo o ritual. Em tese, faz sentido.

      Pouco tempo depois, os moradores da tribo se revoltaram, porque para eles era uma honra passar por aquele ritual e os que foram impedidos de passar estavam sendo ridicularizados e sodomizados, tratados como mulheres. A vergonha de não ter se tornado “um homem” (porque naquela cultura só era homem quem fizesse o ritual), de ter perdido o direito a ser um homem, fez com que todos os que foram privados do ritual se suicidassem, acabando com boa parte da população jovem da tribo, o que provavelmente colocou em risco a sua existência.

      Bati na porta da sala dos professores com a notícia na mão e disse: “O que para você é assegurar a dignidade, para os outros pode ser perder a dignidade”, frase com a qual eu havia encerrado a minha prova. Ele me disse “O que você sugere que eu faça?” e eu disse “Eu sugiro que mude minha nota para 10”. Ele mudou.

      • Linchamentos, sacrifícios rituais, mutilação genital, escravidão… A sociedade moderna foi construída proibindo gente de fazer coisas absurdas. Se ficássemos com essa noção da “santidade da cultura local”, não faria a menor diferença ter uma declaração de direitos humanos.

        Não é presunção dizer para uma tribo que seu comportamento segue um padrão de humanidade que não reflete mais o mundo moderno. Experiência acumulada por uma sociedade estruturada por milhares de anos de evolução contínua não pode ser simplesmente igorada. Aprendemos muita coisa a mais que povos isolados, e uma delas é que faz sentido tratar todos os humanos como merecedores dos mesmos direitos.

        E não é uma das bases do direito que não saber que um crime existe não exime ninguém da culpa por ele? Não vivemos em Estados Laicos (na maior parte do mundo civilizado) justamente para não deixar que gente ignorante e violenta tenha poder de aplicar sanções nos cidadãos? Tem que ter um ponto onde o poder constituído diga “eu tenho definidas as linhas guia e vou te julgar a partir delas, quer você queira ou não”. Senão, dá no mesmo que não ter estrutura.

        E se a evolução tem um mote, é “adapte-se ou desapareça”. O seu exemplo está passando aquela impressão consdescendente de que “é pior interferir”. Dá para extrapolar essa ideia para os cidadãos isolados pelo Estado dentro da civilização… Questão de conceito: Se vamos estudar caso a caso quanto tratar alguém como ser humano, estamos à mercê de opiniões sem obrigatoriedade de sustentação racional.

        “Tráfico de drogas e violência são a cultura da favela…” Sim, é um exagero, mas quero ver se você duvida que algum dos deputados reaças que infestam câmaras estaduais e federais não adoraria ter essa desculpa para sugerir uma “manobra Ubiratan” nos morros e comunidades carentes infestadas de marginais (no sentido correto da palavra) de um país como o Brasil.

        Partir do princípio que humanos SEMPRE, doa a quem doer, tem que estar garantidos por algo como a Declaração Universal dos Direitos Humanos pode gerar conflitos em situações extremas como a do seu exemplo, mas também é uma grande rede de segurança contra quem acha que pobre bom é pobre servil ou morto.

        E claro, chegar numa tribo e proibir UM ritual, sem acompanhamento ou outras garantias de dignidade no conceito moderno, é basicamente como chegar numa favela, asfaltar três ruas e dizer que eles estão inseridos na sociedade. O hospital mais próximo está a vinte quilômetros de distância, passa uma viatura da polícia por semana, mas vamos fingir que a população local está garantida da mesma forma que as pessoas das comunidades mais abastadas…

        Permita-me discordar do seu dez. O erro foi na aplicação prática.
        O conceito tem que ser protegido, pelo bem de todos.

  • …é muito difícil falar sobre isso…
    Cada tribo tem sua espécie de lei e regras. Na verdade, dentro dessa vida no meio do mato, eles possuem tudo muito bem organizado e possuem um respeito individual e com os mais velhos, que nós cidadãos “civilizados”, não temos.

    Nosso pé na cozinha não está tão distante, pelo menos pra mim.
    Minha bisavó foi índia laçada e escravizada.

    Dentro desse mundo, vi muitas coisas….e assim como existem as pessoas do mal, os bandidos, os terroristas…existem tribos que são do mal. Que são ladrões que se dizem revoltados por causa do branco que roubou a terra e então eles acham que devem roubar também e trabalhar nada. Porém são grupos muito isolados. Na verdade só ouvi falar deles no Maranhão…Que foi onde os índios foram escravizados com muita violencia…

    Claro que esclarecer sobre o caso de matar uma criança e comer gente…viria otimamente bem… Porém tribos canibais já não se ouve falar…

    Eu conheci varios indios de varias tribos e ja fui a tribos também e estudei com o filho do Juruna no colegial. Uma curiosidade sobre ele era que, sempre que os moleques estavam com revista de mulher pelada sacaneando ou aprontando algume merda, fumando…ele se afastava. Esse rapaz foi uma das pessoas mais doces que já conheci. O que rotinamente via eram indios estudando, principalmente na área de saúde para depois retornarem para suas tribos e trabalhar com os seus. Entao não se engane achando que todos querem estar na cidade, porque não é essa a realidade. DEntro de sua cultura, eles são orientados a não se envolver com brancos porque nós não somos confiáveis.

    Eu sou envangelica, mas acredito que tudo no mundo tem uma razão de ser e faz parte do equilibrio do planeta. Os índios por estarem onde estão, já impediram muitas vezes a destruição de matas e o desmatamento por serem áreas que fazem parte de ambiente protegido devido a existência deles ali.
    Os índios são responsáveis até hoje por nos ensinarem a utilizar as ervas medicinais. Eu mesma estive doente essa semana e tomei chá de “boldo” e “unha de gato”. O costume de banharse todos os dias vem dos indios…

    Eu os chamaria de alma da mão natureza. E não estão lá por falta de opção..pelo contrário. Em Brasília existe um edifício da Funai onde índios de várias tribos viajam de toda parte para buscar suprimentos como roupa e calçado e ajuda do governo para enviar medicamentos e médicos…eles aceitam a ajuda externa, mas não querem ter uma vida de branco. A ajuda é necessário porque nós levamos muitas doenças a eles. Muitos nem falam portugues direito, falam sua propria língua.

    Em Porto Seguro, existem tribos que permitem o passeio turístico agendado com tempo. Muitas crianças vão a escola…mas cultivam a cultura indígena. Muita gente paga para passar o dia com eles. Dançar suas danças, comer o que eles comem e ver de perto tudo…

    Que eles tenham a oportunidade de escolher é uma coisa…mas forçar uma civilização porque acreditamos que nosso life style é melhor….é outra…
    Porque no fundo…tirando os mata crianças, eles são muito mais civilizados do que nós.

    • Porque no fundo…tirando os mata crianças, eles são muito mais civilizados do que nós.

      NÃO! Isso é frase feita do mesmo naipe daquelas porcarias como “nós somos os animais” ao se falar de outras espécies. Não tem sustentação lógica. Serve para conseguir um “curtir” no Facebook, e basicamente só…

      Misticismo e estagnação tecnológica não são sinônimos de civilização moderna. O nosso life style É melhor, isso pode ser comprovado em números como os da expectativa de vida. Ninguém deve ser OBRIGADO a sair da tribo e se enfiar num apartamento, mas pelo menos a escolha de pular para um padrão de direitos e possibilidades bem maior não pode ser escondida.

      • …mas foi exatamente isso que eu disse.

        Eles tem escolha, são poquissimas as tribos totalmente isoladas da realidade e que provavelmente não ficaram por muito tempo como as outras.

        Quando digo que os considero mais civilizados, não é por frase feita.
        É porque porque sou diretamente descendente de uma índia, minha familia toda é do Maranhão, convivi com índios, já contribuí com mantimentos e já visitei tribos no Maranhão e na Bahia além de… ir na FUNAI conhece-los melhor, porque tinha um namorado gringo e ele tinha curiosidade, e conversar com eles.
        Ainda estudei com um de naipe…

        Desculpe Somir…mas de frase feita: Nada!!

        • Se você está falando de índios aculturados, não faz muita diferença, não? Civilizados a partir do padrão “urbano” não diz muito sobre a cultura local. A não ser que estejamos caindo numa daquelas categorias de argumentação de superioridade inata, o que você mesma ajudou a espantar aqui do desfavor.

          Se você está falando de índios em sua cultura “pura”, aí sim é uma afirmação poderosa, que mudaria completamente os rumos da evolução humana. Espero que você tenha bases para defender que o padrão da turma da Declaração Universal dos Direitos HUmanos seja sobrepujado pelo monumental padrão cultural de quem está na mesma há milênios…

          • …no meu ponto de vista, os índios que se “civilizaram”, foi por necessidade…para que não desapareçam e até mesmo para que possam se defender melhor.

            Longe de mim achar que tenho superioridade em alguma coisa. Só disse que meu comentário não é frase feita… Eu gosto de espor quando vivo pessoalmente uma situação. Poucas crianças por exemplo tiveram um macaco de estimação…eu tive…pra vc ter idéia do quanto desse meio eu já fui…

            Eu prefiro me abster de falar sobre a Declaração Universal dos Direitos HUmanos porque é muito bonita na teoria e faz muita diferença o fato de a termos é claro…mas na pratica…deixa muuuuuuito a desejar.

            Se essa gente sai dali…vai virar mendigo de rua e não acredito que governo nenhum vai ficar pagando ou incentivando a sobrevivência dessa cultura. Se você não luta pelo que acredita, seu sonho morre. Acho que é isso que eles fazem, tentam sobreviver e manter suas raízes, mesmo a custo de ´se civilizar para se defender-se.

            • “Acho que é isso que eles fazem, tentam sobreviver e manter suas raízes, mesmo a custo de ´se civilizar para se defender-se.”

              Por curiosidade, Larissa, diante da necessidade de civilizar-se, o que essa tribo tem feito para preservar elementos da cultura, como o idioma?

              Espero que eles consigam preservar sua cultura melhor do que a ‘minha tribo’, cujos falantes de japonês são cada vez mais raros…

              • ….eu não sou expert nesse assunto, mas sei que eles passam os conhecimentos sobre as ervas medicinais, como plantar, quando colher, pra que serve cada coisa… a importancia da preservação da natureza, canticos e danças em homenagem a natureza, em agradecimento à caça, dança de guerra, para afastar maus espíritos…

                Cada tribo se difernecia também pelo tipo de adorno que levam como aqueles que vão alargando os lábios, brincos de pau, o corte do cabelo…tem uma tribo que todos possuem uma franja na metade da testa. Existe a tribo dos indios anões que aos 12 anos dos homens, afilan os dentes para que quando cresçam possam comer melhor a caça.

                Existem tribos que foram divididas e que temporalmente se encontram quando precisam de ajuda…
                …e principalmente ensinam a historia dos antepassados e como chegaram até o ponto que estão.

                Existem reportagens também muito legais sobre tribos indigenas de outros países que vi na tv a cabo. Em uma delas, o pajé da tribo sentia que eles precisavam sair de onde viviam e mudar para outra parte da floresta, porque ali o Deus deles iria dar com mais abundancia comida e segurança…enfim, acho que é por aí…

    • Eu fui pra porto seguro, estavamos na praia ,ai chegou uma rennca de indios, bem vestidos cherosinhos e tal.Bom ai eles vieram se oferecer pra tirar fotos, meus amigos todo se assanharam pra tirar, mas quando eles disseram que cobram 12 reais so pra pousar na fotos (detalhe vc tira com a sua maquina ou cel seja o que for)Ai meu amigo pra sacanear o indiozinho(que ja era adolencente) se sentindo achando que ia sacanerar ne, tirou uma foto e deu uma nota de 100 reais pra ele kkkkk achando que ele naum ia ter troco ne rsrs.Pra nossa cara de babaca o indiozinho enfiou a mão dentro da tangua tirou uma carteira , que estava recheada de notas de 10,5, e 2.Quem será que é trouxa nessa hostoria em.Depois ficamos sabendo que isso dá ate cana pros indios eles naum pode fazer isso mas fazem.Pior que eles aprenderam a trapacear como os brancos, agora xupa que a cana é doce kkkkkkkkkkkk (gripe suina)

      • Pois é.. índio que quer continuar índio tem que vestir, plantar, caçar, colher, etc. Ônus e bônus.

        Índio que quer receber mesada da FUNAI, que quer terra sem ter que plantar e caçar, que não responde por crime mas o comete (e por meios e motivos bem “brancos”) e que quer “trocar espelho” e tirar fotografia não é mais índio. É sem-vergonha mesmo.

        Concordo que a civilização deve ser mostrada. Quer ficar? Ok, mas não venha pedir “indenizações” depois. Quer ser civilizado, mexer com dinheiro, etc? Deixa de ser inimputável (não tenho certeza se é esse o termo) e passa a viver sob as mesmas regras que o resto da população. Não dá para manter essa mistura de “aculturados” tentando pegar o que há de melhor nos dois mundos. Matando e se escondendo em terras protegidas, por exemplo.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Relatório de erros de ortografia

O texto a seguir será enviado para nossos editores: