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Des Aprovado: Bombons Garoto.

| Sally | | 256 comentários em Des Aprovado: Bombons Garoto.

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A verdade verdadeira é que isso aqui merecia ser um “Eu, Desfavor”, porque meu grau de imbecilidade e masoquismo foi memorável, mas vamos estrear a coluna Des Aprovado de uma vez por todas. A corna aqui decidiu testar na própria pele a caixa de bombom Garoto. Vocês sabem, todo castigo para corno é pouco. Nem de longe se revelou aquela coisa agradável que eu acreditava ser na década de 80, quando eu era uma criança idiota e as opções de chocolate eram essa o a porra do Surpresa com fotinho de bicho antiestético tropical. Mudaram os bombons Garoto ou mudei eu? Só vocês podem me responder. Estou injuriada por ter engordado comendo coisas tão pouco prazerosas. A Garoto teria mais sucesso fabricando sola para sapato. O bombom deveria se chamar “bombom médio”, pois ele está para os chocolates como o brasileiro médio está para as pessoas normais.

Não se trata de gosto pessoal, se trata de ser uma porcaria de chocolate mesmo. Perguntem a qualquer pessoa que trabalhe com isso e entenda do assunto: parecem bolinhas de gordura com corante marrom. Chocolates duros, mas duros, mas tão duros que precisam ser mordidos com os dentes molares. Chocolates que não derretem na boca, quebram quase que em estilhaços, mesmo aqueles pensados para serem macios, como os ao leite. Chocolate que dá azia, que deixa um after taste vibe boquete na boca. Chocolate que você dá para cachorro e ele vira a cara (nunca ofereçam chocolate para cachorro porque é tóxico para eles, pode até matar, eu o fiz como teste e se o cachorro pegasse eu tiraria, mas ele virou a cara).

A desgraça já começa na apresentação. Uma caixa amarelo ovo que parece ter sido pensada para agredir qualquer olhar mais sofisticado. A esperança de ter o olhar acariciado por tons pastéis se esvai por completo ao abrir a caixa. Um mix de cores tropicais cafonas nos remete a uma arara em forma de chocolate: é laranja, é vermelho… é cor forte que não acaba mais. Eu sei que uma caixa de bombom que custa menos de dez reais não está propriamente preocupada em agradar a um público sofisticado, mas não precisava ser algo tão horrendo. Fiquei com medo de, ao abrir a caixa e ver aquela confluência de cores, ter um ataque epiléptico.

Como eu disse, eu fiz o esforço sobre-humano de abrir uma dessas e provar um por um. Xinguei muito, mas muito mesmo, a ponto de chamar a atenção das pessoas a minha volta. Cada bombom era um palavrão. Não se parecia em nada com aqueles que eu comia na infância. Chocolate duro, farinhento, cheio de gordura e com aspecto e gosto de plástico. Um pior do que o outro. Já que eu tive que provar um por um, vocês vão ter que me ouvir reclamar de um por um!

Começo pelo que até então era o meu favorito: Alô Doçura. Vamos abstrair o nome de motel e a embalagem que mais parece de camisinha. Pulemos para o sabor. O chocolate é tão cagado, tão duro, tão plastificado que eu fiquei me perguntando se essa porra era realmente chocolate ao leite. Para não cometer uma injustiça, me dei ao trabalho de ir até o site do fabricante tentar estudar sobre o bombom. Acho que foi a filha do dono, de cinco anos, quem fez a descrição “Não dá para falar do Alô Doçura sem dar uma mordidinha. É tão irresistível que acabou conquistando o nosso coração”. Oi? Obrigada por nada! Continuo sem ter a certeza, mas até onde eu sei, é o chocolate ao leite mais duro do planeta. O barulho que faz quando você o morde é similar ao barulho de quando se morte um pepino. E, numa boa, Garoto… contrata o Somir porque a descrição de vocês sobre cada produto está vergonhosa.

Peguei outro que eu lembrava não ser tão ruim e que eu sabia a composição: o Crocante. Realmente, me pareceu o menos pior, mas ainda assim, passa longe de um bom chocolate. Duro que nem um pedaço de carvão, seu gosto talvez seja mais tolerável porque quase não tem chocolate, é apenas uma fina camada do manteigoso chocolate cagado, sendo 99% dele composto por amendoim e castanha. Como o amendoim e a castanha vem prontos na mãe natureza, o contexto geral é bom sem mérito algum do fabricante, apesar do chocolate de merda. Em resumo, os bombons que não tem muito chocolate nem são tão ruins, o que mostra quão de merda é essa caixa de bombom, já que bombom, em sua essência, costuma ser basicamente chocolate. Seria como dizer que uma piscina é muito agradável, exceto pela água, que está podre.

Ainda na faixa dos que eu tinha uma vaga lembrança, experimentei um Nougat, que deveria ser chocolate com castanha. Mais ou menos o mesmo esquema do Alô Doçura: maciez de um pepino, gosto de plástico e estilhaçar violento na boca que provoca até sangramento na gengiva. Parece que você está mastigando brita, só que adocicado. E tem um after taste nefasto, onde o suposto doce do chocolate vira uma coisa pastosa na boca, uma camada gordurosa cuja gosto não sai. Tive que escovar a língua por uns cinco minutos para tirar o ranço plástico das papilas gustativas. A sensação de corpo intoxicada cresceu dentro de mim, parecia que eu tinha comido pecinhas de lego. Mas né, qual é a novidade de eu me fodendo? Nenhuma. Vamos continuar.

Ok, respirei fundo. Resolvi pegar um clássico, o Serenata de Amor. Abstraindo a embalagem vibe Mc Donalds (romance não remete a amarelo e vermelho, fica a dica) o formato grosseiro e incômodo de se comer (bombom não deve ter o tamanho de uma bola de golfe, fica a dica 2) e as frases bregas, machistas e irreais que existem do lado de dentro, me concentrei no sabor. Fiquei me perguntando se o recheio desse troço era castanha ou amendoim e, idiota que sou, voltei no site do fabricante: “Um clássico que tem acompanhado a vida de muita gente. É irresistível comer um só. Você come um e sempre quer outro e outro… e outro… e outro”. Neste ponto me dei conta que cometi uma injustiça. Retiro o que eu disse, não foi a filha do dono que escreveu, foi a filha do dono NORMAL E ACIMA DA MÉDIA quem escreveu. “É irresistível comer um só”? Uma grande empresa não tem vergonha de colocar isso como descrição do seu produto não?

Fiquei surpresa quando descobri que o Serenata de Amor deu cria. Agora tem o Serenata de Amor branco, que é uma versão um pouco pior, pois do lado de fora tem chocolate branco que, nessa marca, consegue ser ainda pior do que o chocolate soldadinho e tem também o Serenata de Amor Mousse. Olha, dizer que isso que tem do lado de dentro é mousse é como dizer que porra tem gosto de leite condensado. O fabricante tem o descaramento de se referir à “cremosidade” do recheio. Sem querer ser grosseira, eu cago mais cremoso do que isso. O gosto é mais suave, apenas. É um chocolate “aguado” se fazendo passar por cremoso. Uma verdadeira vergonha. Você vê as fotos e morde esperando um mousse (eu sei que é feminino e eu não me importo) leve, cremoso e aerado e vem aquela bola compacta que gruda no canino, saindo inteira e te deixando apenas com uma casquinha de bombom na mão. Um verdadeiro desaforo.

Além do Serenata de Amor dar cria, ele também ganhou um cosplay: o bombom Surreal. Nessa até que o nome condiz com o produto. O Surreal é de amendoim, o que por exclusão me fez pensar que de fato o Serenata seja de castanha, mas, com a descrições miguxescas do site, não dá para ter certeza. Novamente, prometem recheio cremoso e novamente a bola gruda no canino deixando apenas a casquinha do lado de fora. Ah sim, eu só sei que é de amendoim porque está escrito SURREAL AMENDOIM, se não nem por um caralho cravejado de brilhantes eu descobriria o sabor. Quase todos tem o mesmo gostinho plástico, e os que não o tem, antes tivessem.

A coisa começou a piorar. Aqueles que eu tinha uma vaga lembrança de gostar haviam acabado, dali para frente seriam os que eu não gostava e, se os que eu gostava já encheram meus olhos de lágrimas (e não foi de emoção), a coisa ficaria muito triste. Peguei um Mundy. São todos basicamente a mesma coisa: camada de chocolate por fora com algum recheio por dentro, que pode ser avelã, coco, creme ou mousse. Todos igualmente enjoativos e gordurosos. Parece porra misturada com essência desses sabores. Não há cremosidade no recheio, na verdade, dá para levantar uma laje usando o recheio do Mundy como cimento. Você morde o bombom de creme e a impressão que esteticamente é de ver uma borracha de colégio forrada com chocolate.

Chegou a vez do It Coco, um cosplay de Prestígio, só que pior. Pior porque o chocolate é de qualidade inferior e porque o coco está em hediondos fiapos daqueles que você passa três dias tentando tirar das entranhas com fio dental. O coco não é molhadinho como deveria ser, muito menos macio, parece que você está mastigando um estalinho. As tiras plásticas de coco não parecem ser digeríveis pelo organismo humano, se uma delas se enfiar entre seus dentes você tem que tirá-la de lá, caso contrário ela não será dissolvida nos próximos cem anos. Serio mesmo, sacolinha plástica de supermercado é mais biodegradável do que isso. A embalagem amarelo ovo com um coqueiro (tem como ser mais aborígene tupiniquim do que isso?) também não ajuda.

A coisa está ficando realmente ruim. Bombom Torrone… eu já lembrava que era meio cagado, mas não lembrava que era tanto. Uma maçaroca mastigada do lado de dentro denota um confuso gosto que me remeteu a ovo, apesar de saber que oficialmente é castanha. Alias, qual o problema com a castanha? Tá certo que o Brasil é produtor, mas porra, precisa ser tão monotemático? Não tem um bombom de café, de cereja, de menta… é a maldita castanha a toda hora. Não tem vergonha de escrever “bombons sortidos” na caixa não? Chega a ser propaganda enganosa. Bem, quem não tem vergonha de escrever “É irresistível comer um só” não deve ter vergonha nem de coçar o cu e cheirar o dedo em público! Em todo caso, a maçaroca farinhenta parece um mix de farofa com argamassa, é deveras desagradável no sabor e na textura.

Na mesma categoria enquadro o Moon e o Milk e Mel, não sem antes perguntar porque caralhos não escolheram um idioma único para o nome “Milk e Mel”. Poderia ser “Milk and Honey” ou “Leite e Mel”, mas não, foi “Milk e Mel”. Será que existe alguém tão tosco que achou essa sonoridade bacana? Ou será que havia um receio do brasileiro médio não conseguir pronunciar “Honey”? Nunca saberemos.

Daqui pra frente a coisa beira o insustentável. Minha estratégia foi burra, eu deveria ter começado pelos que eu menos gosto, porque encarar coisa que você não gosta de barriga cheia é sempre pior. Fica a dica, se um dia você for masoquista de comer coisas engordativas que você não gosta para depois escrever um texto de graça sobre elas e ainda acabar xingado, além de procurar um bom psicanalista para se tratar, você deve começar pelo que você gosta menos.

Vamos para a bosta do Opereta. Lembro que na minha infância, o Opereta era usado como forma de castigo para quem perdia nas brincadeiras: o perdedor tinha que comer um Opereta. Uma bola de gordura dura e branca que dizem ser chocolate branco mas que tem a textura de uma cenoura, sendo inclusive similar o ruído quando a gente morde. A impressão que me passa é que mesmo que se coloque o Opereta em uma solda, ele não derrete. Se jogar um Opereta do alto de um prédio em um carro em movimento certeza que quebra o para-brisas. O after taste dele também é muito tóxico, fica uma camada de gordura plástica revestindo sua boca, você chega a sentir a oleosidade do lado de dentro. Impermeabiliza sua cavidade bucal de uma forma que não sai nem com Listerine, só fazendo bochechos com Ipê para tirar essa merda. Confesso que fiquei olhando relutante para ele uns dez minutos antes de ter coragem de morder. Depois tentei morder com os incisivos e me dei conta que apenas um roedor conseguiria. Fui com tudo nos molares, e de olhos bem fechados por medo de voar um estilhaço na minha córnea.

Por fim, o pior de todos. O maldito Caribe, que, para quem não sabe, é chocolate com banana e “o oficialmente rejeitado”. Esse nem brasileiro média encara, salvo raras exceções. Pode apostar, o Caribe quase sempre vai sobrar na caixa, mas, por algum sadismo, continuam fazendo. O dono da marca deve gostar, sei lá. O aspecto asqueroso da banana lembra a fezes e o gosto te faz pensar que você está mastigando uma daquelas bonecas da Moranguinho da década de 80. O Caribe é uma merda tão cagada que eu gorfei quando dei a mordida, e olha, fazer chocólatra gorfar com chocolate é um evento de grande porte. Não sei qual é o problema com o maldito Caribe, já que sua rejeição é notória. No meu colégio o menino mais feio da sala tinha o apelido de “Caribe”, porque ninguém queria, ele sempre sobrava. Se até agora eu fiquei reclamando que tudo tinha um gosto plástico, me retrato da minha ingratidão: Caribe tem gosto é DE MERDA. Volte, plástico! Volte!

Como se toda esta danação não bastasse (quem é mulher sabe que não há sentimento de derrota maior do que ter engordado por algo que não valia a pena), ainda pude constatar algumas desgraças extras. Por exemplo, a validade dos bombons é de FUCKIN´ 12 MESES. 12 MESES, sabe? Tipo, de onde vem a banana que recheia o Caribe? De Chernobyl, só pode. Sejamos sinceros, bombons revestidos com camada de wafer como o Serenta e suas crias ficam parecendo o saco do meu avô depois de 12 meses. Que a composição destas pedrinhas aromatizadas era majoritariamente plástico eu já sabia (menos o Caribe, que é cocô de cachorro, tenho certeza), mas eu pensei que ao menos havia algo de orgânico neles. Pelo visto não, porque se houvesse apenas 1% de material orgânico não sobreviveria 12 meses sem refrigeração em cidades onde o calor chega a 50°. Em breve teremos carros feitos à base de bombom Garoto.

Enfim, bombom garoto é o chocolate oficial do brasileiro médio, é a cara do brasileiro médio. Juro que não é preconceito por ser produto nacional, existem chocolates nacionais que são realmente muito gostosos, mas caixa de bombom Garoto simplesmente não dá para encarar. Horrendo, ofende todos os sentidos. Estou tão puta da vida que isso aqui mais parece um Sally Surtada Gastronômico, parabéns, viu Garoto?

Obs: Não custa lembrar da nossa política de Ausência VIP. Sua empresa paga uma módica quantia mensal e não falamos de você nem associamos seu nome com essa pocilga que é o Desfavor. Reflitam. As Havaianas e a academia Body Tech chegaram a ficar com o primeiro lugar geral no Google ranqueado no nosso blog. Você tem noção do estrago que isso faz para uma empresa? Cobramos baratinho, preserve sua marca!

Para perguntar se tem como pagar ausência VIP para que barremos pessoas em vez de nomes de marcas, para deixar suas impressões sobre a hedionda caixa de bombons Garoto ou ainda para insanamente defender o Caribe e ser banido da República Impopular do Desfavor por falta de discernimento: sally@desfavor.com


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