Desfavor da semana: Águas passadas.
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Sudeste debaixo d’água. No Espírito Santo, em Minas e no Rio pipocam notícias sobre a tragédia anunciada todo começo de ano. E vai acontecer tudo de novo… de novo. Desfavor da semana.
SOMIR
Escolhemos este tema porque ano passado já sabíamos que aconteceria. Assim como no ano anterior previmos o seguinte. Desfavor anunciado que já está virando tradição aqui. Interessante que mesmo antes do primeiro caso (dessa série, porque essas coisas acontecem faz tempo) já existia verba federal separada para prevenção e resposta aos desastres naturais. Dessa vez a verba era ainda mais generosa.
A aplicação capenga e ineficiente dessa verba já é, por si só, uma derrota vergonhosa para o Estado. Mas quando se pensa que no Brasil desastre natural é basicamente só inundação causada por excesso de chuvas, começamos a ter noção do TAMANHO da incompetência presente no caso. Que o país não esteja aparelhado para lidar com furacões, terremotos, vulcões e tsunamis é até compreensível, beiraria ao desperdício destinar verba para esse tipo de desastre. E me resumo ao “beiraria” porque no final das contas qualquer coisa seria mais útil do que deixar o dinheiro mofando nos cofres públicos.
Agora, quando o país lida com um tipo de intempérie natural TODO ANO, sem falta, e o dinheiro do fundo destinado a proteger os cidadãos delas acaba encalhado… aí parece até que somos governados por acionistas de fábricas de caixões. O dinheiro não está nem recebendo o tratamento padrão tupiniquim do desvio e superfaturamento, está parado mesmo!
Enquanto isso, mais casas rolam morro abaixo, as sirenes instaladas para prevenir os cidadãos tocam horas depois da merda feita, e todo o investimento vai novamente para a parte que vem depois de uma cidade inteira ficar debaixo de água e barro. As verbas para salvamentos, abrigos temporários e reconstrução estão sendo usadas, mesmo que muita gente ainda continue sem moradia. Mas de qualquer forma, esse dinheiro está ao menos sendo pedido.
E essa é uma dica valiosa sobre a forma “nas coxas” como o processo é tratado. Dinheiro para tapar buracos é fácil de pedir e fácil de liberar. Sem contar que faz-se vistas grossas para eventuais abusos. No momento do drama, nada parece caro demais. E reconstruir sempre foi um grande negócio. Mas mesmo que isso cheire mal, ainda sim sobrou dinheiro para investir em projetos de prevenção! É tanta gente incapaz tomando conta dessa área que não conseguem sequer aprovar projetos sem a presunção de emergência. As coisas só funcionam quando as expectativas baixam o suficiente! Não é alentador?
Será que é cultura mesmo desse povo focar sempre em remediar? O Japão levou um terremoto de nove graus no rabo e mesmo assim a grande maioria dos serviços de prevenção foi acionada a tempo. Morreu tanta gente porque foi… uma porra de um terremoto de nove graus com uma tsunami monstruosa para acompanhar. Como é que as sirenes de lá tocam e as brasileiras são “profetas do acontecido”?
Técnicos responsáveis por elas disseram que “não choveu o suficiente para acioná-las”. Bom, choveu o suficiente para derrubar casas, mas não o suficiente para a sirene tocar? Isso se chama incompetência. E olha que estou deixando passar a outra explicação da “falta de luz”, porque dá vontade de internar todos os (ir)responsáveis na APAE. É meio que óbvio que vai faltar luz na situação onde as sirenes precisam tocar.
Com a verba disponível, uma empresa que não seja gerida por macacos jogando merda uns nos outros seria capaz de construir a estrutura necessária para evitar essas desgraças PELO MENOS para a população com moradias legalizadas. Esse povo que morre e perde tudo nas chuvas quase sempre já foi assentado pelo poder público, estão lá pagando impostos.
Não estou dizendo que é uma tarefa simples, mas com dinheiro e um grupo de pessoas que entenda do assunto, é uma tarefa possível. E governo está aí para isso mesmo, para gastar dinheiro com projetos que independem de retorno financeiro ou midiático. Pode ser um cu colocar murros de arrimo e sistemas de alarme em centenas (talvez até milhares) de comunidades carentes (ou sem noção, no caso de quem não PRECISA morar nesses lugares), mas pagamos imposto justamente para isso, para que alguém encare esse cu.
Se o poder público é incapaz de realizar essa tarefa, que pague para alguém do privado se virar com isso. Mesmo que os preços fiquem altos, a porra do dinheiro está lá, separado. Não vai virar escola ou hospital. O Estado deveria ser capaz de recrutar e remunerar pessoas capazes, mas entendo (embora não corrobore de forma alguma) que os sistema político brasileiro se baseie apenas em interesses próprios. Gente capaz que por um acaso também tenha os conhecidos certos é algo raro.
Tem que mudar MUITA coisa na forma como o Estado define quem cuida do quê? Claro. É razoável esperar até isso acontecer para começar a evitar tragédias desse tipo? Não. Porque ainda vai chover mais no começo do ano que vem, e vai começar tudo de novo. O problema das chuvas não vai esperar, então que se ache uma solução razoável.
Pegue o dinheiro e bote na mão de empresas com capacidade técnica comprovada. Assuma sua incompetência. Foda-se se vão roubar uma parte, qualquer coisa é melhor do que “lamentamos o ocorrido”. O Brasil precisa de uma dose de pragmatismo para lidar com a massa de funcionários públicos incompetentes que formam seus quadros.
Se eu fosse um engenheiro ou algo do gênero, abriria uma empresa só para isso, faria um projeto caríssimo com uma afirmação de eficiência ousada do tipo “ano que vem não vai cair UMA casa legalizada por causa de chuvas na cidade”, e tentaria vender. É só molhar as mãos certas e a coisa avança. O dinheiro já está separado! E na próxima eleição o escroque no poder da vez poderia usar isso como “obra realizada”. Tem um bando de incompetente cuidando do caso atualmente e todo mundo do governo sabe disso.
E se alguém que estiver lendo gostar da ideia, uma condição: Contrata eu para fazer a divulgação. Mas não tem pressa não, em 2014 vai acontecer tudo de novo e vai ter mais uma chance. E em 2015, 2016…
Para dizer que só comenta quando falarmos do assunto ano que vem, para dizer que é tudo vontade do amigo imaginário (amigão, hein?), ou mesmo para começar a planejar a empresa e a verba de propina no orçamento (agora com mais empolgação): somir@desfavor.com
SALLY
Dá até preguiça de escrever, porque todo ano é a mesma coisa: água caindo do céu mata e deixa pessoas desalojadas. Algo que não era um problema nem na Roma antiga, hoje mata gente no Brasil. E não estamos falando apenas das regiões mais pobres, esta semana a região Sudeste ficou debaixo d’água, contabilizando dezenas de mortos e milhares de desabrigados. Se água caindo do céu faz isso, imagina o dia em que tiver terremoto ou tsunami por aqui… não vai sobra um brasileiro vivo!
O que mais me revoltou em todo o episódio foi a falta de vergonha na cara dos responsáveis. Os verdadeiros responsáveis. Chega de responsabilizar a natureza e dizer que “choveu mais do que o esperado”. Há mais de cem anos que o Brasil sofre com inundações, será que ainda não se mancaram que o que eles andam esperando em matéria de chuva é muito pouco e precisa refazer essa estimativa? O culpado disso é o Poder Público, que não fiscaliza nem remove construções em área de risco, muito pelo contrário, vai lá e legitima a ocupação cobrando IPTU como fez no Morro do Bumba, no Rio de Janeiro. O Poder Público que não proporciona um escoamento decente de água. O Poder Público que quer sediar Copa do Mundo e Olimpíada mas apresenta cidades que param quando chove.
Eu já disse isso dezenas de vezes, mas vou dizer novamente: sobra verba, o que falta é projeto. Todos os anos BIlhões são devolvidos aos cofres públicos porque não tiveram destinação alguma. Eu disse BIIIIlhões. Não adianta ter dinheiro se não existem cabeças pensantes capazes de desenvolver projetos para melhorar a condição de vida da população, ou, ao menos, para evitar que ela morra afogada. Palavra de quem trabalhou do lado de dentro por muitos anos. O PT coloca uns cabeças de bagre em cargos técnicos importantes e as coisas simplesmente param de funcionar, porque são pessoas tão incompetentes que conseguem errar o próprio nome na hora de assinar um projeto (não é exagero, eu já vi acontecendo).
Daí vem as desculpas esfarrapadas, a mentira fatalista tentando convencer a população de que aquilo era inevitável ou imprevisível e muitos números camuflados como tentativa de provar que tudo que estava ao alcance do Governo foi feito: “Liberamos X milhões para isso, X milhões para aquilo”. Adianta DE QUE se não FISCALIZAM a aplicação desse dinheiro? E esta fiscalização tem que ser feita em duas fases: ficar em cima para que o projeto SEJA ELABORADO e fiscalizar para que o projeto SEJA EXECUTADO. É isso que o Poder Público tem que fazer, a começar pela esfera Federal. Mas não, o que vemos é jorrar dinheiro para nada, para ser desviado ou devolvido, e acreditem, é devolvido mais do que é desviado de tão grave que a situação está. Porque até para desviar tem que fazer ALGO para superfaturar.
Pode liberar trocentos zilhões de reais, o problema vai continuar se não houver fiscalização. Por outro lado, se começarem a fiscalizar, sem exagero, vão ter que demitir 90% do funcionalismo público, pois grande parte não tem capacidade nem para mastigar um chiclete e andar em linha reta ao mesmo tempo, quanto mais para fazer um projeto com todo o grau de formalidade e exigência imposto pela lei, formalidade esta mais do que necessária, pois se está lidando com o dinheiro dos outros, do contribuinte, tem que ter um controle bem feito. Uma curiosidade que reparei depois que o PT assumiu o poder: esmagadora maioria de incompetentes que não gasta dinheiro porque não consegue elaborar nada e a minoria que tem um pouquinho de cérebro é rei em terra de cegos e rouba descaradamente, perdendo a medida e a noção.
É por isso que o PT tomou uma calça arriada com o Mensalão. Porque quem trabalha para o Poder Público neste momento e tem cérebro (nem precisa ser muito) é uma ilha cercada de imbecilóides por todos os lados, logo a pessoa relaxa, a pessoa desvia dinheiro e comete crimes na maior facilidade, já que está cercado por ignóbeis que não percebem nada ou não se importam. Esse é o risco de não ter desafio intelectual: você vai ficando medíocre, fraco, perdendo sua capacidade de fazer bem-feito já que não existe essa obrigação. Daí os petistas foram se acomodando, não viram necessidade de fazer algo muito complexo ou trabalhoso e deu na merda que deu.
É preciso ter cuidado nessa vida, pois sempre tem uma cabeça pensante nos observando. E assim como havia gente esperta de olho no PT, que não é tão hegemônico quanto pensa (aguardem surpresas na campanha presidencial do ano que vem), tem gente esperta de olho no quanto se investe para evitar desastres oriundos de chuvas. E essa gente esperta me disse que no Rio de Janeiro, por exemplo, menos de 5% da verba destinada para esta finalidade é usada, e desta que é usada, boa parte escoa pelo ralo em superfaturamento. Que bonito! E quando a coisa aperta, em vez de correrem com projetos, soltam dinheiro a rodo ou pior, partem para crendice e contratam a Fundação Cacique Cobra Coral com dinheiro público e um pajé ou uma entidade enche os bolsos para fazer parar de chover. Sério, este país é uma piada de péssimo gosto.
Você pode estar se perguntando porque o Governo Federal não pressiona e não exige a elaboração e execução desses projetos. Primeiro por incompetência mesmo, mas segundo e não menos importante, porque quando acontece uma DESGRAÇA a lei de licitação permite que se comprem bens e se contratem serviços sem licitação, ou seja, por um preço absurdo que será justificado pela urgência. Assim, com a falta de planejamento, perde o povo mas ganha o político, o amigo empresário do político e toda a corja que os cerca.
Em resumo, o que quero dizer é que a situação está muito cômoda para eles, nada vai mudar. A menos que eles comecem a ter MEDO de fazer uma coisa dessas, tecla na qual a gente bateu todo o ano de 2012. Só o medo demove os canalhas de se darem bem. E medo, no Brasil, não se consegue via Judiciário, pois como já vimos, quando a pena é alta o petista foge do país e quando a pena é baixa o petista cumpre no conforto do seu lar. O medo se constrói de outras formas, e são muitas, nem sempre é necessário violência ou ilegalidade. É isso que o brasileiro precisa entender para poder começar a se defender.
Mas não, a passividade continua a mesma. Pessoas morrendo, pessoas perdendo a casa, pessoas não recebendo nenhum tipo de ajuda ou socorro e tá tudo bem. Quem assiste de casa se indigna por um segundo depois esquece e começa a pensar em tal coisa que quer comprar, em quantos quilos quer emagrecer ou qualquer outra coisa do tipo. Infelizmente o grau de desigualdade social com o qual convivemos desde que nascemos nos obriga a ficar um pouco insensíveis a isso, mas não se esqueçam, se não por solidariedade, é sempre saudável se revoltar porque um dia a vítima pode ser você. É preciso que nos indignemos, e mais: que façamos algo produtivo com essa indignação. Mas, na contramão do bom senso, nós nos acostumamos a ver gente perdendo a vida e a casa para as chuvas. Não sei o que é mais revoltante.
Estamos em dezembro e a situação já está assim. Fico me perguntando como vai ser quando fevereiro e março chegarem, os meses onde realmente chove. Ou começamos a nos indignar ativamente (chega de indignação passiva), ou isso vai se repetir para sempre.
Vocês já perceberam que as enxurradas mais fortes no geral afetam justamente regiões de serra ou regiões que ficam próximas, mas a barlavento de uma serra, sendo que tais chuvas tem um forte componente orográfico?
Pois bem, geralmente são chuvas que dão índices muito altos numa região relativamente pequena, sendo que nessa semana que passou, foi o litoral paulista a ser afetado com Mongaguá tendo índice de mais de 200 mm (o que significa o equivalente a uma lâmina d’água de 20 cm) em 24 horas.
Se eu fosse um cara que implorou a vida toda por obras que evitassem assoreamento do rio próximo, e ano após ano eu visse a merda chegando perto, e um dia desabasse uma casa minha ou eu perdesse um ente querido, eu simplesmente matava os responsáveis – prefeitos anteriores e atual, secretários de obras e etc.
O brasileiro podia aprender com os bolivianos, que foram atrás dos filhos da puta que mataram o gurizinho e não deixaram nenhum deles vivos. Bando de sangue de barata!
O texto do Desfavor do próximo ano já está pronto.
É uma tragédia eternamente anunciada… sempre mais do mesmo. Até quando? :(
Não sei se vocês repararam, mas esse já é um texto reciclado…
Pra que o poder público vai se mobilizar? Onde tem jogo da Copa, não ta alagando…
É o mesmo texto do começo do ano. Queríamos demonstrar como É SEMPRE IGUAL. O mesmo descaso, o mesmo desinteresse do poder público… e todo ano, sem falta, chove e o povo paga a conta por mais um ano de inépcia governamental.
Até por isso alguns E.E.s tanto no meu texto como no da Sally.
TEXTO ORIGINAL: https://www.desfavor.com/blog/2013/01/desfavor-da-semana-aguas-de-janeiro/
Sou do interior de Minas e aqui onde eu moro, o rio alaga a cidade pelo menos uma vez por ano e o povo que mora ou tem loja perto perde muita coisa. E o que a nosso prefeito “normal e acima da média” faz?
Manda tirar o barro do fundo do rio e colocar na margem.
Diz que assim fica mais fundo e difícil de inundar, mas na primeira chuva o barro cai pra dentro de novo e dai é só uma questão de tempo pra cidade alagar. E o cara fica puto e ainda tenta defender a burrada quando dizem isso pra ele!
Também moro em Minas Gerais, mas precisamente no Vale Do Aço… Aqui está uma confusão do caramba. Trânsito impedido. Muita gente desabrigada… Fui trabalhar ontem e a avenida principal de um dos bairros estava completamente alagada. Muita gente cedo, as 6 da manhã, tirando lama das lojas. A quantidade de gente desabrigada beira ao absurdo…
Sabe quando que essa verba vai ser (mal) usada pra valer? Quando encontrarem uma brecha “segura” para desviar uma gorda parte dela no processo de liberação. Aliás ponte que partiu, hein, ORGULHO de morar num país que recurso público só sai do cofre quando os políticos terminam de construir a estrada pra ele, rumo aos próprios bolsos.
Até lá meu amigo, todo fim de ano vai ser assim: chuvas, deslizamento, alagamento, sistema de prevenção que na melhor das hipóteses só apita meia hora depois do começo do espetáculo, pedidos de doações (que no ano seguinte serão foco de reportagens mostrando que a maior parte das doações está mofando em barracões do governo), e os governadores e a digníssima presidenta aparecendo na mídia dizendo que está tudo bem, que as providências vão ser tomadas, e que está tudo sob controle.
É a falta de responsabilidade. Ninguém é responsável por porra nenhuma neste país. O Prefeito e o Governador tem que perder o cargo por incompetência, tem responder criminalmente por omissão, pelas mortes e pela destruição dos bens, já que é tudo previsível e eles tem os recursos necessários pra evitar o acontecido. A Bandida Mor também tem que ser responsabilizada, passear de helicóptero pra ver o que aconteceu não ajuda ninguém.
Dessa vez foi ctrl+c, ctrl+v, né Somir? Esse texto NÃO me deixa mentir.
Deveria ter visto o da Sally também. Eu achei que a mensagem ficaria mais forte mantendo idêntico, ela trocou algumas letras.
Textos já repassados pros meus contatos e mais um post pra ser lembrado daqui a algum tempo numa coluna do tipo “Não disse?”. Ah, e você poderiam mesmo recortar e colar o texto do ano passado – ou do ano retrasado, ou de qualquer outra época -, já nada mudou e talvez nunca mude MESMO. Não sei vocês, mas quando paro pra prestar atenção nas merdas que acontecem nesta pocilga, tenho vontade jogar as mãos desalentadamente pro alto e entregar os pontos… Se fosse pra isto aqui ter algum conserto, ainda que mínimo, isso já teria acontecido…
W.O.J. não sei se você notou, mas o Somir fez EXATAMENTE ISSO.
Foi mal, não tinha notado MESMO… Obrigado por me chamar a atenção, Mark.